Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Diário de uma mãe

Joana Nave, 09.02.25

Tenho-me focado muito nas questões menos boas da maternidade e talvez tenha passado a ideia que sou uma pessoa negativa e estou sempre a queixar-me. O meu propósito tem sido, acima de tudo, mostrar que a realidade pode ser bem mais cinzenta do que os cenários cor de rosa que mostram famílias felizes e sorridentes em viagens de sonho, rotinas perfeitas, roupas bonitas, e tudo o que se publica nas redes sociais. No entanto, as mãos sujas, os narizes ranhosos, o cabelo desgrenhado, os rasgões nas calças na zona dos joelhos, as nódoas que se acumulam nas t-shirts desbotadas, são as marcas das crianças realmente felizes, aquelas que têm liberdade e conforto para crescer num ambiente saudável, que se sujam, que esfolam os joelhos, que comem com as mãos, e que varrem o chão com a roupa e os cabelos, porque ser criança é experimentar as sensações do mundo que as rodeia. O cenário idílico é uma fotografia sem vida, que perpetua uma imagem, mas a experiência é muito mais que isso, é sentir com todas as células do corpo, e com essa aprendizagem crescer.

Eu sei que as pessoas são todas diferentes e um reflexo daquilo que lhes transmitiram, e sei também que podia estar menos atenta, ou não me importar tanto com os resultados, mas quero mesmo dar ferramentas aos meus filhos para que eles possam alcançar tudo o que desejarem. Se eles estiverem bem, sentirei o reconforto de missão cumprida, e não acho que tenhamos de ser todos assim, ou que o que eu faço é melhor. Eu não abdico de trabalhar e de perseguir uma carreira, e de ser cumpridora e rigorosa, porque quero ensinar-lhes pelo exemplo, e também quero que se orgulhem de mim. Por outro lado, também não abdico de acordar mais cedo aos fins de semana para os levar a actividades extra-curriculares, porque sei que estas os vão ajudar a conhecer, a partilhar e a crescer ainda mais. Quando os instigamos para praticarem actividades ao ar livre, estamos uma vez mais a dar-lhes ferramentas para que testem habilidades e se tornem menos sedentários. E há também que transmitir cultura, com passeios, filmes, livros. E há ainda que cultivar amizades, pois somos seres sociais e a nossa rede de contactos será sempre um suporte precioso para o resto da nossa vida.

Pensamento da semana

Pedro Correia, 09.02.25

 

As propostas de apaziguamento dos países livres às autocracias que violam grosseiramente a Carta das Nações Unidas jamais conduzem à paz: só estimulam novos conflitos e novas guerras.

Um regime incapaz de respeitar os direitos e liberdades do seu próprio povo faz da agressão externa uma senha de identidade política. Imaginar que acatará normas de civilidade no plano internacional é ignorar todas as lições da História.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 09.02.25

21523202_SMAuI.jpeg

 

Luís Naves: «O Syriza é um partido de extrema-esquerda, que acredita na mitologia ideológica do seu discurso. A saída da zona euro não faz parte do programa da campanha, pelo que existe a possibilidade alternativa deste governo cair, logo que Bruxelas rejeite a posição grega. No entanto, avaliando o tom dos discursos, parece evidente que Tsipras já tem na cabeça o abandono do euro: só precisa de um bode expiatório e de criar um clima que propicie a saída. Quanto aos europeus, entre o mau e o péssimo, a escolha é evidente.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Os depauperados bolsos dos portugueses, que vão pagar até ao último cêntimo o empréstimo da troika, não têm de também suportar os gastos que as famílias dos generais e empresários angolanos fizeram na Avenida da Liberdade ou na compra de apartamentos no Estoril ou em Cascais, já que em matéria de banca o que compraram foi-lhes oferecido a preços de saldo.»

 

Eu: «Este transmontano de signo Virgem e verbo fácil pode vir a ser, aos 64 anos, o Alexis Tsipras português. Conquistando votos à esquerda e à direita. Dêem-lhe palco - e ele improvisa a peça. Passem-lhe um microfone - e logo o discurso brota, em doses ferventes e torrenciais.»

