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Delito de Opinião

Leituras

Pedro Correia, 29.10.22

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«Certa vez, o Presidente Mao disse: "Em nenhuma parte do mundo há amor sem razão. Nem há ódio sem causa." Mas enganava-se. O amor era, por natureza, irracional, enquanto o ódio tinha milhares de causas. O grande revolucionário não percebera nada disto.»

Lilian Lee, Adeus, Minha Concubina (1985), p. 226

Ed. ASA, Porto, 2002 (4.ª ed). Tradução de José Luís Luna. Colecção 

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 29.10.22

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Hoje assinala-se O Dia Mundial do AVC

«O Dia Mundial do AVC (Acidente Vascular Cerebral) evoca-se a 29 de Outubro procurando chamar a atenção para os perigos dos acidentes vasculares cerebrais e divulgar informações importantes. Esta é a principal causa de morte e de incapacidade em Portugal. As regiões do interior são as mais afectadas, devido à falta ou atraso de assistência médica.

 

A mortalidade por AVC é maior em mulheres do que em homens. Segundo a Organização Mundial da Saúde, morrem anualmente 3,2 milhões de mulheres no mundo por esta causa.

Como reconhecer um AVC?

A assistência imediata é essencial para o tratamento e recuperação da vítima de AVC. Os principais sinais são:

  • Boca ao lado e dificuldade em falar;
  • Falta de força no braço.

Como prevenir um AVC?

  • Não fumar nem beber álcool em excesso;
  • Praticar exercício físico regularmente;
  • Evitar o excesso de sal para não aumentar a pressão arterial.

O que fazer em caso de AVC?

Contactar o 112 e tentar explicar em detalhe os sintomas.

Recuperação de um AVC

A recuperação é longa e os primeiros seis meses são essenciais no tratamento. Para evitar novo acidente é necessário tratar as causas que originaram o AVC.»

 

O meu avô Américo teve um AVC nos seus 60 e poucos. De todas as pessoas que conheci e tiveram AVCs, nomeadamente os meus avós paternos, ninguém sofreu (?) tanto como o avô Américo. Conhecia mal as pessoas, não era autónomo para coisa alguma, nem nunca mais foi a pessoa respeitadora e respeitada que todos conhecêramos. Tinha uma única linha de pensamento: voltar para Belém. E como por magia conseguia levar a cabo a árdua tarefa de lá chegar. Um dia aziago, fugiu pela janela com o intuito de voltar para Belém. Escolheu mal o caminho e caiu num buraco nas salinas onde esteve três dias sem sabermos dele. Até que alguém teve a ideia de chamar pela cadeia, que apesar de fraca conseguiu levar-nos até onde o avô Américo estava, fraco, desidratado, com feridas e cortes de sal. Esteve meses sem conseguir andar e a recuperar o uso das mãos. Sobreviveu mais de cinco anos a este episódio.

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Este é O Dia Mundial da Psoríase

«Esta data visa informar a população sobre a doença e combater o estigma social, a discriminação e o isolamento dos doentes que sofrem de psoríase, uma vez que, de modo geral, as pessoas desconhecem que a doença não é contagiosa e tem tratamento. Pelo mundo fora realizam-se vários eventos em prol da consciencialização da psoríase, doença da pele.

O Dia Mundial da Psoríase foi instituído para mostrar à sociedade uma doença escondida, que só em Portugal afecta mais de 250 mil pessoas e cerca 125 milhões em todo o mundo.

A data foi assinalada pela primeira vez em 2004, quando várias organizações se uniram com o intuito de divulgar às pessoas o que é a doença e as formas de tratá-la.»

 

Apesar de não ser contagiosa, a psoríase é aflitiva para quem dela sofre e desagradável à vista. Felizmente a medicina e a ciência têm feito muitos progressos em temos de tratamento, podendo quem padece desta doença ter uma qualidade de vida que, por exemplo, há seis anos era impensável.

