A operação.
Quando alguém faz uma coisa muito estúpida raramente aceitamos que seja capaz de um acto inteligente. No caso do PSD, é certo que a proposta da revisão constitucional foi estúpida, mas o modo como está a gerir a aprovação do orçamento não é.
Há muito que Pedro Passos Coelho decidiu viabilizar os desvarios de Sócrates. Mas para que esta decisão não cause dissensões internas nem provoque o cinismo dos eleitores, o país inteiro tem que erguer-se num apelo lancinante e suplicar-lhe que faça o supremo sacrifício das promessas recentes.
A operação está em curso. Manuela e Pacheco, com a perspicácia habitual, exigiram aquilo que de outra maneira teriam contestado. Cavaco, de moto próprio ou com aviso prévio, empunha bandeirinhas em nome dos consensos. Os abrantes, anónimos ou ilustres, urram pela responsabilidade do líder da oposição. Jornais e blogosfera em peso imploram-lhe que nos condene à negra miséria socialista.
A pergunta é esta: quando deve Passos Coelho aceder aos berros pungentes da pátria? Resposta: no último minuto.
Até lá, mais vozes se unirão ao coro. E o povo conhecerá dia após dia, se as agências de comunicação não forem parvas, aquilo que deve conhecer: os delírios galantes dos ajustes directos e dos eventos, das comemorações e das chazadas. A dissipação abjecta dos recursos públicos por amigalhaços e correligionários. O sofrimento dos almeidas santos e dos pedros soares. Depois, só depois, virá a aprovação — e com ela o negrume.
De maneira que a situação é a seguinte: Passos Coelho não está acabado. Vocês é que estão.