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Delito de Opinião

PS há dois meses: prenúncio do pesadelo

Pedro Correia, 22.05.25

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É fácil, demasiado fácil, fazer o totobola à segunda-feira. Sorrio ao ver alguns sábios surgidos por aí com certezas adquiridas sobre a eleição parlamentar de 18 de Maio - depois de ela ter acontecido. 

Ainda com um sorriso, lembro as notas que aqui deixei em tempo útil sobre o comportamento errático de Pedro Nuno Santos, líder sem talento nem capacidade para segurar o leme do PS. Foi a 25 de Março, na sequência imediata da eleição regional na Madeira - outra estrondosa derrota do efémero caudilho socialista.

Permitam-me a autocitação nos parágrafos que se seguem. Dois meses decorridos, creio vir muito a propósito.

 

Escrevi isto:

«A 18 de Maio a maioria dos eleitores portugueses penalizará os partidos que a 11 de Março chumbaram a moção de confiança apresentada pelo Governo na Assembleia da República.

Por motivos diversos que passo a resumir.

Sentem mais dinheiro de salários e pensões no bolso, foram aliviados na carga fiscal, viram 17 carreiras da administração pública requalificadas e valorizadas - professores, militares, diplomatas, polícias, bombeiros, médicos, enfermeiros, guardas prisionais, oficiais de justiça... Mas também encaram com maus olhos o derrube de um Executivo que estava apenas há onze meses em funções, sem conseguir provar o que verdadeiramente vale, e já desistiram de deslindar o enredo da Spinumviva, variante da telenovelização mexicana do famigerado "caso das gémeas", agitada pelo Chega, com a comunicação social atrás, para no fim dar em nada. Serviu apenas para este partido, no tom boçalóide que o caracteriza, urrar contra o Presidente da República, a quem chama «traidor à pátria», enquanto hoje berra contra o «corrupto» Luís Montenegro.»

 

E mais isto:

«Para o triunfo eleitoral, Pedro Nuno Santos dispõe de via mais estreita do que Montenegro. Votou demasiadas vezes ao lado de André Ventura na AR. Teve um desempenho controverso e contestável como ministro - em questões tão diversas como a indemnização a uma ex-administradora da TAP e a localização do aeroporto. E tem sido incapaz de evitar fracturas no seu partido, como ficou patente nas recentes críticas de Fernando Medina e Pedro Siza Vieira ao voto do PS na moção de confiança.

Talvez mais tarde se diga que a eleição na Madeira funcionou como prenúncio. Não tardaremos a saber.»

 

Prefiro assim. Pronunciar-me antes, com os cenários todos em aberto. «Prever» o que já aconteceu não tem a menor graça.

Pensamento da semana

Pedro Correia, 22.05.25

Dez anos depois, podemos concluir: a geringonça foi um péssimo negócio para o conjunto da esquerda portuguesa. Primeiro a esquerda radical ficou reduzida à expressão mais ínfima, vítima da hegemonia socialista. Agora é o próprio PS a afundar-se a pique, conduzido em navegação errática pelo mais incompetente secretário-geral da história do partido. O círculo fecha-se. É quase irónico lembrar hoje que António José Seguro foi apunhalado por António Costa em 2014 após vencer a eleição europeia com 31,1%. «Poucochinho», dizia então o actual presidente do Conselho Europeu. Desta vez não há punhais na sede do partido. Por ser desnecessário: Pedro Nuno Santos, derrotado nato, optou pelo hara-kiri. Faz recuar o PS aos 23,4%, com o pior resultado em 40 anos, e sai de cena. Quem vier depois que trate de colar os cacos.

 

Este pensamento acompanha o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 22.05.25

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Luís Menezes Leitão: «Se calhar também já estou afectado pelos discursos de Sampaio da Nóvoa, pois só recordo a propósito uma citação do poema de Casimiro de Abreu, As Primaveras, de 1859: "Oh! que saudades que eu tenho/ Da aurora da minha vida/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais!/ Que amor, que sonhos, que flores/ Naquelas tardes fagueiras/ À sombra das bananeiras/ Debaixo dos laranjais!" Mas o problema é que Sampaio de Nóvoa também defende a não assinatura do Acordo de Parceria Transatlântica para o Comércio, um referendo aos tratados europeus e a renegociação da dívida até ao limite do possível. Parece-me por isso que ele e os seus apoiantes vão ter um duro choque com a realidade.»

