O ensino das línguas estrangeiras
A pequena polémica sobre o spoken engrish de José Sócrates pode ser um excelente ponto de partida para uma discussão muito interessante e, na minha opinião, muito importante. Não sei se alguém fala nisso, mas a verdade é que os programas curriculares de línguas estrangeiras do ensino básico e secundário não permitem aos alunos aprender a falar esses idiomas. Nem o Inglês, língua que goza de uma série de factores que creio facilitarem imenso a sua aprendizagem (a opção por legendagem nas séries e filmes, ao invés da dobragem). Ora se isto nem acontece num idioma com o qual todos contactamos desde tenra idade, como pode acontecer em idiomas menos presentes, como o Francês? Falo no Francês, entenda-se, porque no meu tempo era a segunda língua dos programas escolares. No meu caso, foi a primeira: tive Francês do quinto ao décimo-primeiro ano (sete anos, com sete níveis correspondentes), e Inglês do sétimo ao décimo-segundo (seis anos, seis níveis). A verdade é que, ao longo desses sete anos de língua francesa e seis anos de língua inglesa (durante os quais, com uma excepção no nono ano a Inglês, tive sempre professoras boas ou muito boas), nunca houve um treino metódico e intensivo para que aprendêssemos a falar aquelas línguas. Havia exercícios de gramática (imensos), de vocabulário. Escrevíamos redacções (raramente textos livres). Líamos textos. Falava-se o básico no idioma em estudo com a professora - mas apenas isso, o básico. Com sete anos de excelentes notas a Francês, acabei o Secundário incapaz de me exprimir com um mínimo de fluência na língua francesa; e o mesmo não aconteceu com o Inglês porque aprender a ler, escrever e falar correctamente Inglês foi um objectivo pessoal que estabeleci no décimo ano e que resolvi sozinho, nos meus tempos livres - e tudo graças aos meus gostos mais ou menos geek, quem diria.
Confesso que nunca tinha pensado nisto até ter passado umas férias em casa de amigos na Dinamarca. Amigos dinamarqueses, entenda-se, com filhos mais novos que eu. A mais nova, com treze anos na altura, já falava inglês quase tão bem como eu. As duas filhas mais velhas do casal, à época com 15 e 17, falavam inglês com absoluta naturalidade. Quantos adolescentes em Portugal dominam a língua inglesa?
Regressando a Portugal: a verdade é que chegam todos os anos às universidades imensos alunos incapazes de manter uma conversa ou escrever num idioma estrangeiro - falo no Inglês porque é o mais comum nos dias que correm. Mais grave: temos alunos a acabar cursos universitários exactamente nas mesmas condições [por favor: tive colegas de turma que acabaram Jornalismo (!) quando eu acabei e eram incapazes de chegar à terceira frase em Inglês; talvez até fossem a maioria]. No desastre que é o ensino em Portugal, fala-se muito do Português e da Matemática e perde-se imenso tempo em redor da famigerada "educação sexual"; mas não vejo ninguém referir o descalabro no ensino das línguas estrangeiras. É pena, pois faz falta. Como o nosso primeiro-ministro tão bem demonstrou.