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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 03.08.24

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Fernando Sousa: «Portuguese Riders Crew é um blogue arrítmico, sem trincheiras políticas ou ambições literárias. E muito naiv. É um bloco de notas de jovens caminhantes portugueses, alguns cientistas, que lá vão deixando as suas pegadas, do Senegal, dos Galápagos, da Austrália, tão despreocupadamente que às vezes até se esquecem de dizer de onde escrevem – por acaso sei que Banfora é no Burkina Faso, cenário da mais recente das historinhas, a do jovem Siaka, que nos deixa a saudade dos mitos. Na foto, a floresta dos wokoulonis

 

Luís Naves: «Nos momentos em que tudo corre mal, aparecem comentários que comparam eventuais erros e omissões ‘à orquestra do Titanic’. Em certos textos, critica-se que a música continue, de forma imperturbável, exemplo de estupidez e inutilidade. Assim, lemos frases deste género: ‘O barco afundava e havia quem fizesse como a orquestra do Titanic, continuando a tocar’. As melhores prosas acrescentam detalhes de incompreensão da realidade e, além da vertigem do erro, existe igualmente uma espécie de loucura ou tolice. No entanto, esta é uma péssima utilização de um episódio verídico. Se existe lição a extrair da orquestra do Titanic é a da espantosa coragem de oito músicos que, durante o afundamento do grande paquete, em 1912, continuaram a tocar até uma fase avançada do naufrágio: muitos sobreviventes afirmaram ter ouvido música mesmo nos instantes finais da catástrofe.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Vejo é semelhanças. Muitas. Entre o que ele [António José Seguro] e Passos Coelho dizem e fazem. Como já via com um outro figurão ou com Cavaco Silva. Sempre com o ar mais sério e generoso do mundo. É a política com "p" pequenino. Com "p" de "portugal". De "ps", de "política". E também de muitas outras palavras começadas com "p", sobejamente conhecidas do Tozé, que me abstenho de enumerar para não estragar o domingo a quem tem a bondade de me ler.»

 

Teresa Ribeiro: «A ideia de ficar finalmente com ela, isolado do mundo e às voltas num barco, para sempre, era mais do que alguma vez podia ter sonhado. Recordo quem?»

 

Eu: «Agosto é o vertiginoso relato de 25 dias febris num Rio onde todas as paixões sórdidas andavam à solta -- nas mais diversas esferas, incluindo a política -- e que culminaria na manhã de 24 de Agosto de 1954, quando Getúlio, ainda de pijama vestido, pôs fim à vida com um tiro de revólver apontado ao coração no terceiro andar do palácio presidencial, hoje transformado em Museu da República. Quando a filha Alzira e o ministro da Justiça, Tancredo Neves (duas décadas depois eleito primeiro presidente civil brasileiro após uma longa ditadura militar), chegaram ao quarto já o chefe do Estado agonizava na cama. Onde termina o relato histórico e começam os labirintos da ficção? O mérito de Rubem Fonseca, galardoado com o Prémio Camões em 2003, é alternar de tal maneira os fios dos dois novelos que não conseguimos desenrolá-los.»

Reflexão do dia

Pedro Correia, 02.08.24

«Também na arte há que saber dosear a vida, e sobretudo mandar ao charco o ego, e ainda perceber que há coisas maiores do que a coisa comezinha do dia-a-dia da miséria. É certo que a rejeição dói a toda a gente, mas fazer da literatura um divã transforma o leitor num psicólogo, numa coisa amorfa, sobretudo diminui, ao invés de engrandecer, o papel do criador, não só porque abdica do dever e do prazer de criar, mas principalmente porque passa a não ter nada a dar ao leitor além de si mesmo. E admitamo-lo: pouca gente quer saber assim tanto de alguém ao ponto de lhe ouvir as mágoas.»

 

Ana Bárbara Pedrosa, na Sábado

Viagem ao Algarve e ao passado*

José Meireles Graça, 02.08.24

Alberto Gonçalves, que há muitos anos vergasta políticos, costumes e tendências neste jornal (e antes deste em outros) semanalmente, e diariamente na Rádio Observador, fez há dias 55 anos. E a vasta corte admirativa que o segue (da qual faço, fielmente, parte) deve ter visto com agrado o texto que aqui publicou sobre aquela efeméride porque às vezes sabe bem esquecermos o mundo oficial, os rituais do poder e o wokismo que anda no ar. Irónico, à sua inconfundível maneira, mas um tanto melancólico – diz a certo ponto que “oficial, oficiosa e civilmente, sou um velhote”.

