Convidado: RODRIGO MOITA DE DEUS
As forças da reacção I
É absolutamente falso que o objectivo da direita seja deixar os pobres morrerem à porta dos hospitais. Toda a gente sabe que se os pobres morrerem ficamos sem ninguém que trabalhe para os ricos. O objectivo do capitalismo é a exploração do homem pelo homem. A direita é a principal interessada em cuidados de saúde de qualidade para os pobres. O bom senso demonstra que se o homem quina não fica ninguém para explorar.
As forças da reacção II
Há que proteger a rede pública de ensino. Muito embora já não exista rede pública de ensino. O pré-escolar é gerido por privados e IPSS. O ensino básico é gerido pelas câmaras e o ensino secundário também começou agora a passar para as mãos das autarquias. E apesar do número de alunos diminuir todos os anos, e apesar da delegação de competências, o ministério da educação todos os anos aumenta o orçamento e aumenta o número de funcionários.
As forças da reacção III
Há que proteger o Serviço Nacional de Saúde. Aquele serviço que tem um custo/ano de 900 euros por habitante. O serviço Multicare, com estomatologia, tem um custo/ano de 530 euros por utente. Com a margem de lucro incluída. Sendo que a Multicare pertence ao mesmo accionista que gere o SNS. Temos redes privadas, redes públicas e redes em parceria público-privada. Hoje, mais de três milhões de portugueses têm acesso a cuidados de saúde privados. Seja através de seguros, seja através dos sub-sistemas. Três milhões de utentes que duplicam os seus encargos. Três milhões de utentes que pagam o SNS e praticamente não o usam. E não consta que os custos com o SNS tenham diminuído. Pelo contrário.
As forças da reacção IV
Ouvir Sócrates defender a rede pública de ensino depois de inaugurar a creche do Jumbo em Alfragide.
As forças da reacção V
Trinta e seis anos depois de Abril volta a ideologia e a semântica da época. De um lado quem quer mudar tudo. Quem quer revolucionar. Do outro, quem quer que tudo fique na mesma. Quem até prefere que o tempo volte para trás. Mas a relação de poder traz curiosas ironias. A relação de poder faz do centro-direita uma força revolucionária e da esquerda a força da reacção. O obscurantismo e o dogma ideológico.