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Delito de Opinião

Há solução?*

José Meireles Graça, 31.05.23

Anda no ar um clima de fim de festa socialista, resultante do desastre da TAP, do destapar do lupanar em que se transformaram as camadas superiores do Estado, da patente mediocridade de alguns ministros e do irremediável cinzentismo de outros, e, finalmente, das suspeitas sobre as vigarices eleitorais nas freguesias lisboetas.

Acreditam alguns que este fim de ciclo não tem nenhuma relação com o fim da Geringonça, e surpreendem-se os analistas com a constatação de que o governo com maioria absoluta parece menos sólido do que quando se apoiava nas duas pernas dementes do tripé. É esquecer que dificilmente os escândalos chegariam à opinião pública no tempo em que havia os filtros do PCP e do Bloco, cuja influência nas redacções, nas magistraturas, nas polícias e nos costumes, excede a medida da eleitoral. Abafar deslizes no caminho glorioso do triunfo das classes laboriosas é um activo leninista do PCP; e o Bloco nunca veria com bons olhos a oferta de trunfos à direita com a denúncia do desbragamento das gestões públicas.

Costa está cansado, diz-se, e teima em manter-se rodeado de nulidades que deveria substituir; e Marcelo corre atrás da margem de popularidade que perdeu, esgotando-se em “recados” irrelevantes que os jornalistas glosam com gosto.

Estão reunidas as condições para calçar uns patins à desgovernança socialista; e Marcelo aguarda apenas que as sondagens mostrem uma clara vitória do PSD para se lembrar que é o garante do regular funcionamento das instituições, mandando pelo ralo esta água turva do situacionismo que, aliás, ele sempre alimentou com devoção.

Cavaco, que administra os seus silêncios como Sampaio, mas difere deste por a sua vulgata não ser a socialista da nossa desgraça, fez um discurso que doeu à esquerda por elencar quase todos os falhanços que no conjunto compõem o completo desvalor do governo que temos, o que, sendo muito, é ainda menos do que o resvalar do país para os últimos lugares do desenvolvimento – detalhe o mais significativo de todos por medir resultados e não tretas sortidas ou estados de alma, e que Cavaco, cruelmente, frisou.

Seja. Resta perceber por que razão, sendo as coisas assim, a Oposição tem dificuldades em descolar. Comecemos por desmontar algumas ideias:

Costa não está cansado. Não tem idade para o estar nem a gestão das lutas internas do PS, o controle das mensagens que a comunicação social passa à opinião pública, o cuidado com a sua freguesia eleitoral e com as instâncias europeias e seus ditames, são mais trabalhosos do que alguma vez foram. Será talvez verdade que tem investido tempo na gestão prospectiva de uma carreira lá fora, onde as suas qualidades de mestre de cerimónias e fazedor de consensos dissolventes poderiam ser postas a render, como sucedeu com os camaradas Guterres e Vitorino, ou o não-camarada Durão. Mas era o que faltava se, numa máquina tão grande e oleada há tanto tempo, as ausências temporárias do capo, por si, provocassem o desmoronar.

O caso TAP veio mostrar que uma das bandeiras eleitorais costianas, a renacionalização, teve um preço mas não foi o atraso difuso do país, que é sempre possível rebater com uma carrada de argumentos, e sim 320 Euros a cada português, em média. Mostrou isso e o prodigioso amadorismo e amiguismo da gestão política de uma empresa pública. Mas, ao mesmo tempo, obscureceu o facto de o sector empresarial do Estado contar com quase 150 empresas e ser necessária uma grande dose de ingenuidade para imaginar que a TAP é a excepção, e não a regra. As empresas públicas são parqueamentos de rapazes do poder e sê-lo-ão sempre: a ideia de que tirando uns e pondo outros altera o carácter da coisa esbarra no facto simples de que aquelas empresas trabalham, ao contrário das privadas que não estão acolhidas à sombra do Estado, num mercado perfeito: aquele em que, quaisquer que sejam os prejuízos, nem os responsáveis são penalizados por isso, nem elas vão à falência.

A freguesia eleitoral do PS mora sobretudo no funcionalismo público, nos pensionistas e reformados, no funcionalismo de empresas públicas e de muitas que têm o Estado como cliente cativo, além de cidadãos puros e generosos que acreditam que o egoísmo, e portanto a desgraça dos pobres, mora no lado direito do espectro, enquanto a generosidade, e portanto o progresso, mora no outro.

Reformar quer com frequência dizer fechar, eliminar, reconverter, avaliar, medir. E do lado de lá de todos estes verbos estão pessoas. As quais desconfiam que num país eficiente cresceria a desigualdade e isso não pode ser. É como me dizia uma simpática empregada, no tempo antigo das inflações gigantescas, aquando de uma das frequentes revisões salariais: o senhor até pode ter razão nisso que diz para aumentar a uns assim e a outros assado; mas eu preferia que o meu aumento fosse mais pequeno se fossem todos por igual (era meia comunista, coitada, agora deve votar no Bloco).