 

Patrícia Reis: «Sim, a mulher concordou, a vida é só isso. A personagem do filme interrogava-se e ela nem por isso, o filme era uma treta, a vida era o que era. Só isso? Pois, só isso. A ignorância era uma bênção, tinham-lhe garantido. O "só isso" era uma forma assertiva de manter a ignorância. A ver se a dor se afasta.»

 

Eu: «Desporto e política não se misturam? Isso é paleio de quem recusa encarar a realidade. O próprio Luís Figo demonstra o contrário: a carreira política dele começou aliás num fotografadíssimo pequeno-almoço num hotel à beira-Tejo, a dois dias das legislativas de 2009. Apareceu ao lado de José Sócrates nesse evento, que terá custado uma pequena fortuna aos cofres socialistas. Pelo menos da fama de pesetero o craque não se livrou...»

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 21.05.25

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Hoje lemos Friedrich Hayek, "O Caminho para a Servidão"

Passagem a L' Azular: "É um dos espectáculos mais tristes do nosso tempo ver um grande movimento democrático apoiar uma política que deve conduzir à destruição da democracia e que, entretanto, pode beneficiar apenas uma minoria das massas que a apoiam. No entanto, é este apoio da esquerda às tendências para o monopólio que as torna tão irresistíveis e as perspectivas do futuro tão sombrias."

pesar de escrito em 1944, o livro retrata bem a actualidade, de como a resistência ao compromisso, à inovação e a descartar roupagens bafientas tornou um "grande movimento democrático" numa sombra de si próprio, dando de mão beijada o peso que detinha no quadro político nacional àqueles que podem "conduzir à destruição da democracia".

Só se podem queixar da sua própria falta de visão e rigor político. 

O povo, esse decisor tão ignorado, votou para lhes dar um estalo, não de luva de pelica, mas de gato de nove caudas.

As marés vão e vêm

Paulo Sousa, 21.05.25

Lembro-me bem da comédia que foi a geringonça para os socialistas. Então vocês não sabiam que o nosso regime é parlamentar? Não se vota para escolher o primeiro-ministro! Ah, vocês não sabiam! Mas pronto, agora já sabem. Cumprir as regras não escritas do regime? Para quê? O António Costa é que sabe andar nisto. Agora têm de amochar na oposição. É assim! Chama-se democracia. Embrulhem!

Escarnecer do adversário derrotado em democracia é muito mais civilizado do que o desmanche em postas em voga na Idade Média ou o fuzilamento como no caso da Fatah, mas as tradições de uma democracia decente devem ser respeitadas.

O apoucamento a que nos idos de 2015 a direita foi sujeita fez parte do jogo democrático, mas foi acrescido de uma taxa de arrogância razoavelmente elevada. Quantos dos que agora votaram Chega fazem parte dos que então tiveram de assistir à petulância dessa esquerda perante o montar da geringonça?

O algoritmo do Facebook de então ainda não o tinha tornado na rede social dos velhos. Lembro-me bem dos emojis sorridentes por todo o lado. O Passos para aqui, o Vítor Gaspar para ali, o escurinho até se portou bem, o irrevogável já foi, acabaram-se as maldades e a página da austeridade foi virada. Os resultados no estado dos serviços públicos e no estado do regime estão à vista

Não podemos despir ninguém da sua natureza humana, mas devíamo-nos lembrar que o pêndulo da história pode ser lento, mas é tão certo como a baixa-mar que se segue à maré cheia. Ventura e os seguidores da seita religiosa que fundou deviam lembrar-se disso. Importa saber perder, mas também é preciso saber ganhar, e isto não é exclusivo da política.

O espalhafato a que temos assistido nos últimos dias já está a render. Não sabemos quanto tempo durará a maré deles, mas lá chegará o dia em que os que agora escarnecem ficarão sem saber o que dizer às câmaras.

