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Delito de Opinião

Reflexão do dia

Pedro Correia, 30.06.24

«Infelizmente, nos últimos anos, em vez de ser a sociedade a passar para o futebol os seus valores, tem sido o futebol a contaminar a sociedade com os seus piores defeitos. Nomeadamente o tribalismo, o ódio ao rival, o hipernacionalismo primário, a intolerância, o clubismo primata, a cegueira fanática que nos leva a achar que temos sempre razão.»

 

Rui Zink, no Correio da Manhã

As tasquinhas de Porto de Mós

Paulo Sousa, 30.06.24

Decorrem durante esta semana as festas de São Pedro em Porto de Mós.

Sou do tempo em que estas eram apenas mais umas festas da paróquia, por acaso da sede do concelho. Há mais de duas décadas, as associações do concelho foram convidadas a envolver-se. Depois disso passaram a deslocar-se à vila, onde cada uma explora uma tasca com diversos pratos e petiscos com que se identifica e que assim divulga. Ao longo dos anos, os diferentes executivos foram mantendo o modelo que entrega a sua organização ao Fundo Social dos Funcionários do Município, com o apoio da Câmara. Os anos foram passando e as Tasquinhas de Porto de Mós, as suas marchas na Avenida de Santo António, as vacadas, concertos, folclore, carroceis e toda a parafernália habitual deste dito de festejos, ganharam um impacto regional e as fazem ser o maior acontecimento do concelho.

O normal nestas festas é que me sinta dividido entre o prato de bacalhau da tasca dos Bombeiros do Juncal e o seu concorrente directo da União Recreativa e Desportiva Juncalense, mas com o passar dos anos descobri também a morcela do Alqueidão da Serra, os Tortulhos da Mira de Aire, o Bacalhau Enxixarado das Pedreiras, os caracóis à Brás do Tojal, assim muitos outros pratos, ora serranos, ora da beira do IC2, impossíveis de conhecer numa única edição de 10 dias. Se os donos da constelação da Michelin por aqui passassem, ficariam igualmente fãs.

Motivou este meu postal a minha ida no dia de ontem às tasquinhas, feriado municipal, para abertura das hostilidades. O certame já foi inaugurado na sexta-feira, mas a chuva tentou mostrar alguma independência perante o santo guardião das chaves do céu e dos fenómenos climatéricos e não ajudou. Como o tempo bom estará de regresso durante a semana, quem puder por aqui passar não irá dar por perdida a deslocação.

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foto "O Portomosense"

A poucos metros de mim, na tasca dos Bombeiros do Juncal, jantava também o deputado da IL Mário Amorim Lopes, figura com quem simpatizo. Questionei-me se teria o direito de o interromper no seu repasto para o cumprimentar e felicitar pelo envolvimento na coisa pública. Ele não me conhece de lado nenhum e, por isso, para ele não seria mais que um intruso a querer meter conversa. Estar numa conversa entre família ou amigos, e ser interrompido por um desconhecido que a ele se dirige como se o conhecesse, deve ser estranho. Mário Amorim Lopes não é uma figura pública de primeira grandeza, mas é uma figura pública. Ao ter aceitado ser deputado da nação saberá que isso acarreta uma certa perda do precioso anonimato, de que eu não prescindo. Achei que estávamos por isso numa relação desequilibrada. Nas festas da terra dele eu poderei fazer o que entender, beber até cair ou dar um pontapé num gato, que não serei mais do que um tipo com os copos ou com mau feitio. O mesmo não se passa com ele, ou com outro que partilhe da sua condição de figura pública. E não é que beber até cair ou agredir um gato seja algo entusiasmante, mas recorro a estes exemplos apenas para explanar a ideia.

Como acabamos de comer quase ao mesmo tempo, foi já fora da tasca que então o abordei num rápido cumprimento em que o parabenizei e lhe agradeci pela generosidade de ter abdicado do seu anonimato pelo benefício comum. Reagiu com cordialidade e simpatia, mas com a compreensível surpresa (quase desconforto) de “quem é que é este tipo, que não conheço de lado nenhum”, confirmando assim o que acima explanei. Teriam de me pagar bem pago, para aceitar estar ali na situação dele, ou de qualquer outra figura pública, de maior ou menor grandeza. Até porque as reações a que está sujeito podem ser negativas. Quem deixa uma vida no privado, ou na academia, para se sujeitar a isto, pelo salário de um deputado, é mal pago. Pelo contrário, quem só se safa com o cartão do partido, e que acha que exposição pública é o caminho e o preço para a sobrevivência profissional, em caso idêntico reagiria com uma falsa alegria e verdadeira vaidade. A surpresa da reacção de Mario Amorim Lopes confirmou aquilo que eu já achava dele. É um tipo normal e com bom senso.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 30.06.24

Conversa connosco, o Luís Eme, mas sempre através de imagens e não me refiro só às fotos que ilustram cada post. A conversa dele é assim, muito cinematográfica, pelo tom coloquial que emprega e pelos episódios que vai vivendo e tão bem descreve. Se lhe apetece dois dedos de conversa, passe pelo Largo da Memória e deixe-se levar pelo olhar sempre atento, mas nada aborrecido do Luís. É a minha sugestão para blogue da semana.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 30.06.24