Ahem, devo ser um Matusalém. Porque, no ano em que ele nasceu, fui pela primeira vez ao Algarve e, como já tinha carta de condução tirada de fresco e um amigo havia herdado um Renault Joaninha de um avô e tinha licença de aprendizagem, encartei-o, como se dizia.

Saímos às 22H00 do Porto e chegamos a Lagos, com destino ao parque de campismo local, às 11H00 da manhã. Autoestradas nem vê-las, cafés abertos depois da meia-noite um achado, e trânsito escasso. Viagem memorável, já se vê, da qual nem ele nem eu retivemos (como aconteceria hoje) a interminável maçada, mas o encanto da descoberta e a expectativa da praia, das Inglesas, das comidas e da aventura.

Aventuras houve algumas, todas banais para dois moços com automóvel (ainda que um vetusto charêlo), algum dinheiro no bolso e relativamente bem apessoados (mais ele, que eu tinha de compensar com palavreado e alguma fluência em Inglês a natureza relativamente anódina da minha pessoa).

Sucedeu que em determinada altura fomos, da Senhora da Rocha onde visitáramos uns amigos, jantar com eles a Alcantarilha. Um excesso de libações (a cerveja era fresquíssima, a companhia agradável, o conduto mais do que satisfatório e a sede insaciável) levou a que regressássemos com alguma euforia. E foi esta que induziu o meu amigo a tratar o velho Renault com alguma desenvoltura, tanta que a certo ponto, numa curva mais apertada já à chegada ao destino, eu, o encartador, o informei fleumaticamente que nunca mais “desenharia” aquela curva. Não desenhou, de facto, e pelo contrário fomo-nos espatifar de frente contra um muro daqueles algarvios, que se esboroou.

Saímos os dois, atordoados, e saíram também os visitados, que nos seguiam (num Ford Mustang, que é para as pessoas que sabem destas coisas perceberem que eram pessoas de representação). Parece que nestes entretantos caí redondo no chão, perante a comoção geral, sangrando da testa, que já na altura era larga, desimpedida e franca. E como um médico conhecido na minha longínqua cidade estivesse de férias em Lagoa, não longe, foi para lá que me levaram. O médico examinou o ferido, que entretanto tinha recuperado os seus espíritos, e declarou que aquilo não era nada, apenas tinha de coser. Fomos portanto todos ao hospital local (ou clínica, ou enfermaria, ou lá o que era), aberto naquela instância de propósito para acolher o forasteiro. Lembro-me que a enfermeira, chamada de seu sossego para a intervenção, cozeu os instrumentos e o fio numa panela; e que apresentou o resultado no respectivo testo, virado ao contrário, o que me pareceu um procedimento altamente heterodoxo. O médico (uma jóia de pessoa, que já morreu) apenas resmungou que aquele fio (chamou-lhe outro nome, não me lembro) era demasiado grosso, pelo que iria ficar com uma cicatriz. Fiquei efectivamente, discretíssima e que acabou por desaparecer ao cabo de muitos anos, conferindo-me inclusive, enquanto durou, alguma personalidade.

E então, esta historieta tem moral? Poderia ter, se me lançasse num comovente exórdio da desgraça daqueles tempos pregressos contrastada com as maravilhas do presente. O que temperaria com a reflexão de que então o país crescia economicamente a velocidade vertiginosa, o que nunca mais voltou a suceder; que, mais de 50 anos volvidos, qualquer comparação resulta sempre, em muitos aspectos, vantajosa para o presente, em Portugal ou em qualquer parte do mundo, porque entretanto o progresso científico e tecnológico, mais a acumulação de riqueza, melhoraram a vida das pessoas.

Isto diria, mas concluiria que eu, o meu amigo e todos os moços da nossa idade que conhecíamos tinham justificada esperança de um futuro de muito, ou algum, sucesso em Portugal.

Hoje não têm. E com isto poderia abundar em considerações pessimistas, amarrando ao pelourinho da descrença a forma como o nosso país tem sido conduzido.