Costa de tácticas entende, e de banha da cobra também. Por isso, fez paulatinamente crescer o número de funcionários públicos, deixando de se falar de contenção e reformas: qualquer problema se resolve com dez anúncios de milhões, cinco portarias, dois decretos-lei e, nos casos mais graves, um observatório. O argumentário para defender estes pesos mortos no desempenho da economia costuma ser o das comparações com “países mais desenvolvidos”, pelo tradicional e curioso raciocínio de se entender que não temos nada a aprender com os que subiram degraus na hierarquia do produto por cabeça, e tudo com os que se mantêm periclitantemente no topo.

Diz-se por aí que Luís Montenegro tem tanto carisma como uma caixa de sabão, e que isso explica a razão pela qual o PSD não sobe significativamente. E quem isso diz acrescenta, revirando os olhos e com duas fundas rugas de desgosto sulcando a fronte desconsolada: ai, que já não há políticos como antigamente! Tretas: há os fenómenos Chega e IL, que só por si explicam boa parte das dificuldades presentes, e das pretéritas do CDS, cujo regresso às lides seria uma coisa boa. E mesmo que se perceba que por razões de lógica partidária talvez faça sentido descartar coligações pré-eleitorais, alijar o PS, de preferência por espaço de pelo menos dez anos, requererá alguma espécie de entendimento entre todas as capelas da direita.

Não que a tarefa seja fácil. O mecanismo pelo qual a dívida pública pôde descer face ao produto (o maná do turismo primeiro, os orçamentos aprovados de uma maneira e executados de outra, a quebra do investimento, os aumentos sorrateiros de impostos, a chuva dos subsídios bruxelenses e mais recentemente a inflação, além de um longo etc.) criou as impropriamente chamadas “folgas” (não há folgas quando a dívida pública não cessa de crescer nominalmente) cujo espatifar não ofende as instâncias europeias. E é com elas que Costa conta para, logo que se vejam no horizonte eleições, dar um bodo a funcionários e reformados, ao mesmo tempo que a máquina de propaganda cuidadosamente oleada atroará os ares com uma longa lista de sucessos.

Acrescento: A tarefa é tão difícil que é tempo de pôr uma surdina na guerrilha partidária – o inimigo é o PS e o resto da esquerda nem sequer justifica que com ela se perca tempo. O futuro não pode ser adivinhado porque só vai suceder de uma maneira e há muitas de o imaginar; e depois haverá factores novos que podem baralhar tudo e que, por definição, se desconhecem. Mas, tudo o mais igual, a vitória de Costa e do PS é a derrota de Portugal: mais cinco anos e aos cinco países dentro da UE que já nos ultrapassaram nos mandatos de Costa (a Roménia apenas igualou, precisa de mais um ano) somar-se-ão os cinco que ainda faltam. Após o que olharemos com desdém para a Albânia, a Bósnia-Herzegovina ou a Sérvia. Se nenhum destes países aderir à União ou, aderindo, tiver a desdita de ser governado por um émulo do nosso sultão local.

* Publicado no Observador

O Conde de Ferreira

jpt, 31.05.23

Há 11 anos José Capela publicou o livro "Conde de Ferreira e Cª: Traficantes de Escravos", colecção de biografias de comerciantes de escravaturas ("negreiros") do século XIX. Quando ele morreu deixei no "Canal de Moçambique" esta muito breve recensão a esse livro (e a outro que ele publicara no ano seguinte, uma verdadeira pérola: "Delfim José de Oliveira..."). Foi uma espécie de homenagem minha, pois Soares Martins (de pseudónimo Capela) fora muito importante na minha vida e tinha (e tenho) para ele uma enorme gratidão. E um grande respeito intelectual, também (mas não só) por ter passado décadas a vasculhar documentos e a publicar, sem pejo nem adornos, sobre como o comércio de escravos foi estruturante no pré-colonialismo português em Moçambique. E como isso moldou as características do subsequente regime colonial - apesar das tralhas lusotropicalistas e lusófonas que vão subsistindo, já para não falar das dulcificadas invocações dos "bons velhos tempos", que tanto misturam as normais (e respeitáveis) memórias individuais de juventude com pronunciamentos de cariz sociológico. Enfim, talvez com um bocadinho de exagero, mas cheguei aos 50 anos com a sensação de que se tive algum "maître à penser" acabou por ser ele... sem que isso possa macular a sua memória devido às atoardas que vou botando. Mas já estou a divagar, avante,
 
Nesse "Conde de Ferreira..." Capela deixou explícito que vários desses comerciantes de escravos regressaram do Brasil mais ou menos após a ilegalização da actividade e se integraram na sociedade do novo regime liberal (e o financiaram), usando as doações beneficientes para ascenderem socialmente. Nisso também patrocinando instituições que ainda existem (misericórdias, hospitais, etc.).
 
