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Delito de Opinião

A Casa (4)

José Meireles Graça, 31.05.25

Procurei obter o que me era pedido, e fui sendo servido, ainda que com dúvidas, confusões e sugestões.

A 23 dirigi-me a todos. Agora já os endereços não tinham falhas e impus-me a obrigação de não dar um passo que me parecesse de interesse comum sem dele dar conhecimento. É o bom que tem o e-mail, nem sei como é que dantes as pessoas se desenrascavam. Por esta altura já havia também quem se me dirigisse por WhatsApp. Só não fiz um desses grupos com imagem e som porque a tecnologia ainda não permite distribuir cerveja e salgadinhos. Assim:

Boa tarde.

Encontrei-me hoje com a solicitadora, que me disse que para prosseguir com o assunto precisa do documento de habilitação dos sobrinhos à herança da tia F, que talvez tenha sido feita ou não.

Da extensa documentação que me disponibilizou a C não consta.

De modo que telefonei à DA, que detém as chaves da casa e se prontificou a ir comigo ver uns documentos que há por lá – talvez exista esse. No próximo Sábado porque nem hoje nem amanhã poderia, dado estar a trabalhar.

Se a habilitação não tiver sido feita será necessário fazê-la. Não é impossível, mas dará uma trabalheira só para coligir a papelada necessária.

Um abraço ecuménico.

Zé.

A um primo que vive no Brasil (há um sobrinho que vive no Canadá e o Estado Português é mais exigente com a papelada destes expatriados do que, creio, com a dos imigrantes), inexcedível de atenção e boa-vontade, respondi assim, na sequência da reacção ao e-mail que figura acima:

Se fosse a ti não fazia, para já, nada. Quanto menos pontas soltas houver, nesta altura, melhor, o processo já é uma terrível confusão. O critério que estou a seguir é não alimentar excessivamente conversas, salvo as que forem estritamente necessárias e para o que for imprescindível, e ir dando à solicitadora tudo o que ela pede, a ver se levo a empresa a bom porto. De resto, o testamento é perfeitamente claro sobre o recheio da casa e a(s) conta(s) bancárias, nem percebo por que razão a solicitadora acha necessário trazer isso à colação. Enfim.

Um abraço.

Zé.

(Lendo este arrazoado no recesso familiar porque ninguém põe o pé fora da porta, tal o calor, foi-me dito: Não paras de empalear, isso parece um filme em tempo real. É o que temos, foi o que respondi.)

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 31.05.25

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Hoje lemos Jane Austen: "Orgulho e Preconceito"

Passagem a L' Azular: "Tenho defeitos suficientes, mas acredito que não sejam de entendimento. Não me atrevo a garantir o meu temperamento. Creio que é pouco dócil — certamente pouco para a comodidade do mundo. Não consigo esquecer as loucuras e os vícios dos outros tão facilmente como deveria, nem as suas ofensas contra mim. Os meus sentimentos não se inflamam a cada tentativa de os modificar. O meu temperamento talvez pudesse ser chamado ressentido, mas não o é. A minha boa opinião, uma vez perdida, está perdida para sempre."

Quase que subscrevo esta descrição. Quase. Há alguns anos atrás, tê-la-ia subscrito na íntegra, mas o sangue na guelra esmorece com o tempo e presentemente vou comprando cada vez menos guerrinhas de bate-boca. Já bastam as grandes batalhas que temos de vencer e ajudar a vencer todos os dias, essas sim, de importância vital.

DELITO há cinco anos

Pedro Correia, 31.05.25

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Alexandre Guerra: «A sociedade americana vive tempos particularmente complexos e turbulentos. A pandemia veio exponenciar graves problemas sociais e laborais, assim como acentuar desigualdades económicas. O blogue Working Economics Blog do Economic Policy Institute é uma excelente ferramenta que ajudará a uma compreensão mais sólida das questões económicas e laborais enquadradas nas dinâmicas sociais e de classe.»

 

João Sousa: «Depois de meses a ouvir constantes apelos ao "distanciamento social" nas homilias de pivots de telejornais, nas intervenções de especialistas, nas sessões de propaganda política e nos infindáveis directos jornalísticos onde se gastaram horas a repetir em alvoroço todos os nadas que já tinham sido relatados em directos anteriores, muitos ficarão durante longo tempo prisioneiros de uma debilitante "desconfiança social".»

