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Delito de Opinião

Trump & Vance vs Zelensky

jpt, 28.02.25

Trump e Zelensky batem boca na Casa Branca — Foto: Brian Snyder/Reuters

Poder-se-á dizer que hoje é um dia histórico. Pois não creio que até agora tenha havido um caso de diplomacia pública deste estilo. Trump e Vance agredindo Zelensky, para além da pressão e/ou discordância - e nisso, já agora, dando incontáveis trunfos ao regime moscovita. Uma coisa inaudita. E, para o meu gosto, execrável.

Um qualquer cidadão português nada pode diante disto. Não é apenas a irrelevância individual, é mesmo nem sequer ter voto. Aliás, um tipo até vota no seu país para depois perceber - e quase por acaso - que dos 37 tanques Leopards comprados só 2 estão operacionais, e que nem sequer têm munições. Ou seja, o voto também nem serve para muito.

Mas vendo a até inenarrável situação, abjecta, há algo a retirar para um vulgar cidadão português. Repito, nada se pode fazer diante dos poderosos do mundo. Mas pode-se diante dos vizinhos, outros meros cidadãos. Ou seja, diante dos energúmenos que para aqui pululam tecendo loas a Trump é necessário perceber que a sua imbecilidade não se restringe a isso. São tão energúmenos quando grunhem elogios sobre Trump como quando falam de uma qualquer "lei dos solos", "empresas imobiliárias" ou "junta de freguesia em Campo de Ourique", "Sócrates" ou "Montenegro", "Cristiano Ronaldo" ou "Roberto Martinez", "orçamento geral de Estado", "segredo de justiça" ou outra coisa qualquer. São umas bestas imundas. Desrespeitáveis. E nisso, na impaciência radical diante do pateta da mesa ao lado, o vulgar cidadão pode fazer algo.

Nem que seja franzir o cenho. Ou, como eu prefiro, "não ir à bola" com eles.

Sol-Verde de Inveja

José Meireles Graça, 28.02.25

 

É que não encontro ninguém, nem amigos, nem correligionários, nem magistrados de opinião que aprecio, como Rui Ramos ou João Miguel Tavares, que não sufoque de indignação porque Montenegro tem uma empresa familiar que presta, entre outras coisas, serviços de consultadoria a empresas e uma delas, a SolVerde, paga – ó escândalo – 4.500 Euros por mês. Isso é mais do que ganha um administrador de um hospital público, ou um director-geral, e anda perto do que ganha um catedrático. Tudo funcionários públicos, porque cargos equivalentes no sector privado são mais bem pagos.

Pois bem: Fundou-a antes de ter a certeza de vir a ser primeiro-ministro. Podemos imaginar que no seu ambicioso coração já albergasse a certeza de vir a atingir tão exaltante posição, o que não podemos presumir é que os clientes o contratassem por adivinharem que um dia ele estaria em condições de os favorecer. A menos que se possa afirmar – mas isso não está alegado – que a SolVerde dispõe de serviços de consultadoria no ramo da adivinhação, caso em que abençoa com contratos os predestinados, ou então que contrata um cacharolete de potenciais vencedores para acertar num deles, prudente prática que também não foi aventada até agora.

Empregar ou contratar políticos que perderam, por qualquer razão, o seu poleiro, é coisa altamente suspeita porque estes dispõem de números de telefone de camaradas que povoem lugares de poder, e de ex-adversários na mesma lisonjeira situação. E como o Estado está em Portugal em todas as esquinas da vida, a única possibilidade de evitar estas conversas ocultas é o barramento dos números de telefone.

Isto porque quem ocupou lugares de topo em razão da pertença a partidos suspendeu (ou não iniciou) a sua carreira profissional. E impedir que relações pessoais se botem para render é quase o mesmo que dizer que quem aceitou posições de nomeação política nunca mais dela pode sair ou que quem tenha o acendrado desejo de servir a causa pública (alguém tem de haver) deve ter a precaução de dispor de meios de fortuna porque vai começar ou continuar a carreira em situação de grande desvantagem.

