Convidado: JOSÉ MANUEL FARIA
Escola/Saber/Querer/Autoridade
A educação limita-se à transmissão dos modelos tradicionais e não se presta a grandes discussões. O seu papel é apenas o da conservação de um Estado social em que só se verificam mudanças de caracol.
A ser assim, a melhor dádiva que a Escola pode conceber às crianças e jovens parece ser uma certa e importante disponibilidade do espírito que permita não apenas acompanhar a história na sua marcha precipitada mas, ao mesmo tempo, dominar os novos problemas que surgem como consequência das contínuas e necessárias mudanças históricas e quebrar dia após dia os variadíssimos muros que nos aparecem de todos os lados em quase todos os sítios: sejam eles dentro de casa, na Escola, na turma, na organização social e/ou política.
A educação não deve ser orientada apenas para o saber. O que é que pode acontecer se as diferentes vontades - do professor e dos alunos - entrarem em choque?
Admitindo que a liberdade é o sinal distintivo do ser humano e que a evolução consiste em libertar o homem de todas as sujeições que lhe são exteriores, a autoridade exacerbada, longe de facilitar a vida em comum, oculta-lhe o verdadeiro fundamento, alienando o homem e o jovem da sua própria consciência, tornando-se inapto para toda e qualquer forma de total integração social autêntica// a Democracia.
Não é, pois, uma ordem conservadora, autoritária e estática, que se deve procurar, mas um equilíbrio entre quereres antagónicos. Equilíbrio precário e instável e, por tal motivo adequado ao progresso humano. Vivo, justo e não mercantilista.
Se o jovem não aprende a sentir-se ele mesmo é natural que não aprenda o manual/programa. É necessário não esmagar o orgulho, a franqueza, até a turbulência sadia do mesmo, porque não está em momento algum posta em causa a minha liberdade: se o docente se sentir totalmente livre, não precisa de se deixar vencer.
A aprendizagem do não, da oposição, da contestação, pode ser uma linha clara de pedagogia democrática.
A educação não pode assentar no princípio da autoridade. A sê-lo, teremos jovens instruídos, mas passivos, que aceitam com resignação as orientações da ordem estabelecida. Esta ideia encaixa completamente tanto nos jovens como em adultos. Todos aqueles que são homens ou mulheres completas não precisam de uma autoridade e só o reconhecimento da livre vontade de cada um fará da Escola a antecâmara de um futuro risonho.
Não devemos ser apenas criaturas boas. Boas para serem domesticadas.