Leituras
«O medo, também na arte, é um péssimo conselheiro.»
Giorgio Bassani, O Jardim dos Finzi-Contini (1962), p. 175
Ed. Quetzal, 2010. Tradução de Egito Gonçalves. Colecção Serpente Emplumada
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«O medo, também na arte, é um péssimo conselheiro.»
Giorgio Bassani, O Jardim dos Finzi-Contini (1962), p. 175
Ed. Quetzal, 2010. Tradução de Egito Gonçalves. Colecção Serpente Emplumada
Biblioteca Nacional da Letónia, Riga
Não tenhamos ilusões: a campanha para a segunda volta das eleições legislativas de 2024 começa agora.
Este pensamento acompanhou o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana
Helena Sacadura Cabral: «Neste dia de inverno rigoroso no começo da primavera, aqui ficam Ana Carolina e Paulo Gonzo num disco belíssimo, a provar que também temos óptimos cantores!»
José Navarro de Andrade: «A revolução coperniciana ainda só tem quatrocentos e picos anos, um tempo manifestamente insuficiente para a termos interiorizado no nosso dia-a-dia. Depois dela, compreender a natureza passou a ser uma pura construção mental, feita de modelos matemáticos e observações que os vão reiterando. Ou seja, o senso-comum, esse bem tão precioso em certas instâncias da actividade humana, pode bem ser um obstáculo quando se quer demonstrar que ainda ninguém viu claramente visto a Terra girar à volta do Sol, e que não há nenhuma prova empírica para essa bizarra ideia, todos os dias desmentida pela nossa observação. Sucede simplesmente que o modelo continua a funcionar e por isso continuar-se-á a tomá-lo como correcto.»
Luís Menezes Leitão: «Passos Coelho, pelos vistos, não se importa minimamente com a História, uma vez que perguntado se esperava a absolvição desta, respondeu com um singelo "não sei". Conclui-se assim que Fidel Castro pode ter atirado Cuba para o desastre, mas ao menos tinha convicções. Passos Coelho nem isso tem. A sua política resume-se assim a aplicar o Diktat germânico, qualquer que ele seja. Faz lembrar Groucho Marx: "Those are my principles, and if you don't like them... well, I have others."»
Jesus, Cat Stevens
(Álbum: Buddha and the Chocolate Box, 1974)
Um blogue feito por quem lê é sempre bem mais interessante do que aqueles de quem não lê. Ou que se lê não se deixa dar conta de que leu. Porque quem lê sempre vai aprendendo alguma coisa, mesmo com os maus livros e os maus autores, já que a estes não voltará mais.
E se quem faz esse blogue se tratar de alguém que faz viagens na sua terra e nos vai dando a conhecer os seus passos, em especial aqueles de quem não os deu nos locais por onde aquele passa, ainda melhor.
E se a tudo isso se juntar a juventude e uns simpáticos interlúdios musicais, então estarão encontrados os ingredientes para que eu possa aqui recomendar-vos uma visita.
É o que agora faço, deixando-vos o endereço do breve intervalo para quem também queira e possa fazer uma serena e repousada pausa enquanto não começar o festival de gritaria que se antecipa nas comissões parlamentares da próxima, e também ela breve, legislatura que se avizinha.
«O riso reflecte a disposição e o carácter, como o riso infantil, enfatuado, irónico, corajoso, libertador, desesperado, malicioso, coquete.»
Heinrich Böll, Retrato de Grupo com Senhora (1971), p. 97
Ed. Cavalo de Ferro, 2023. Tradução de Maria Adélia Silva Melo
António Pedro Pereira: «Em 2001 Adolfo Suárez perdeu a mulher, em 2004 perdeu uma filha. Para as tratar na doença hipotecou uma casa que tinha em Ávila, sua cidade natal. Recusou qualquer benesse e não quis receber qualquer reforma pelos anos em que exerceu o poder político. Vivia da advocacia. Quantos se podem orgulhar disto? Há uma grande diferença entre os homens de corpo inteiro e a praga de pigmeus que invadiu a política. Infelizmente, e para nosso mal, são estes últimos que dominam as instâncias do poder praticamente por todo o mundo (com as honrosas excepções que conhecemos).»
José Gomes André: «N'O Diplomata, Alexandre Guerra continua a fazer um trabalho notável de análise das grandes questões na área das Relações Internacionais. Deixo como exemplo um notável texto sobre a Rússia, a partir de uma comparação entre Ivan "O Grande" e Vladimir Putin. É o blogue da semana.»
