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Delito de Opinião

Na Tomada de Posse de Chapo

jpt, 15.01.25

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1. Quando vivia em Moçambique escrevia no blog ma-schamba. Ali não falávamos de política nacional - era um colectivo de estrangeiros. Mas às vezes resmungava com os dislates da imprensa portuguesa sobre o país. Voltando a Portugal, de vez em quando vou escrevendo sobre o país e seus rumos - principalmente no mais lido Delito De Opinião. Porque gosto de Moçambique; porque julgo que pouco dele se fala na imprensa (e na academia); porque muito me irritam alguns disparates que, ainda assim, vão saindo sobre o passado e o presente (sim, estou a pensar no "Público" mas não só. Por exemplo, agora será um "caso de estudo" o que se passa - e porquê - na SIC Notícias). Decerto que por isso neste - tardio - acordar da imprensa sobre a situação (estrutural) de Moçambique, dois ou três jornalistas amigos "sopraram" o meu nome às redacções para que apareça eu a "comentar". E lá fui eu, algumas vezes. Ora se o escrever me é normal, já o "aparecer" é coisa excêntrica. Face a isto os amigos próximos riem-se, com algum piedoso carinho: pois me sabem mais dado ao culto da rusticidade, e este meu rumo de mimalho narcísico desilude-os um pouco. Por isso sinto necessidade de me justificar diante deles, lembrando-lhes a minha condição de já sexagenário. Assim alquebrado.
 
2. Nesse rumo fui gentilmente convidado para hoje comentar na RTP3 o discurso de empossamento de Daniel Chapo. Logo após recebi uma simpática mensagem de uma amiga distante de Maputo - a qual, pelo que dela conheço, presumo não seja uma venancista. Enviou-me a foto com uma legenda, a qual sumarizo nos meus mais deselegantes termos por um "não borregaste". O que me alivia pois não quero ali tomar "partidos" - mas sim partido, por um melhor país!
 
O que disse é simples de resumir: há hipóteses de diálogo, e Chapo vem dando indícios de ter essa capaz disponibilidade. E que o discurso foi bom, apaziguador, e apresentando um ror de intuitos desenvolvimentistas (ainda que nós saibamos que "de boas intenções estão os Panteões Nacionais cheios").
 
Logo vários amigos me "mensajaram" a sua descrença na hipótese de diálogo Chapo/Frelimo-Mondlane. Então explico-me: para além da obrigatoriedade pragmática desse apaziguamento dialogante há outros dois factores. Por um lado, o discurso de Chapo (que ainda não li apesar de o ter recebido no momento exacto do seu término) tem grande similitude com o programa de Mondlane. Ou seja, coincidem no diagnóstico da situação do país ("dialogam" sobre isso, se assim se quiser). Poderão discordar das formas executivas tendentes às reformas, mas isso é a jusante.
 
Por outro lado, há algo que só depois vi. Quando Mondlane se rebelou contra (mais) esta fraude eleitoral, vários intelectuais alcochoados com a cleptocracia vigente se insurgiram contra o evangelismo público (e propagandeado) do candidato. Ora acabo de ver um filme oficial da candidatura de Chapo, no qual surge ele imediatamente antes do empossamento, ajoelhado em profunda oração, acompanhado da sua mulher, e invocando a iluminação divina para os seus actos. Ou seja, os dois políticos partilham este cristianismo político, um liame dialogante com toda a certeza, mesmo que pertençam a congregações evangélicas diferentes.
 
E isto, a ascensão de um presidente do Frelimo que explicita a sua devoção pela iluminação do deus cristão, significará algo muito relevante. A velha Frelimo, o partido vanguarda Frelimo, de inspiração m-l e com laivos maoístas - que ainda habita nas saudosas memórias da "velha guarda" marxista e de alguns desses intelectuais - já desapareceu há muito, é consabido. E talvez surja agora como uma "democracia-cristã", ecuménica no seu trans-catolicismo e abertura coabitante ao islamismo. Acompanhando dinâmicas no continente. E por mais que isso me seja distante, ateu e adepto da laicidade (algo que muito ultrapassa a mera religião), também o prefiro aos guevarismos folclóricos e aos tétricos brejnevismos.
 
3. A população, em particular a apoiante de Mondlane, exige melhores condições de vida, menos corrupção, mais desenvolvimento e maior democratização. Esta última implica que os políticos - os que estão no poder e os que a isso aspiram - são não só criticáveis como são (devem ser) criticados. Mondlane ontem atacou o MNE português de forma desabrida. Causou a Rangel um enorme rombo no seu capital político pessoal - ele terá de deitar borda fora todo o seu lastro para se manter à tona de água. Pois deixou que a relação com um importante interveniente de um aliado fundamental chegasse a um ponto destes, descurou-se.
 