Sei agora por intermédio do historiador João Pedro Simões Marques que aconteceu o que eu esperava há já anos - os cirugiões plásticos da História descobriram o Conde de Ferreira (tão presente por esse Portugal afora, ainda que quase ninguém saiba quem foi). E o "Público" (claro) já está em ardores de expurgar as tais instituições dessa memória...
 
Eu continuo na minha, ao que consta na documentação da época (ainda que um pouco posterior) o malvado D. Pedro I não só castrou um aio devido aos seus ilegítimos actos sexuais (um antecessor do prof. Ventura e seus acólitos, está visto) como matou por mãos próprias uns esbirros do seu pai (e terá até comido parte do coração de um deles, a crer ou no cronista ou na colecção de cromos a que tive acesso). E apesar de tudo isso, que tanto agride os actuais valores, continua ali, plantado no centro do nosso Mosteiro de Alcobaça, como símbolo de amor, ainda por cima. Não será, mesmo, de acabar o que os franceses começaram, e rebentar-lhe com a tumba? Ou, pelo menos, retirá-la dos nossos olhos, evitar aquele elogio à memória da ditadura, da pena de morte e da castração por infidelidade amorosa (invertida ou não)?

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 31.05.23

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Livro seis: Professor Unrat, de Heinrich Mann

Edição E-primatur, 2023

241 páginas

 

Desassombrado romance, muito ousado para a época (1905), em torno da degradação moral de um professor, eminente burguês de uma cidade do norte da Alemanha no final do século XIX. Obcecado por uma cantora de cabaré que primeiro idolatra com aparente paixão romântica e depois explora com ganância venal, acabando marginalizado pela sociedade conservadora de que fez parte até aos 57 anos.

Personagens credíveis, diálogos mordazes, sagaz sátira social à hipocrisia reinante no quotidiano do Império Alemão naqueles tempos supostamente festivos que precederam a I Guerra Mundial. O livro gerou celeuma ao ridicularizar um pedagogo que espalhava o terror na sala de aula, brutalizava os alunos e odiava afinal a sua profissão. Tal como não suportava a cidade onde fazia vibrantes apelos à manutenção da ordem vigente, sob uma fachada de respeitabilidade.

«Com ar sombrio, alertava os jovens professores substitutos, mais tímidos ainda do que ele, com quem se atrevia a falar, contra a funesta obsessão do espírito moderno em abalar os fundamentos da sociedade. Queria-os fortes: uma Igreja influente, uma espada firme, estrita obediência e costumes rígidos. E, no entanto, era profundamente descrente, e capaz da maior tolerância no que a si mesmo dizia respeito.» (Tradução de Bruno C. Duarte).

Percebemos afinal que ninguém necessitava tanto de ensino como este professor Immanuel Raat a quem muitos chamavam Unrat - que significa lixo, porcaria, sujidade. Acabou por fazer jus ao apodo após conhecer Rosa Fröhlich, artista de variedades com vasto currículo de actuações em espeluncas nocturnas. «A chamada moralidade está, na grande maioria dos casos, intimamente ligada à estupidez», garante-lhe ele, ao ser apontado a dedo na cidade como insaciável libidinoso. 

Professor Unrat elevou Heinrich Mann (1871-1950) aos píncaros da fama, rivalizando com Thomas, seu irmão mais novo. «Um dos melhores escritores do século», enalteceu-o Mario Vargas Llosa. Também o tornaria amaldiçoado anos depois pelo regime nazi, que proibiu as suas obras e lançou vários dos seus livros literalmente para a fogueira. Incluindo este, apontado como exemplo supremo de "literatura degenerada".

O cinema fez justiça a Professor Unrat, dando-lhe projecção universal. Sob o título O Anjo Azul, primeiro filme sonoro alemão, realizado em 1930 por Josef von Sternberg, com Emil Jannings no papel de Unrat e a sensual Marlene Dietrich como Rosa (Lola-Lola, na película). Ela exibindo as coxas bem torneadas enquanto cantava «Ich bin von Kopf bis Fuß auf Liebe eingestellt» [«Estou pronta para o amor da cabeça aos pés»]. Música de fundo numa relação implausível, condenada a não ter final feliz.

 

Sugestão 6 de 2016:

Axilas e Outras Histórias Indecorosas, de Rubem Fonseca (Sextante)

Sugestão 6 de 2017:

O Tesouro, de Selma Lagerlöf (Cavalo de Ferro)

Sugestão 6 de 2018:

Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão, de Mário de Carvalho (Porto Editora)

Sugestão 6 de 2019:

Como Ser um Conservador, de Roger Scruton (Guerra & Paz)

Sugestão 6 de 2020:

Fósforos e Metal Sobre Imitação de Ser Humanode Filipa Leal (Assírio & Alvim)

Sugestão 6 de 2021:

Uma Longa Viagem com Vasco Pulido Valente, de João Céu e Silva (Contraponto)

Sugestão 6 de 2022:

O Barulho das Coisas ao Cair, de Juan Gabriel Vásquez (Alfaguara)

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 31.05.23

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Hoje lemos: Anthony Horowitz "O Portão do Corvo"

Passagem a L-Azular: "Existem dois mundos. O mundo que  entendes e o mundo que não entendes. Esses mundos existem lado a lado, às vezes com apenas alguns centímetros de distância, e a grande maioria das pessoas passa a vida inteira a viver num deles, sem ter consciência do outro. É como viver em um dos lados de um espelho: pensas que não há nada do outro lado até que um dia um interruptor é accionado e de repente o espelho fica transparente. E vês o outro lado." Deveria ler-se: "Apesar de se mover num caleidoscópio de cores, o mundo é basicamente preto e branco. Ou és preto ou és branco."