Luís Menezes Leitão: «Se há algo que eu detesto é esta disparatada mudança de hora, que não tem qualquer utilidade e é altamente prejudicial à saúde das pessoas, como esta notícia demonstra. Felizes os países que não alinham neste disparate de inventar uma hora de Verão no início da Primavera para depois voltar à hora de Inverno em pleno Outono. Até quando continuaremos a insistir numa coisa tão absurda?»
Patrícia Reis: «A crise financeira implica connosco, com o tudo que existe nas suas vidas. A crise emocional é provocada por nós e por esta permanente vertigem em que vivemos: ligados ao telemóvel, ao site, ao blogue, ao facebook, ao twitter. Um casal jantava, há uns dias, sozinho, num restaurante dito "da moda". Ambos de telemóvel na mão. Pensei: bom, devem estar à espera da comida. O repasto chegou. A animação com os telemóveis continuou. Lembrei-me então do livro de Luísa Costa Gomes, Ilusão ou o que lhe queiram chamar (D. Quixote). O protagonista tem duas famílias, sendo que uma é avatar, ou seja, vive num jogo chamado Second Life. Triste? Não sei se a maioria das pessoas o sente com tristeza, tenho a certeza de que é um belo livro, isso tenho.»
Eu: «Cinco anos cumpridos em Janeiro, cinco milhões de visitas assinalados agora: eis o DELITO DE OPINIÃO em números. Mas para nós, como dizia o outro, o mais importante são as pessoas. Obrigado a quem nos lê.»
The Lord's Prayer, Sister Janet Mead
(Álbum: With You I Am, 1974)
O Cristo Amarelo, de Paul Gauguin (1889)
«Jesus chorou.»
João, 11-35 (o versículo mais curto da Bíblia)
A mensagem arrebatadora do Evangelho - e aquela que resume toda a essência do cristianismo - é a de um Deus que assume a plenitude da condição humana. Com os seus luminosos momentos de alegria, os seus lampejos de júbilo, as suas inevitáveis dores, a sua irrenunciável agonia. Como se a missão do criador ficasse incompleta sem esta experiência radical de abraçar por inteiro o ser débil, indeciso e angustiado que o barro divino moldou.
Até ao fim dos séculos, Jesus será inseparável da circunstância deste percurso terreno em que voluntariamente se irmana ao mais comum dos homens. Nasce pobre, numa gruta. Enaltece os humildes. Elege simples trabalhadores como discípulos. Rejeita sem vacilar o ilusório fulgor dos bens materiais. Perdoa os pecadores: «Eu não vim para condenar o mundo, mas para o salvar.» (João, 12-47). Enfrenta os fariseus com palavras tão actuais na manhã de hoje como há dois mil anos: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade.» (Lucas, 11-39). E não hesita em dar a mais humana das interpretações à pétrea Lei de Moisés: «O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado.» (Marcos, 2-27).
Condenado sem apelo nem recurso, renegado pelos seus, vilipendiado pela multidão que aclama Barrabás, confrontado perante a prepotência de Caifás e a cobardia moral de Pilatos, crucificado entre dois salteadores como um delinquente pelo crime de blasfémia. Deus feito homem num mundo de homens que sonham ser deuses.
Pouco antes confessara aos discípulos em Getsemani que sentia «uma tristeza de morte». E ali mesmo implora numa prece que poderia brotar da voz interior de qualquer de nós: «Pai, tudo Te é possível, afasta de Mim este cálice!» (Marcos, 14-36).
Um cálice que, no entanto, beberá até ao fim. Imerso na condição humana da gruta à cruz.
Texto reeditado
Touradas parlamentares nada têm de inédito, a não ser que nunca se tivessem visto no Parlamento Britânico ou na Câmara de Representantes americana, duas instituições indiscutivelmente democráticas. Cá por casa era melhor evitá-las, que a população já tem, sobre políticos, opinião suficientemente negativa.
Que se passou? Nesta altura já é possível concluir que: i) Terá havido um entendimento entre o ainda líder da bancada do PSD e o líder da do Chega, segundo o qual um apoiava Pacheco de Amorim para vice-presidente da Assembleia da República e o outro Aguiar-Branco para presidente; ii) Semelhante entendimento terá sido percebido pelo Chega como um acordo exclusivo, quando outros partidos terão sido abordados; iii) André Ventura trombeteou o resultado (a distinção entre “entendimento” e “acordo” é inteiramente irrelevante); iv) Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, Nuno Melo, vice-líder da AD, e outros da área da AD, vieram desmentir a existência do tal entendimento; v) Nem Montenegro nem Miranda informaram Melo e Rangel dos contornos da situação, ou informaram e estes concluíram que o que houve foram apenas conversas sem carácter de exclusividade; vi) É possível que tudo isto não passe de erros de percepção mútua, como disse Mário Centeno em 2017 a propósito de uma trapalhada olvidável com a Caixa Geral de Depósitos; vii) Tratar Ventura assim talvez resultasse com outros, imaginar que engoliria o destrate é tolice ou cegueira; viii) A solução a que se chegou, mesmo que nas circunstâncias de impasse tivesse sido a melhor, reforça o capital de queixa do Chega, que este vai explorar até ao enjoo.