Se estivesse virado para grandes empolgações retóricas, aproveitava a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos (jogos em que se celebra a paz ou, ao menos, a trégua nas guerras) para verberar o progresso tonto dos costumes: as religiões cristãs, os seus ícones e a sua história fazem, pelo menos desde os tempos de Monty Python, bons temas de comédia. A qual tem lugar em comédias, não tribunais, igrejas ou recintos desportivos quando tenham o significado multinacional que os afectos a estes Jogos têm, por exemplo. Com uma pilhéria desgraciosa e cobarde, além do mais, porque os mesmos conspícuos guionistas que resolveram inspirar-se na última Ceia para fazer uma representação da “comunidade” LBGTurbo nunca ousariam uma rábula semelhante com temas do Islão, para não porem em risco os pescoços que lhes seguram as estúpidas, e hipócritas, cabeças. E, estando com a mão na massa, também guardaria uma palavrinha para a imagem de Maria Antonieta exibindo pormenorizadamente o seu pescoço decepado e segurando a cabeça junto ao ventre; ou a galeria das mulheres célebres que exclui Joana d’Arc, assim como entre os franceses ilustres Luís XIV, Napoleão ou de Gaulle. Isto e muito mais é, parece, a admirável França woke dos nossos tempos, à qual dá vontade de dizer, como Jack Nicholson numa tirada célebre: sell crazy someplace else, we are all stocked up here.

Mas não vou por aí, que o tempo é de férias e vou mazé para o Algarve, lá mais para o final do mês.

* Publicado no Observador

Je vais, je vais et je viens

Pedro Correia, 02.08.24

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A imagem deste beijo da fogosa ministra francesa do Desporto ao Presidente Emmanuel Macron, a pretexto de uma proeza qualquer nas Olimpíadas, está a dar a volta ao mundo desde ontem. Deixando algo desconfortável o primeiro-ministro Gabriel Attal, que virou rapidamente os olhos noutra direcção.

Questiono-me o que aconteceria se a iniciativa tivesse partido do inquilino do Palácio do Eliseu. Estaríamos perante um repelente atentado à dignidade feminina? Assédio intergovernamental? Abuso de posição dominante? Demonstração de heteropatriarcado tóxico? Agressão sexual?

Entre os mais comentados

Pedro Correia, 02.08.24

Nos 23 destaques feitos pelo SAPO em Julho, entre segunda e sexta-feira, para assinalar os dez blogues nesses dias mais comentados nesta plataforma, o DELITO DE OPINIÃO recebeu 23 menções ao longo do mês. Fazendo o pleno, portanto.

Incluindo seis textos na primeira posição do pódio, sete na segunda e cinco na terceira.

 

Os 23 postais foram estes, por ordem cronológica:

 

Julho é o mês de Júlio ou de Caius Julius Caesar (24 comentários, terceiro mais comentado do dia)  

O meu guarda-redes (40 comentários, terceiro mais comentado do dia)   

Decifre se quiser (70 comentários, o mais comentado do dia)    

Patagónia, terra de contrastes - parte 1 (21 comentários)   

TUDO É TABU: imagens do lançamento (44 comentários)  

Patagónia, terra de contrastes - parte 2 (22 comentários)  

Pensamento da semana (56 comentários, segundo mais comentado do dia) 

Não acerta uma (80 comentários, segundo mais comentado do dia)  

Muda o regime, muda a ortografia (144 comentários, o mais comentado do dia)   

Ketchup? (84 comentários, o mais comentado do fim-de-semana)  

Pensamento da semana (84 comentários, segundo mais comentado do dia)   

Ele anda por aí (40 comentários, terceiro mais comentado do dia)  

Das luzes ilusórias às trevas ancestrais (46 comentários, segundo mais comentado do dia)  

O caduco contra o proto-mártir (74 comentários, terceiro mais comentado do dia)   

Contra todas as censuras, velhas e novas (44 comentários, terceiro mais comentado do fim-de-semana)  

Frases de 2024 (20) (32 comentários)   

Simplesmente vergonhoso (32 comentários, segundo mais comentado do dia) 

Como se fosse um trapo (46 comentários, o mais comentado do dia)  

Talvez seja melhor refrear o entusiasmo (78 comentários, segundo mais comentado do dia)  

As eleições americanas e a nossa defesa (61 comentários, o mais comentado do fim-de-semana)  

A abertura dos Jogos Olímpicos (49 comentários, o mais comentado do dia)

A bem da nação bolivariana (52 comentários, segundo mais comentado do dia)  

Da Tragédia ao Apocalipse (34 comentários)

 

Com um total de 1257 comentários nestes textos. Da Maria Dulce Fernandes, da Ana Cristina, do Paulo Sousa, do José Teixeira, do Luís Naves e de mim próprio.