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João André: «Scolari continua o mesmo de sempre. Equipas unidas e com grande espírito, mentalidade de cerco, táctica básica e fé em um ou dois jogadores para resolver, e de resto porrada neles. Neste mundial ele beneficia disso, porque ninguém quer despachar o Brasil demasiado cedo. Mas, muito a contragosto, tenho de apontar que Scolari não tem sorte. Parece, mas não tem. Quem tem sorte tantas vezes e em momentos tão importantes não é sortudo: é alguém que procura esses acasos felizes. Nisso, tem muito mérito

 

Sérgio de Almeida Correia: «A paixão entre um homem e uma mulher foi sempre motivo de inspiração para qualquer artista. Da poesia à música, passando pela literatura e a pintura. O Ferrolho, de Jean Honoré Fragonard (1732-1806), é mais um desses exemplos. Pintado por volta de 1777, depois de uma segunda viagem a Itália e do rompimento do pintor com Madame du Barry, a amante favorita de Luís XV, esta tela retrata uma cena de paixão e reflecte as influências e a admiração que o artista terá tido pelos mestres do Barroco (Rubens) e da Escola Holandesa (Rembrandt), inaugurando um novo estilo. As cores, em tons pastel, típicas do Rococó, apresentam-se neste quadro como uma ponte entre as cores fortes do Barroco e o período neoclássico.»

 

Eu: «Vivemos num tempo fragmentado, que convida à dispersão. E somos vítimas crescentes dessa fragmentação. A nossa capacidade de concentração é cada vez mais escassa. Paramos a série televisiva a meio para ver não importa o quê, tornámo-nos incapazes de assistir a um filme de duas horas sem interrupções, espreitamos a todo o momento o ecrã do telemóvel em busca de novas mensagens mesmo sem esperarmos mensagem alguma, as redes sociais solicitam-nos adesões ou indignações contínuas, os dias vão-se dissolvendo em 24 horas de espuma. Este estúpido frenesim em que mergulhámos graças aos avanços tecnológicos impede-nos quase sempre de pensar. E afinal era nisto que devíamos investir muito mais do nosso tempo: pensar.»

Lápis L-Azuli

The Walk of Shame

Maria Dulce Fernandes, 29.06.24

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Hoje lemos: George R.R. Matin, "Game of Thrones".

Passagem a L-Azular: "Eis uma pecadora diante de vós, Cersei da Casa Lannister, mãe de Sua Graça, Rei Tommen, viúva de Sua Graça, Rei Robert. Cercei cometeu actos de falsidade e fornicação, mas confessou os seus pecados e implorou por perdão. Para demonstrar o seu arrependimento, deixará de lado todo orgulho, todo artifício, e apresentar-se-á  como os deuses a fizeram, perante vós, o bom povo desta cidade. Cercei prosta-se diante de vós com um coração grave, despojado de segredos, nua diante dos olhos dos deuses e dos homens, para fazer a sua caminhada de expiação, a caminhada da vergonha." (vulgo The Walk of Shame).

Sinceramente, quantos políticos, dirigentes desportivos, pseudo-jornalistas, "grandes" homens de negócios, etc., seriam necessários para encher e descer a Avenida da Liberdade num acto de expiação para assim poderem purgar todos os seus pecados?

Ou talvez esteja a formular mal a pergunta: quantas Avenidas da Liberdade seriam necessárias para todos os que não atiram a primeira pedra caminharem a vergonha das suas escolhas, tal como tradicionalmente vieram ao mundo, ou saíram debaixo da pedra que os pariu? 

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 29.06.24

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Sérgio de Almeida Correia: «Da autoria de Fraçois Boucher, pintor que viveu entre 1703 e 1770, "Diana saindo do banho" foi pintado em 1742 e mostra a deusa, depois de uma caçada e de um banho retemperador, a preparar-se para se arranjar enquanto segura um colar de pérolas. A seu lado uma ninfa que a ajuda. O quadro é todo ele um hino à feminilidade e à beleza da mulher, sendo Diana apresentada em toda a sua graça e sensualidade, em comunhão com a natureza. A luz vem toda da esquerda e a profundidade do azul faz realçar ainda mais a frescura e brancura da pele da deusa e o verde da vegetação. Ao seu lado, no chão, os troféus da caçada.»

 

Eu: «O sol já se ergueu acima da linha dos telhados, o calor aumenta, a faca prossegue o seu curso na mão direita do homem, seco e tisnado. Há um frenesim de gaivotas em seu redor: disputam as vísceras dos peixes numa atmosfera de solene algazarra. As mais possantes afastam a concorrência à força de bicadas, o alarido de umas depressa atrai as atenções de outras que logo se aproximam. Mas não parece haver necessidade de lutas: o petisco chega para todas.»