 

JPT: «É uma pérola. Rara. Linda. Que me encantou. Vede, que decerto gostareis.»

 

Eu: «Será falha de memória minha ou o "código de conduta" elaborado pela DGS e tornado público a 19 de Maio (apenas há 12 dias) estipulava, em termos categóricos, que "deve ser utilizado o menor número possível de estádios" neste regresso às competições desportivas?

- Dezassete em dezoito será mesmo "o menor número possível"?»

A Casa (3)

José Meireles Graça, 30.05.25

Prosseguiam entretanto as trocas de correspondência por causa disto e daquilo. E ia descobrindo que nesta parentela (muitos não conhecia pessoalmente, salvo por encontros fugazes em enterros, e outros nem isso) todos sabiam escrever, coisa hoje relativamente rara.

Isto vem confirmar uma minha tese antiga, original e percuciente, segundo a qual se conhecermos um número significativo de indivíduos com ascendentes comuns próximos (é o caso: são todos netos ou bisnetos do mesmo casal) encontraremos diferenças abissais entre eles mas também alguma recorrência de características psicológicas comuns. Se eu estiver certo, como é meu costume, deverão aparecer, ainda que dentro dos limites da normalidade, dois ou três chanfrados, sem descartar o facto de haver pessoas pouco credíveis que me incluem nesse âmbito.

De resto, conheço pelo menos uma família (com uma amostragem bem mais significativa) que tem uma percentagem anormal de avarentos; outra de burros; e não deve ser preciso procurar muito para encontrar famílias com percentagens incomuns de mentirosos ou socialistas.

A 20 de Janeiro escreve-me a solicitadora, assim:

Boa tarde Sr. José Meireles Graça,

No seguimento infra, sim, será melhor agendar dia/hora para passar no escritório, uma vez que, para prosseguir com as diligências para o pretendido necessito de procuração para tratar do assunto junto das entidades públicas, nomeadamente junto das finanças para obter a certidão da apresentação imposto selo por óbito da sua tia.

Seria importante que o Sr., junto dos seus primos filhos do seu tio AA, perceber quem o acompanhou para tratar dos assuntos após a morte da sua tia, isto porque é importante para sabermos se foi ou não feita a habilitação de herdeiros, onde, e por quem.

No que diz respeito aos seus primos, que diz terem recusado herança, tem que lhes pedir cópia do documento formal para se perceber em que termos foram feitos e se têm validade jurídica.

Por último, e se assim entender, podemos agendar para passar no escritório na próxima quinta-feira.

Cumprimentos.

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Lá fui. Stay tuned.

Ela ri de quê?

Pedro Correia, 30.05.25

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Viu a irmã Joana riscada do parlamento: assim aconteceu com quatro quintos dos deputados bloquistas. Perdeu o grupo parlamentar. Disse adeus a metade da generosa subvenção estatal de 930 mil euros anuais ao partido. Teve o pior resultado de sempre do BE, fundado em 1999. Falhou por completo a aposta no regresso das "cabeças grisalhas": Francisco Louçã, cabeça-de-lista por Braga, recolheu menos de metade dos votos de 2024; Fernando Rosas, em Leiria, ficou igualmente abaixo da metade; Luís Fazenda, por Aveiro, conseguiu menos de um terço face ao resultado anterior. Baixou muito o apoio eleitoral junto das mulheres, sobretudo com formação universitária.

Causa da hecatombe? Muito simples: é a «viragem à direita no mundo»Demissão? Nem pensem em tal cenário: a ética da reponsabilidade é coisa burguesa, nada a ver com o espírito revolucionário, que privilegia a liderança colectiva, mesmo quando apenas resta uma cadeira das 19 de que outrora usufruiu no hemiciclo. Debate interno para analisar os motivos deste rombo? Nada de pressas: será no fim do ano, quando tudo já estiver quase esquecido. A Convenção Nacional convocada para o efeito só acontecerá nos dias 29 e 30 de Novembro, seis meses depois da eleição legislativa. Se não chover.

É assim que funciona a "verdadeira esquerda". Deve ser por isso que ela ri à gargalhada.

