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Delito de Opinião

Dez razões para não votar Cavaco

Pedro Correia, 18.10.10

 

 

6. Sem tempo para Saramago

 

Aníbal Cavaco Silva proclamou-se "Presidente de todos os portugueses". Obviamente, também dos portugueses que se assumem como comunistas. Obviamente, também dos portugueses que nada têm a ver com o comunismo mas sempre apreciaram a obra literária de José Saramago. Obviamente, também daqueles que, não apreciando a figura nem a obra de Saramago, consideraram prestigiante que este cidadão português em concreto tenha sido distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, nunca antes ou depois confiado a outro representante do nosso idioma. Nenhum destes portugueses se sentiu representado por Cavaco Silva quando o Presidente da República entendeu faltar às exéquias oficiais de Saramago em Lisboa. Um Presidente não deve agir à mercê de estados de alma: a dignidade da função que desempenha e a notoriedade do escritor impunham a presença de Cavaco no funeral de um homem que em vida nunca deixou de o criticar. Pior ainda foi o pretexto invocado para a ausência: uma deslocação aos Açores, anteriormente prometida pelo avô Aníbal aos seus netos. Como se as conveniências pessoais ou familiares devessem sobrepor-se aos gestos de cidadania e às missões de serviço público.

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