Decorrem durante esta semana as festas de São Pedro em Porto de Mós.
Sou do tempo em que estas eram apenas mais umas festas da paróquia, por acaso da sede do concelho. Há mais de duas décadas, as associações do concelho foram convidadas a envolver-se. Depois disso passaram a deslocar-se à vila, onde cada uma explora uma tasca com diversos pratos e petiscos com que se identifica e que assim divulga. Ao longo dos anos, os diferentes executivos foram mantendo o modelo que entrega a sua organização ao Fundo Social dos Funcionários do Município, com o apoio da Câmara. Os anos foram passando e as Tasquinhas de Porto de Mós, as suas marchas na Avenida de Santo António, as vacadas, concertos, folclore, carroceis e toda a parafernália habitual deste dito de festejos, ganharam um impacto regional e as fazem ser o maior acontecimento do concelho.
O normal nestas festas é que me sinta dividido entre o prato de bacalhau da tasca dos Bombeiros do Juncal e o seu concorrente directo da União Recreativa e Desportiva Juncalense, mas com o passar dos anos descobri também a morcela do Alqueidão da Serra, os Tortulhos da Mira de Aire, o Bacalhau Enxixarado das Pedreiras, os caracóis à Brás do Tojal, assim muitos outros pratos, ora serranos, ora da beira do IC2, impossíveis de conhecer numa única edição de 10 dias. Se os donos da constelação da Michelin por aqui passassem, ficariam igualmente fãs.
Motivou este meu postal a minha ida no dia de ontem às tasquinhas, feriado municipal, para abertura das hostilidades. O certame já foi inaugurado na sexta-feira, mas a chuva tentou mostrar alguma independência perante o santo guardião das chaves do céu e dos fenómenos climatéricos e não ajudou. Como o tempo bom estará de regresso durante a semana, quem puder por aqui passar não irá dar por perdida a deslocação.
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foto "O Portomosense"
A poucos metros de mim, na tasca dos Bombeiros do Juncal, jantava também o deputado da IL Mário Amorim Lopes, figura com quem simpatizo. Questionei-me se teria o direito de o interromper no seu repasto para o cumprimentar e felicitar pelo envolvimento na coisa pública. Ele não me conhece de lado nenhum e, por isso, para ele não seria mais que um intruso a querer meter conversa. Estar numa conversa entre família ou amigos, e ser interrompido por um desconhecido que a ele se dirige como se o conhecesse, deve ser estranho. Mário Amorim Lopes não é uma figura pública de primeira grandeza, mas é uma figura pública. Ao ter aceitado ser deputado da nação saberá que isso acarreta uma certa perda do precioso anonimato, de que eu não prescindo. Achei que estávamos por isso numa relação desequilibrada. Nas festas da terra dele eu poderei fazer o que entender, beber até cair ou dar um pontapé num gato, que não serei mais do que um tipo com os copos ou com mau feitio. O mesmo não se passa com ele, ou com outro que partilhe da sua condição de figura pública. E não é que beber até cair ou agredir um gato seja algo entusiasmante, mas recorro a estes exemplos apenas para explanar a ideia.
Como acabamos de comer quase ao mesmo tempo, foi já fora da tasca que então o abordei num rápido cumprimento em que o parabenizei e lhe agradeci pela generosidade de ter abdicado do seu anonimato pelo benefício comum. Reagiu com cordialidade e simpatia, mas com a compreensível surpresa (quase desconforto) de “quem é que é este tipo, que não conheço de lado nenhum”, confirmando assim o que acima explanei. Teriam de me pagar bem pago, para aceitar estar ali na situação dele, ou de qualquer outra figura pública, de maior ou menor grandeza. Até porque as reações a que está sujeito podem ser negativas. Quem deixa uma vida no privado, ou na academia, para se sujeitar a isto, pelo salário de um deputado, é mal pago. Pelo contrário, quem só se safa com o cartão do partido, e que acha que exposição pública é o caminho e o preço para a sobrevivência profissional, em caso idêntico reagiria com uma falsa alegria e verdadeira vaidade. A surpresa da reacção de Mario Amorim Lopes confirmou aquilo que eu já achava dele. É um tipo normal e com bom senso.