Para acabar de vez com as dúvidas

Sérgio de Almeida Correia, 29.05.25

Os votos no Estrangeiro - fonte: MAI(créditos: DN/MAI)

O apuramento final dos resultados das eleições legislativas de 18 de Maio, que ontem se concluiu com a divulgação das escolhas dos eleitores nos círculos da Europa e de Fora da Europa, acaba, de certa forma, por lançar novo alerta aos partidos políticos tradicionais, à classe política em geral, e por confirmar o veredicto ditado pelas urnas em quase todo o país. 

Embora com menos 4313 votos, com a vitória nos círculos da emigração, o Chega ultrapassou o Partido Socialista (PS) em deputados e será em S. Bento o partido líder da oposição. Não apenas à maioria circunstancial e transitória da AD, mas também ao regime político saído da Constituição de 1976 e a que desde sempre firmemente se opusera.

Quanto ao "sistema", todos perceberam que o Chega já entrou para o seu lado de dentro e conseguiu aceder aos generosos fundos públicos disponibilizados pelos impostos dos portugueses a todos os partidos. O Chega pode consolidar a partir de  hoje a profissionalização dos seus quadros, ainda que possa dizer que não o vai fazer, e receberá os mesmos milhões de euros que os partidos políticos por si tão criticados sempre receberam dos contribuintes. 

O resultado obtido nos círculos da Europa e de fora da Europa, ao remeter a AD e a aliança PSD/CDS-PP para o segundo lugar aponta o enorme falhanço do discurso montenegrista junto dessas comunidades de portugueses. E destaca a perfeita nódoa que foi a acção de José Cesário e da sua equipa, não obstante as múltiplas, frequentes e na maior parte das vezes inexplicáveis, deslocações que realizou ao estrangeiro para fazer as habituais promessas e segurar o eleitorado potencial da coligação nas suas homilias para analfabetos, sacristãos e defuntos. De nada serviram as cartas enviadas para casa dos eleitores residentes no estrangeiro. E seria bom apurar o número de viagens que Cesário efectuou em menos de doze meses, detalhando-se as que fez já depois do chumbo da moção de confiança, quanto custaram – incluindo as suas ajudas de custo – e que resultados deram, quando se verifica um aumento dos abstencionistas – em 2024 votaram 6.473.789 portugueses, em 2025 apenas 6.317.949, apesar do número de eleitores inscritos ter aumentado em 31.989 – e o número de votos nulos, apesar de ligeira diminuição, continua bastante elevado (172.379 quando o ano passado foi de 189.676).  

Em relação aos votos nulos importa referir que a preocupação manifestada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que se mostrou alarmada com o facto de nalgumas mesas o seu número ser superior a 40%, é comportamento que revela muita hipocrisia. A CNE estava mais do que alertada para essa situação, a que eu próprio me referi em artigo publicado em 2022. E nem essa entidade nem os Governos de António Costa e Luís Montenegro, este com menos responsabilidades atento o curto período em que esteve em funções, fizeram alguma coisa que permitisse acautelar a repetição do sucedido.  

Confirmado que está o reforço substancial da votação no Chega, a vitória de Luís Montenegro, e o reforço da direita parlamentar,  torna-se ainda mais evidente o descalabro eleitoral do PS de Pedro Nuno Santos.  

Porém, quanto a este convém referir que não está sozinho no afundamento. Nunca será de mais dizê-lo. O líder era mau, mas os que o acompanharam não são melhores. Aquele rebanho de dirigentes oportunistas do PS que salta de secretário-geral em secretário-geral e a todos apoia, por mais diferentes que sejam, transborda de incompetência e desligamento da realidade, retirando qualquer sentido aos apelos pungentes que vêm tarde e a más horas fazer à reflexão. Reflectissem antes, dessem ouvidos a quem queria bem ao PS e ao país.  

Todos os barões e baronesas do Largo do Rato que há ano e meio entronizaram, com fanfarra e foguetes, o líder demissionário para comandar uma embarcação que já então vogava à deriva num mar encapelado, e que prenunciava os trambolhões nas vagas que levaram à inundação da casa das máquinas, varreram o convés, entrando pelos camarotes, e atiraram à água o infeliz e tonitruante capitão barbudo, deviam ser corridos.