Mas Mondlane esteve péssimo. Rangel não fez campanha em Moçambique, não urdia conspirações contra a oposição, não financiou o partido oponente, não fez qualquer ingerência. Terá tido ritmos e tons menos felizes sobre a situação moçambicana. Mas se Mondlane disso discorda então contesta o governo português, critica-o, em público se considerar necessário. Mas se tem apenas problemas com o nosso ministro, fala com o nosso embaixador, pede para que ele transmita o seu desconforto, desagrado, ao ministro em causa, ao seu PM, até mesmo ao PR. Agora um ataque pessoal, uma critica ao seu desempenho político, em tom desabrido, em público? Foi completamente descalibrado. Foi uma agressão ao governo português, até mesmo a este Estado aliado. Mondlane quer ser estadista? Seja-o, já. E nunca assim.
 
Muitos não concordarão comigo. Considerando "Venâncio" intocável. Apodando-me de "xicolono". Mas é mesmo isto o que eu penso: Rangel esteve muito mal neste processo, o seu SENEC é inexistente, o que é péssimo. Mas isso são problemas nossos, portugueses. E Mondlane esteve muito pior. Mas isso é um problema deles, moçambicanos.
 
4. Enfim, presumo que terminada a minha tournée televisiva pois quero crer / desejo que amainada esteja a situação moçambicana, lembro os amigos que hoje irei - já não em registo narcísico mas apenas conversacional - à Radio Observador, ao programa Convidado Extra. Irei falar do meu livro "Torna-Viagem", e andanças concomitantes. Com o explícito objectivo de seduzir algum(ns) hipotético(s) leitor(es). Aduzo que amigos (e não só) compraram o livro, alguns até o leram. E entre estes houve quem tivesse gostado...
 
A entrevista radiofónica é transmitida às 20 horas mas ficará aqui disponível na página do programa . E o livro "Torna-Viagem" - o tal carregado de crónicas em Moçambique - só se compra encomendando-o na página da plataforma digital: https://publishpt.bookmundo.com/books/366121

Facto nacional de 2024

Pedro Correia, 15.01.25

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CRISE NO SNS

Podia ter sido noutro ano, pois já vem de longe. A crise no Serviço Nacional de Saúde foi destacada, pelos autores do DELITO DE OPINIÃO, como Acontecimento Nacional de 2024 pelo impacto que teve junto de um número crescente de portugueses - e até de cidadãos estrangeiros residentes no nosso país. Num ano em que o Instituto Nacional de Emergência Médica teve três presidentes sucessivos.

Houve demissões em cascata de conselhos de administração de unidades locais de saúde. O Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta foi exonerado em Setembro. No mês seguinte, demitiram-se o director de cirurgia e outros dez cirurgiões do Hospital Amadora-Sintra. Em Dezembro, o director do serviço de urgência do Hospital São Francisco Xavier saiu a seu pedido. Já em Abril, havia saído o próprio director-executivo do SNS, Fernando Araújo.

«Se não foi fácil erguer o SNS, mantê-lo e geri-lo condignamente está a pôr à prova não apenas os governos, mas diferentes níveis de administração, grupos profissionais e  autarquias.» Observação certeira de alguém que assumiu esta opção de voto.

Outro membro do DELITO foi mais longe: aludiu a crise endémica dos serviços estatais. Especificando: «Não é só o SNS que recebemos minado: são também os muitos meses de espera por uma junta médica; os meses de espera para quem se pretende reformar; os serviços do Ministério da Educação que são incapazes de fornecer números fiáveis; os transportes públicos que continuam pouco dignos de confiança (o jornalismo não parece interessado em investigar seriamente o estado actual do Metro e da Transtejo, tendo mesmo de ser um presidente da Câmara a reportar aos jornais a bandalheira dos barcos eléctricos); as forças policiais em conflito entre si; etc.»

 

Com sete votos, apenas menos um do que o acontecimento mais destacado, foi mencionado o novo ciclo político ocorrido com as eleições legislativas de 10 de Março e a formação do executivo minoritário da AD liderado por Luís Montenegro.

«Pela primeira vez em muitos anos a esquerda é minoritária na Assembleia da República, o que coincidiu com o fim do ciclo de mais de oito anos de governação PS», observou alguém.

 

Outros factos ou percepções, cada qual com um voto. Passo a enunciá-los para ficarem lavrados em acta como sempre sucede, ano após ano, no nosso blogue:

- Aprovação do Orçamento do Estado, em 29 de Novembro, contrariando muitas previsões que davam como garantido o chumbo parlamentar deste instrumento essencial à governação do País.

- A contínua emigração de jovens, que vai adquirindo «contornos de calamidade».

- Os distúrbios nas imediações de Lisboa, na sequência da morte do caboverdiano Odair Moniz, a 21 de Outubro, por revelarem «tensões sociais e de inspiração racista que devem merecer toda a atenção».

- A queda de Pinto da Costa, «com as consequências desportivas e penais que isso implica», após 42 anos de poder absoluto no comando do FC Porto.