É verdade que são as nossas escolhas que nos definem. Sem olhar à cor da pele, podemos escolher ser preto ou ser branco. É simples. É sim ou sopas. Apenas os governantes são suficientemente vermículos para se contorcerem e rastejarem nas áreas cinzentas. Encarar o outro lado do espelho é como um murro no estômago para os verdadeiros crentes do mundo da realidade instituída, mas mesmo sob a mais excruciante tortura não irão nunca conseguir aceitar outra realidade senão aquela para a qual estão formatados.

(Imagens Google)

Naufrágio à vista

Sérgio de Almeida Correia, 31.05.23

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(Créditos: Público/Paulo Pimenta)

Haverá um provérbio popular que reza qualquer coisa como "com o mal dos outros posso eu bem", mas este não se aplica às declarações do presidente do Partido Social-Democrata (PSD). Digo isto sem qualquer ponta de ironia, muito menos satisfação.

Com o número de anos que o Partido Socialista (PS) já leva de governo, seria natural, penso eu, que o maior partido da oposição, vivendo em estabilidade interna, estivesse em condições de assumir o poder. Só este cenário seria compatível com a virulência das críticas que se têm ouvido na Assembleia da República, pelos ouvidos colados às portas fechadas de Belém, e nas regurgitações do pastorinho de Boliqueime quando há dias, com a maior desfaçatez e sem ponta de memória, numa daquelas visões em que de tempos a tempos é pródigo, afirmou que o "Governo socialista é especialista: em mentira e na propaganda e truques" e irá deixar "uma herança extremamente pesada" ao seu sucessor. O dito chegou ao ponto de referir que perante o actual estado do país este "precisa de saber que há uma alternativa sólida e serena", personificada, segundo ele, em Luís Montenegro e num futuro governo social-democrata. 

E face a esta revelações, em que ainda ninguém tinha reparado, depois dos agradecimentos e das palmadas nas costas, que fez Montenegro?

A resposta, sob a forma de agradecimento público ao idílico cenário de um governo laranja, antecipado por Cavaco Silva, chegou-me pela entrevista que aquele deu na segunda-feira passada à RTP e de que esta manhã alguns jornais fizeram eco.

E essa não podia ser mais sincera e cativante quando o Montenegro general e comandante-chefe das tropas da Oposição, do alto do seu garbo de proprietário espinhense, esclareceu os portugueses de que a sua expectativa, para Junho de 2024 – ainda com mais doze meses de governança socialista pela frente, com mais um ano de "descalabro", com mais moções, comissões, casos, casinhos, inquéritos, prescrições à vista em processo de vigaristas, e a continuação do corrupio de galambinhas e galambões –, é perder as eleições europeias por apenas dois ou três pontos. E  acrescentou para serenar as dúvidas que um resultado destes, ou seja, mais uma derrota do PSD que ele dirige, não será um mau resultado. Pois não. Desde que se mantenha na liderança, para ele, Montenegro, todos os resultados são bons. O país que se dane. 

Por aqui se vê a relevância e a confiança que Luís Montenegro a si próprio se atribui para um dia chegar a primeiro-ministro. Felizmente. 

Eu sei que o PS anda há vários anos pelas ruas da amargura, em matéria de quadros políticos e dirigentes capazes, entregue como tem estado aos caciques e seguranças das concelhias. E não, não me estou a referir a um primeiro-ministro esgotado, teimoso e sem paciência, que a dormir sabe mais que os outros todos "à coca", ou a gente discreta como Jorge Seguro Sanches, que tendo estado muito bem, como se viu depois, em retirar-se daquele circo da Comissão de Inquérito Parlamentar à TAP,  que só tem servido para nos envergonhar, se perde no meio daquela realeza proletária, de raízes pequeno-burguesas, cujas cabeças cravejadas de diamantes adornam a bancada parlamentar do partido à custa da maioria absoluta "do Costa" e da total ausência de líderes políticos à direita, à esquerda, ao centro, em cima ou em baixo. 

É que nem o desgraçado nível de preparação política de alguns deputados, basta olhar para a CPI à TAP e ver que há quem nem papéis tenha em cima da mesa, não faça perguntas e passe as reuniões a brincar com o telemóvel, pode justificar a falta de ambição, de esperança e de sentido de Estado do líder do PSD.

