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Delito de Opinião

Casamentos em flor

Ana Margarida Craveiro, 16.08.10

Em plena época de casamentos, dou por mim a pensar no absurdo de tudo isto. Não há-de existir muita igrejinha por esse país fora que escape aos casamentos de Verão. Noiva que é noiva tem de desfilar pela igreja fora, com uma grande cauda, e o povo todo a assistir. Noiva que é noiva tem de ter fotografias à porta da igreja, com arroz e tudo o mais. Tudo muito lindo, perfeitamente abençoado pelo Senhor. Agora vamos raspar esta superfície, e ver o que está por trás do quadro, e em muitos dos casos (sou testemunha de alguns), temos a situação mais confrangedora de todas, que é o silêncio absoluto na parte em que a assembleia deve participar, o padre a dizer - aos noivos também, claro está - quando é suposto levantar ou sentar, e a imensa multidão cá fora a fumar e tagarelar.

Há dias, uma amiga protestante escrevia no blogue dela que, nos dias de hoje, ser coerente é ser, aos olhos dos outros, fundamentalista. Ela concluía com um assertivo seja. A Igreja católica há muito que gosta de massas. É bom ter igrejas cheias, e números confortáveis de crentes (mais baptizados que crentes, mas são as estatísticas que temos). No tempo de João Paulo II, o que interessava era chegar a todo o lado, ser simpático (no sentido de criar empatia) com todos. E lentamente foi escorregando nas concessões, aceitando tudo e todos. Muito honestamente, já pensei que era esse o caminho. Aliás, tenho sobretudo dúvidas a este respeito, mas parece-me que a lógica subjacente à questão pode ser comparada à dos partidos: um catch-all (um partido centrão, estilo PS e PSD) abrange todo o centro, e ainda mais uma franja à esquerda e outra à direita. Mas, na verdade, são poucos os que militam nesse partido, e por vezes até tendem a abster-se e a ser voláteis no voto (perdoem a comparação, são defeitos de oficio). Suponho, pelo que leio, que Bento XVI tem outra abordagem: poucos, mas bons. Ou seja: podemos não ter igrejas repletas, nem casamentos a cada fim-de-semana do estio, mas o que temos é convicto, e está consciente do passo que está a dar. De novo, o que tenho mais dúvidas: alguém quereria uma igreja tipo PC?

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