- A confirmação da mediocridade da elite política, «o que só agrava a resolução dos problemas nacionais».

 

Participaram na votação 18 membros do DELITO. Como sempre acontece, cada um pode votar em mais de um tema ou em nenhum, se assim o entender.

 

Facto nacional de 2010: crise financeira

Facto nacional de 2011: chegada da troika a Portugal

Facto nacional de 2013: crise política de Julho

Facto nacional de 2014: derrocada do Grupo Espírito Santo

Facto nacional de 2015: acordos parlamentares à esquerda

Facto nacional de 2016: Portugal conquista Europeu de Futebol

Facto nacional de 2017: Portugal a arder de Junho a Outubro

Facto nacional de 2018: incúria do Estado

Facto nacional de 2019: novos partidos no Parlamento

Facto nacional de 2020: o vírus que nos mudou a vida

Facto nacional de 2021: vacinação em massa

Facto nacional de 2022: o regresso da inflação

Facto nacional de 2023: queda do governo de maioria absoluta

Melros de meias-tintas

Sérgio de Almeida Correia, 15.01.25

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(créditos: Luísa Nhantumbo/Lusa)

Nas eleições venezuelanas de Julho do ano passado, a LUSA informou-nos que “[o] Governo português apelou à transparência do processo eleitoral na Venezuela, após a declaração de vitória de Nicolas Maduro", que estava, e continua, a ser contestada nas ruas pela oposição. 

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, disse nessa ocasião que “[s]ó há legitimidade se houver transparência e para que os resultados sejam aceites como legítimos, apelamos no fundo a que eles sejam verificados”.

O primeiro-ministro Luís Montenegro, em declaração datada de 03/08/2024, e subscrita com o Chanceler da República Federal da Alemanha, o Presidente do Governo de Espanha, o Presidente da República Francesa, o Presidente do Conselho de Ministros da República Italiana, o Primeiro-Ministro dos Países Baixos e o Primeiro-Ministro da República da Polónia, mostrou “forte preocupação com a situação na Venezuela após as eleições presidenciais do passado domingo”. Impunha-se que as autoridades venezuelanas procedessem à rápida divulgação das actas eleitorais, "de forma a garantir a total transparência e a integridade do processo eleitoral”.

Em resultado desta situação, Portugal não enviou nenhum representante à tomada de posse de Nicolas Maduro e o ministro Paulo Rangel enfaticamente afirmou que Portugal “não reconheceu os resultados das eleições presidenciais venezuelana, na sequência da posição tomada pela União Europeia, e que a ausência de Portugal dessa investidura tem um significado claro.

Já em relação às eleições moçambicanas, a CPLP esclareceu que “muitas horas depois do encerramento das urnas não havia ainda resultados oficiais e publicados”, colocando em causa as opções de muitas mesas de voto.

A Missão da União Europeia, após emissão da declaração preliminar de 11 de Outubro, esclareceu que os observadores da UE foram “impedidos de observar os processos de apuramento em alguns distritos e províncias, bem como a nível nacional”, acrescentando-se que foram constatadas “irregularidades durante a contagem e alterações injustificadas dos resultados eleitorais a nível das assembleias de voto e a nível distrital”, sugerindo-se por razões de integridade que os órgãos eleitorais conduzissem o processo de apuramento de uma forma transparente e credível. Laura Ballarín, chefe de missão, declarou que "a publicação dos resultados desagregados por mesa de voto não é apenas uma questão de boas práticas, mas também uma forte salvaguarda para a integridade dos resultados".

Sublinhe-se que os observadores da CPLP assistiram também a "diversos casos de contagem errónea de votos, nomeadamente: boletins de voto dobrados de forma sobreposta e contados como válidos, indiciando que a mesma pessoa teria votado mais do que uma vez", e ainda se referiram a "muitas dezenas de votos com uma marca idêntica, indiciando que a marcação no boletim de voto terá sido feita pela mesma pessoa". (…) O anúncio dos resultados finais pela CNE em 24 de Outubro resultou de uma decisão maioritária dos seus membros e não foi feita por consenso "o que contribui para um sentimento de incerteza sobre a fiabilidade dos resultados". Seis dos 13 comissários contestaram em declaração de voto a deliberação final da CNE.

Perante este cenário, a Assembleia da República aprovou uma resolução no sentido de o Governo português não reconhecer os resultados eleitorais de 9 de Outubro de 2024 em Moçambique devido “às graves irregularidades e fraudes denunciadas e documentadas”.

Na votação desse projecto de resolução, o PSD, o CDS-PP e o PS entenderam abster-se, como se não estivéssemos efectivamente perante um cenário de irregularidades e fraudes em tudo semelhante ao que aconteceu na Venezuela e não houvesse que tomar posição.

Não obstante, o Governo português entendeu enviar a Moçambique o seu ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que deste modo avalizou as “graves irregularidades e fraudes” que antes determinaram a abstenção no parlamento do seu próprio partido.