Os comentadores e Moçambique (2)

jpt, 08.02.25

vmxx.jpg

Location of Xai Xai -  Capital of Gaza Province

Aos meus compatriotas que se interessam por Moçambique: o mapa indica onde é Xai-Xai, capital da província de Gaza - desde a independência o mais extremado reduto eleitoral do Frelimo. Que eu saiba Xai-Xai não é uma das duas cidades referidas pelo comentador televisivo (remunerado?) "senhor embaixador" Martins da Cruz como as únicas tendo "problemas" políticos. Nem será alvo dos aventados interesses económicos do comentador televisivo (remunerado?) "doutor" Miguel Relvas. Nem objecto de análise detalhada do comentador televisivo (decerto que remunerado) administrador "Paulo" Portas. Ainda assim Xai-Xai existe... E vários amigos acabam de me enviar ligações para a transmissão em directo (via FB) da visita que Mondlane - o "populista" "imprevisível" para o "Público", o mero "bolsonarista" para os acomodados cleptófilos - está a fazer à cidade. Um incrível, gigantesco, banho de multidão!
 
Será um facto politicamente impressionante? Talvez. Esperemos pelos telejornais e painéis deste fim-de-semana... pois neles o "senhor embaixador" Martins da Cruz, o "doutor" Relvas ou o (administrador) "Paulo" Portas nos virão esclarecer. Remunerados? Quiçá... E até mesmo que algum "jornal de referência" possa atentar nisto.
 
E até poderá ser que alguns dos nossos actuais ministros "abram a pestana". Trata-se de insistir, apesar da pouca esperança a ter com esta gente.

Um ano com D. Dinis (3)

O sucessor de D. Dinis

Cristina Torrão, 08.02.25

Afonso IV Selo.jpg

 

Faz hoje 734 anos que nasceu um dos reis mais enigmáticos da nossa História: D. Afonso IV

Ficou sobretudo conhecido por ter mandado assassinar Inês de Castro, embora os verdadeiros contornos dessa conspiração permaneçam nebulosos.

D. Afonso IV era filho de D. Dinis e de D. Isabel. Diz-se que era mau e irascível desde a infância, o que não deixa de ser curioso, sendo os seus pais um rei exemplar e uma rainha "santa". Muitas vezes me pergunto: porque não conseguiram D. Dinis e D. Isabel transmitir bom carácter ao filho? E porque nunca D. Dinis se deu bem com o seu próprio herdeiro? Coisas que ficarão para sempre envolvidas na bruma dos séculos...

D. Afonso IV casou com a infanta D. Beatriz de Castela, dois anos mais nova, filha de seu tio-avô, o rei D. Sancho IV, e de D. Maria de Molina. O casamento parece ter sido feliz, Afonso IV é mesmo um caso raro entre os monarcas portugueses, pois não se lhe conhecem barregãs nem filhos ilegítimos. Não deixa de ser estranho num homem que se julga ter sido destituído de escrúpulos.

Terá sido dono de grande moralidade, transmitida pela mãe D. Isabel? Isto poderia explicar a sua falta de tolerância a desvios de comportamento do seu filho e herdeiro, D. Pedro I. E também explicaria que, sendo mais ligado à mãe, se tivesse afastado do pai. Na verdade, D. Dinis preferia a companhia do seu bastardo Afonso Sanches.

A infanta D. Beatriz de Castela, rainha de Portugal, viveu na corte portuguesa desde os quatro anos de idade. Foi criada pela sogra D. Isabel, assim que ficou estabelecido o seu consórcio com o príncipe herdeiro, por ocasião do Tratado de Alcañices, a 12 de Setembro de 1297. Neste Tratado, ficaram definitivamente estabelecidas as fronteiras do reino português. 

Todas as informações conhecidas sobre D. Afonso IV estão reunidas na biografia de autoria de Bernardo Vasconcelos e Sousa (Círculo de Leitores, 2005).

D. Afonso IV Biografia.jpg

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 08.02.25

edmi.jpeg

Hoje lemos: Edmondo de Amicis, "Coração"

Passagem a L' Azular: "Lembra-te, Enrique: quando encontrares um velho, uma mulher com a sua criatura nos braços, um homem com muletas, um homem com carga nos ombros, uma família vestida de luto, cede-lhes a passagem com respeito. Devemos prestar especial atenção à velhice, à miséria, ao amor maternal, à doença, ao cansaço e à morte.”