Ou isso ou ser funcionário público, portanto com o lugar à espera, ou advogado de um grande escritório onde os colegas lhe conservem o lugar quente, ou gestor bancário porque o negócio tanto funciona com um como com outro. Teoricamente, grandes empresários também poderiam almejar empenacharem-se com lugares no aparelho de Estado, mormente dos mais visíveis. Mas não é Elon Musk quem quer, nem Portugal é como os EUA, nem há exemplos conhecidos de quem abandone as suas empresas para serem geridas por colaboradores. Que o dissesse Belmiro de Azevedo, o empresário por antonomásia, que passou a vida a dar palpites sobre a gestão da coisa pública enquanto se deixava estar sossegado na SONAE.

De modo que a situação é esta: se as suspeitas por corrupção não precisarem de se basear em indícios consistentes, bastando dizer que se a empresa xis contratou pelo valor ípsilon fulano de tal no âmbito da sua profissão, então faz favor de dizer o que é que exactamente fez, quem eram as outras empresas, se as houver, e igualmente por que razão não foram buscar outro advogado de quem ninguém tivesse ouvido falar.

Quem espoletou toda esta história foi o Chega, por razões oportunistas mais do que óbvias sobre as quais não vou abundar. E cabe-me aqui dizer que as linhas vermelhas em torno daquele partido, que sempre rejeitei porque a sua existência condenou reformas necessárias que se tornaram impossíveis, não justifica que se baralhe tudo esquecendo um mínimo de senso.

E este diz que, para quem não for cego, duas coisas: que combater a corrupção degradando princípios do Estado de Direito e transformando o jogo político numa barraca de feira apenas afasta quem não tiver vocação para palhaço, mulher de barba ou carreirista desprezível; e que os funcionários públicos e acomodados sortidos já têm o benefício do emprego garantido, não precisam de ter o exclusivo da carreira política.

Da idolatria

Pedro Correia, 28.02.25

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Os comentadores da direita extremista - como se verifica nas caixas de comentários do DELITO - expressam um ódio à Europa liberal em tudo idêntico ao da esquerda mais extremista.

Ódio que tem hoje farol e guia: Donald Trump, cem por cento descendente de europeus, filho de imigrantes de segunda geração e neto de quatro avós que não tiveram o inglês como língua materna. *

 

Este ódio visceral está expresso numa frase debitada anteontem pelo novo-velho inquilino da Casa Branca, com a elegância que o caracteriza e a arrepiante ignorância histórica de que dá mostras quotidianas: «A UE foi criada para lixar os EUA.»

Mas este assumido anti-europeu e "pacifista" belicoso que acaba de declarar guerra comercial à União Europeia impondo taxas draconianas à importação de produtos aqui produzidos (prejudicando também Portugal), num ataque despudorado aos princípios liberais, vive no lado de lá do oceano.

Pode dar-se ao luxo de tratar inimigos como aliados e aliados como inimigos. É, aliás, o que tem feito desde o primeiro dia do seu novo mandato.

 

Os fanáticos apoiantes dele cá do burgo beneficiam da democracia liberal europeia (o sistema político mais invejado do mundo), mas escrevem como se odiassem Portugal. E como se desejassem viver na terra do Tio Sam.

Azar deles: o falso pacifista, filho e neto de imigrantes, declarou guerra também à imigração. Nenhum destes membros tugas do seu clube de fãs seria hoje admitido como residente nos EUA. Para não contaminarem a "Terra Prometida".

Terão de aplaudir o Bonaparte de Mar-a-Lago à distância.

Coitados, deve ser penoso. Idolatram quem os rejeita - a eles, ao país onde nasceram, ao continente onde residem.

 

* Trump assinou hoje um decreto impondo o inglês como idioma oficial dos EUA, facto inédito na história do país, independente há quase 250 anos. Freud talvez explique.

Um ano com D. Dinis (10)

Infanta D. Branca

Cristina Torrão, 28.02.25

Faz hoje 766 anos que nasceu a Infanta D. Branca de Portugal, a irmã mais velha de D. Dinis, primeira filha de seus pais D. Afonso III e D. Beatriz de Castela. Recebeu o nome da tia-avó paterna, Branca de Castela, regente em França durante a menoridade do filho Luís IX. Esta rainha acolhera o sobrinho Afonso (futuro Afonso III), na corte francesa.

D. Branca recebeu de seu avô Afonso X de Leão e Castela a herança de 100 000 marcos, que lhe deveria servir de dote. Porém, a infanta teve uma doença grave, pouco depois da morte do avô, prometendo dedicar a sua vida ao mosteiro de Las Huelgas de Burgos, caso sobrevivesse. Assim aconteceu e D. Branca usou o dote na reconstrução do mosteiro.

