Convidado: HENRIQUE BURNAY
O mal é simples
Há quatro meses que não consigo escrever este texto. Nem fazer up load das fotografias. Sobretudo as fotografias. Custa-me, é mais vergonhoso. Uma imagem da placa onde se lê “arbeit macht frei” parece tão indigna como filmar a tortura. E, no entanto, necessária.
Só agora, quatro meses passados, e depois de ler dois livros de Imre Kertesz, o Nobel húngaro que sobreviveu a Auschwitz, é que acho que sou capaz.
O que tem de tão impressionante o campo de concentração que os nazis construíram na Polónia?
O facto de não impressionar. Custa percebê-lo, mas é isso. Para mim é isso.
Há lugares que nos chocam porque são reveladores, confrontam-nos com a verdade. Auschwitz, e Birkenau, pelo contrário, são lugares que fazem parte da nossa memória. Já sabíamos tudo antes de termos chegado.
Vistos de perto, chocam pela simplicidade. A maldade humana não necessita de sofisticação, não precisa de nada de extraordinário. Um lugar banal e homens vulgares são suficientes. E o ódio ao outro.
Auschwitz não pode ser apenas a recordação da infinita possibilidade do mal. Com certeza que não. Há homens e mulheres reais que sofreram ali, não são apenas símbolos. Mas esse último sacrificio é necessário. Para que cada um de nós saia de Auschwitz com a certeza de que é possível, de que o mal é facilmente humano.
Sobra a esperança de saber que o bem também é humano. E que, em ambos os casos, é uma escolha.