É verdade sim. Devíamos nós povo, povos humanidade, governos a nível mundial, prestar mais atenção a quem sofre, porque é velho e sozinho, porque é doente e não pode pagar os tratamentos, porque vive num estado de pobreza e já desistiu de tentar reerguer-se, porque quer ter filhos mas não tem condições de os sustentar, ou porque tem filhos e não os consegue criar e depois é a miséria que se vê; porque devíamos reparar que há quem tenha quatro empregos só para pagar as contas, não sobra para comer e tem vergonha de ter fome; porque devíamos reparar que a morte social é mais doída do que a morte física. 

Não me considero melhor do que ninguém e sempre pensei que contribuo para mitigar algum desespero. Mas não. Não consigo reparar em tudo e acabo por não reparar em nada. A verdade é que quem  precisa, precisa sempre e quem dá, nem sempre consegue dar.  Nesta conjuntura, não podemos seguramente esperar muitos finais felizes.

2024: o meu ano em doze imagens

Pedro Correia, 08.02.25

11111111111.jpg

Janeiro: Praia Grande, Sintra

2222222222.jpg

Fevereiro: comício da IL no Cineteatro Capitólio, Lisboa

333333.jpg

Março: missa de Domingo de Ramos, Lisboa

44444.jpg

Abril: Hotel Vila Galé, Ericeira

55555.jpg

Maio: estádio José Alvalade (Sporting campeão)

656456565.jpg

Junho: campo de tiro da Força Aérea, concelho de Benavente

7777777.jpg

Julho: lançamento do livro Tudo é Tabu, Lisboa

888888.jpg

Agosto: praia de Samil, em Vigo (Galiza)

FFoz.jpg

Setembro: Figueira da Foz

out.jpg

Outubro: Trafaria, à beira-Tejo

oeias.jpg

Novembro: Palácio do Marquês de Pombal, Oeiras

dez.jpg

Dezembro: Portas do Sol, em Santarém, entre Natal e Ano Novo

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 08.02.25

21523202_SMAuI.jpeg

 

Teresa Ribeiro: «No intervalo do cinema:

- Aos 20 não sabemos que aos 40 acabamos a fazer e a pensar as mesmas patetices.

- E se em 20 anos não aprendemos nada, o mais certo é aos 50 continuarmos a repetir os mesmos erros.

- E como burro velho não aprende línguas, não é aos 60 e aos 70 que vamos mudar.

- Não se aprende nada.

- Nada de nada.»

 

Eu: «Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch é um livro apropriado ao Inverno. Porque um frio polar o atravessa de ponta a ponta. É um frio extremo, cortante, que tolhe, corrói e mata. Numa atmosfera gelada, de penúria extrema e tão admiravelmente descrita que desde as páginas iniciais também nós, leitores, sentimo-nos vergar ao peso do frio e da fome naquele campo de prisioneiros do Cazaquistão siberiano perdido no mapa, esquecido do mundo, oculto da luz, onde impera a lei do mais forte e a morte prematura é o destino mais comum. O frio vigora em dois planos simultâneos: não é apenas o frio concreto, ditado pelo fatalismo meteorológico, mas também o frio simbólico, pois nestas páginas viajamos aos anos de chumbo do estalinismo na imensa Rússia devastada pelo terror vermelho. Um terror insidioso, que contamina corpos e consciências, apossando-se do país como um vírus letal.»

Bom jornalismo

Pedro Correia, 07.02.25

bbbbbb.jpg

Jornalismo do melhor, esta reportagem de Cláudia Rosenbusch que figura na capa da mais recente edição da revista Sábado.

Tanto se fala na rua do Benformoso, em Lisboa, sem que muitos dos que peroram sobre o tema tenham lá posto os pés, ignorando em absoluto como decorrem os dias e as noites nesta velha artéria da capital hoje frequentada por gente das mais diversas origens, em larga medida alheia aos nossos usos e costumes.