Fica o agradecimento aos leitores que nos dão a honra de visitar e comentar.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 02.08.24

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Ana Vidal: «Às vezes tenho genuína pena dos jornalistas. Ninguém devia ser obrigado à esquizofrenia de ter de dar notícias saltando, sem interrupção, dos rockets para os aviõezinhos de publicidade, da faixa de Gaza para a faixa voadora que diz Amo-te Sónia, dos banhos de sangue para os banhos de mar, das explosões para os fogos de artifício, de um cenário de guerra para o cenário da festa de Verão da TVI.»

 

Luís Naves: «Num dos primeiros grandes filmes da nouvelle vague francesa, Les 400 Coups, dois rapazes roubam uma fotografia da actriz sueca Harriet Andersson, num cinema onde passa o filme de Ingmar Bergman Monica e o Desejo. A película de François Truffaut, de 1959, em português Os 400 Golpes, contava a história de um adolescente e da sua busca da liberdade, mas a narrativa semi-autobiográfica usava uma nova maneira de abordar as personagens, sem lhes atribuir motivações evidentes, ao contrário da norma nas produções de Hollywood. Em resumo, a nouvelle vague utilizava um realismo próximo da vida, onde a acção era menos previsível e a complexidade das personagens mais elaborada. A arte continuava a enganar os sentidos, mas de maneira subtil.»

 

Eu: «A tradução literária, quando é competente, não se ocupa apenas do idioma: ocupa-se da qualidade da escrita. Não numa pretensa fidelidade à letra original levada ao extremo, mas na fidelidade ao espírito do autor para melhor o reproduzir no texto traduzido. É aliás neste sentido que se diz com frequência que As Minas de Salomão, de Henry Rider Haggard, "ganharam" qualidade literária na célebre tradução de Eça de Queiroz. Ou, em sentido inverso, ainda hoje nos chegam os ecos da tradução francesa do romance A Selva, de Ferreira de Castro, feita por Blaise Cendrars -- que alguns garantem ser superior ao original.»

Manuel Leal-Henriques (1937/2024)

Sérgio de Almeida Correia, 01.08.24

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Ainda há dias pensei nele.

Habitualmente, duas ou três vezes por ano, por altura das quadras festivas e no Verão, comunicávamo-nos por escrito. E desta vez eu queria antecipar-me para não ser sempre ele a tomar a iniciativa de me escrever, de procurar saber de mim e dos combates que ia travando, comentando o que ia sabendo.

Não fui a tempo. E não haverá próxima vez. 

Quando uma enxurrada começa é difícil estancá-la. E ultimamente chegam mais carregadas de más notícias. De todo o lado. 

Apercebi-me ontem de que quando o funesto evento aconteceu, desta vez no Canadá, há mais de mês e meio, estava em viagem. E foi por um jovem advogado estagiário de língua materna chinesa que tive nota do seu passamento, o que muito me entristeceu. 

Sei bem que a velhice caminha de braço dado com a idade, embora esse passeio nem sempre se faça à mesma velocidade. No seu caso, a sua extraordinária capacidade de trabalho continuou após a jubilação e não o impediu nos últimos anos de dar aulas e intervir em seminários, ajudando à formação de magistrados e advogados, ao mesmo que tempo que publicou mais de uma dúzia de livros, códigos anotados, comentários e manuais, a maior parte deles sobre o Direito de Macau. Incansável. 

O último testemunho da sua amizade, e labor em prol da comunidade, foi-me entregue por amigo comum. Chegou com um cartão manuscrito por outro insigne jurista ligado à formação de magistrados, a acompanhar um exemplar do seu “Direito Disciplinar de Macau”, mal saído da tipografia, pelo qual me dava nota daquele me ser enviado por “especial recomendação” do autor. 