De carisma, ensinou-o Weber, num caso destes nem a brincar se pode falar.

Como se depreende das palavras de Montenegro à RTP, um verdadeiro funcionário político do pior que a democracia gerou, Portugal passa bem sem este PSD estupidamente medíocre que floresceu à sombra dos negócios autárquicos, do passismo e das intrigas de comadres e seminaristas.

Previsivelmente, em cada dia que passa Portugal fica pior com a falta de uma oposição capaz, bem preparada, sem telhados de vidro, transparente e acima de tudo inteligente (não estou ainda a delirar), que não se deixe arrastar pela sucessivas vagas populistas, se aguente à bronca, saiba lidar com Venturas e Mortáguas, e esteja disponível para fazer as perguntas que se impõem nos debates parlamentares – em vez de irem para lá ler umas cábulas repetitivas e mal amanhadas –, apresentando propostas sérias para resolução dos problemas que a todos afligem. Enfim, que tenha capacidade para confrontar o Governo, este ou outro qualquer, com as suas decisões políticas e alguma estupidez à mistura, seja quanto ao lítio e as decisões de um tal de Matos Fernandes ou os "Vistos Gold", e mostre capacidade para fazer política com decência, argumentação capaz e elevação, largando a politiquice rasteira a que se habituaram nos tempos do "ismos" laranja, e que querem que todos os portugueses agora engulam sob o rótulo de "alternativa". Alternativa uma porra.

Seria bom que Portugal conseguisse abandonar a rota da mexicanização, obrigasse o PS a reformar-se, e os militantes e simpatizantes do PSD levassem a cabo uma "operação Montenegro", para se livrarem de mais este emplastro saído do "viveiro" da JSD, pois que a ser verdade o relatado pelo semanário Tal e Qual, quanto à possível aquisição do Grupo Cofina, proprietário do Correio da Manhã e da CMTV, por um grupo próximo do líder do PSD, numa operação dirigida por mais um desses crânios do passismo, tal só servirá para que os cartéis partidários de segunda e terceira linha tomem definitivamente conta do país e os portugueses fiquem mais preocupados com a cada vez mais provável vaga de fundo para levar a Cristina à Presidência da República. Depois só falta o mestre André tomar conta do resto. Até à implosão final.

Pelas quotas étnico-raciais

Paulo Sousa, 31.05.23

Este episódio já descrito como miraculoso, que foi  descoberto no distante e rural Missouri, noutros tempos seria suficiente para uma beatificação meteórica, elevação de um templo e romagens devotas.

A incorruptibilidade de um corpo inumado não é coisa com que se brinque, ainda mais por se tratar da fundadora de uma congregação beneditina.

A diocese de Kansas City pede calma e orações aos fiéis. Há que dar tempo ao tempo.

A madre Cecília, actual superiora da congregação, afirma tratar-se da primeira afro-americana a ser encontrada incorrupta nos EUA.

Aguardam-se reações da vanguarda woke. Por cada dia a mais, que a Congregação das Causas dos Santos demore a elevar a Madre Wilhelmina, no mínimo a figura venerável, só confirma o poder do patriarcado (neste caso literal) que governa o Vaticano.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 31.05.23

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Patrícia Reis: «Egoísta, a edição número 50, dedicada aos Artistas ganha menção honrosa para design e Grande Prémio Revista na edição dos Prémios Papies referentes a 2012. Foi um privilégio trabalhar nestes 50 números e, mesmo agora, sentir que os prémios recordam o que tentámos fazer. Parabéns a todos os que colaboraram (ao Rodrigo Saias e à Sara Cunha), à Norprint que imprimiu, à Estoril-Sol que apostou na cultura durante tanto tempo e a todos escritores, pintores, ilustradores, fotógrafos, jornalistas, experimentalistas e mais... - todos sem excepção - que fizeram da Egoísta uma casa para mim, uma boa casa. O meu agradecimento nunca será suficiente.»

 

Eu: «O leitor pronuncia reCtificativo? Pois eu também. E garanto-lhe que estamos bem acompanhados. Em Portugal pronuncia-se genericamente assim, tal como acontece noutros países de língua oficial portuguesa. Pronuncia-se desta forma e escreve-se em conformidade, sem omitir um tão sonoro. Mas não em todo o lado, como mandariam as boas regras. Lamentavelmente, isso não sucede nas televisões generalistas portuguesas, manietadas pelas absurdas imposições do acordês, que aceitam sem um sussurro de protesto. O "acordo ortográfico" consagra o predomínio do "critério fonético a desfavor do critério etimológico", como reconheceu o professor Malaca Casteleiro, pai desta aberração. Mas alguém se esqueceu de comunicar a novidade aos responsáveis do Portal da Língua Portuguesa, gerido pelo Instituto de Linguística Teórica e Comunicacional, que proíbe a utilização do c em reCtificativo apesar de todos o pronunciarem entre nós, como ainda esta noite se ouviu à hora dos telediários. Em todos os canais.»

