Convidado: JOSÉ SIMÕES
Frente de incêndio
Dizia um velhote na televisão, a ver a vida a andar para trás à frente da frente de incêndio que, “a minha mata está limpa, limpo-a todos os anos, a do Estado não”. “Porquê?”- perguntava o atrapalhador de serviço aos telejornais – “não sei… nós não mandamos no Estado, o Estado é que manda em nós…”, fazendo com isto as delícias dos blasfemos e insurgentes e outros liberalizadores económicos, e só económicos, porque de costumes estamos liberalizados até demais. Toca pois a privatizar as matas e as florestas do Estado porque assim ainda alguém as limpa. Duas vezes mas limpa, e a primeira a limpar é logo do património comum herdado de centenas de anos de história. Wrong answer. Nós é que mandamos no Estado, assim uma espécie de Luís XIV alargado e democratizado: o Estado somos nós. E esta é a pior frente de incêndio, a da submissão e do medo respeitoso, e que consome há muuuuuitos anos a alma deste povo com várias frentes conjugadas numa só, e que aproveita aqueles que a pretexto da rentabilização económica e da creação (assim mesmo, com “e”) de riqueza e da segurança das populações e das aldeias ensaiam um fast forward a uma espécie de feudalismo século XXI.