 

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No dia 29 de Outubro celebra-se o Aniversário do primeiro E-mail 

"Tudo começou há mais de 50 anos e até foi uma mensagem com erro. A Internet deu o primeiro passo em 29 de Outubro de 1969, quando a primeira transmissão de dados aconteceu. Leonard Kleinrock, cientista e professor de Ciência Computorizada, estava numa sala da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, com o estudante Charley Kline quando enviaram aquele que seria o primeiro email da história.

A mensagem seria "Login" e o destinatário Douglas Engelbart, investigador do Stanford Research Institute, estava a mais de 500 km de distância. Acabou por seguir apenas "Lo", pois o sistema caiu a meio, mas estava transmitida a primeira mensagem virtual. Até essa data, as comunicações só tinham acontecido por troca de mensagens entre terminais do mesmo computador. Assim nascia uma nova era.»

 

Ainda sou do tempo... Pois é verdade. Na Pré-História das redes sociais, antes do mIRC, ICQ, MSN, o Orkut, etc, havia o e-mail e era uma festa trocar mensagens. Ainda tenho o e-mail que tinha desde o tempo do Verbo, nunca mudei.

 

(Imagens Google)

Ali Daei preso

jpt, 29.10.22

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Há um mês aqui dei nota da minha surpresa devido a não terem os jogadores da nossa selecção de futebol expressado simbolicamente a sua solidariedade com os protestos iranianos subsequentes ao assassinato de Mahsa Amini, cometido pela polícia daquele país devido a não ter aquela cidadã os cabelos totalmente cobertos. Logo de seguida ecoei a notícia de que os jogadores de futebol iranianos estavam a ter atitudes simbólicas, solidarizando-se com a família da assassinada e com os manifestantes - entre os quais haverá já centenas de assassinados. E será de lembrar que um desses futebolistas internacionais é o nosso conhecido Taremi, avançado do Porto - tendo sido até noticiado que um jogo deste clube na Liga dos Campeões foi censurado na televisão iraniana devido a esse facto. Mas nem isso serviu para convocar o companheirismo dos seus colegas portugueses - nem dos de outros portugueses, pois as manifestações públicas face a estes acontecimentos naquele país não só tardaram como têm sido bastante modestas, se comparadas com o acontecido noutras ocasiões.

Surge hoje a notícia de que Ali Daei, o mítico antigo jogador iraniano, até há pouco o maior goleador das selecções nacionais - muito evocado ao ter sido ultrapassado pelo nosso Cristiano Ronaldo nesse topo - foi agora preso devido ao seu apoio à oposição ao actual poder iraniano e à repressão que este vem realizando diante da vaga de protestos em curso.

Estou convencido que nem isso servirá para que os jogadores do campeonato português se lembrem, a partir de amanhã, de se solidarizar com o povo iraniano e seus jogadores de futebol. Apesar da tradição de intervenção política a que aderiram há pouco tempo, prestando-se a participarem, regularmente, nessa campanha "anti-racismo" internacional, que não só mimetiza uma imagem da sociedade norte-americana como a quer fazer parecer paradigmática do estado do mundo. Mas seria importante que actuassem agora, não só pela virtude de ombrear com a população iraniana, seu anseio de liberdade e de activação dos direitos das mulheres. Pois também por ser forma de se mostrarem autónomos em relação aos núcleos identitaristas americanos, por cá divulgados e acolitados por nichos universitários e pela pequena-intelectualidade sediada na imprensa da situação. Mas duvido que o venham a fazer, jovens desportistas, algo inconscientes das coisas do mundo e embrulhados no manto demagógico do anti-americanismo pós-comunista europeu.