Confesso que também me alegrei com os afrontamentos do PS, não tanto pela menopausa em que parece ter entrado, mas pelo esbardalhamento do macho-alfismo que há muito exibiam - o wokismo que tanto proselitavam permite-me este jogo de palavras. É como se tivessem levantado voo no tempo de José Sócrates, conseguido fingir que iam em velocidade de cruzeiro com Costa e agora tivessem espetado os queixos no chão pela mão de Pedro Nuno Santos. Os resultados do dia 18, entre outras coisas, mostraram-nos que ripas a fingir que são tábuas nunca serão asas e as vacas nunca serão capazes de voar.

O caminho que o centrão agora enfrenta é muito estreito. Os erros acumulados durante décadas, em especial nos últimos anos, retirou-lhe qualquer margem de erro. Sem reformas substantivas e em prazo curto, tudo parece apontar para que o Chega venha a ser poder. Depois de Ventura mostrar que é tão incompetente como os outros e quão incapaz é o seu grupo parlamentar, rapidamente regressará à expressão que merece. Gostava de saber quem é que têm para preencher um Conselho de Ministros? É o tipo das malas para a Administração Interna? O Tânger Correia para os Negócios Estrangeiros? A Maria Vieira para a Cultura? O outro que angariava prostitutos menores on-line para a Educação? Espero estar enganado, mas cheira-me que aqueles que hoje batem com a mão no peito contra a privatização da RTP, um destes dias poderão ficar muito preocupados com o poder discricionário que o seu Conselho de Administração tem.

Esse dia chegando, o estrondo será inevitavelmente grande, mas já cá andamos vai para 900 anos e se já aguentámos (tivemos de aguentar por escolha de muitos) com José Sócrates, também aguentaremos com o “Escolhido por Deus para Salvar Portugal”. Livrar de isso coincidir com uma guerra.

A Mortágua

Pedro Correia, 21.05.25

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Acaba de conduzir o partido fundado em 1999 ao pior resultado de sempre, perdeu 80% dos deputados, viu desaparecer um grupo parlamentar que chegou a ocupar 19 lugares em 2011 e 2015, com Catarina Martins. E mesmo assim ela levanta o punho como se estivesse pronta a assaltar o Palácio de Inverno, a juntar-se aos barbudos na Sierra Maestra ou a erguer barricadas contra Franco em Madrid.

É a Mortágua. Protagonista de um filme do qual não entende o essencial do enredo: o Bloco de Esquerda acabou. 

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 21.05.25

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Joana Nave: «Passam séculos, décadas, anos, semestres, meses, dias, horas, minutos, segundos... O tempo passa por nós e é como areia que se desvanece entre os dedos. Toca-nos ao de leve e escapa-se logo de seguida. Não temos tempo para uma série de coisas e, principalmente, para as que nos fazem mais felizes. A correria desenfreada em que nos movemos cansa-nos, agasta-nos, corrói-nos e envelhece. É pois mais do que natural que haja cada vez mais pessoas deprimidas e infelizes, pois passam mais de metade das suas vidas a desempenhar tarefas que não lhes trazem qualquer sentimento de prazer.»

 

Luís Menezes Leitão: «Sempre calculei que uma vitória de António Costa no PS implicasse uma viragem desse partido à esquerda. Nunca pensei é que essa viragem fosse tão radical. Começou com o apoio à candidatura presidencial de Sampaio da Nóvoa, um candidato claramente na extrema esquerda do espectro político. Agora o caminho prossegue com a apresentação das políticas do PS.»

 

Patrícia Reis: «O casal de turistas chegara a Lisboa para ver se se mantinham como casal, se sobreviviam ao desgaste de dez anos de relação, de equívocos, de imensos silêncios. Na Baixa Pombalina, cada um em seu passeio, viram as montras, compraram algumas recordações sem importância. Olharam o rio e o arco da Rua Augusta e passaram o dia inteiro a passear sem trocar uma palavra digna desse nome. Quando voltaram ao seu país, elogiaram Portugal, a comida, o vinho e recordaram uma viagem idílica que nunca existiu. Mostraram as fotografias e garantiram, via twitter, via facebook, que a viagem foi uma lua-de-mel. Francamente, Lisboa merecia um casal melhor.»