Todo o Secretariado Nacional e os membros da Comissão Nacional do PS que teceram loas à liderança e assinaram de cruz para garantirem algum protagonismo nas filas da frente são responsáveis. Ninguém sai ileso, embora agora haja uns e umas com menos vergonha na cara e que venham dizer depois da tragédia acontecer que aconselharam o ex-secretário-geral a deixar passar o voto de confiança pedido por Luís Montenegro. Houve mesmo quem tivesse o desplante, em vez de ficar caladinha, de dizer numa entrevista que travou a sua candidatura à liderança do partido para não prejudicar o PS nas autárquicas. Um destes dias ainda vêm dizer que Pedro Nuno Santos chegou sozinho à liderança e que nunca nenhum deles o apoiou.  Enfim, é lá com eles.

Seria sim conveniente que em Portugal, que é o que verdadeiramente nos interessa, se começasse por arrumar a casa, fosse rapidamente dada posse a um novo Governo, nas ideias e nas pessoas, removendo-se os emplastros do último, e as coisas voltassem à normalidade. A começar nos aeroportos. O caos que aí se tem vivido também tem responsáveis.

Quanto ao resto, isto é, a democracia, se tiverem juízo e não andarem a perder tempo a rever com todo o folclore o preâmbulo da Constituição, equiparando-se aos dirigentes e às preocupações do Partido Comunista Chinês, como se daí dependesse o futuro da nação, o desenvolvimento do país e a alegria do povo, acabará por se reformar, continuando a acolher todos os que nela se revêem, incluindo aqueles portugueses incógnitos que nas urnas se manifestaram contra a paz podre do regime político, castigando as suas medíocres elites e as aberrações de um sistema eleitoral que teima em não se reformar e prefere continuar a afastar-se dos eleitores, empobrecendo a participação e a responsabilização individual e colectiva.

A insuportável birra do derrotado

«Até breve» não, Pedro Nuno Santos: até nunca

Pedro Correia, 29.05.25

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Conduziu o PS à maior derrota de sempre, vendo o seu partido ultrapassado pelo Chega. Movido pelo ódio a Luís Montenegro, apostou tudo em derrubar o primeiro-ministro invocando o chamado "caso Spinumviva", que os portugueses olimpicamente ignoraram. Fez orelhas moucas aos avisados conselhos que os membros do seu próprio núcleo duro lhe deram para não precipitar o país em eleições antecipadas que ninguém desejava e que auguravam o pior para os socialistas.

Depois de perder 900 mil votos, 20 pontos percentuais e mais de metade dos deputados em duas eleições para a Assembleia  da República em anos sucessivos (o PS tinha 120 deputados em 2022, baixou para 78 em 2024 e só tem 58 agora), depois de ver a AD liderada por Montenegro ultrapassar em assentos no hemiciclo todos os partidos da esquerda, confirma-se desde ontem, com o apuramento dos votos da emigração: os socialistas foram ultrapassados pelo Chega, sendo relegados para um inédito terceiro posto na hierarquia parlamentar.

Nunca antes tinha acontecido - nem com Mário Soares, nem com Vítor Constâncio, nem com Jorge Sampaio, nem com António Guterres, nem com Ferro Rodrigues, nem com José Sócrates, nem com António José Seguro, nem com António Costa.

 

E no entanto como reagiu Pedro Nuno Santos na noite eleitoral, confrontado com esta hecatombe? Como insuportável menino birrento e mimado. Sem um mea culpa, sem o reconhecimento de um erro, sem admitir que falhou em toda a linha, conduzindo o partido para uma espécie de beco sem saída.

Enredou-se em patéticos auto-elogios. Incapaz sequer de pronunciar a palavra derrota.

 

Parecia vogar num universo paralelo, escutando apenas hossanas de vassalos e os solos de violino dos aduladores (incluindo vários jornalistas) que o elegeram como campeão dos debates eleitorais nas legislativas em que fracassou. Esta análise detalhada do Pedro Santos Guerreiro não deixa lugar a dúvidas: há uma discrepância cada vez maior, em Portugal, entre quem vota e quem comenta nas televisões

Vale a pena lembrar aqui, para memória futura, as palavras de Pedro Nuno Santos. Estava tão fora da realidade, na noite de 18 de Maio, que quase parecia ter sido ele a sair vitorioso destas eleições.