Ambiente de trabalho X

Teresa Ribeiro, 30.05.23

Sempre houve gente impreparada a arriscar no seu próprio negócio, mas temo que a tendência se esteja a acentuar, como escape ao atrofio financeiro a que garantidamente está sujeita a maioria dos trabalhadores por conta de outrem.

Com um investimento reduzido e uma equipa mínima, estes “empreendedores” têm de poupar muito para atingir os seus objectivos. Fazem-no à custa da fuga aos impostos – pagando parte dos vencimentos por baixo da mesa, empregando “recibos verdes” a tempo inteiro – e de baixos salários. O Portugal dos empresariozitos, cujo pensamento estratégico é conseguir o máximo de margem para garantir casa, carro, férias no estrangeiro e colégio para os filhos, corresponde à maior fatia do nosso tecido empresarial, por isso estabelece o paradigma. As médias, grandes e até algumas pequenas e talentosas empresas podiam influenciar o mercado, quebrar este círculo vicioso, mas, claro, consideram que não é esse o seu papel. “Como saímos disto?” – quem sabe com um bom patrocínio da Multiópticas (passe a pub).

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 30.05.23

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Livro cinco: Como Perder uma Eleição, de Luís Paixão Martins

Edição Zigurate, 2023

193 páginas

 

Este livro devia ser lido por quase todos os políticos portugueses: só teriam a ganhar com isso. As excepções são José Sócrates, Cavaco Silva e António Costa, pois já sabem do que trata: o autor concebeu o plano de comunicação e forneceu alguma logística que lhes permitiu vencer nas urnas com maioria absoluta. Sócrates nas legislativas de 2005, Cavaco nas presidenciais de 2006, Costa há pouco mais de um ano - inaugurando, por sinal, o pior período da sua governação. 

O título, obviamente, é irónico. A obra desenvolve-se neste registo de branda ironia. Evidencia o que está certo ao enunciar, por contraste, o que é errado: «Fazer uma campanha dirigida aos fãs»; «Cantar vitória nas sondagens»; «Divergir da bolha mediática»; «Projectar o debate como um combate de boxe»; «Agendar episódios e incidentes»; «Convocar activos tóxicos»; «Querer agradar a todos»; «Ter a ambição de mudar o mundo em dois meses». 

Luís Paixão Martins aproveita para atribuir créditos à empresa que fundou: tem fama (e certamente proveito) de ser a mais influente agência de comunicação do País. Enquanto ajusta contas de caminho. Com jornalistas, colunistas, bitaiteiros vários, barómetros armados em sondagens que acertam em tudo menos no alvo. E também com alguns políticos, como Ana Gomes e Francisco Louçã. «Preciso de inimigos novos. Entrei na fase de achar graça aos antigos», confessa a dado passo este tarimbado consultor. Farpas em estilo cáustico que apimentam a escrita sem lhe roubar elegância. 

Apontamentos ditados pela experiência não faltam nestas páginas. Eis um dos mais argutos: «Se um político for de plástico, a culpa não é do aconselhamento. Não há nenhum consultor no mundo que dê autenticidade a um político de plástico.»

Como Perder uma Eleição é útil não apenas a políticos em início de carreira, mas até a quem ambiciona lugar cativo como comentador em estúdios de rádio ou televisão. Não basta ter algum jeito ou parecer bom. É preciso muito trabalho, férrea determinação, alguma sorte. E saber do que se fala. Palrar só por palrar é próprio de papagaios.

 

Sugestão 5 de 2016:

Telex de Cuba, de Rachel Kushner (Relógio d' Água)

Sugestão 5 de 2017:

Coração de Cão, de Mikhail Bulgákov (Alêtheia)

Sugestão 5 de 2018:

Octaedro, de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)

Sugestão 5 de 2019:

Júlio de Melo Fogaça, de Adelino Cunha (Desassossego)

Sugestão 5 de 2020:

Por Amor à Língua, de Manuel Monteiro (Objectiva)

Sugestão 5 de 2021:

Gramática Para Todos, de Marco Neves (Guerra & Paz)

Sugestão 5 de 2022:

As Praias de Portugal, de Ramalho Ortigão (Quetzal)

Vitaminas para o autoproclamado quarto pastorinho

Paulo Sousa, 30.05.23

Depois de, por afirmações de João Galamba (ministro que merece toda a confiança do PM), termos ficado a saber que o mesmo contactou o secretário de estado adjunto do PM para solicitar a intervenção do SIS, continuamos a aguardar pela confirmação disso mesmo por parte de António Costa ou por Mendonça Mendes. Esta dupla de governantes recusa-se ferreamente a qualquer declaração sobre este assunto.

Eu gostava de lhes perguntar o seguinte:

- Têm V.exas. consciência de que, ao optarem por não prestar explicações sobre a vossa actuação no já tão debatido episódio da intervenção do SIS estão a alimentar o desapontamento de quem quer acreditar nas instituições, de quem quer acreditar na responsabilidade política e na lisura de procedimentos, e dessa forma estão a promover as abordagens mais radicais que ameaçam a saúde da democracia?