 

Eu: «António José de Almeida, um dos políticos mais conceituados dos anos iniciais do regime republicano, exerceu o jornalismo - a tal ponto que em 1911 chegou a fundar o vespertino República, jornal que atravessou todo o período da ditadura como o principal órgão da oposição ao salazarismo e viria a morrer, por amarga ironia, em tempos de liberdade ainda precária. O sequestro pela extrema-esquerda, em 1975, apressou-lhe o fim. E confirmou o seu último director, Raul Rêgo, como um intransigente lutador contra os extremismos de todas as cores - ele que também foi um jornalista seduzido pela política, ao ponto de ter sido ministro da Comunicação Social do I Governo Provisório, logo após o 25 de Abril, e deputado do PS durante longos anos.»

Moedas e Paulinho

jpt, 20.05.25

Ontem foi a já tradicional (mas um pouco despropositada) recepção na Câmara Municipal ao campeão nacional de futebol. Os lisboetas (e vizinhos) que encheram a praça do Município brindaram o presidente da câmara com uma enorme e prolongada vaia. É certo que depois o presidente do clube, Frederico Varandas, no seu discurso foi institucional, conciliador, e dourou a pílula - agradecendo a Moedas a colaboração e oferecendo-lhe uma placa celebratória. Mas também exigiu das instituições estatais (polícia et al) mais respeito pela população, menos sobranceria, menos arrogância. No fundo, traduzo eu, que os seus agentes - civis, policiais ou militares - se entendam como “servidores públicos” e não como “funcionários públicos”…

O episódio que causou tudo isto é conhecido (e já a ele aludi): a câmara mandou encerrar os restaurantes e cafés em torno do estádio de Alvalade no dia do último jogo do campeonato, quando se perspectivava a festa do título, o ambicionado bicampeonato que escapava ao clube há 71 anos!

A isto aduzo uma ressalva: cruzei as zonas vizinhas do estádio durante a tarde, antes do jogo, depois deste percorri as “avenidas novas” onde jantei. E segui para o Marquês de Pombal, onde fiquei durante horas, misturado com uma gigantesca mole humana. Num ambiente de enorme, jubilosa, alegria - aquela que o futebol por vezes permite - e totalmente pacífico…

O encerramento dos redutos comensais junto a Alvalade foi um acto que denotou a arrogância das instâncias estatais, e é isso o grave. Mas mostrou também a incompetência dos seus serviços: como disse aqui o jornalista Bernardo Ribeiro, encerraram-se os imediatamente adjacentes ao estádio enquanto, paredes-meia, as célebres roulottes sob a 2ª Circular fervilhavam de clientela e as mercearias da zona vendiam bebidas alcoólicas - e em vasilhame de vidro. Tudo isto também convocando os estudantes universitários que, nas redondezas, tinham uma cerimónia de graduação.

Ou seja, se a intenção policial e camarária era a de dispersar os adeptos e condicionar o consumo de bebidas espirituosas, a altaneira medida foi incompetente. E decerto que foi decidida (pelo menos caucionada) não só pela hierarquia policial como também pelo pessoal sito na câmara. E neste caso não tanto por meros “funcionários” mas decerto que pela assessoria política que secunda Moedas. Assim sendo foi um erro político, com origem atitudinal: um fastio pelo povo (sportinguista ou outro) a comandar a acção dos eleitos e seus avençados.

Mas retiro uma dimensão extraordinária do episódio. O presidente Moedas encetou o seu discurso e sofreu um continuado apupo. A seu lado, na varanda, estava o célebre Paulinho, o simbólico roupeiro do Sporting. É conhecida a história de Paulo Gama, de denodada superação individual e de afronta aos estigmas. Mas também demonstrativa dos préstimos das associações acolhedoras dos necessitados: nascido com défices psicomotores, abandonado pela família, cresceu num instituição solidária e ao atingir a maioridade foi integrado e formado num clube desportivo, o SCP. Tornando-se um símbolo, de excelência profissional e pessoal. Acarinhado por todos, sportinguistas e outros - decerto porque face a ele sentimos o respeito pela sua grandeza pessoal, mas também porque através dele percebemos a relevância da solidariedade. Social. Paulinho, Paulo Gama, é uma luz.

Mas Paulinho é também o roupeiro (no linguajar gentrificado de agora diz-se “técnico de equipamentos” mas isso é pouco relevante). Ou seja, é tradicionalmente a figura mais humilde do mundo do futebol - “do presidente ao roupeiro…” era uma expressão usada para definir a transversalidade do esforço colectivo num clube.