A jornalista esteve lá. Arrendou um apartamento nessa rua durante uma semana. E relata-nos o que viu e ouviu, cumprindo uma regra fundamental da profissão. Nós, leitores, aprendemos com ela. Tornamo-nos cúmplices dela. O bom jornalismo é assim: capaz de estabelecer uma corrente empática com quem procura informação, sem se contentar com "percepções" nem tropeçar em achismos bacocos.

Não percam: recomendo muito.

Os comentadores televisivos e Moçambique

jpt, 07.02.25

Chibuto_District_map.svg.png

Aos meus compatriotas que se interessam por Moçambique: o mapa indica onde é Chibuto, na província de Gaza - desde a independência o mais extremado reduto eleitoral do Frelimo. Que eu saiba Chibuto não é uma das duas cidades referidas pelo comentador televisivo (remunerado?) "senhor embaixador" Martins da Cruz como as únicas tendo "problemas" políticos. Nem será alvo dos aventados interesses económicos do comentador televisivo (remunerado?) "doutor" Miguel Relvas. Nem objecto de análise detalhada do comentador televisivo (decerto que remunerado) administrador "Paulo" Portas. Ainda assim Chibuto existe... E vários amigos acabam de me enviar ligações para a transmissão em directo (via FB) da visita que Mondlane está a fazer à pequena cidade. Um incrível, gigantesco, banho de multidão!
 
Será um facto politicamente impressionante? Talvez. Esperemos pelos telejornais... pois neles o "senhor embaixador" Martins da Cruz, o "doutor" Relvas ou o (administrador) "Paulo" Portas nos virão esclarecer. Remunerados? Quiçá...

Segunda edição

Luís Naves, 07.02.25

ardinas1.jpg

No orçamento americano para 2025 estavam inscritos 268 milhões de dólares para apoiar "meios de comunicação independentes e a livre circulação de informação". Em 2023, números oficiais, a agência USAID formou e financiou 6200 jornalistas, deu dinheiro a 707 órgãos de comunicação e 279 organizações da sociedade civil que suportavam o "jornalismo independente", isto em 30 países. O presidente Trump escreveu num post da sua rede social que o jornal online Politico recebeu 8 milhões de dólares. Estamos a falar sobretudo de jornais de oposição nos seus países, críticos de governos que Washington considerava hostis, ou de jornais favoráveis à estratégia americana, como era o caso da Ucrânia, onde nove em cada dez órgãos de comunicação tinham a USAID como principal fonte de subsídios. Estes factos agora são conhecidos, após a administração Trump ter decidido encerrar a USAID, sendo provável que o assunto provoque um enorme escândalo na América. Em Portugal, isto ainda não é notícia, embora confirme as acusações que, ao longo de décadas, ouvimos a críticos dos EUA: A USAID ajudava a financiar operações da CIA e Washington influenciava eleições e derrubava governos. A esquerda que dizia estas coisas está agora indignada com Trump, por demonstrar que a teoria da conspiração era parcialmente verdade. O mundo dá muitas voltas.

imagem gerada por IA, Night Café

Uma jovem de vinte anos, uma égua e uma viagem da Alemanha até Portugal (6)

Cristina Torrão, 07.02.25

Continuamos pelo planalto do Norte de Espanha, Comunidade Autónoma "Castela e Leão", rota: Burgos, Valhadolid, Salamanca (parcialmente ao longo do Duero/Douro) - uma região inóspita, esparsamente povoada, mas cheia de gente capaz de reconhecer e recompensar a coragem de uma jovem.

A Cavalo Tag 55 5.jpg

A 1 de Novembro, 55.º dia de viagem, Jette montava a tenda, quando um homem veio ter com ela, perguntando se precisava de ração para a égua. Ela aceitou logo, Pinou necessitava de mais do que apenas relva. Foram a casa dele. O homem tinha dois cavalos e Pinou acabou por ser levada para junto deles. O espanhol acabou por dizer a Jette que ela podia dormir no seu quarto de hóspedes. Ao pensar no frio da tenda, ela aceitou, apesar de ele viver sozinho (ou, pelo menos, estar sozinho, naquela altura). Ele encomendou pizza para o jantar. E tudo correu bem, sem surpresas desagradáveis. No dia seguinte, à partida, a moça recebeu ainda um saco de comida.