 

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Codex Manesse

Apesar de ter vivido longe de Portugal, a infanta manteve o contacto com o irmão Dinis, auxiliando-o em várias situações, nomeadamente, servindo de mediadora entre o rei e o irmão mais novo, nas revoltas que este levou a cabo.

Branca não professou, mas ficou conhecida como uma das maiores benfeitoras do mosteiro de Las Huelgas de Burgos e foi lá sepultada. Apesar de não ter casado, terá tido uma relação amorosa com o mestre carpinteiro responsável pelas obras do mosteiro, tendo dado um filho à luz, que foi incluído na nobreza castelhana (um episódio não esclarecido).

A infanta D. Branca morreu a 17 de Abril de 1321. A sua sepultura pode ser visitada no referido mosteiro.

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Lancastermerrin88, CC BY-SA 4.0

DELITO há três anos

Pedro Correia, 28.02.25

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Beatriz Alcobia: «Putin viu neste caos e desunião, por um lado fraqueza e por outro, oportunidade, mas esqueceu-se que a Europa, tendo uma história de guerras, tem também uma história comum de povos entrelaçados por laços familiares, alianças comerciais e políticas.»

 

José Meireles Graça: «É possível que os cidadãos europeus, velhos, cansados, socialistas de obediências várias, albergando as suas decrépitas quintas-colunas do comunismo derrotado, que hoje quase que unicamente por antiamericanismo primário defendem a agressão putinesca, comecem a cair em si: a história não acabou, e projecta sombras compridas; e si vis pacem para bellum

 

José Pimentel Teixeira: «Ontem houve uma manifestação em Lisboa diante da embaixada russa, convocada por seis partidos e que congregou gente variada - nisso incluindo ucranianos (e não só) residentes, que haviam estado numa outra manifestação no Terreiro do Paço. Lá fui, acompanhando alguns velhos amigos - todos nós com parco historial nestas demonstrações.»

 

Paulo Sousa: «O que se está a passar no leste europeu, mais do que qualquer outra coisa, é a confirmação de uma deformação de carácter do líder russo, assim como dos maluquinhos que preenchem a sua primeira linha de comandantes. São eles os nossos inimigos, não os russos.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Na imagem, a confirmar a notícia e as palavras do ministro da Defesa russo, vê-se uma infra-estrutura militar ucraniana destruída por uma arma de precisão que poupou a população civil.»

 

Eu: «Qualquer vitória que o ditador russo possa reclamar, nesta tentativa de impor um direito de pernada à Ucrânia, será sempre pírrica. Acabará julgado por crimes de guerra. E verá o Ocidente emergir deste pesadelo com um vigor que jamais imaginou.»

 

Até ao fim da próxima semana, por motivos óbvios, lembro o que aqui se escreveu há três anos e não há dez

Um ano com D. Dinis (9)

Fundação do Mosteiro de Odivelas

Cristina Torrão, 27.02.25

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Imagem Câmara Municipal de Odivelas

 

Faz hoje 730 anos que D. Dinis fundou o Mosteiro feminino cisterciense de Odivelas.

A 27 de Fevereiro de 1295, deu-se lugar à cerimónia do lançamento da primeira pedra do mosteiro de São Dinis, em Odivelas, uma planície atravessada por um riacho e entre três pequenos montes: Luz, Togais e São Dinis. Seria construído um imponente edifício, que abrigaria cerca de oitenta monjas pertencentes à Ordem de São Bernardo, tal como os frades de Alcobaça.

Dinis presidiu à cerimónia, juntamente com a rainha e os dois filhos, e doava ao mosteiro todos os bens que possuía em Odivelas: vinhas, pomares, hortos, moinhos e azenhas, além de uma capela, casas e edifícios, onde a comunidade viveria durante a construção do convento. Também lhe doava outros bens na Charneca, em Pombeiro, Xabregas e Alenquer, incluindo o padroado da igreja de Santo Estêvão daquela vila. E, abrindo uma excepção nas leis de desamortização que ele próprio promulgara, autorizava a nova instituição a herdar os bens de raiz das suas monjas.