Nada disto, que tem um carácter incidental e será esquecido, altera o pano de fundo. Qual é ele?
É melhor não ouvir muito alguns eleitos do Chega, que eles foram recrutados fora do aquário político e ainda não tiveram tempo para uma esfregadela com polirina retórica, entregando-se às vezes a uma toada colérica (ver aqui, p. ex., ao minuto 14,40). Os da frente da bancada, digo, que os de trás são como os outros dos grandes partidos: estão ali umas cabeças mas para entre a família, que o eleitorado nem os conhece, e num ou noutro caso graças a Deus.
Nas ideias é igual: Castração química? Prisão perpétua? Reforço dos poderes das polícias? Reforma da Justiça com diminuição das garantias (com confisco, p. ex., dos bens dos acusados de corrupção, isto é, com penas antes das sentenças)? Baixa de impostos conjugada com aumento permanente das despesas do Estado com salários de grupos vociferantes, num pano de fundo de aumento de receitas fiscais delirante? Etc.?
Isto, uma visão estreita estrategicamente errada dos interesses de sobrevivência dos partidos de direita e um condicionamento geral da opinião publicada pela suposta infrequentabilidade do Chega levaram ao “não é não”.
Sobre o “não” disse antes das eleições o que (me) convinha. Ao que acrescento agora que quem julga que a ascensão entre nós, ecoando o que já antes vinha sucedendo lá fora, de um partido inequivocamente de direita é um fenómeno passageiro do tipo do partido eanista de há umas décadas, está enfiando um dedo num olho até ao cotovelo.
Uma parte do eleitorado cansou-se dos serviços públicos que o são cada vez menos; do mundo oficial que soterra em cansado e impotente paleio a percepção de que os filhos vão viver, se ficarem cá, pior do que os pais; da Justiça de faz-de-conta; dos imigrantes que surdem de debaixo das pedras como se fosse uma fatalidade sem remédio os filhos que as portuguesas não têm, e os das que os têm mas fogem daqui, serem substituídos por filhos de estrangeiras que, em muitos casos, dificilmente deixarão de constituir guetos inassimiláveis; e da difusa percepção geral de que, numa Europa que perde lugares no mundo, Portugal perde-os na Europa.
Tudo isto e mais é o resultado de décadas de governos de esquerda. E até mesmo a saudade do tempo cavaquista do crescimento convergente assenta no equívoco de que o que então foi feito, isto é, a simples liquidação de uma parte do PREC económico, que Cavaco operou com mérito, pode hoje ser reproduzido.
O cavaquismo, a saber, um módico de liberalização da economia combinado com afluxo de fundos e a integração europeia, funcionou porque era um choque positivo com a realidade de então, que agora inexiste. E essa mesma integração vem criando mal-estar por toda a parte, ainda que aqui menos por não sermos o pobre da má-resposta, porque as populações vêm-se lembrando que as identidades nacionais não são bem uma antiqualha que a classe política europeia pode pontapear por ser depositária de uma procuração que ninguém lhe passou.
A direita veio para ficar, o resultado das eleições diz, para quem o souber ler, isso. Que venha com exageros está na ordem natural das coisas. Limar esses exageros, e integrar o Chega num novo xadrez em que o país da opinião, dos costumes, dos poderes, da legislação, das instituições, da alternância, deixe de ser uma coutada de mundividências de esquerda (isto é, estatismo, engenharia social completa com doutrinação de crianças, impostagem sufocante da iniciativa privada, criação de grupos sociais permanentes dependentes das migalhas orçamentais, genuflexão perante delírios woke e igualitaristas importados de universidades americanas, e um longo etc.), deveria ser o norte das novas atitudes políticas.
Vai ser assim?
Ninguém sabe, e eu menos ainda, se o Governo AD é para durar dois meses ou dois anos; e também não se adivinha a jigajoga parlamentar, se para fazer passar leis se encosta preferencialmente à direita ou à esquerda, ou se tem dias. Não se adivinha mas vai-se desenhando a tese de que as famosas reformas, que Luís Aguiar-Conraria acha que não se devem fazer porque, com Ventura e o Chega, seriam naturalmente um desastre, são desejáveis desde que, como diz António Barreto, com “coligação das forças políticas centrais e moderadas”.