A Cavalo Tag 55 1.jpg

Quatro dias mais tarde, Jette recebeu uma mensagem desse mesmo espanhol, perguntando-lhe onde estava e se a podia ajudar a encontrar um local para dormir. A moça deu-lhe as informações e, dez minutos depois, ele enviou-lhe um endereço de uma família que se prontificava a alojá-la, com lugar para a Pinou.

A Cavalo Tag 56 1.jpg

Numa manhã, um homem veio ter com ela ao caminho, de tractor, dizendo-lhe que gostaria de lhe mostrar os seus cavalos. Além de admirar os belos animais, Jette já não seguiu viagem, acabou por ficar a dormir nessa quinta.

A Cavalo Tag 54 5.jpg

A Cavalo Tag 53 2.jpg

A próxima cena é tipicamente ibérica, poderia ter acontecido também em Portugal: Jette chegou à praça principal de uma aldeia e, de repente, tinha cerca de quinze pessoas à sua volta. Falavam todas ao mesmo tempo, fazendo-lhe perguntas, mas a moça não as entendia. Uma mulher acabou por surgir com alguém que sabia inglês. E convidou Jette para ficar na sua quinta, que, além da família, albergava um rebanho de trezentas ovelhas.

A Cavalo Tag 58 1.jpg

A Cavalo Tag 59 1.jpg

A 7 de Novembro, 60.º dia de viagem, Jette chegou a Moríñigo, perto de Salamanca. Pernoitou, mais uma vez,  em casa de uma família e, no dia seguinte, “um homem muito simpático, sobre um belo cavalo espanhol”, acompanhou-a, mostrando-lhe o caminho para Arapiles, onde lhe tinha arranjado estadia.

A Cavalo Tag 61 1.jpg

A Cavalo Tag 61 3.jpg

Depois do jantar, em Arapiles, Jette foi levada à bela Salamanca.

A Cavalo Tag 61 5.jpg

Na manhã seguinte, ela tornou a ser acompanhada, durante alguns quilómetros, por um cavaleiro, amigo da família onde pernoitara. O mesmo aconteceu dois dias mais tarde. Os espanhóis revelavam-se, não só bons cavaleiros, como também cavalheiros.

A Cavalo Tag 64 3.jpg

A Cavalo Tag 68 3.jpg

Nas últimas etapas, antes da fronteira portuguesa, Jette dava, constantemente, com portões. Deixavam-se aliás abrir facilmente e ela não hesitava em passar por esses terrenos, era-lhe difícil encontrar alternativas. Felizmente, não foi admoestada.

A Cavalo Tag 64 8.jpg

Passava por manadas de bovinos e a Pinou surpreendia-a, mantendo-se calma, contrariando o comportamento  apresentado, antes da viagem: sempre se mostrara nervosa na presença de vacas, ou mesmo de ovelhas e cabras.

A Cavalo Tag 65 1.jpg

Atrás de mais um portão, porém, Jette deparou com uma quinta de touros! A avaliar pelo vídeo (Tag 64), eu diria que eram de vinte a trinta animais. A moça ainda hesitou, mas acabou por entrar. Coragem, ou inconsciência, irresponsabilidade?

A Cavalo Tag 64 12.jpg

O certo é que o insólito aconteceu: os touros comportaram-se como cordeirinhos! Ficaram calmos, enquanto a moça passava por eles, sobre a égua. Nem sequer reagiram, quando Pinou não resistiu e começou a comer de um dos montes de palha espalhados pelo terreno.

A Cavalo Tag 64 1.jpg

Que conclusão tirar? Que os touros não são tão agressivos como se pensa? Que estes estavam habituados a ver cavaleiros e seus cavalos? Que sentiam a descontracção de Jette e de Pinou, respeitando-as e/ou não as vendo como ameaça? Os animais têm de facto sensibilidade especial para ler estados de espírito, digamos assim, uma espécie de sexto sentido. Aprendi isso com os cães. E todas as amizades entre humanos e animais, mesmo tratando-se de animais selvagens, como leões, por exemplo, são baseadas numa confiança incondicional, estabelecendo um compromisso que nunca lhes passa pela cabeça quebrar.

Muitos dirão ter sido apenas sorte, no caso de Jette. Não excluo essa hipótese. Mas é fascinante ver as fotografias e os vídeos postados pela moça.

