Zapatero antecipa Sócrates
Dez anos depois de assumir a liderança do Partido Socialista Operário Espanhol, seis anos depois de chegar ao poder, José Luis Rodríguez Zapatero acaba de registar a primeira séria derrota política, nas próprias fileiras do PSOE. Tomás Gómez, o líder socialista madrileno, teimou em levar por diante a sua candidatura às eleições para a comunidade madrilena do próximo ano, desafiando Zapatero, que pretendeu impor como candidata a ministra da Saúde, Trinidad Jiménez. Gómez disse uma palavra que Zapatero não escutava há dez anos nas fileiras do partido: a palavra não. Manteve a candidatura, forçando a realização de eleições primárias nas quais se empenhou todo o estado-maior socialista, a favor de Trinidad, e o próprio Governo, com destaque para os poderosos ministros José Blanco e Alfredo Pérez Rubalcaba. Nos comícios da campanha, Gómez não contou com nenhum membro do Executivo: parecia estar de quarentena por ter ousado contestar o chefe. Mas a palavra decisiva coube aos militantes socialistas de Madrid, que lhe deram a vitória.
O pós-zapaterismo começou hoje, como assinala o El País. Este é um processo a que os socialistas portugueses devem estar atentos: há vários anos que o destino de Zapatero antecipa o de José Sócrates. Por cá, por enquanto, subsiste a dúvida: quem será o Tomás Gómez português?