No seu discurso, o monarca referiu que aquele mosteiro seria construído

especialmente em honra e louvor de São Dinis e de São Bernardo, pelas nossas almas e dos Reis que antes de nós foram, e em remissão dos nossos pecados e dos nossos sucessores, fundamos e fazemos de novo em a nossa câmara de morada, que nós havíamos no termo da nossa cidade de Lisboa, no lugar que é chamado de Odivelas.

(excerto do meu romance)

Conforme foi seu desejo, D. Dinis foi sepultado neste mosteiro. Há cerca de dez anos, foi chamada a atenção para o avançado estado de degradação em que se encontrava o túmulo. Criou-se a página do Facebook  Vamos salvar o túmulo do rei D. Dinis, iniciativa que deu frutos. Não só o túmulo foi restaurado, como foi possível fazer a reconstrução facial do Rei Lavrador. Estão programadas mais revelações sobre ele, ao longo deste ano.

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Imagem

Obsceno

Pedro Correia, 27.02.25

Este vídeo que o novo-velho inquilino da Casa Branca partilhou na sua rede digital sobre Gaza "reconstruída" e transformada na putativa "Riviera do Médio Oriente" só merece um qualificativo: obsceno.

Obscena, a visão mercantilista do esbulho programado e glorificado.

Obscena, a concepção neocolonialista da administração norte-americana, cobiçando eventuais lucros futuros à custa da martirizada população palestina, que - Trump dixit - deve ser «expulsa» para outras paragens. 

Obscena, a fita «gerada por inteligência artificial» de um Elon Musk emulando o cocainado Leonardo di Caprio no filme O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese. Lançando ao ar muitas notas de dólar, símbolo supremo do domínio sobre os indígenas, tributo despudorado ao deus-dinheiro.

Obscena, enfim, aquela estátua de Donald Trump banhada em ouro. Que logo associamos ao bezerro de ouro imortalizado na Bíblia.

Êxodo, 32: «Todos tiraram as argolas das orelhas e levaram-nas a Aarão. Ele recebeu tudo aquilo, deitou o ouro num molde e fundiu um bezerro de metal. E todos exclamaram: "Povo de Israel, aqui tens os teus deuses, que te fizeram sair do Egipto!" Quando Aarão viu isto, construiu um altar em frente do bezerro e disse em voz alta: "Amanhã haverá festa em honra do Senhor. No dia seguinte, de manhã, ofereceram holocaustos e sacrifícios de acção de graças. O povo sentou-se a comer e a beber e depois começaram a divertir-se.» 

Versículos que estes alegados cristãos embalados pela embriaguez da suposta lei do mais forte parecem desconhecer por completo. Ou escarnecer deles, na alucinada vanglória que se apossou deles desde 20 de Janeiro.

DELITO há três anos

Pedro Correia, 27.02.25

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José Pimentel Teixeira: «Esta visão acrânica sobre a guerra na Ucrânia é uma vergonha para o PSD e uma desgraça para o país. Por menos relevante, em termos mundiais, que seja a opinião do dirigente do segundo partido de Portugal.»

 

Paulo Sousa: «A confirmar-se a expulsão da Rússia do sistema swift, sem que o mesmo seja aplicado à Bielorrússia e a outros países apoiantes de Putin, irá levar a que os pagamentos destinados a contas bancárias russas façam primeiro tabela num desses países. Esta nova rota de pagamentos deixará atrás de si um rasto de comissionistas sorridentes.»

 

Eu: «A minha bandeira hoje é esta.»

 

Até ao fim do mês, por motivos óbvios, lembro o que aqui se escreveu há três anos e não há dez

Sem título

jpt, 26.02.25

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Sem título e... com que texto? Posso compreender os eleitores norte-americanos, decidiram em função das suas considerações sobre o seu país. Mas que posso eu dizer sobre os doutores portugueses que ronronam com isto, que dão largas a interpretações refinadas - transaccionalismo e coisas quejandas - sobre isto? A minha querida irmã ausentou-se por uns dias. Mas deixou instruções explícitas à minha querida filha - que dentro de dias se ausentará - para que ela mantenha a guarda durante a sua ausência: "não deixes o teu pai escarrapachar nos blogs o que pensa desses doutores trumpófilos. Por mais razão que ele tenha! Mesmo nesses palavrões que só ele conhece...".

