Notícias da crise
1. José Sócrates - como sucedeu inicialmente a Zapatero em Espanha - recusou encarar a realidade, fazendo orelhas moucas aos avisos mais lúcidos. Isto até ao momento em que a crise embateu em Portugal com todo o estrondo. Ele e membros do seu Governo, como o anterior titular da Economia, Manuel Pinho (ainda me lembro da célebre frase "A crise acabou", proferida em 2006), e o actual ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos.
2. Praticamente por falta de alternativa, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e a Alemanha governada por Angela Merkel puxaram as orelhas ao Governo português. Em Maio, o primeiro ministro de Estado e das Finanças de Sócrates, Luís Campos e Cunha, deu à revista Visão uma entrevista em que fazia uma crítica demolidora ao comportamento do Executivo socialista nesta matéria. Afirmando, com todas as letras, que Portugal se transformou num "protectorado alemão". De facto, quando falamos de crise económica é já de soberania nacional que estamos a falar. Ou da falta dela.
3. Existe um antes e depois de 20 de Maio - a data em que Sócrates foi enfim forçado a encarar de frente as vastas proporções da crise, confrontado com o ultimato das instâncias europeias. Mas as coisas podiam e deviam ter-se passado de modo diferente se algumas medidas contidas no Pacto de Estabilidade e Crescimento anunciadas há quatro meses pelo Governo tivessem sido adoptadas antes da aprovação do Orçamento de Estado para 2010. Seguramente não seriam então globalmente tão drásticas. O tempo jogou contra os interesses nacionais, avolumando os efeitos da crise, que o primeiro-ministro teimava em não reconhecer.
4. O Governo preferiu enganar os portugueses - e enganar-se a si próprio. O mesmo Governo que este ano aumentou impostos depois de ter baixado o IVA de 21% para 20% e congelou os vencimentos da função pública depois de ter aumentado os funcionários em 2,9%. Os bónus anteriores ocorreram a pensar no ano eleitoral de 2009 (em que houve eleições europeias, legislativas e autárquicas). Agora, felizmente para Sócrates, não há eleições legislativas à vista. O que talvez explique o anúncio já antecipado de novas subidas de impostos inscritos no Orçamento de Estado para 2011. Governar em ziguezague costuma dar nisto. Sendo as coisas o que são, quem se admira que o País esteja hoje no atoleiro em que se encontra?