Ora o que aconteceu ontem foi extraordinário, um magnífico exemplo de democracia: o presidente da câmara assomou à varanda para discursar e foi apupado pelos seus munícipes. Mal conseguia proferir o seu discurso protocolar. E a seu lado o tal “humilde” roupeiro, o grande Paulinho, repetidamente acenou aos do seu povo, instando-os para que deixassem falar a presidencial figura. A este caucionando, no fundo. Foi um momento épico de democracia. E de constatação do desajuste altaneiro.

Espero que tenha servido de lição: a políticos. E ao cortejo, sempre fiel, de assessores.

(O episódio a que aludo está à 1h 04mm 45 segundos)

Um ano com D. Dinis (30)

Morte de João XXI

Cristina Torrão, 20.05.25

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Imagem Wikipedia

 

A 20 de Maio de 1277, morreu o único papa português, João XXI, de acidente, em Viterbo.

D. Dinis tinha dezasseis anos e ainda não era rei. Mas conhecia com certeza João XXI, antigo deão da Sé de Lisboa.

Transcrevo uma pequena cena do meu romance, relativa à morte do papa português:

- Mestre Pedro Julião finou-se? - surpreendeu-se Dinis.

O antigo deão da Sé de Lisboa, conhecido no estrangeiro como Pedro Hispano, estudara Artes em Paris e Medicina em Montpellier. Escrevera várias obras sobre Teologia e outros campos do saber e passara temporadas na cúria papal, tornando-se físico do papa Gregório X, a quem sucedera. Ainda não era velho, nem se lhe conhecia enfermidade:

- Mas como pode tal haver sucedido?

- Foi um acidente, em Viterbo - respondeu o mensageiro. - O Santo Padre inspeccionava as obras de uma nova ala que mandara edificar no palácio dos papas, quando uma parte do edifício desabou.

O resultado das eleições.

Luís Menezes Leitão, 20.05.25

Perante o resultado das eleições anteriores, defendi que a AD devia fazer um acordo com o Chega, que era a única forma de assegurar um governo estável e fazer as reformas de que o país necessita. Montenegro obstinou-se no "não é não", que acabou por deitar abaixo o seu governo e o conduziu agora a uma vitória, que se arrisca a ser uma vitória de Pirro.

Na verdade, perante o resultado das eleições de domingo, já não é do interesse do Chega fazer qualquer acordo com a AD. Uma vez que vai liderar a oposição, vai procurar desgastar o Governo da AD até que chegue a sua hora de governar.

A única hipótese da AD é assim agora aliar-se ao PS para fazer passar as reformas que quiser aprovar. Mas, para as eleições que exigem maioria de 2/3 nem sequer um acordo AD/PS é suficiente, exigindo os votos da IL, sendo que uma aliança entre esses três partidos só reforçará ainda mais o Chega, que ficará sozinho na oposição.

Por outro lado, o Presidente já não tem o poder de dissolução e vamos ter que aguardar até Março do próximo ano por um novo Presidente. Há muitas nuvens negras no horizonte e não parece que o país esteja protegido em caso de tempestade.

Amores e ódios de Ana Gomes

Pedro Correia, 20.05.25

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SIC Notícias, 9 de Maio de 2025

 

Quando se fala em vencedores e derrotados nesta eleição legislativa, não devem ficar esquecidas aquelas figuras que pontificam na tribo comentadeira debitando frases ao sabor da clubite mais fanática. Até pode ter graça de vez em quando, mas nunca em período eleitoral.

Infelizmente aconteceu. Na noite de 9 de Maio, por exemplo, foi possível vermos a socialista Ana Gomes brindar o líder do seu partido com submissa vénia em forma de nota máxima (dez) enquanto varria a zeros Luís Montenegro e Rui Rocha, adversários políticos desta frenética "activista" da pantalha. 

Nada disto é sério. Nada disto credibiliza a informação televisiva, que tem no comentário um dos seus pilares. Nada deste comportamento de claque futebolística forma e estimula a cidadania. Pelo contrário, estas notas enviezadas e movidas pelo ódio mais rasteiro a quem pensa de maneira diferente são uma fraude. Que devem merecer esta palavra, não qualquer outra, mais suave e fofinha. 

