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Delito de Opinião

Como envergonhar o país no estrangeiro

João Campos, 29.09.10

Não sei se os leitores estarão lembrados de um episódio caricato do primeiro mandato do governo PS: aquele discurso, não me lembro onde ou a que propósito, em que o inglês macarrónico (autêntico engrish) de José Sócrates fez Angela Merkel e Gordon Brown rirem a bom rir. O vídeo está na Internet e chegou a circular em alguns círculos mais "obscuros" da rede com o título de "English Fail". Esse episódio devia ter feito Sócrates pensar duas vezes: afinal, nestas coisas há sempre tradução simultânea, também é necessário dar emprego a tradutores e, enfim, sempre se evita fazer má figura. Mas se há actividade à qual o nosso primeiro-ministro não dedica muito tempo é a pensar; tampouco é conhecido pela sua noção do ridículo, pois, algum tempo volvido, decidiu repetir a graça, mas em castelhano, em terras de Espanha. E como não há duas sem três, parece que a recente visita de Sócrates aos Estados Unidos tem sido rica em episódios. Confesso que suspirei de alívio por, nas Nações Unidas, Sócrates ter discursado em Português - pensei para com os meus botões: o homem pode nunca deixar de ser um primeiro-ministro sofrível, passe o eufemismo, mas ao menos já aprendeu alguma coisa. Erro meu: na Universidade de Columbia, em conferência, o senhor primeiro-ministro de Portugal decide quebrar o gelo recorrendo... a uma piada. A uma que nem foi original, por ser já muito batida: quem viu o excelente Le Cinquième Elément, filme europeu de ficção científica (juro que esta foi coincidência) com Bruce Willis, Milla Jovovich, Ian Holm e outros, certamente recordar-se-á de uma passagem em que Leeloo (Jovovich), em estado mais ou menos catatónico, começa a falar no idioma dos deuses; e Korben Dallas (Willis), confuso, diz-lhe apenas "woah, lady, I only speak two languages: English and Bad English". Foi mais ou menos esta a linha de Sócrates, dizendo, perante uma plateia já de si atónita com o engrish de um primeiro-ministro (um primeiro-ministro, meu Deus!), qualquer coisa do género: que iria discursar na língua mais falada internacionalmente, não o inglês, mas o mau inglês. Se alguém quiser exibir o vídeo, por favor; no computador que estou a usar isso não me é possível. Adiante. Isto de contar piadas numa conferência para quebrar o gelo tem muito que se lhe diga; já vi alguns oradores (sobretudo americanos, mas recordo-me também de um extraordinário orador alemão que conheci) fazerem-no com mestria e tornarem conferências sobre temas complexos em sessões muito divertidas e enriquecedoras. Mas é preciso jeito para falar em público, sentido de humor e, sobretudo, muita prática; ora o nosso primeiro-ministro não possui possui qualquer vestígio de talento para falar em público; desconheço-lhe sentido de humor, pelo menos, sofisticado; e assim sendo não há prática que lhe valha. Tentou ser engraçado; conseguiu envergonhar o país no estrangeiro, uma vez mais. Way to go, man.

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