A recepção camarária ao Benfica

jpt, 30.05.23

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(Fotografia de Miguel A. Lopes/Lusa)
 
Terminou o campeonato nacional de futebol e seguiram-se os festejos. Há quem lamente a alienação popular, essa que conduz milhares (milhões) ao êxtase por causa dos sucessos de uns tipos (endinheirados) que dão uns pontapés na bola. Tudo isso em detrimento de uma verdadeira cultura - esta normalmente sinalizada por livros, os produtos mais associados a essa tal cultura, pois raros são os que para afirmarem a sua pertença à "Alta Cultura" mostram os seus arquivos digitais epub ou pdf, o rol de música gravada ou mesmo os velhos cds/vinis, ou a arte, original ou replicada que afixaram em casa própria, ou quaisquer outros itens patrimoniais.
 
Há dois anos o meu Sporting foi campeão, quebrando um longo jejum que durava desde bem antes de sofrer eu da maldita radiculite que me triturou nos últimos dias. E lá fui eu, proto-sexagenário, rumo ao Marquês, adornado e eufórico, em companhia amiga para comemorar a vitória dos tais (nossos) pontapeadores da bola. Grande alegria, grande festa (o futebol é festa - e não devia ser pancadaria, mas isso é outro assunto). E aviso os mais renitentes - há tempo na vida para um tipo puxar pela cabeça o mais que pode (com os resultados dependentes das capacidades de cada um) e também se deliciar com as futeboladas. E com as futebolices (entre as quais a mais deliciosa é gozar os outros, nas derrotas e nos triunfos, claro está).
 
Ontem, dois dias depois do triunfo benfiquista e do subsequente arraial dos adeptos na Marquês de Pombal - e não anteontem, domingo, como seria mais normal e até adequado ao ritmo urbano - o presidente da Câmara da sede do clube campeão cumpriu a (recente?) tradição de receber a equipa campeã nacional. E nisso o povo adepto acorreu a saudar os jogadores - um post-scriptum da festa. Julgo esta recepção autárquica exagerada - não se cumpre para todos os desportos existentes - mas é apenas um ademane populista dos autarcas. Não é por isso que cairão os vizinhos "Carmo e Trindade".
 
Na televisão ouvi um pouco do discurso do presidente Moedas. Texto talvez da sua lavra, porventura de um qualquer assessor mais benfiquista... Achei-lhe eu, sportinguista, um tom demasiado enfático. E àquilo de "Cosme Damião e mais 24" terem criado o "sonho de Lisboa" resmunguei um "nunca mais voto neste tipo" e mudei de canal - desiludindo-me com alguém que até gostaria que estivesse num lugar mais importante, rumo a São Bento. Enfim, talvez não venha a cumprir esta minha imprecação, mas senti o autarca por demais lampião para momentos oficiais...
 
Mas enfim, azia futebolística à parte, o que é mesmo criticável - verdadeiro sinal de alienação -, e agora sem qualquer ironia, é que essa recepção aos jogadores de futebol tivesse sido acompanhada em directo por 7 canais televisivos. Sete. Mais o canal Benfica, mas esse é evidente que cumpria a sua função nesta transmissão.
 
Sete (+ um) canais televisivos a transmitirem o percurso do autocarro pelas ruas de Lisboa e a ascensão dos jogadores à varanda da câmara. É totalmente demencial. E um sintoma do boçalismo das direcções editoriais. E não me venham dizer que isto que resmungo é antibenfiquismo.

Regresso à noite

Sérgio de Almeida Correia, 30.05.23

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Enquanto lá fora, no resto do hemisfério norte, se caminha para o solstício de Verão, ficando os dias mais longos e luminosos, hoje começa aqui a noite mais longa. Ninguém sabe quando acabará, nem como. É o regresso à solidão e à escuridão. O importante agora é falar baixinho; sempre que possível manter o silêncio. Viver tranquilo e em plenitude é um risco que ninguém quererá correr para cumprir a lei.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 30.05.23

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Ana Vidal: «Belíssimo e contundente, este texto de Nuno Camarneiro sobre uma Europa que é cada vez mais uma espécie de museu do mundo, cheia de preciosidades mortas e pó nas esquinas das salas, à espera de turistas que venham de lugares longínquos para admirá-las depressa e voltar para as suas terras onde se vive uma vida de vivos. A Europa está a morrer, orgulhosamente agarrada aos seus pergaminhos de rainha-mãe e sem perceber que eles hão-de ser a sua mortalha. Mas ainda tenho esperança de um dia poder votar moções de nuvem e eleger pássaros.»

 

Helena Sacadura Cabral: «A ser verdadeira a notícia não posso deixar de me congratular com a decisão por muito que ela ofenda os apoiantes do Acordo. Torna-se cada vez mais evidente que vão perdurar duas formas de escrita por muitos e bons anos...»