Recordo-as nos parágrafos que se seguem.

 

«Honrei a história do partido.»

«Tenho muito orgulho no trabalho que fizemos.»

«Foi uma campanha alegre, entusiasmada, com a participação dum partido que estava unido, a apoiar-me.»

«Nós não provocámos estas eleições. Fizemos tudo quanto estava ao nosso alcance.»

«Luís Montenegro não tem a idoneidade necessária para o cargo de primeiro-ministro e as eleições não alteraram esta realidade.»

«[Montenegro] lidera um governo que falhou a vários níveis no último ano.»

«Eu nunca poderia ser suporte deste Governo. Acho que o PS também não deveria apoiar alguém que não soube separar a política dos seus negócios.»

«Como disse Mário Soares, só é vencido quem desiste de lutar - e eu não desisti de lutar. Até breve e obrigado a todos.»

 

Em suma, levou com um piano de cauda em cima da cabeça e mesmo assim parece não ter aprendido nada. Merece, portanto, o que lhe aconteceu. Espero ao menos que no PS tenham aprendido com este fracasso.

Se assim for, terão de começar logo por isto: até breve, não. Até nunca.

DELITO há cinco anos

Pedro Correia, 29.05.25

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Eu: «Desde que foi declarada a pandemia, a [livraria] Barata fechou - como aconteceu com todos os estabelecimentos do ramo, que já atravessavam uma severa crise antes de o Presidente da República e o Governo - sabe-se lá porquê - terem considerado que as livrarias não mereciam ficar abertas durante o "estado de emergência". Ao contrário dos quiosques, das mercearias e das tabacarias. Na altura, não ouvi um sussurro de protesto dos chamados "agentes culturais". Todos acenaram, em sinal de concordância.»

A Casa (2)

José Meireles Graça, 28.05.25

Seguiu-se uma saraivada de e-mails de lá para cá e de cá para lá, por causa de troca de endereços, correcções disto e daquilo, documentos, memórias… e, a 17 de Janeiro, a solicitadora envia-me cópia do testamento que desencantou lá onde os solicitadores desencantam coisas, juntamente com uma conta de despesas de papeladas oficiais de 61,35€.

Refiro este modestíssimo estipêndio porquê? Porque, tirando o imposto de selo que havia pago em 2019, e que foi à volta de 340€, igual ao que pagaram os outros herdeiros à época, a hirsuta cabeça do Estado ainda não tinha aparecido e, confortado na minha ingénua ignorância, não adivinhava que seria doravante uma sombra tutelar dispensadora de exigências de burocrata sádico e sedento de sangue.

Mas enfim, o testamento apareceu. E apressei-me a enviá-lo aos outros herdeiros, assim:

Boa tarde.

A solicitadora fez-me chegar cópia do testamento da tia F, que nunca tinha visto. Suponho que seja também o caso de todos, ou parte, de vós, pelo que a envio em anexo.

Encontrar-me-ei com ela para a semana e darei conta do resultado, em particular quanto a aspectos fiscais: quem pagou imposto de selo e quanto, e se haverá ou não responsabilidades futuras.

Espero não me estar a esquecer de ninguém. Não tenho remetido nada aos meus irmãos M e FA por entender que quando repudiaram a herança o quiseram fazer também em nome dos filhos. Não sei ainda de que forma deve ser isso encarado do ponto de vista legal, de modo que está o assunto, de momento, em suspenso. Ouço dizer que o meu irmão JP, que morreu sem filhos há pouco tempo, terá feito um testamento a favor de nossa mãe, que portanto também seria herdeira. Irei também apurar isso, estou à espera de documentos.

Abraço.

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Estas dúvidas já as esclareci no post anterior, que não sou de segredinhos, mas nesta altura ainda julgava que tinha nas mãos um assunto perfeitamente manejável, e não um molho de brócolos.

Um ano com D. Dinis (32)

Flores do Verde Pino

Cristina Torrão, 28.05.25

Não se verificando hoje nenhuma efeméride especial relacionada com o reinado de D. Dinis, aproveito para relembrar a sua Cantiga de Amigo mais conhecida. Ignoro porque se terá destacado tanto, talvez devido ao ritmo. Estes poemas eram escritos para serem musicados e cantados, o próprio D. Dinis compunha melodias. Infelizmente, quase nada chegou aos nossos dias.