Se na Venezuela a ausência de um representante do Estado português tem um significado claro, por igual ordem de razões, a presença de Rangel em Moçambique na tomada de posse de Daniel Chapo também tem um significado claro, qual seja o de sancionar com a sua presença as moscambilhas eleitorais da Frelimo e a violência pós-eleitoral, aliás na linha do recomendado por um ex-MNE, Martins da Cruz, sempre pronto a servir quem manda ou quem paga em qualquer latitude e em quaisquer circunstâncias.

Falta de coerência e meias-tintas, vê-se, não são apanágio exclusivo dos frequentadores do Largo do Rato. No Ribadouro, à segunda rodada, e desde que a cerveja esteja fresca, não se distingue o barril. Nem quem paga.

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 15.01.25

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Hoje lemos: Peter Frankopan, "As Rotas da Seda"

Passagem a L'Azular: "Muitos judeus optaram por ir para Constantinopla. Foram recebidos pelos novos governantes muçulmanos da cidade. “Chamas a Fernando um sábio governante”, terá exclamado Bāyezīd II, saudando a chegada dos judeus à cidade em 1492, embora “ele empobreça o seu próprio país para enriquecer o meu”, os judeus não só eram tratados com respeito, como também eram bem-vindos. Os novos colonos receberam protecção e direitos legais e, em muitos casos, receberam assistência para começarem novas vidas num país estranho. A tolerância era uma característica básica de uma sociedade autoconfiante e confiante na sua própria identidade – o que era mais do que se poderia dizer do mundo cristão, onde a intolerância e o fundamentalismo religioso estavam rapidamente a tornar-se características definidoras.”

E cá está mais uma vez explicado que o fundamentalismo religioso e os ódios figadais no Oriente são causa de acontecimentos recentes e do inculcamento de valores obtusos aos povos das sociedades contemporâneas.

Um exemplo que não seguimos *

Paulo Sousa, 15.01.25

Quando nos comparamos com os EUA ou os países desenvolvidos da Europa Central, encontramos vários aspectos que explicam o nosso, já antigo, atraso económico e social. Desde a Revolução Industrial que quem liderou a criação de riqueza foram os países onde existiam minas de carvão e outros recursos naturais a partir dos quais isso aconteceu. Ali, havia também uma relação diferente com o trabalho, pois as sociedades protestantes sempre colocaram mais energia na prevenção dos azares, do que as católicas que se focam mais na explicação do que não nos é favorável. O “se trabalharmos arduamente as coisas correrão bem” dessas paragens, contrasta com o nosso “se as coisas não correrem bem, é porque fizemos por o merecer”. Perante um ponto de partida tão diferente teríamos mesmo de aceitar o nosso atraso. Lá está. As coisas são como são, e por isso teríamos de as aceitar.

E é então que nos deparamos com um caso que abala esta visão que só serve para nos anestesiar na nossa resignação. A Irlanda, tal como nós, um país de matriz católica, periférico e sem recursos naturais, tem conseguido resultados económicos que, pelo menos, nos devem fazer pensar sobre as nossas decisões das últimas décadas. Em 1986, quando entramos na CEE, a riqueza criada per capita na Irlanda era cerca de 4.000 dólares superior à nossa, mas desde então, essa diferença aumentou para os 75.000 dólares. E digo, 75.000 dólares a mais, por pessoa, em cada ano.

Então, não é a Irlanda um país igualmente católico? Não é a Irlanda um país igualmente periférico? Não é a Irlanda um país igualmente sem recursos naturais? Em que é que ficamos nas comparações tradicionais? O que é que os irlandeses fizeram de maneira diferente dos portugueses? Sem mergulhar em grandes detalhes técnicos, podemos simplificar a explicação dizendo que eles foram muito melhores que nós, mesmo muito melhores, a atrair empresas e negócios. Quando o bolo é maior, há mais para distribuir e perante um bolo pequeno, é normal que se lute por migalhas. A riqueza criada numa economia funciona da mesma forma.

Por falta de espaço neste texto não irei aqui elaborar sobre a comparação das taxas de imposto cobrado a particulares e a empresas nestes dois países, mas a diferença é realmente enorme. Quem quer atrair negócios e riqueza, não deve complicar a vida às empresas, tal e qual como não é com vinagre que se atraem moscas. E a diferença na riqueza produzida permitiu que o salário mínimo irlandês seja de 2.146 euros, o que contrasta com os nossos 956 euros. No salário médio a diferença ainda nos é mais desfavorável.

