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Delito de Opinião

Rasgos (22)

Ana Vidal, 07.09.10

ARTE POÉTICA

 

Olhar o rio feito de tempo e água

E recordar que o tempo é outro rio,

Saber que nos perdemos como o rio

E que os rostos passam como a água.

 

Sentir que a vigília é outro sonho

Que sonha não sonhar e que a morte

Que a nossa carne teme é essa morte

De cada noite, que se chama sonho.

 

Ver em cada dia ou ano um símbolo

Dos dias do homem e dos seus anos,

Converter o ultraje dos anos

Em música, rumor e símbolo.

 

(...)

 

Às vezes pela tarde há uma cara

Que nos olha do fundo de um espelho

A arte deve ser como esse espelho

Que nos revela a nossa própria cara.

 

Contam que Ulisses, farto de prodígios

Chorou de amor ao avistar a sua Ítaca

Verde e humilde. A arte é essa Ítaca

De verde eternidade, não de prodígios.

 

(...)

 

Jorge Luís Borges, in Obra Poética

 

(Nota: tradução minha, com as devidas desculpas ao Mestre pela ousadia e pela liberdade de truncar um poema sublime)

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