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Delito de Opinião

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Luís Naves, 19.03.20

Ao longo da vida, assisti do camarote a quatro grandes mudanças no mundo. A primeira chegou tardiamente a Portugal, sob a forma de revolução. Na altura, não entendi quase nada, mas agora percebo que houve uma espécie de tsunami social, económico e político que trouxe o país para a normalidade contemporânea. A segunda alteração foi simbolizada pela queda do Muro de Berlim e marcou o fim da Guerra Fria. Vieram depois o 11 de Setembro de 2001, que mudou o nosso sentido de segurança física, e a grande recessão de 2008, que abalou a segurança económica, mas estes dois movimentos estavam ligados a perturbações tecnológicas mais complexas. Não parece ousado dizer que a nossa vida vai levar outra volta. Muitas mudanças podem ser boas, as duas primeiras foram-no, mas esta vai atingir uma sociedade envelhecida e habituada a certos privilégios. Não coloca ponto final numa guerra que nos podia aniquilar nem abre os costumes a novas ideias, antes vem na sequência das outras duas mudanças, a encerrar-nos um pouco mais no medo: o que se aproxima ameaça erodir a abundância, fechar os portões de algumas liberdades, promete dividir ainda mais as gerações e as classes. Os historiadores do futuro talvez olhem para os 50 anos anteriores a 2020 como uma interessante anomalia, onde por acidente estávamos nós, entretanto esquecidos.

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