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Delito de Opinião

O mau exemplo de Martine Aubry

Pedro Correia, 29.10.10

 

Vi há dias a líder dos socialistas franceses, Martine Aubry, numa manifestação de protesto em Paris contra a decisão do Governo de aumentar a idade de reforma dos 60 para os 62 anos. E ouvi-a proferir declarações indignadas contra esta medida, que se destina a viabilizar o sistema público de pensões em França, país que tem sérios problemas de natalidade e índices crescentes de esperança de vida: segundo as estimativas oficiais, daqui a duas décadas 31% da população terá pelo menos 60 anos, o que altera drasticamente a tradicional proporção entre trabalhadores activos e trabalhadores aposentados, base essencial do sistema.

Numa altura em que toda a Europa faz imensos sacrifícios em nome das gerações futuras, esta posição da dirigente máxima do PSF pareceu-me profundamente demagógica, irresponsável e até indigna de alguém que tem sérias ambições políticas. Interrogo-me o que faria Martine Aubry se estivesse no Governo. Certamente nada muito diferente do que o seu camarada Zapatero, presidente do Governo de Madrid, que em Maio anunciou a subida de 65 para 67 anos da idade da reforma em Espanha. E daquilo que o primeiro-ministro Giorgio Papandreou – também socialista – se viu obrigado a pôr em prática na Grécia, aliás de acordo com as receitadas preconizadas pelo FMI, cujo presidente é o socialista francês Dominique Strauss-Kahn. Já para não falar nas restrições que José Sócrates – igualmente parceiro de Aubry na Internacional Socialista – impôs este ano, por duas vezes, em Portugal.

A diferença entre um demagogo e um estadista é que o demagogo pensa na eleição seguinte e o segundo pensa na geração seguinte. Martine Aubry merece, sem dúvida, o primeiro dos qualificativos e está muito longe de justificar o segundo. Nem por isso lhe auguro sucesso nas próximas eleições francesas.

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