Tendo isto em conta, criei, no meu romance, a seguinte cena (fictícia) à volta destes versos:

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Num serão de Março, os cálices de vinho esvaziavam-se facilmente e o rei encarregou os trovadores João Anes Redondo e Pêro Anes Coelho de entoarem a sua nova cantiga. Começava com um lamento dirigido à natureza, uma donzela pedia às flores notícias do amigo que tardava em aparecer, receando que ele lhe houvesse mentido. O refrão consistia precisamente na pergunta: "Ai Deus, e onde está?"

 

                        Ai flores, ai flores do verde pino

                        se sabedes novas do meu amigo!

                        Ai Deus, e u é?

 

                        Ai flores, ai flores do verde ramo,

                        se sabedes novas do meu amado!

                        Ai Deus, e u é?

 

                        Se sabedes novas do meu amigo,

                        aquel que mentiu do que pôs comigo?

                        Ai Deus, e u é?

 

                        Se sabedes novas do meu amado,

                        aquel que mentiu do que m’ há jurado,

                        Ai Deus, e u é?

 

A natureza interpelada punha fim à angústia da donzela, dizendo-lhe que o amigo estava vivo e sano e viria ter com ela dentro do prazo prometido. A simplicidade e o ritmo harmónico da cantiga pôs os convivas a cantar o refrão «Ai Deus, e u é?» em coro.

 

                        Vós me perguntades polo voss’ amigo?

                        e eu bem vos digo que é san’ e vivo.

                        Ai Deus, e u é?

 

                        Vós me perguntades polo voss’ amado?

                        e eu bem vos digo que é viv’ e sano.

                        Ai Deus, e u é?

 

                       E eu bem vos digo que é san’ e vivo,

                        e será vosc’ ant’ o prazo saído.

                        Ai Deus e u é?

 

                        E eu bem vos digo que é viv’ e sano,

                        e será vosc’ ant’ o prazo passado.

                        Ai Deus, e u é?

 

Se o fervor dos aplausos surpreendeu Dinis, maior foi o seu espanto, quando se exigiu a repetição da cantiga. Os versos não custavam a fixar, todos faziam coro com os trovadores, erguendo os seus cálices na altura do refrão:

 

                        Ai Deus, e u é?

 

Gerara-se uma rara descontracção e, assim que a cantiga chegou ao fim, foi exigida uma terceira vez! Aquela noite parecia diferente das outras, havia algo de especial no ar morno, convidativo ao deleite.

 

Notação Musical.jpgNotação musical original de D. Dinis ©Arquivo Nacional Torre do Tombo

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 28.05.25

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Hoje lemos Nikolai Gógol: "Contos de São Petersburgo"

Passagem a L' Azular: "Por vezes, as coisas que mais tememos são aquelas que nos libertam."

Quem entre nós não teme a mudança? O status quo, o dado adquirido, a rotina, tudo que nos rodeia e nos faz confortáveis, confere-nos a tranquilidade e a normalidade tão necessárias ao nosso dia a dia. 

Cristo foi destruído porque pensava diferente e falava de mudança e nós, humanos, sempre tivemos tendência para "destruir" tudo o que é diferente e foge ao entendimento que possuímos das coisas como elas são.

A mudança não é um medo que nos assalta de noite, é o pavor em que vivemos ante a possibilidade de termos de redefinir a vida como a conhecemos. E em vez de nos libertar, pensar na mudança agrilhoa-nos cada vez mais à nossa condição.

Reabre a biblioteca dos Olivais

jpt, 28.05.25

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Fomos nós, fregueses, informados que finalmente a biblioteca dos Olivais vai ser reaberta. Aqui vou falando deste meu bairro. Aludindo ao caso da biblioteca deixei o mês passado um (spinolista) "Os Olivais e o Futuro". E ainda sobre esse caso aludi à simpatia que a imprensa "de referência" (qual "Diário da Manhã") dedica à equipa PS desta Junta.