As consequências destas diferenças de rendimento na qualidade de vida dos dois povos são óbvias. O nosso melhor clima, gastronomia e exposição solar não são suficientes para nos dar a liberdade de escolha que os irlandeses têm, pois no fim das contas é óbvio que os pobres são menos livres. Alcançar uma vida melhor teria sido possível, e ainda será, mas nestes anos consumimos mais uma geração a preferir almoçar e jantar ideologia. Tudo isto é muito irritante e há uma outra consequência com que, ao contrário dos irlandeses, hoje temos de lidar. Refiro-me ao peso eleitoral de um partido que na sua essência se pode descrever como um partido que atrai pessoas irritadas. O Chega irlandês nunca singrou, pois os irlandeses não querem mudar a Irlanda. Desejam apenas manter a trajectória que os trouxe até aqui.

 

* Texto publicado no jornal O Portomosense

Pensamento da semana

Pedro Correia, 15.01.25

 

A globalização arrancou mais de 500 milhões de pessoas da miséria em apenas 30 anos - não há memória de algo semelhante na história humana. Mas entrámos noutro ciclo, o da contra-globalização. Vai acentuar-se, à medida que o populismo for contaminando as ideologias clássicas. Daqui a uma década já será bem evidente que a página foi virada. É temerário antecipar que seja para melhor.

 

Este pensamento acompanha o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 15.01.25

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José António Abreu: «Em 2012, o primeiro álbum de Jessie Ware recebeu excelentes críticas mas não me convenceu por aí além. Estava cheio de temas bem feitos e ambiciosos, com ritmo dançável (à la Beyoncé, digamos), mas, no que me diz respeito, sem o que quer que fosse de verdadeiramente especial. Em 2014, o segundo álbum de Jessie Ware recebeu críticas menos entusiásticas mas agradou-me bastante. Continuando a ser pop relativamente standard, afigura-se-me mais ponderado e subtil, fugindo a sonoridades e poses grandiloquentes.»

 

Luís Naves: «Durante os três anos do programa de ajustamento foi criado um clima de pessimismo que será difícil desfazer. Muitos jornalistas, políticos e comentadores destruíram a auto-estima dos portugueses. As boas notícias foram sistematicamente apresentadas na sua pior vertente, quando a veracidade não era logo posta em causa. Enfim, a ideia da desgraça do País entrou nas consciências e autores de artigos de opinião que não acertaram uma única vez durante esta crise continuam tranquilamente a espalhar o derrotismo e a exercer a sua liberdade de expressão sem um mínimo de responsabilidade.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «O Presidente da República apela ao consenso entre os principais partidos mas ainda não percebeu que os partidos são avessos a uma visão monocromática da incompetência.»

 

Teresa Ribeiro: «Que tal aplicar umas multinhas aos queridos que tentam rebentar com os tímpanos a quem se desloca a uma sala de cinema para ver um filme? A lei estabelece limites higiénicos para a emissão de ruído, portanto há forma de evitar este flagelo. Sempre são à roda de dez minutos e ainda por cima a levar com publicidade.»

O Fim de Rangel

jpt, 14.01.25

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Um amigo jornalista telefona-me em alvoroço, "já ouviste o Venâncio Mondlane?, arrasa o Rangel...!". E manda-me a ligação à curta "live" (como se diz no Facebook) do homem. Cinco minutos de Mondlane, hoje. O homem pode não derrubar o poder em Moçambique. Mas conseguiu destruir Rangel, de uma forma nunca vista e inaudita nestas coisas das relações externas. Isto dirá qualquer português, independentemente das suas simpatias partidárias. (A partir dos 3'45'' do filme). (Tem já notícia no "Observador").
 
Mas tenha-se em atenção um nada detalhe. Qualquer pessoa que tenha alguma atenção às relações entre Portugal e Moçambique, ao ouvir o terrível ditirambo de Mondlane contra Rangel perceberá uma facto crucial: o governo português nomeou este Nuno Sampaio (o da fotografia) para Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação. E ele inexiste. E assim Rangel, distraído (e petulante) ardeu.

Ontem em Moçambique

jpt, 14.01.25

Imagens de ontem da Deutsche Welle de Moçambique. Em Maputo a senhora insurge-se, em desespero, contra a polícia, esse último bastião repressor. Será ela uma "vândala", como se dizia até há pouco? Será ela uma descrente na inovadora oposição parlamentar do Podemos, como alguma intelectualidade surge a afiançar? Será uma "inimiga do povo", como dirão os "camaradas" de cá, lacaia do capitalismo? Ou apenas uma "alienada", desconhecedora dos seus "direitos inalienáveis"? Ou uma fervorosa "bolsonarista", como os enfeudados resumem?
 
Ontem mesmo, segundo a ong de observação eleitoral DECIDE, mais seis mortos em confrontos com a polícia em Moçambique, 3 na província de Inhambane, outros 3 na Zambézia.
 
Que amanhã o nosso servidor a quem emprestámos um gabinete no Palácio das Necessidades tenha isso em atenção. E que fale devagar, após sete voltas à boca com a língua, fingindo-se sábio.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 14.01.25

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José António Abreu: «Annie Clark incomodou muita gente em 2014. Produziu um vídeo tão estilizado e cerebral que mestres zen e especialistas em feng shui ainda estão a reordenar ideias. Respondeu às acusações de ser uma tipa fria e cerebral - a repetição do termo é propositada - com uma actuação no Saturday Night Live que incluiu sons à guitar hero, executados (por uma mulher, valha-nos deus) com passinhos de bebé e expressão impassível.»