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 20.05.25

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João André: «Neste tempo o país continua de coração cinzento, tal como muitas fardas, mas os carros oficiais preferem o preto. Sotainas são olhadas de soslaio e o preto e branco é do domínio dos pseudo-intelectuais. Muita gente emigra e regressa no Verão, para recuperarem o falar da meninice. Continuam a trazer mulheres loiras mas agora dizem que aqui é que é bom, que não há sítio como a terrinha com o seu sol e praia e café na esplanada. Por aqui ouve-se ainda algum fado e vê-se muito futebol, mesmo que não seja daqui.»

 

Patrícia Reis: «O relógio mostra e garante o massacre do tempo, a impossibilidade de gerir melhor a vidinha, os horários, as obrigações, por isso, perto das dez da manhã, o homem pensou que já tinha subido o Everest. A saber: acordou os filhos, deu-lhes pequeno-almoço, levou-os à escola, foi ao dentista e rumou ao emprego com a cara ainda dormente. Em surdina, só para si, olhando para o relógio castigador, lamentou a estupidez de não conseguir paralisar os segundos. Ele? Estava anestesiado, só não conseguia parar de pensar que estava atrasado. Estúpido, concluía.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Não sei quantas outras comunidades portuguesas tiveram igual privilégio, mas tirando o facto de falar, almoçar e jantar sempre com os mesmos, seria interessante saber, agora que se deixou de ouvir falar nos "vistos gold", quais os resultados, em termos práticos, que tem conseguido. Isto é, o deve e o haver das suas deslocações, não das dos outros membros do Governo.»

 

Eu: «João Proença, nativo do signo Touro nascido há 67 anos no concelho de Belmonte, está habituado a dividir águas - mesmo dentro da área política a que pertence. Filiado no PS, foi deputado deste partido e seu dirigente nacional antes de ascender à liderança da segunda maior central sindical portuguesa, onde permaneceu como secretário-geral entre 1995 e 2013. E à frente da União Geral de Trabalhadores assinou acordos de concertação social com governos de esquerda e de direita. O mais recente valeu-lhe  críticas do fundador da UGT, Torres Couto, porventura já esquecido do precedente que ele próprio abrira em 1992, quando brindou com o primeiro-ministro Cavaco Silva ao acordo sobre política de rendimentos e preços, selado com festivos cálices de Vinho do Porto.»

Reflexão do dia

Pedro Correia, 19.05.25

«Nesta derrota das esquerdas, importa notar o desaparecimento do PCP de quase todo o país, mas especialmente varrido de todos os distritos do Alentejo onde não elegeu um único deputado. PCP e Bloco vivem numa galáxia exterior, a fazerem pensar naqueles grupos de soldados japoneses que, vinte ou trinta anos depois de terminada a guerra, ainda vagueavam pelas florestas de armas nas mãos, a defenderem-se ou à procura do inimigo. De sublinhar ainda a derrota do PS, que alcança um dos seus piores resultados de todos os tempos, após mais de 25 anos de governo nos últimos trinta. As esquerdas ficaram sem cabeça, sem ideia, sem programa e sem esperança.»

 

António Barreto, no Público

O biombo espanhol

jpt, 19.05.25

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O Sérgio de Almeida Correia já publicou dois postais ("Derrotados", "Vencedores") sobre as eleições de ontem, que tornarão redundante o que eu venha acrescentar. Ainda por cima há um ano (13 de Março de 2024), logo após as eleições legislativas que catapultaram o CHEGA, escrevi o postal “A Léria Explicativa”, que a mim me parece ter sido escrito hoje. 

Ainda assim deixo algumas notas da minha "noite eleitoral" televisiva:

1. A IL - partido no qual votei - aumentou a sua representação parlamentar, e isso num contexto de óbvia pressão para o “voto útil” na coligação gerida por Montenegro. O óptimo é o maior inimigo do bom. Foi bom! E se se associar ao geronte PSD constituirá uma maioria relativa, superior aos restos da “esquerda” sobrevivente ao descalabro de ontem. Ou seja, poderá pressionar para que se façam necessárias reformas, às quais o PSD é sempre renitente.