A Cavalo Tag 64 4.jpg

Estava-se a 10 de Novembro. Nesse dia, Jette chegou a Sancti-Spíritus e tinha apenas mais três etapas, até à fronteira portuguesa: Ciudad Rodrigo, Gallegos de Argañán e La Alamedilla. O planalto ia dando lugar à região montanhosa, que plenamente se desenvolve no lado português. A paisagem já era mais verde. Jette acabou por apanhar alguma chuva, o que aliás, tem as suas vantagens.

A Cavalo Tag 63 1.jpg

Dez dias atrás, a moça lamentava, no seu diário, ainda lhe faltarem mais de 300 km até Castelo Branco. Nesse serão, escreveu que, apesar de se alegrar com a aproximação a Portugal, também se sentia um pouco triste, perante o fim da aventura. O fim desta viagem da sua vida.

A Cavalo Tag 67 2.jpg

 

Nota: Todas as fotografias e informações aqui divulgadas foram retiradas do diário de viagem de Jette:

https://www.instagram.com/jette.horse.journey/

@jette.horse.journey

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 07.02.25

21523202_SMAuI.jpeg

 

Luís Menezes Leitão: «Lembrei-me de ter participado num Congresso de Direito Comparado em Washington onde um professor americano fez a comparação entre os métodos de investigação criminal europeus e americanos. Segundo ele referiu, os europeus tinham uma fé absoluta nas escutas enquanto os americanos preferiam recorrer a agentes infiltrados. E, no entender dele, a perspectiva americana é mais correcta uma vez que as escutas são facilmente descontextualizadas e muitas vezes nem se percebe do que é que os interlocutores estão a falar.»

 

Eu: «Os bárbaros atentados de 7 de Janeiro em Paris, que vitimaram 17 pessoas (incluindo alguns dos mais conhecidos caricaturistas franceses), ocorreram faz hoje um mês. Mas parece ter já decorrido um ano. Durante alguns dias ouviu-se gritar "Je suis Charlie" em alta estridência um pouco por toda a parte: até o George Clooney achou "giro" exibir-se com um dístico desses numa festarola em Hollywood. Sobre as cinzas do massacre logo tombou a lei do silêncio, impondo-se por toda a parte um pragmatismo amedrontado - enquanto o fanatismo islâmico continua a matar. Agora já quase ninguém é Charlie. Nem o Clooney, sou capaz de apostar.»

Hidroginástica à 4.ª Feira

Maria Dulce Fernandes, 06.02.25

reboleira 2.jpg

Sete da manhã e estavam 6⁰ C. O calor é preguiçoso, mas era mesmo  preciso levantar. Depois vem o cafezinho e o sumo de laranja, toma-se a medicação da manhã e vamos ler as gordas e debatê-las à luz das tendências de cada um, porque num casamento de quase 45 anos é da discussão que a faísca alimenta o fogo.

- Então, vamos ou não? -Vamos... - Mas está frio. - Dentro de água  não se sente.

E fomos. Esperámos o autocarro da Carris Metropolitana e lá fomos, rumo ao CNA na Reboleira, para mais uma aula de hidroginástica.

Como habitualmente saímos na paragem do Supermercado e atravessámos o pequeno ajardinado do outro lado da estrada, que desemboca na Rua Pedro Del Negro junto à igreja. Foi por essa altura que ouvimos o que pensamos serem uns foguetes meio murchos. Já junto ao estádio vimos um colega de piscina que estugava o passo e nos disse meio afogueado “Ouviram os tiros? É um tiroteio entre gangues rivais. Vou-me embora!”

Ficámos sem saber o que fazer. Alguns populares corriam na direcção da entrada e só se ouvia ao longe o som de sirenes. “Olha, vamos lá. Estou a ver uma data de colegas de aula. Se não houver função, vamos embora.”

Nada acontecia na entrada das piscinas. O que quer que estivesse a suceder, passava-se mais ao lado, junto à entrada do ginásio. Chegou uma ambulância. Não fui ver. Estava muita gente e só se ouviam gritos. Entrámos, mudámos de roupa e fizemos a aula tranquilamente.