 

Luís Naves: «O extremismo islâmico combate os valores ocidentais e todas as suas manifestações, das caricaturas aos bonecos de neve, das representações divinas às taxas de juro, do cinema à educação das mulheres. Os radicais islâmicos dizem que não são precisos mais livros, pois o que não está no Corão é inútil ou errado. A vida quotidiana dos ocidentais, que se infiltra em todos os países, vai conquistando as pessoas para ideias diferentes, do casamento por amor à libertação das mulheres, que até começam a conduzir automóveis. A banal televisão ou uma simples canção na rádio representam o horror e um ataque à interpretação fundamentalista da religião. Para estes fanáticos, o ocidente está todo errado, não apenas a sua laicidade e o direito à blasfémia, mas também os valores da liberdade, dos direitos humanos e da convivência de culturas.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «O Sócrates foi dentro, o Jardim está de saída, o Cesário já está outra vez a fazer a ronda por Macau, e as eleições estão à porta. Eu agora sou um mero secretário de Estado. Francamente, não sei qual é o vosso problema.»

 

Eu: «A linha defensiva dos réus [nos julgamentos de Nuremberga] era invariável: todos tinham agido em obediência a ordens superiores, como se a responsabilidade de cada um estivesse diluída numa espécie de imperativo categórico ditado pelas forças do mal. O tribunal rejeitou esta tese - e muito bem, condenando a generalidade dos réus a duras penas. Foi uma conquista civilizacional do direito que não deve ser revertida nestes tempos de barbárie à solta em tantos locais.»

Uma tarde de Domingo

Maria Dulce Fernandes, 13.01.25

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Os seres humanos e a sua insatisfação são para lá de inconstantes. Se faz frio é um horror, se faz calor não se aguenta, se chove é uma chatice, se não chove é uma seca…

No Domingo não choveu e após alguma reserva decidimos aproveitar a concessão do S. Pedro para irmos passear a pé, à beira-rio, no Parque das Nações, porque continua a ser uma zona aprazível para caminhadas e onde a fauna lisboeta pulula em toda a sua enorme diversidade.

Aconteceu que, a meio do passeio num pequeno jardinzinho, vi, pela primeira vez na minha vida, um senhor barbudo de mini-saia e ataviado com bijuteria e maquilhagem, a passear duas crianças. Escusado será dizer que não havia passeante ou mero transeunte que não voltasse a cabeça, ou não sentisse os olhos magnetizados naquela direcção, como se fosse a primeira vez que se visse um homem de saias.  

Há-os em vários países e ainda mais numerosas são as culturas em que os homens vestem saias e como tal não seria assombroso, não fora o preparo no seu todo fazer crer a quem olhava (porque toda a gente olhava) que fora concebido para chocar. Garantidamente sentia a convergência das miradas disfarçadas na pele nua das pernas, mas não parecia minimamente incomodado. As duas crianças e o senhor exprimiam-se em inglês e os pequenos tratavam-no por mammy, o que destoava bastante do retrato e expunha o senhor como artigo de importação, mas não ponho de parte tratar-se de produto nacional adaptado. Lia, olhava os petizes embevecido e eram um autêntico retrato de felicidade.

Não me considero fundamentalista em questões de atribuição de sexo. Lidei toda a minha vida com pessoas que não se identificavam com o sexo com que nasceram. Algumas mais espalhafatosas do que outras, é certo, mas nunca me tinha acontecido dar de caras com alguém que tivesse feito esta escolha de vida socialmente tão vistosa.

No final quedamo-nos nós, os passeantes e os que por ali passavam, a tentar identificar o(a) senhor(a) como masculino, feminino, diádico, intersexo ou altersexo, ou nenhum dos descritos, isto porque a as nossas crianças nos fazem perguntas enredadas em embaraço, e porque a imagem ficou tão fortemente marcada, que será seguramente difícil de apagar. A conclusão que posso tirar é que quem presenciou esta inocente ida ao jardim se sentiu mal por ele se sentir bem. Posso também rematar com a frase-bordão do Diácono Remédios, mas nem por isso me faz sentir melhor.

 

(Imagem gerada por IA, muito semelhante ao original)

Figura internacional do ano

Pedro Correia, 13.01.25

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DONALD TRUMP

É um regresso a esta lista. Tal como ele se prepara para regressar, daqui a uma semana, à Casa Branca. Donald Trump foi eleito, por escassa margem, Figura Internacional do Ano pelos 18 autores do DELITO que participaram na votação. Repetindo-se o que já ocorrera em 2016 e 2017.