A burocracia europeia vs a política e o milagre europeu

Paulo Sousa, 26.02.25

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O funcionamento e as lógicas internas dos órgãos europeus estão envoltos numa muito significativa complexidade. A necessidade de serem criados cursos superiores sobre Estudos Europeus prova isso mesmo. Já desde há muito que os cidadãos comuns sentem dificuldade em opinar sobre o projecto europeu sem correr o risco de cometer uma ou muitas incorrecções. À distância ou de perto, é fácil de ver que aquilo é burocracia elevada ao nível de ciência espacial.

Uma das consequências deste nível de burocracia é o efectivo distanciamento entre os cidadãos e as instituições europeias. Uma outra consequência é a fauna que se desenvolveu nos corredores do poder, com os seus hábitos e inevitáveis vícios.

Pelo que vejo, este nível de burocracia obedece a uma lógica de travões e contra-poderes, ou seja, a burocracia europeia é uma forma de limitar e até impedir que o projecto europeu fique nas mãos de políticos voluntariosos. Menos burocracia levaria a que todos ficássemos expostos a fricções muito mais acentuadas entre os 27. Acredito que menos burocracia daria mais margem aos políticos e isso aproximar-nos-ia do federalismo, que entusiasma alguns e assusta muitos mais.

A Europa avançou sempre de crise em crise. A questão da paz na Ucrânia irá exigir que a UE se reinvente mais uma vez. Fora da agitação que uma ameaça existencial deste dimensão pode provocar, as rotinas europeias anestesiam os políticos e os europeus, e o marasmo instala-se. Nos momentos mais críticos, a burocracia europeia verga-se à política. Isso aconteceu na crise das dívidas soberanas, no Brexit, durante a crise migratória e na pandemia. A invasão da Ucrânia e a crise energética daí decorrente está a ser mais um desses momentos definidores.

Aqueles que, por incapacidade pessoal em tomar decisões, preferem ser governados por líderes fortes, irritam-se muito com a burocracia europeia, mas irritam-se muito mais com os políticos europeus que não decidem de acordo com as suas preferências. Entre os apreciadores de líderes fortes, ser contra a União Europeia é a mais pura das sinalizações de virtude. Veja-se a frase de Orbán aqui trazida em boa hora pelo Pedro Correia. Tudo o que não corre de acordo com as preferências dessas forças mais próximas do autoritarismo, sejam elas de esquerda ou sejam de direita, a União Europeia é sempre a culpada. Ora porque permite, ora porque proíbe. Ora porque há imigrantes a mais, ora porque há bebés a menos, ora por causa da inflação, ora por causa das taxas de juro altas, ora porque não tem forças armadas, ora porque se as tivesse não podia decidir o que fazer com elas.

Os outros grandes blocos económicos irritam-se igualmente com a União Europeia. Ora porque nunca sabem bem a quem se dirigir para negociar, ora porque são afectados pela regulação europeia, ora porque invejam um mercado da sua dimensão, ora porque não conseguem fazer o mesmo com os seus vizinhos, ora porque vivem bem pior do que os europeus. Como é que 20 países conseguem confiar uns nos outros o suficiente para partilhar uma moeda? Como é que 27 países que falam 24 línguas diferentes se conseguem entender? Basta ver que no continente americano existem 11 países com cerca de 460 milhões de habitantes que partilham o castelhano e o melhor que conseguem é andar sempre à cabeçada uns com os outros. Do Norte de África até ao Médio Oriente, 19 países contíguos, com cerca de 360 milhões de habitantes, partilham a língua árabe. Sobre o entendimento entre eles, nem é preciso falar. O projecto europeu é realmente muito irritante.

Não tenho a menor dúvida que a União Europeia irá mudar, até porque perante os desafios com que teve de lidar, nunca deixou de o fazer. E como em tudo na vida, talvez um dia acabe, mas se isso acontecer todos ficaremos a perder.

A União Europeia é um objecto político altamente improvável, cheio de defeitos, com tantos que só me faz lembrar os defeitos da própria democracia, e tal como com ela todas as alternativas são piores.

 

Adenda:

Parece que foi combinado.

Hoje no The Telegraph: 

"Trump: EU was formed to screw USA – and they’ve done a good job of it".