Após uma vida de dedicação aos tribunais e ao Direito português, onde deixou um rasto de sabedoria e entrega, citado em todas as instâncias e constituindo o seu trabalho objecto de estudo incontornável nas Faculdades de Direito, foi a Macau que rumou dando um contributo inestimável à localização jurídica e judiciária, à preservação das raízes lusófonas e ao desenvolvimento do direito local, em especial nas vertentes penal e processual penal, onde a qualidade do seu trabalho sempre fez a diferença. 

Exerceu funções no pioneiro Tribunal Superior de Justiça de Macau e deixa-nos, sozinho e em co-autoria com o Dr. Simas Santos, um estupendo repositório de obras e anotações jurídicas, que se somam aos milhares de decisões lavradas pela sua pena. Sempre numa escrita simples, depurada e de grande sentido pedagógico. 

Mas mais do que registar a sua herança jurídica e judiciária, quero neste breve apontamento realçar a sua humanidade, simplicidade, cortesia, o modo como a todos tratava, da senhora da limpeza ao advogado, do ministro ao sem-terra, do amigo ao desconhecido, sempre com a mesma educação, desvelo para com o próximo, atenção, bondade. Sem esquecer o seu espírito profundamente democrático, arreigado até às entranhas, sempre pronto para escutar o outro, perceber a sua perspectiva, colocando-se no seu lugar. 

Alguns, felizmente poucos, baixinhos, de espírito pequenino e medíocre, a quem a sua sombra impunha respeito, entredentes iam urrando e vituperando nas sacristias, pelos fretes que não lhes fazia; mais ainda quando as decisões que assinava ignoravam os recados previamente transmitidos pelos poderosos. 

Nos últimos anos mereceu algumas desconsiderações do poder político, mais preocupado com a burocracia e a norma estúpida do que com a protecção da civilização, do sentido da vida e das coisas. Essas aleivosias, ainda que o magoando, como a qualquer pessoa séria e decente fariam, em nada o afectaram. Sempre esteve muito acima da mediocridade de algumas seitas. 

Os residentes de Macau, a sua comunidade jurídica, magistrados, advogados, juristas em geral, muito lhe ficam a dever. Os seus livros continuarão a ser diariamente consultados, é certo, mas faltará sempre alguém para esclarecer mais uma dúvida e nos ajudar a pensar melhor. 

O Dr. Manuel Leal-Henriques, que me deu a honra de ser seu amigo, constituirá um farol para as futuras gerações de juristas de Macau, um marco indelével da dignidade e lisura da magistratura portuguesa, um exemplo dos portugueses com honra que não se prostituem por um saco de lentilhas. Em casa ou fora de portas. Nem mesmo depois de reformados. 

Perante o que hoje é público, espero que alguém – seja o Governo da RAEM, através do Secretário para a Administração e Justiça ou do Centro de Formação Jurídica e Judiciária, seja a Faculdade de Direito, os Tribunais ou a Associação dos Advogados –, se lembre de organizar uma homenagem condigna em memória do Dr. Manuel Leal-Henriques. 

O legado do juiz conselheiro jubilado Manuel Leal-Henriques, e não falo de Portugal, não é uma nota de rodapé numa sebenta, ou um parágrafo num comunicado discreto. 

E a sua obra é, certamente, bem mais merecedora de destaque, para que seja por todos conhecida e ganhe maior utilidade nos tempos difíceis que atravessamos, do que alguns eventos que por aí ocorrem para louvar bípedes sem vergonha, cujos maus plágios são venerados de cada vez que se colocam em bicos de pés, proferem um dichote para a imprensa ou fazem um jeito aos poderosos.

A Mulher do Ano

Pedro Correia, 01.08.24

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Ainda só estamos em Agosto, mas elejo-a já como Mulher do Ano, por mérito próprio: MARIA CORINA MACHADO. Heroína da Venezuela, luta com a força da razão contra a tirania do misógino Maduro e do seu séquito de homens «de barba rija» (major-general Agostinho Costa dixit) reclamando para o seu povo uma das mais belas palavras em qualquer idioma: Liberdade.