Não me vou alongar em repetições, apenas sumarizo: 36 anos de gestão PS; noticiadas - e tão faladas por cá - rasteiras práticas nepotistas; um demagógico assistencialismo, "popularucho" (sim, o tão em voga "populismo" é outra coisa); comadres PS zangadas neste final de mandato. E este caso, exemplar: uma preciosa biblioteca que, após as intermitências devidas ao COVID, ficou encerrada três anos e meio - desde 3 de Janeiro de 2022 -, obras alongadas apenas por incúria incapaz. (Leio que a presidente da Junta discursou agora em Assembleia de Freguesia contestando que a demora tenha sido tamanha. Esquecida que haviam sido emitidos cartazes - que encontro nos grupos-FB de habitantes do bairro).

Neste próximo sábado será reaberta a preciosa biblioteca. Espero duas coisas: que a Câmara não se venha fazer representar "ao mais alto nível", protocolarmente obscurecendo este despautério. E que não venha a ser confirmado o rumor, por cá audível: que o novo responsável da instituição será um para-cônjuge de membro da Junta - prática por cá comum.

E uma nota além-Olivais: é consabido o deslizar eleitoral (para não dizer pior) do PS. Intelectuais e lumpen-intelectuais apontam causas para isso: a "irrazão", o "ressentimento", a "incultura", os "preconceitos" (no sentido de discriminação pejorativa) dos eleitores compatriotas. Proponho uma alternativa: atente-se no PS dos Olivais. No centro da capital, uma freguesia com 32 mil eleitores, maior do que tantas das câmaras nacionais. 36 de anos de domínio da Junta, sob apenas dois presidentes. Baixo nível, arrogância, incúria, autoconvencimento. Nas penúltimas autárquicas obteve - grosso modo, noto que escrevo de memória - 52% de votos, diante de uma péssima, quase inexistente, candidatura do PSD. Nas últimas 32%, diante de similar vácuo alternativo. A semana passada, nestas legislativas (coisa diferente, eu sei) obteve 26%.

São os próprios socialistas, militantes e simpatizantes, que deviam olhar para isto. E, já agora, os dos partidos congéneres também o deveriam fazer.

Mania de meterem o Salazar em tudo

Pedro Correia, 28.05.25

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Pecado do jornalismo actual: lança-se para fora de pé, debita erros que passam despercebidos na mecânica das redacções. Ninguém vê, ninguém repara, ninguém corta, ninguém controla. Ninguém quer saber.

Às vezes o disparate surge totalmente a despropósito. Aconteceu domingo, no Público (p. 29), antevendo o duelo entre Sporting e Benfica da Taça de Portugal.

Em 1970, lê-se ali, «Simões, o capitão, recebeu o troféu das mãos de António de Oliveira Salazar, que iria morrer um mês e meio depois desta final».

Disparate. Salazar, inválido, estava fora do poder desde Setembro de 1968. Nunca foi, tanto quanto sei, a nenhuma final da Taça (mandava o Presidente da República, seu subalterno) e detestava futebol.

Enfim, tudo errado.

Sem a menor necessidade: já é mania de meterem o Salazar em tudo.

Ignorância? Desleixo? Incompetência? Talvez seja apenas azar, para rimar com Salazar. Logo num jornal que faz incessantes e sempre pertinentes prédicas contra a desinformação. 

DELITO há cinco anos

Pedro Correia, 28.05.25

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Cristina Torrão: «Depois de quase trinta anos de vida no estrangeiro, não sou de opinião de que os emigrantes/imigrantes portugueses sejam melhores do que os outros, tese criada a fim de distanciar os ilegais portugueses dos anos 1960 de todos os outros ilegais. Quem quiser viver nessa ilusão, pois faça favor! Se há algo que aprendi, nestas últimas décadas, é que, em todo o lado, e oriundas dos mais variados países, há pessoas boas e más, pessoas trabalhadoras e preguiçosas, pessoas honestas e vigaristas.»

 

Eu: «Que imperiosa lógica sanitária leva o Governo a interditar em absoluto estádios com capacidade para largos milhares de lugares sentados, ao ar livre, enquanto acaba de dar o dito por não dito, autorizando que sejam retomadas viagens aéreas - em cubículos estreitos, com ar rarefeito e onde as pessoas estão a centímetros umas das outras por vezes durante horas - sem qualquer limite máximo ao número de passageiros?»

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