Um ano com D. Dinis (8)

Transferência do Estudo Geral

Cristina Torrão, 26.02.25

Faz hoje 717 anos que o papa Clemente V autorizou a transferência do Estudo Geral para Coimbra, cerca de um ano depois de ter sido feito o pedido. O Estudo Geral das Ciências, percursor da Universidade, foi fundado em Lisboa, em Agosto de 1290, mas D. Dinis decidiu transferi-lo para Coimbra cerca de dezassete anos mais tarde.

Do meu romance:

           No início de 1306, Dinis reuniu-se com o arcebispo de Braga e o bispo de Coimbra, a fim de tratar de um assunto que não tolerava mais adiamentos: a transferência do Estudo Geral para Coimbra. A situação em Lisboa tornara-se insustentável, os escolares não mais haviam parado com os seus protestos e os conflitos iam-se agravando, afectando, não só grande parte da população, como os visitantes. Ao porto de Lisboa chegavam frequentemente galés estrangeiras e os estudantes, no seu descontentamento, abusavam da imunidade que Nicolau IV lhes concedera, envolvendo-se em toda a espécie de rixas.

            O Estudo, porém, teria de ser preservado, Dinis via a necessidade de formar especialistas portugueses, sobretudo em leis. Coimbra parecia ser a solução ideal, era bem mais sossegada e o rei planeava criar um burgo, adjacente à alcáçova, exclusivamente destinado aos estudantes. Além disso, o mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz, com a sua biblioteca, estaria em condições de lhes dar o mesmo apoio do de São Vicente de Fora, fundado por Afonso Henriques precisamente em homenagem ao de Santa Cruz de Coimbra.

            D. Estêvão Anes Bochardo, chanceler-mor do reino e bispo de Coimbra, regozijava-se com a transferência. A colaboração de D. Martinho Peres de Oliveira, arcebispo de Braga, era imprescindível, pois a medida teria de ser aprovada por Roma.

 

A Universidade haveria de trocar de local, sempre entre Lisboa e Coimbra, durante alguns séculos.

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 26.02.25

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Hoje lemos Ildefonso Falcones, "O Pintor de Almas".

Passagem a L' Azular:  “Os republicanos, uma vez no poder, agiram com a mesma firmeza e por vezes até, sob a mesma legalidade dos governantes monárquicos, naquelas leis obsoletas que sustentavam para tratar os humildes com dureza, ou seja, ditando leis ainda mais repressivas do que as que existiam, em desespero de quantos tinham lutado para manter a República.”

A história recorda, muitas vezes com pesar, que muitos movimentos, golpes de estado, revoluções, guerras e até vitórias eleitorais que se iniciaram por tudo, por nada e com muitas promessas declaradas e subentendidas, muitas vezes por uma causa justa, pela igualdade dos homens ou pela liberdade, acabaram por deixar o mundo muito pior do que estava. Nem sempre os homens perdiam as parcas possessões, mas perdiam a inocência, aquele dom tão puro, tão cristalino que nos vem da infância e nos faz acreditar. A falta de fé no próximo é o início do fim, porque perder a fieza nos outros é perder a fé em si próprio e nas suas convicções. 

DELITO há três anos

Pedro Correia, 26.02.25

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José Pimentel Teixeira: «Este vetusto, e patético, argumento propagandístico do estertor do comunismo, o tal da ocidentalização como drogradição, é o que Putin recupera. Como agente da KGB, que nada mais é do que isso. E há os outros, nós, não-putinescos. Que em vez de crer nas lérias podemos olhar para o fim daquele horrível comunismo dos KGBs através de outros olhos. Sem drogas.»

 

Luís Menezes Leitão: «Hoje é Zelensky que, perante uma agressão russa à Ucrânia, recusa ofertas de fuga e mantém-se ao lado do seu povo na defesa do seu país dizendo-lhe simplesmente: "Estamos aqui". Não se sabe qual será o seu destino, mas não há dúvida que passou a ser o símbolo da Ucrânia resistente.»

 

Paulo Sousa: «Dentro da dinâmica cultural de Kiev é (era) possivel assistir a um espectáculo de fado. Aqui anuncia-se uma actuação na Filarmónica Nacional de Kiev do trio composto por Ricardo Martins (guitarra portuguesa), Ricardo Sousa (guitarra clássica) e Luis Trindade (guitarra acústica). Com o apoio do Instituto Camões.»

 

Eu: «O canalha.»

 

Até ao fim do mês, por motivos óbvios, lembro o que aqui se escreveu há três anos e não há dez

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