Num país de 28 milhões de pessoas que viu partir mais de 7 milhões na última década para escaparem à catástrofe económica e social a que 25 anos de regime "socialista" o condenaram. Já perdeu cerca de um quinto da população, registando hoje a segunda maior crise migratória a nível mundial, só superado pela Síria. Cerca de dois mil venezuelanos cruzam diariamente a fronteira, segundo estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Na Venezuela "bolivariana", onde 19 milhões de pessoas sofrem graves carências alimentares e sanitárias. Onde continuam a registar-se execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, casos documentados de tortura (nas celas da sinistra SEBIN, a PIDE do chavismo-madurismo) e agressões sexuais contra militantes da oposição, como denuncia o Observatório dos Direitos Humanos.

Maria Corina vai vencer, não tenho dúvidas. A Venezuela que Chávez e Maduro transformaram num narco-estado será livre. Da miséria, da corrupção, da prepotência, da opressão.

Agosto é o mês de Gaius Octavius, ou de Augustus Caesar

Maria Dulce Fernandes, 01.08.24

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Agosto é o oitavo mês do calendário gregoriano. Foi nomeado em homenagem ao imperador romano Augusto César, em 8 d.C. O seu nome original era Sextilus, que significa “sexto mês” em latim, indicando a sua posição no antigo calendário romano.

Recapitulando um pouco: quando Júlio César chegou ao poder em 46 a.C., o calendário era confuso e precisava de grandes ajustes. Depois de consultar um astrónomo grego de nome Sosígenes, César ordenou as seguintes alterações ao calendário romano:

O calendário lunar seria substituído por um calendário solar. O ano teria 365¼ dias em vez de 365. O ano começaria em Janeiro e teria doze meses de duração fixa. Um dia extra seria adicionado a cada quatro anos no mês de Fevereiro. Os meses de Janeiro, Março, Maio, (os agora) Julho e Agosto, Outubro e Dezembro teriam 31 dias. Todos os outros meses teriam 30, excepto Fevereiro, com 28 ou 29. Para restaurar as estações nos seus devidos lugares, César acrescentou 80 dias ao ano em vigor no tempo dessas modificações. Assim, 46 a.C. teve 445 dias. Ficou conhecido como Annus Confusionus – O Ano da Confusão!

Voltando a este mês:

Augusto nasceu Gaius Octavius em 63 a.C.. Os historiadores referem-se-lhe como Octavianus. Foi adoptado por Júlio César. Em 27 a.C. Octavianus tornou-se Imperador (ou César, nome pelo qual passaram a ser conhecidos os imperadores romanos) de Roma. Mas só concordou que lhe chamassem Augusto, que significa “honrado” ou “reverenciado”.

Foi assim que este mês recebeu o nome. Em homenagem a Augusto.

É geralmente o mês mais quente do ano na maior parte dos países do hemisfério norte. É o mês de férias por excelência. As noites convidam à carícia das leves brisas e não só.

 

P.S.: Acredito que todos os nativos de Agosto sejam pessoas de bem, honradas e boas, e sem necessidade de reverências.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 01.08.24

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José António Abreu: «Mesmo sem este imbróglio jurídico, a situação da economia argentina não seria brilhante. Recuperada a autonomia do peso, mantiveram-se as políticas de sempre, baseadas na injecção de dinheiro - que rapidamente perde valor, fazendo disparar a taxa de inflação (ou as taxas de inflação, uma vez que a oficial costuma ser pouco credível). Ainda assim, trata-se da receita que muita gente parece desejar aplicar em Portugal.»

 

Luís Naves: «Carlos Moedas tem tudo para ser um bom comissário europeu. Infelizmente, tirando alguns exemplos de lucidez, o debate político gerado pelo anúncio deste nome insiste na pobreza habitual, que em vários casos revela desconhecimento do próprio funcionamento interno da União Europeia. Há pessoas que imaginam uma Europa que não existe e, por isso, continuam a não perceber a realidade. Como diria Robert Heinlein, “a vida é o que é e não perdoa a ignorância”.»

 

Eu: «Não gosto de engolir tudo quanto me servem. Daí o meu protesto, agora reiterado. Que Obiang seja um tirano, condenado por todas as organizações de direitos humanos, parece para alguns ser uma atenuante: daí entoarem-lhe hossanas em blogues e redes sociais. Parece até que desejariam ter um "líder" destes no Terreiro do Paço. Lamento, mas sou muito antiquado: para mim ser ditador não é atenuante. É agravante.»

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