Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

A polémica do calhamaço

João Campos, 10.08.10

Leio este texto de Francisco José Viegas, a propósito de uma das mais recentes "polémicas" da bloga, em torno de Bolaño e do romance 2666. Por alturas do lançamento, há coisa de um ano, também eu escrevi algumas coisas a propósito do tema, do marketing, do hype. Nada contra Bolaño; só achei muito engraçado ver um autor como Bolaño envolvido naquele hype, no fundo muito idêntico à euforia gerada a cada lançamento de novo livro por J.K. Rowling ou Stephenie Meyer (autoras de Harry Potter e Twilight, respectivamente). Na verdade, o hype tende sempre a gerar um movimento de sinal contrário, também ele muito forte. Enfim, euforias e "ondas" à parte, esta foi mais uma polémica estéril: no final, cada um lê o que quiser ou o que lhe interessar, independentemente do marketing (o mesmo se aplica à música, ao cinema...). É mais ou menos neste ponto que, na minha opinião, o bom texto de FJV azeda um pouco: acaba por não estar em causa a "descrição de sonhos", ou a ideia (creio que sarcástica), de que, e cito, uma pessoa, naturalmente sóbria, culta, equilibrada como um paxá, detesta sonhos. Naturalmente, o que é preciso é acção, acção demolidora, luz do dia, espinafres, função clorofila às horas marcadas e pouco incómodo. Este é, a meu ver, um tiro ao lado. Os gostos dos leitores são tão diversos que me parece bastante problemático catalogá-los de forma tão simples. Se calhar até há pessoas "naturalmente sóbrias, cultas e equilibradas" que gostam de sonhos (isto "soa" estranho, eu sei), e gostaram das descrições de sonhos de Bolano. Ou talvez não tenham gostado. Se calhar as mesmas pessoas que gostam das tais descrições de sonhos também apreciem, de vez em quando, uma leitura mais "de acção". Ou talvez tenham ignorado essas passagens e apreciado o livro no seu todo. Ou talvez nem tenham tido interesse de lhe pegar. Enfim, as possibilidades são ilimitadas. Uma vez mais, creio que cada um continua a ler o que quer, dentro das suas possibilidades.

Nestas matérias de leituras e livros, incomoda-me muito mais o preço absurdo que os livros têm, faltando a possibilidade de escolha entre hardcovers e edições mais elaboradas (e caras), e as mais modestas e práticas edições paperback, ou de bolso. E, claro, incomoda-me também a contínua "marginalização" (passe a expressão) de alguns géneros literários, que no nosso pequeno mundo literário contam muito pouco - ou nada.

2 comentários

Comentar post