À saída, o circo estava instalado, com tudo o que era polícia, grupos de intervenção e comunicação social a incomodar toda a gente. Eu não vi nada. Não sei nada nem quero saber. Não posso comentar. 

Já em casa verificámos pelas notícias na tv que o dito “tiroteio entre gangues rivais” tinha sido uma cobarde execução de uma pessoa por outra ainda pior que se arvorou em juiz, júri e carrasco, num julgamento em que era tão ou mais culpado.

Seja qual for a sua origem, para esta gente a lei não existe. A pessoas que viram e viveram aqueles momentos de pânico, na sua maioria seniores (para não entrar no idadismo), sentem que a instabilidade e a insegurança que se vêm instalando na vizinhança reduzem cada vez mais a pouca qualidade de vida de que ainda podem usufruir.

Se há polícia, é porque há polícia. Se não há polícia, é porque não há, nem querem que haja. Para quê, se afinal os criminosos ministram a sua própria justiça sempre que lhes aprouver?

Não CHEGA já?

jpt, 06.02.25

chegga.jpg

Não se governa com moralismos, mas sim com pertinência decisória. Na política os discursos moralistas são sempre escalfetas para acalentar tendências ditatoriais - fascistas, comunistas -, colhendo acéfalos apoios naquilo "assim é que é!" (ou seja, "assim é que deve-ser!"). De resto, em todos os partidos, movimentos, ideologias e crenças há gentes muito diferentes, cada um de nós com suas "públicas virtudes, vícios privados", nisso mais ou menos avessos aos "valores" e "princípios" propagandeados pelas forças políticas a que aderimos.  Há nestas contradições uma diferença fundamental - quando uma organização política que se suporta em retórica moralista se contradiz institucionalmente (como agora na mariolice do BE com os seus empregados) é um fenómeno diferente de que quando membros individuais de uma força política têm actos avessos à retórica dos grupos que integram.

Ainda assim este caso do deputado Pardal Ribeiro do CHEGA - deputado municipal mas também integrante da candidatura à Assembleia da República - é politicamente avassalador. Nada tenho contra a prostituição. Desde que o prostituído seja dotado de total livre-arbítrio - e nisso incluo que não o faça constrangido por míseras condições de vida e falta de expectativas. Quanto à clientela, enfim... julgo uma tristeza, entre a desgraça pessoal e a extrema falta de tino haverá uma infinitude de motivos para levar alguém a pagar para ter sexo. Mas não é no caso pessoal que me centro - apesar do meu (malvado, confesso-o) sorriso, pois ver um ex-presidente da Associação Nacional de Toureiros nestes patéticos maus lençóis recorda-me o que sempre achei da estética da "Festa Brava", pois aqueles ademanes, roupas justas e berloques parecem-me, desde a juventude, uma coisa muito ... a la Rocky Horror Show, para não dizer outra coisa.

Mas ainda assim é impossível não convocar como o CHEGA cresceu, no vozear de falsidades, de exageros, de verdadeiros maldades dizendo malvados todos os outros, invectivando-os, invectivando-nos, como ladrões, corruptos, criminosos, imorais, até doentes. Ou, pelo menos, como acéfalos complacentes. E por isso Ventura e sua trupe tanto gritam contra ciganos, defensores da homossexualidade, muçulmanos, imigrantes, etc. E contra todos aqueles que tenham tendências ou ideias diversas dos que "os de Ventura" têm. Expulsar uns, prender outros, castrar aqueloutros, clamam.

E se esses discursos não são "aquilo que é preciso dizer", como tantos se deixam encantar, ainda menos o são quando quem os grita é esta tropa fandanga. Agora demonstrada à evidência por um mariola que rouba malas e vende os seus conteúdos por via postal através do parlamento, outro que sai a fazer felações a um miúdo de 15 anos em troca de 20 euros! O CHEGA, Ventura, Mithá Ribeiro e quejandos, são isto. Um bando de energúmenos que bolçam javardices e falsidades. E que  convocam para junto de si tudo o que venha à rede, queira "aparecer", "trepar"... Aquilo não é um partido, é um escarrador. 

A ver se os compatriotas - zangados, por razões que serão legítimas - entendem isso. E "castram" estas venturices.

Pág. 1/3