 

JPT: «É uma série política. "Borgen" significa castelo, sendo o nome popular do Palácio Christiansborg, sede dos três poderes dinamarqueses. Trata da surpreendente ascensão a primeira-ministra da chefe de um pequeno partido de centro-esquerda, algo devido ao impacto público da sua pureza algo idealista (e ao facto de ser bem apessoada, diz este telespectador), a personagem Birgitte Nyborg [a actriz Sidse Babett Knudsen].»

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 29.05.23

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Livro quatro: Biblioteca Pessoal, de Jorge Luis Borges

Reedição Quetzal, 2023

155 páginas

 

O último livro em que Jorge Luis Borges trabalhou, pouco antes de falecer, foi este guia dos seus gostos literários mais marcantes que funciona como bússola para o leitor comum. «Uma biblioteca de preferências», como salienta o autor no breve prólogo. Convicto, como havia escrito anos antes, que «todas as coisas do mundo conduzem a um encontro ou a um livro.»

Passam por aqui alguns clássicos, como seria de prever. Obras como As Mil e uma NoitesAs Viagens de Gulliver, a EneidaOs Nove Livros da História, de Heródoto, A Descrição do Mundo (Marco Polo), A Vida Amorosa de Moll Flanders (Daniel Defoe), Os Demónios (Dostoievski), dois títulos de Quevedo e um de Thomas de Quincey. Mas o século mais representado é aquele em que Borges (1899-1986) ganhou fama como um dos gigantes da literatura. Numa lista que privilegia o romance, mas sem excluir o conto (Voltaire, Poe, Kipling, Chesterton, Cortázar), o drama (Ibsen, Shaw, Eugene O'Neill), o ensaio (Oscar Wilde), a filosofia (Henry James, Kierkgaard), a literatura de viagens (Um Bárbaro na Ásia, de Henri Michaux) e até um dicionário de mitos gregos (compilado por Robert Graves).

Borges surpreende os leitores rejeitando escolhas óbvias. Kafka surge com América e não com O Processo; Melville é destacado com três títulos, nenhum deles Moby Dick; Flaubert está representado por A Tentação de Santo Antão em vez de Madame Bovary

Já doente, foi ditando estas notas a Maria Kodama -- algumas tão sucintas que são meras fichas de leitura. A sua morte deixou o projecto amputado: em vez das cem previstas, ficaram 85. Incluindo menções a obras-primas como A Máquina do TempoO Deserto dos Tártaros, Pedro PáramoO Coração das Trevas

Para o leitor português, eis a notícia mais relevante: um dos livros destacados é O Mandarim, do nosso Eça de Queiroz. Devia a editora ter corrigido um grave erro factual: o autor d' O Aleph diz que Eça viveu na China, quando nem sequer andou lá perto. Mas Borges não lhe poupa elogios: garante que «cada oração [dele] foi limada e temperada, cada cena da [sua] vasta obra múltipla foi imaginada com probidade».

Lembra que Eça e Wilde morreram no mesmo ano, 1900. Eram «dois homens de génio», sem favor algum.

 

Sugestão 4 de 2016:

Páginas de Melancolia e Contentamento, de António Sousa Homem (Bertrand)

Sugestão 4 de 2017:

Os Filipes, de António Borges Coelho (Caminho)

Sugestão 4 de 2018:

Não Respire, de Pedro Rolo Duarte (Manuscrito)

Sugestão 4 de 2019:

Dois Países, um Sistema, de Rui Ramos e outros (D. Quixote)

Sugestão 4 de 2020:

Que Nós Estamos Aqui, de João Tordo (Fundação Francisco Manuel dos Santos)

Sugestão 4 de 2021:

Uma História da ETA, de Diogo Noivo (E-primatur)

Sugestão 4 de 2022:

História de um Homem Comum, de George Orwell (E-primatur)

A esquerdalhada

jpt, 29.05.23

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Num postal recente usei o termo "esquerdalhada" (que me é habitual). E logo três amigos me enviaram mensagens, pois com ele incomodados. Nos comentários recebidos (no meu mural de Facebook) também surgiu algum desconforto - e mesmo imprecações. Naquela plataforma a ligação ao texto foi partilhada por outros - o que lhes agradeço - em cujos murais também notei algumas reacções desagradadas, até furiosas. Isto mostra a vigência de um sentimento pelo qual sobre os locutores de “esquerda” não se deve verbalizar menosprezo ou desrespeito pelas suas atrapalhadas ou aldrabadas opiniões.

Reacções ao invés das esperadas face à rapaziada da direita. Sobre esta há dois termos que vão surgindo: o mais raro “direitinhas” - em tempos consagrado em banda desenhada publicada no “Diário”, o jornal do PCP dirigido por Miguel Urbano Rodrigues -, mas que não vinga muito dado o tom pouco ferino que aquele sufixo sempre dá. E o mais habitual - e quase automático - “fascistas” (ou “faxos”), uma evidente desvalorização ética e intelectual.

 

 

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