2. Os plantéis de comentadores eleitorais nas diferentes estações televisivas tendem à imutabilidade, com uma ou outra ascensão vinda das “academias”. É denotativo pois com a proliferação de programas noticiosos têm surgido vários novos comentadores televisivos. Mas para os “dias grandes” - para os “finais de Taça” - os velhadas mantêm-se a “titulares”. (Nisso um pequeno detalhe: Miguel Sousa Tavares, o arquétipo da arrogância, desvalorizou o parceiro Bugalho num “Você é muito novo!” e levou pela medida grande, tanto que embatucou…).

Ora esses velhadas, na sua costumeira pesporrência, continuam a perorar as suas inanidades sociológicas. A mais repetida de todas é a ladainha de que um milhão e trezentos mil portugueses votam no CHEGA porque “estão zangados”. E continuamos nisto, a ouvir “doutores” a afirmar a irracionalidade dos motivos que levam compatriotas a votar nos partidos de quem esses “doutores” não gostam. (Há meses notei o mesmo entre intelectuais moçambicanos - Mia Couto, Agualusa, que entre esses serão os mais conhecidos por cá - que reduziam o voto em Venâncio Mondlane à “zanga” e “ira” de “jovens”, no sentido de “imaturos” e “ignorantes”). Enfim, um tipo que vai à televisão comentar eleições nacionais - e presumo que seja pago para tal - poderia (deveria?) ter algo mais … "racional”, reflectido e lido, para dizer.

3. Como é já costume o PCP salientou ter resistido à campanha falsária de que é vítima. E festejou, nisso aparentando até júbilo, os seus feitos eleitorais: perdeu 25% dos deputados (já nem enche o celebrizado “táxi”). Nesse continuado rumo descendente é notável que o seu veterano António Filipe, consagrado russófilo radical, foi apeado do seu lugar parlamentar. Terá agora mais tempo para “twittar” loas a Putin e quejandos.

4. Mariana Mortágua reencarnará Katar Moreira? Ou Américo Duarte? Sozinha contra o parlamento e ciosa de estar ela correcta diante daquele “ninho de lacraus” (“homens”, “brancos”, “heterossexuais”, mesmo aqueles deputados que não o sejam). A irrelevância do BE - que muito foi um fenómeno geracional - é coisa antiga. Tem agora constatação numérica.

5. O PS desmanchou-se. Já no meu postal a que acima aludo eu o dissera. Só o biombo espanhol vem impedindo que os agentes políticos portugueses percebam a realidade circundante: nos países do Sul da Europa os regimes que comportavam “socialismos mediterrânicos” foram transformados, sendo arrasados os partidos centrais - muito devido ao beco sem saída imposto pelas práticas dos socialistas clientelares. Repito, só a perenidade do duo PP-PSOE vem sustentando o nosso “Bloco Central”. E só isso poderá fazer compreender a mediocridade (e maldade) das sucessivas direcções socialistas - um PS que vem tendo este desbragado XXI e mantém como presidente uma figura tétrica como o açoriano César?

Estavam à espera de quê? O biombo espanhol foi atirado ao chão…

Derrotados

Sérgio de Almeida Correia, 19.05.25

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(créditos: Meiline Gonçalves, Madre Media)

