Convidado: DIOGO BELFORD HENRIQUES
Antonio Ramón Diaz Sánchez,
prisioneiro e exilado por delito de opinião
“Delito de Opinião” é o nome deste blogue. Aproveito assim o nome, e o convite, para contar uma história.
Recentemente, por razões partidárias, jantei em Bruxelas com um grupo de exilados cubanos. É pequeno o meu engenho e serão poucas as palavras para descrever, aqui, o que conheci.
Conheci um homem, pequeno, nervoso, doente. Tímido, o fato que lhe caía mal-amanhado – claramente acima do seu tamanho – dava impressão de uma triste figura. Só quando começou a contar a sua história é que os seus pequenos olhos cresceram e mostraram o coração.
Chama-se Antonio Díaz e era um estudante de Direito. Foi um dos impulsionadores do Projecto Varela. Esta iniciativa, liderada por Oswaldo Payá, foi a mais revolucionária acção que percorreu Cuba na última década: baseada num artigo da Constituição Cubana – que permite propostas legislativas se forem assinadas legalmente por 10.000 pessoas -, e contra todas as expectativas, conseguiu que 11.200 corajosas e corajosos cubanos colocassem o seu nome num papel que pedia liberdade.
Tudo isto resultou, como se sabe, na chamada Primavera Negra. Muitos destes activistas foram presos e, em vinte dias, sentenciados.
Tony Díaz, como é conhecido, foi condenado a vinte anos de prisão. Desde 2003 foi enclausurado. Tendo recusado usar o uniforme de presidiário, foi transferido para uma prisão a 500 km da sua família e colocado numa ala onde estavam prisioneiros tuberculosos. Contraído o bacilo, entre outras doenças, continuou de prisão em prisão até este ano.
Fez parte dos reclusos libertados por Cuba e exilados em Espanha, sob mediação da Igreja Católica.
Podia ter ficado quieto, calado, agradecido pela sua “sorte”. Nada disso.
Em vez de agradecer, foi a Bruxelas denunciar a acção diplomática espanhola. Não pela sua libertação, que sendo justa não apaga a ilegalidade da prisão, mas pelo MNE de Madrid estar a tentar mudar a posição da União Europeia sobre Cuba.
Espanha quer que a UE deixe de ter uma posição comum, frente à ditadura cubana. Que seja substituída por posições e acordos bilaterais. Isto, diz Espanha, ajudaria as reformas na ilha.
“Pues que no!” - dizem os exilados, os presos, os que conhecem a realidade cubana. A posição comum de censura é a única que tem forçado as mudanças do regime dos irmãos Castro.
Resta saber se a UE, e já agora Portugal, terão a coragem de seguir o conselho destes homens, presos por delito de opinião: que não é por mais “licenças de trabalho” - outorgadas pelo estado – que se atinge a reforma; que não é por libertar presos.
Pelo contrário, é por prender menos pessoas; é por exigir a primeira de todas as reformas, a Liberdade.
Se a Europa não tem uma posição comum nisto, para que servem as posições comuns?