Tempestade imperfeita
A Roménia vai no próximo ano dizer-nos adeus, somando-se a outros países que quanto ao PIB por cabeça, corrigido em paridades de poder de compra, já nos ultrapassaram. Foram eles a Polónia, a Hungria, a Estónia e a Lituânia. Não há muitos anos, na minha cidade, havia Romenos que andavam pelos cafés a pedir; e a uma fabriqueta de que sou sócio, pela mesma altura, foi roubado cobre, ao que se veio a descobrir por Romenos. Veremos, em devido tempo, emigrantes portugueses em Bucareste a arrancar dentes, projectar casas e engenheirar pontes, que Portugal aprecia investir na formação de quadros para promoverem outras economias.
De modo que o país político ficou comovido, e deve levar mais de uma semana a mudar de preocupação para outras infelizes notícias, das quais há cerca de quatro por mês.
Ouvi por acaso o programa Tempestade Perfeita, na Rádio Observador, onde a prestigiada académica Susana Peralta e o não menos ilustre Ferreira do Amaral se pronunciaram sobre esta matéria.
E o que dizem? Extraordinário: Para rebater a constatação do deslizamento sistemático do país para os últimos lugares do desenvolvimento (num continente que ele próprio cresce menos do que outras regiões do globo) começam por chamar a atenção para alguns aspectos em que esse deslizar não tem lugar. O que, evidentemente, não é o que está em questão e é apenas um mecanismo de anestesia da opinião pública ao qual a propaganda socialista vai recorrer. Depois, ao enunciar as razões do atraso vem o palavreado da desigualdade e das falhas e insuficiências disto e daquilo como se em todos os países que crescem mais não houvesse falhas e insuficiências. Acrescentam que Portugal está a crescer e, por definição, há sempre quem fique para trás, triste realidade que nos deve servir de refrigério; que a diferença prevista para a Roménia é de alguns poucos euros, uma irrelevância; que em Portugal se vive melhor, segundo os indicadores xis e ípsilon, do que em países que têm o atrevimento de nos ultrapassarem; e que o que tem faltado é investimento, o qual, ai, só não houve pelo compreensível esquecimento de se o decretar.
Estes dois comentadores são de esquerda e o que isso significa é que simplesmente não entendem os mecanismos de criação de riqueza e, além das tradicionais queixas sobre o que não funciona bem (como se falar nisso sem adiantar soluções servisse para alguma coisa), não fazem a menor ideia de como se inverte o acentuar do atraso relativo. A tragédia da nossa economia é que a esquerda tem uma data de bandeiras ideológicas que prejudicam o crescimento; e a direita é, com frequência, reaccionária nos costumes (o que não é necessariamente mau mas pouco tem a ver com economia), mas é refém do Estado obeso. E tudo isto sob o manto da suposta lucidez dos economistas, dos quais a maior parte nem sequer realiza o que lhes falta e que adquiriram uma injustificada importância na magistratura da opinião.
Não disseram, mas poderiam ter dito com orgulho que a Bulgária, a Grécia, a Croácia, a Letónia e a Eslováquia ainda estão para trás e que, fora da União Europeia mas dentro da Europa, há muitos países que tomaram eles ter o brilhante desenvolvimento que a esclarecida governação do nosso tem proporcionado. Um deles é a Albânia, para a qual podemos olhar com sobranceria, coitada, a par da Bósnia Herzegovina. E se a estes dois juntarmos a Sérvia, o Montenegro e a Macedónia do Norte, e este conjunto aderir à União Europeia, o PS poderá dizer com verdade e justificado orgulho que nos afastamos cinco posições do fundo da tabela.
Aqui está uma exaltante missão para o estadista Costa, se conseguir o lugar cimeiro que na UE deseja e merece.