PS: É o maior derrotado destas eleições. No curto espaço de dois anos o PS passa de uns confortáveis 41,37%, que correspondiam a um grupo parlamentar de 120 deputados e a mais de 2 milhões e 300 mil votos, para 23,38%, que são menos de 1 milhão e 400 mil votos e apenas 58 deputados. Na melhor das hipótese ainda irá aos 59 depois de se apurarem os resultados da emigração. Em 2024 o PS  havia perdido 489 mil votos. Ontem perdeu mais 417 mil. Em Lisboa livraram-se de mais de 65 mil votos. Em Setúbal voaram mais de 35 mil. Em Aveiro, por onde entrava o líder, desapareceram cerca de 27 mil votos. Em Faro foram mais de 13 mil votos que se evaporaram em 12 meses sob a liderança daqueles crânios e daquela brilhante lista que se apresentou a eleições. Provou-se que um partido capturado pelo moribundo, e mais do que sinistro, aparelho de funcionários, apparatchiks e fedayins incompetentes, vindos da JS e do socratismo, não tinha nada para apresentar ou oferecer aos portugueses. Não havia discurso, propostas credíveis e actuais, um mínimo de inteligência e um discurso coerente. De norte a sul levaram nas lonas. No Algarve voltaram a ser humilhados pelo Chega. Levaram bordoada da grossa. Levaram bem. Pode ser que aprendam e tenham a humildade de passar a ouvir os outros, de aprender alguma coisa. Pedro Nuno Santos, Augusto Santos Silva, Carlos César, estavam todos a precisar, há muito tempo, de uma boa esfrega. Desta vez levaram com uma escova de piaçaba no lombo. Pode ser que o partido e os seus militantes agora acordem, se livrem desta gentinha que tomou conta dele. A "golpada" para evitar directas abertas na escolha do líder e afastar José Luís Carneiro da liderança, mantendo a tralha, obtém agora o justo prémio. O próximo líder vai ter muito que fazer para limpar a casa e reabilitar o PS, começando por correr com o actual presidente que, violando os estatutos e o seu dever de isenção, apoiou o líder derrotado nas eleições internas. A alternativa será prosseguir o percurso para a insignificância e dar cabo do que resta da herança de Soares. E nas próximas eleições o PS precisará de se descartar daquele arremedo de bancada parlamentar feito de chicos e flausinas à imagem do líder derrotado e que é de meter medo ao susto. Há que mandá-los, à maioria, estudar e trabalhar. E quanto a Mariana Vieira da Silva, Ana Catarina Mendes ou Alexandra Leitão, se têm, ainda, veleidades quanto à liderança do partido, o melhor é ganharem juízo. Quem trouxe o PS para este miserável atoleiro político e ideológico não pode ter lugar em qualquer direcção. A não ser para atrapalhar.

 

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(créditos: João Relvas/LUSA)

BE: O BE andou a discutir com o PS o primeiro lugar da estupidez política. Os seus eleitores não o pouparam. A sua liderança ainda se lembrou, à vigésima quinta hora, de ir buscar a brigada dos gerontes vermlehos para as listas – Louçã, Rosas, Fazenda –, sem perceber que o país se cansara deles e que não acrescentavam nada para a resolução dos seus problemas. Ficaram reduzidos a um deputado, pouco mais de 100 mil votos. Tiveram o fim que mereciam para a sua pesporrência. Em 2023, Mariana Mortágua queria “Levar o país a sério”. Dois anos depois os portugueses não a levaram a sério. Os eleitores não são estúpidos.

 

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(créditos: Manuel de Almeida/LUSA)

CDU:  Pouco há a dizer da CDU. Continua a sua irreversível descida rumo à total insignificância. Não aprendeu nada em democracia e ainda anda à procura do que resta do Muro de Berlim. António Filipe deve voltar à assessoria parlamentar. Nos seus antigos bastiões alentejanos mandam agora os “fascistas” e “latifundiários” do Chega. Com o voto popular. Será certamente doloroso para a maioria das suas aventesmas, apesar de poder servir como despertador para a realidade, o que, em todo o caso, duvido. Quem não aprendeu até agora, nunca irá aprender. Menos ainda com os exemplos dos seus amigos cubanos, venezuelanos ou norte-coreanos.

 

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Manuel Castro Almeida:  O PSD voltou a não conseguir eleger nenhum deputado em Portalegre, onde a lista era liderada pelo ministro-Adjunto e da Coesão Territorial. Foi um dos rostos que mais vigorosamente defendeu Montenegro nas trapalhadas da Spinumviva. Pode continuar no Governo, não se livra desta pesada derrota numas eleições em que o seu partido e a coligação que integrava conseguiram em Portalegre cometer a proeza de ficar atrás do Chega e de um PS que perdeu em toda a linha.

 

SIC - Taxa de abstenção nas eleições legislativas foi a mais baixa dos  últimos 30 anos | Facebook

ABSTENÇÃO: Foi uma lição dos eleitores que normalmente não vão às urnas. Uma redução de 40,16% para 35,62% é sinal de que ainda há quem se interesse por Portugal. Apáticos só até certo ponto. [Actualização: na redacção desta nota baseei-me nos dados disponiblizados pela LUSA, SIC, Público. No entanto, os valores diferem do que consta do site da CNE. acho estranho que haja uma diferença tão grande. Se a CNE estiver correcta, a abstenção subiu. Todavia, aguardarei pelos resultados finais já com os círculos da emigração]

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