Novilíngua

Pedro Correia, 28.06.24

apropriação cultural   elefante na sala   pacto de agressão   grande capital   banho de multidão   tecido produtivo   processo de empobrecimento   instrumentos de dominação  minoria étnica  acto eleitoral  novo ciclo  valores de abril  fadiga fiscal  segundo resgate  tratado orçamental   política de direita   capitalismo selvagem   dívida soberana   lucros colossais   défice democrático  responsabilidade orçamental  assento parlamentar  programa cautelar  direitos reprodutivos  alargamento a leste   estado social   fundos europeus   ganhos de produtividade   crescimento zero   valor acrescentado   factor produtivo   alternativa de esquerda   bloco central   processo decisório   interesses dos trabalhadores   economia paralela   emergência financeira   estado da arte   procedimento concursal   arco da governação   novos desafios   parceiros sociais   direitos adquiridos  terceira via  faixa etária  almofada orçamental  crescimento sustentável  paraíso fiscal  indispensável clarificação  socialismo científico  causas fracturantes  heteropatriarcado tóxico   tarefa hercúlea   fonte próxima   novo paradigma   reforma estrutural   zona de conforto  democracia iliberal   janela de oportunidade   murro na mesa   a todos e a todas

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 28.06.24

Francisca Prieto: «Hoje foi dia de tertúlia no estrangeiro da Ana Vidal. A meia hora de Lisboa, almoçaram os membros do Delito, quais Lordes Byron, numa faustosa varanda escondida por vasos de hortenses. Ficámos para ali noutro meridiano, em amena cavaqueira, enquanto nos fomos servindo de extraordinárias vitualhas que incluíram um escabeche de pato coroado com raspas de laranja, praliné de citrinos a cavalo numa salada, aspic de tomate à chef Navarro e, meu Deus, uma selecção de sobremesas de fazer saltar as papilas gustativas.»

 

José Navarro de Andrade: «É verdade que a selecção da Grécia joga um futebol brusco e picotado e tem um treinador que lhes grita – vimos todos – “calma, car@#§&!”, comprovando a perfeita capacidade comunicacional do calão português. Mas os gregos são a mais nostálgica colecção de cromos deste Mundial; cada um deles ostenta o fácies proletário dos jogadores dos anos 50 e 60, como se tivessem sido recrutados nas docas do Pireu. Katsouranis está ao nível de selvajaria a que sempre nos habituou e Karagounis segue demonstrando a sua incompatibilidade com as lâminas de barbear e com as decisões dos árbitros. Eles são a perfeita reminiscência física do futebol de outrora, antes desta gentrificação feita de penteados espampanantes e palmadinhas nas costas.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Os factos estão aí. Quem quiser que julgue a atitude do reitor Peter Stilwell. Por mim estou esclarecido. Seguramente que o seu amigo Ruy Cinatti estará atento, lá em cima e sabendo o que passou em vida, com o que por cá se passa. Espero que amanhã, quando envergar as vestes para celebrar a missa de Domingo, na Sé, tenha cara para enfrentar o Senhor. E que Ele na sua infinita bondade lhe perdoe o que fez a um homem bom e a uma família. Porque quanto à comunidade de Macau, duvido que enquanto se lembrar do que sucedeu o faça.»

 

Eu: «Os especialistas alertam: em 2050, caso se mantenham os hábitos actuais, metade da população dos países desenvolvidos será obesa. Isto numa altura em que o planeta terá cerca de 40% por cento mais habitantes do que tem hoje, podendo totalizar 9,1 mil milhões. Haverá portanto cada vez mais gente a comer em excesso, por um lado, e cada vez mais gente a comer de menos, por outro. As assimetrias vão ampliar-se em progressão geométrica. Com os consequentes riscos para a saúde. E até para a estabilidade social. Porque o progresso, com ou sem aspas, é sempre uma arma de dois gumes.»

Manel Fernandes

jpt, 27.06.24

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Morreu o Manel Fernandes, o nosso eterno capitão. (Aqui no seu cromo da Futebol 77, já depois de ter vindo da CUF). O Manel era a "bola", o verdadeiro futebol. E o Sporting.

Aplausos. Em ovação.

 

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A colecção "Futebol 77" (os cromos da época 1976/1977) nas páginas centrais da caderneta tinha esta hipótese, o coleccionador arvorar-se em selecionador por um jogo. A minha equipa para o jogo contra a Polónia (a então poderosa de Lato), em 16.10.1976, era esta, claro que com o Manel Fernandes a titular:

Damas, Artur, Laranjeira, José Mendes, Pietra; Octávio, Alves, Fraguito; Manel Fernandes, Nené, Chalana.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 27.06.24

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Eu: «Há cinco décadas, numa tertúlia parisiense, dois escritores que viriam a ser galardoados com o Prémio Nobel dialogavam animadamente. Um deles era Albert Camus, o outro Czeslaw Milosz. Falavam de livros e dos seus confrades das letras. Assunto dominante, nesse ano de 1954, eram os ataques que Simone de Beauvoir dirigira a Camus na sua obra Os Mandarins, então acabada de lançar nos escaparates. Milosz perguntou ao autor de A Peste por que motivo não replicava aos ataques. Camus respondeu: "Não vale a pena discutir com o esgoto." Esta é uma regra que devemos seguir na vida: não discutir com o esgoto. Agora e sempre.»

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