Tradução, necessária para a correcta interpretação dos dialectos destes dois magistrados da opinião: Fazer melhor do que os socialistas é viável apenas no caso de os socialistas serem outros, coisa que não é possível porque perderam as eleições, e ademais é só nuvens negras no horizonte, diz um; e lá que perderam perderam, diz o outro, mas o melhor então é fazer uma aliança com eles para reformarem agora o que não reformaram nos últimos oito anos, no governo minoritário porque tinham as mãos atadas e no maioritário por falta de vagar, supõe-se. “Coligação das forças políticas centrais e moderadas? Está nas cartas. Mas há quem não queira ver”, diz Barreto, com duas fundas rugas de preocupação cavadas na fronte inspirada.
Ambos respeito, e de um sou amigo, mas convém ter claro que não há reformas que valha a pena fazer para as quais o PS seja útil (salvo a revisão da Constituição, que não é urgente e, talvez, a da Justiça), pela muito boa razão de que reformar é demolir o Estado socialista na sua floresta de “serviços” públicos, na sua diarreia legislativa e regulamentar, na sua vénia ao modernismo acéfalo de inspiração progressista, no seu patrocínio de uma Autoridade Tributária omnipotente e mafiosa, no seu permanente vezo de identificação entre propriedade pública e serviço público, na sua pretensão de escolher as empresas com futuro e em muito mais – no seu intervencionismo, em suma.
Não se sabe se o Chega está à altura desse papel reformista, apenas que o PS não está. E sabe-se também que a direita, isto é, a vontade de mudança, ganhou esmagadoramente as eleições. Não fazer nada para além do simples pagamento de promessas (em si mesmas muito perigosas e que deverão ser caldeadas por medidas de racionalização e poupança – mas disso não se trata aqui) será uma denegação da esperança.
Só isto? Não, há mais e de índole prática: Governar é escolher e escolher é desagradar a alguns no imediato. Ou, se não for assim, desagradar à maioria a prazo. A segregação irracional do Chega deixa-o livre para acentuar a sua pulsão de cavalgar todo o descontentamento, resolver todo o imbróglio, ultrapassar toda a dificuldade a golpes de simplismo – e crescer. Crescer: precisamente o principal motivo pelo qual os partidos tradicionais de direita, incluindo o meu, o olham de viés. Dos outros nem falo, que ou são associações folclóricas, como o Livre e o PAN, ou comunistas na versão fóssil, como o PCP, ou na milenarista como o Bloco.
Vamos ver, como dizia o ceguinho. Para já, porém, parece haver um número excessivo de estrábicos.
Hoje lemos: Padre António Vieira, " Sermão da Sexagésimo e Sermões da Quaresma".
Passagem a L-Azular: "Paremos a esta porta ainda das telhas abaixo. Andam os homens cruzando as cortes, revolvendo os reinos, dando voltas ao mundo, cada um em demanda das suas pretensões, cada um para se introduzir ao fim dos seus desejos, todos aos encontrões uns sobre os outros, os olhos abertos, a porta à vista, e ninguém atina com a porta. Andais buscando a honra com olhos de lince, e sendo que para a verdadeira honra não há mais que uma porta, que é a virtude, ninguém atina com a porta. Andais-vos desvelando pela riqueza, com mais olhos que um Argos, e sendo que a porta certa da riqueza não é acrescentar fazenda, senão diminuir cobiça, ninguém atina com a porta. Andais-vos matando por achar a boa vida, e sendo que a porta direita por onde se entra à boa vida, é fazer boa vida, ninguém atina com a porta. Andais-vos cansando por achar o descanso, e sendo que não há nem pode haver outra porta para o verdadeiro e seguro descanso, senão acomodar com o estado presente, e conformar com o que Deus é servido, não há quem atine com a porta. Há tal desatino! Há tal cegueira! Mas ninguém vê o mesmo que está vendo, porque todos, desde o maior ao menor, somos como aqueles cegos: Percusserunt eos caecitate, a maximo usque ad minorem".
Desejo a todos uma Páscoa Feliz. Que possa ser a alvorada de um tempo mais consciente, um tempo de paz e de alegria, pela esperança renovada.