O sucessor (e antecessor) de Joe Biden, vencedor da corrida à Casa Branca desta vez não apenas entre os "grandes eleitores" mas também com maioria no voto popular, obteve em 5 de Novembro 77,3 milhões de votos (49,9%) enquanto a sua adversária do Partido Democrata, Kamala Harris, recolheu 75 milhões (48,4%). Desta vez não houve celeuma pós-eleitoral, ao contrário do que aconteceu em 2020. 

Os motivos para a escolha, aqui no blogue, foram vários. «O mais forte comeback da história dos EUA», anotou alguém. Eis outra justificação: «O iliberalismo woke foi derrotado pelo iliberal Trump e o mundo acelera na vertigem dos caprichos do seu inflamado ego.»

A estafada e famigerada expressão "figura incontornável" pode aplicar-se ao novo (velho) inquilino da Casa Branca. Muita coisa irá mudar com ele novamente em cena.

 

Em segundo lugar nesta votação - com cinco votos, só menos um do que Trump - ficou Gisèle Pelicot, que emergiu do anonimato ao assumir a sua identidade como vítima de um chocante caso de violação em massa cometido pelo ex-marido, que a drogava previamente e incentivou dezenas de outros indivíduos a fazerem o mesmo com ela. Hoje com 72 anos, esta francesa nascida na Alemanha renunciou ao direito a ter julgamento à porta fechada como forma de denúncia aberta das agressões sexuais de que foi vítima e do atentado à sua dignidade humana. 

«A vergonha deve mudar de lado», afirmou, justificando o que a levou a sujeitar-se à exposição mediática.

Tornou-se ícone da causa feminista: a BBC incluiu-a na lista das cem mulheres mais influentes do ano. O ex-marido recebeu a pena máxima em França: 20 anos de prisão.

 

No terceiro lugar, com dois votos, ficou o Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pela sua inquebrantável resistência ao invasor russo num ano em que o quotidiano do continente europeu continuou marcado pelos horrores da guerra. O líder ucraniano já tinha sido aqui destacado em 2022 e 2023.

Também com dois votos, a carismática dirigente da oposição na Venezuela, María Corina Machdo, impedida pelo autocrata Nicolás Maduro de concorrer à presidência da república. Edmundo González, o candidato alternativo, venceu por larga margem o escrutíno de 23 de Julho. Mas Maduro proclamou-se vencedor, sem nunca ter apresentado provas: bastou-lhe o poder das baionetas que ainda sustentam a tirania de Caracas enquanto as vozes dissidentes estão na cadeia ou no exílio. Maria Corina e Edmundo foram justamente distinguidos com o Prémio Sakharov 2024, do Parlamento Europeu.

 

Houve ainda três votos isolados nas seguintes figuras:

Elon Musk, o homem mais rico do mundo - Por se ter tornado líder de opinião no X, rede social que agora controla, continuar a expandir a frota milionária dos veículos eléctricos Tesla e ter promovido em Setembro o primeiro voo espacial comercial através da sua empresa espacial SpaceX. Foi ainda o mais notório apoiante da candidatura presidencial de Trump.

Keir Starmer, novo primeiro-ministro britânico, que nas legislativas de 4 de Julho levou o seu Partido Trabalhista a derrotar por larga margem o Partido Conservador, que estava no poder desde 2010. Com mais dez pontos percentuais (33,7% contra 23,7%).

Alexei Navalny, encontrado morto a 16 de Fevereiro num estabelecimento prisional no Círculo Polar Árctico. Corajoso resistente à ditadura russa, escapou a várias tentativas de assassínio e estava encarcerado desde 2 de Fevereiro de 2021, ano em que recebeu o Prémio Sakharov. Dele se dizia que era o homem que Putin mais temia. Pagou por isso.

 

Figuras internacionais de 2010: Angela Merkel e Julian Assange

Figura internacional de 2011: Angela Merkel 

Figura internacional de 2013: Papa Francisco

Figura internacional de 2014: Papa Francisco

Figuras internacionais de 2015: Angela Merkel e Aung San Suu Kyi

Figura internacional de 2016: Donald Trump

Figura internacional de 2017: Donald Trump

Figura internacional de 2018: Jair Bolsonaro

Figura internacional de 2019: Boris Johnson

Figura internacional de 2020: Ursula von Der Leyen

Figura internacional de 2021: Joe Biden

Figura internacional de 2022: Volodimir Zelenski

Figura internacional de 2023: Volodimir Zelenski

O debate impossível

Luís Naves, 13.01.25

Ao equipararem a racismo qualquer opinião negativa sobre o estado da imigração, os partidos de esquerda matam à nascença um debate urgente. A mentalidade portuguesa tem destas coisas: por não poderem ser discutidos, os problemas arrastam-se e agravam-se. Durante alguns anos, houve uma situação de bar aberto e entraram no país centenas de milhares de imigrantes. Muitos não falam português, alguns nem sequer entendem inglês. O anterior governo piorou a situação, ao extinguir o serviço que tratava do tema, o SEF. Quando as reformas são difíceis, desfaz-se o que está feito e inventa-se a pólvora.

Os números oficiais sobre imigração sugerem um fenómeno fora de controlo. Em 2018, havia 480 mil estrangeiros residentes, em 2023 já tinham passado o milhão (1,044), ou seja, mais do dobro em apenas cinco anos. Existe porventura uma explicação económica para a aceleração abrupta, pois nos últimos dez anos foram criados 800 mil empregos em Portugal. Infelizmente, há muito emprego precário, que pode não durar, sobretudo com os efeitos da estagnação alemã. A comunidade imigrante que aproveitou a oportunidade é explorada até ao osso, tem baixos salários e vive em condições precárias (um terço em risco de pobreza e exclusão, também números oficiais).

Os partidos da esquerda aplaudem este fluxo de carne para canhão, que contribui para manter os salários baixos nos empregos de baixas qualificações. As multinacionais ficam contentes e o centro de Lisboa transforma-se progressivamente num enclave de kitsch multicultural. Portugal fez numa década os mesmos erros que a Suécia levou meio século a cometer. Não existe ligação entre criminalidade e imigração, diz o coro da esquerda. Por enquanto, não existe, mas temos de olhar para as sociedades onde a proporção de imigrantes ultrapassou a barreira dos 10% da população e onde esta afirmação não é verdadeira. Os benefícios do curto prazo pagam-se um pouco mais à frente, mas a duplicação em tão pouco tempo significa que o fenómeno é demasiado rápido para que a sociedade portuguesa o consiga absorver.

O precavido Camilo

João Pedro Pimenta, 13.01.25

O meu confrade JPT, num artigo que se aconselha, sobre a ida - e a cerimónia - de Eça para o Panteão Nacional, exprime no último parágrafo o receio de que Camilo Castelo Branco, ao completarem-se duzentos anos do nascimento, poss sofrer igual sorte. Mas desse destino está o autor de A Queda de Um Anjo a salvo. Por sua expressa e perpétua vontade (antes de se matar?), repousa no Cemitério da Lapa, no Porto, perto da escola onde Ramalho instruiu Eça e o coração de D. Pedro está guardado, sem receio de que o venham incomodar. Não fosse isto e já teria andado em bolandas entre o Porto, Samardã, Seide e o tal Panteão de Santa Engrácia, a não ser que os descendentes e órgãos deliberativos actuais sejam de tal forma insensíveis que não hesitem em violar esta sua vontade sagrada. É pouco provável, mas não impossível, se houver quem ligue mais aos restos mortais como "património cultural da nação" do que como pessoas (s)em carne e osso.

Pode ser uma imagem de monumento

Pode ser uma imagem de monumento e a texto que diz "Jazigo da Familia Freitas Fortuna, séc. XIX Capela com catacumbas, ao estilo neoclássico e com carneiro ao ar livre. Aqui repousam os restos mortais do escritor portugués Camilo Castelo Branco (1825-1890) 1825- Foi com seu fiel amigo, João António de Freitas Fortuna, que autor de Amor de Perdição partilhouo o desejo de ser aqui sepultado, implorando-lhe que nenhuma força ou consideração 0 demovesse de conservar nesta capela, ad perpetuam, as suas cinzas. A morte emenda todos os atos da vida. Camilo Castelo Branco"

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 13.01.25

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José António Abreu: «Sylvan Esso é um duo composto pela cantora folk Amelia Meath, das Mountain Man, e pelo produtor de música electrónica Nick Sanborn. A sonoridade do seu primeiro álbum pende para o lado electrónico da balança mas a voz de Meath, bem como alguns ritmos (mais evidentes no tema de abertura, um daqueles casos em que a primeira reacção tende a ser «WTF?» mas depois não apenas tudo encaixa como parece estranho ter parecido estranho), conferem ao projecto um sabor levemente peculiar que me agrada bastante.»

 

Teresa Ribeiro: «Quando se fala de intolerância relativamente aos imigrantes, por norma aponta-se o dedo aos povos anfitriões, partindo do princípio discutível de que é a quem recebe e está em maioria que devem ser cobradas as responsabilidades relativas ao bom convívio com as comunidades acolhidas. Mas o multiculturalismo deve pressupor uma abertura recíproca.»

 

Eu: «Na gala em Zurique onde ontem Cristiano Ronaldo recebeu a terceira Bola de Ouro da sua carreira (já tinha sido galardoado em 2008 e 2013), perguntaram-lhe qual foi o melhor golo da sua carreira. Resposta imediata do nosso campeão: "O próximo." Nesta resposta percebe-se bem o que leva Ronaldo a superar todos os obstáculos. Em vez de contemplar o passado, como é hábito entre os portugueses, fixa sempre novos objectivos a conquistar no futuro. Uma lição para todos nós.»

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