Luís Menezes Leitão: «Eanes teve 61% dos votos em 1976 e Soares 70% dos votos em 1991. Apoiado pelos dois maiores partidos, e até eventualmente pelo CDS, Durão Barroso teria seguramente muito menos votos, mas os suficientes para ser eleito. Aliás, já começou na entrevista a inverter o discurso, proclamando a sua paixão pelo país, a sua simpatia pelas classes sacrificadas e a declarar ter avisado Passos de que havia limites para esta política, tudo a contrastar com as suas anteriores declarações de que estaria o caldo entornado se o país não aplicasse as medidas de austeridade que lhe foram exigidas.»
Sundown, Gordon Lightfoot
(Álbum: Sundown, 1974)
Dois títulos da primeira página do caderno de economia do Expresso, de 15 de Março.
Este jornal ignora verbos comuns como iniciar e começar.
Só sabe "arrancar". Nada mais.
O mesmo parece acontecer com a SIC, outro órgão do grupo Impresa. Eis duas notícias difundidas neste canal na passada segunda-feira. Os editores parecem desconhecer outros vocábulos: "arrancar" serve para tudo.
Sonharão por lá com amputações, mutilações, decapitações? Ignoro.
Sei, isso sim, que a compressão lexical galopa, cada vez mais veloz.
Ou arranca, para mantermos o registo monovocabular destes conspícuos títulos jornalísticos.
Eu: «Surpreende-me ainda hoje que em Março de 2013, quando a Assembleia da República aprovou um voto de saudação pela eleição do primeiro Papa não-europeu em 1200 anos, três forças políticas tenham recusado associar-se a esta congratulação: BE, PCP e Verdes. Uma recusa partilhada por seis deputados do PS, o que ainda mais me surpreende. Foram 30 parlamentares no total -- alguns deles revelando mais intolerância pelo representante máximo da religião com maior número de fiéis do globo do que pelo ditador da Coreia do Norte. Tanto mais surpreendente quanto o inócuo texto que recusaram aprovar se limitava a isto: "A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, saúda o Estado do Vaticano, a Igreja Católica e todos os que professam a sua fé, pela eleição do novo sumo pontífice."»
Return of the Grievous Angel, Gram Parsons
(Álbum: Grievous Angel, 1974)
Hoje lemos: Stephen King , "The Shining".
Passagem a L-Azular: "O amor acabou e o seu homem estava a dormir ao seu lado. O "seu" homem. Ela sorriu levemente na escuridão, sentindo a semente dele, ainda gotejante, lenta e quente entre as suas coxas ligeiramente abertas. O seu sorriso era ao mesmo tempo triste e satisfeito, porque a frase "o seu homem" evocava uma centena de sentimentos. Cada sentimento examinado isoladamente era uma perplexidade. Juntos, nesta escuridão flutuando para dormir, eram como uma melodia distante de blues ouvida num nightclub quase deserto, melancólica, mas agradável.”
Numa relação duradoura, se juntarmos o conjunto de perplexidades que contém cada sentimento isolado, obtemos uma equação difícil de resolver, mas apenas por quem está de fora. Basta apenas saber que existe um lugar para todos os números e que todos os números são iguais entre si, não existindo elementos neutros ou elementos absorventes. Não temos todos de ser π, pois cada um de nós tem a sua razão de existir e saber estar.
É por isso mesmo que existem equações com soluções infinitas. Basta saber escolher aquela que acreditamos poder resolver melhor.
(Imagem Google)
As tradições garantem alguma previsibilidade e asseguram uma linha de continuidade ao longo do tempo. Com o avançar dos anos algumas acabam por desaparecer, deixando atrás de si a percepção de que com elas estávamos bem melhor.
Em 2009 José Sócrates ganhou sem maioria e Jaime Gama foi eleito PAR com 204 votos. Depois disso, em 2015 António Costa, o "génio da política", entre outros passes de mágica introduziu na Assembleia de República um sectarismo só visto nos longínquos tempos do PREC. Meio mundo aplaudiu tamanho truque, pois era a democracia a funcionar, esquecendo que esta depende de rituais e de tradições.
Com o objectivo de erodir a direita e assim assegurar a continuidade do PS no poder, o mesmo "génio da política" não perdeu uma única oportunidade para dar palco ao Chega. Manter o poder era o objectivo, nem que isso colocasse em causa a salubridade do regime e a governabilidade do país.
O que ontem assistimos na Assembleia da República até horas tardias, foi mais uma consequência do "génio" político de António Costa.
Aqui há uns anos já tinha aparecido um sujeito com o meu nome na equipa de futebol do Benfica. Felizmente eclipsou-se sem demora.
Agora dizem-me que um tal Pedro Correia, pastor evangélico, iniciou ontem funções como deputado do Chega por Santarém.
Caramba, só me apetece praguejar como o Capitão Haddock: «Com mil milhões de mil macacos!» Para não dizer coisa pior.