Mas há um ponto que é relevante recordar. Os profissionais dos clubes respondem aos associados - e, em alguns casos, aos proprietários - dos clubes, e será a estes que cumprirá aquilatar da pertinência de serem os clubes usados para agendas políticas. Mas a situação muda nas selecções de futebol. Estas dependem da FPF, instituição de utilidade pública que funciona num regime jurídico muito próprio mas sob tutela estatal. E não é aceitável que uma organização tutelada pelo Estado, que tem uma enorme visibilidade e que muito estrategiza para assumir uma dimensão de representação do país, sirva para divulgar agendas políticas externas muito cirúrgicas nos seus objectivos, neste caso o de atacar um Estado democrático aliado enquanto se silenciam as insanas medidas de um Estado não-amigo ditatorial. Ou seja, são os jogadores da bola livres de balbuciarem, ajoelhados, a propaganda de nichos identitaristas norte-americanos, da Ivy League e quejandos? São, se assim o quiserem. É o doutor Fernando Gomes, presidente da FPF, livre de usar as prerrogativas que lhe são atribuídas pelo Estado para fazer deslocar grupos de desportistas que usam a bandeira portuguesa (e isso bem reclamam e capitalizam), assim divulgando a agenda do esquerdismo comunista identitarista e do jornal da SONAE? Não. E isso deve-lhe ser cobrado, de antemão.

Enfim, é simples, se os rapazolas endinheirados se estão nas tintas para as mulheres no Irão e para os iranianos em geral, é lá com eles. Mas se assim é então também não há mais espaço para os ademanes ajoelhados contra o "racismo" nos EUA. Nem para um mariola usar a selecção "nacional" para apelar ao "Poder Negro", nestes 2020s. E quem não compreender isso não vai ao Catar. Pois chega de pantominas.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 29.10.22

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Luís Menezes Leitão: «Aguiar-Branco acha os comentadores de fato cinzento e gravata azul tão perigosos para o país como qualquer ameaça externa. Para ser coerente, Aguiar-Branco deveria então mandar a tropa apanhar e prender esses perigosos comentadores. A tarefa pelos vistos não será difícil, já que os mesmos comentadores nem sequer hesitam em vestir um uniforme bélico, o tal fato e gravata. Depois da Ministra Cristas ter declarado guerra às gravatas no Ministério do Ambiente, é agora a vez de Aguiar-Branco perseguir os comentadores engravatados.»

 

Eu: «Assisti, com a atenção devida e o proveito de sempre, a mais uma intervenção pública de Mário Soares. Desta vez no programa Hora de Fecho, da RTP informação, sexta-feira à noite. Coligi os principais ensinamentos para sair da crise que o antigo Presidente da República deixou aos portugueses nesta sua mais recente aparição televisiva. Aqui ficam vários deles reproduzidos, com a devida vénia, em forma de abecedário. Enquanto aguardo ansiosamente pela próxima entrevista, que não deve tardar.»

Leituras

Pedro Correia, 28.10.22

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«El progreso científico y técnico que ha tenido lugar es real - desde los teléfonos móviles hasta la penicilina, la tecnologia hace nuestra vida más segura -, pero, como narración sobre el futuro, la idea del progreso no es más que una canción de cuna. Las mismas armas que el progreso pone en nuestras manos para enfrentarnos al futuro nos dejam desarmados cuando llega lo inimaginable.»

Michael Ignatieff, Las Virtudes Cotidianas (2017), p. 187

Ed. Taurus, Barcelona, 2018. Tradução [para o castelhano] de Francisco Beltrán Adell

Atrasos podem comprometer PRR

Orçamento do Estado para 2023 (3)

Pedro Correia, 28.10.22

«O atraso na implementação do PRR em 2022 constituiu a materialização de um risco descendente para a receita e a despesa públicas, que, se persistir nos anos seguintes, poderá comprometer as metas constantes do plano. A proposta de Orçamento do Estado prevê a recuperação parcial deste atraso e um investimento público de 3,5 mil milhões de euros. No entanto, o recebimento da receita provisional do PRR (13,9 mil milhões de euros) é condicional ao cumprimento das metas aprovadas pela Comissão Europeia e eventuais desvios adicionais à programação poderão adiar ou impossibilitar a cobrança

 

Do relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República, sobre a proposta do OE

(sublinhados meus)

Sou o José dos Olivais, tenho 58 anos e já fui emigrante...

jpt, 28.10.22

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Acabo de conhecer este episódio parlamentar. É o da "Ana dos Olivais" - uma historieta sobre uma imaginada "Ana de 25 anos" do meu bairro lisboeta, narrada como se exemplar por um deputado do PSD, Alexandre Poço, que assim a quis projéctil endereçado ao primeiro-ministro António Costa.
 
O breve episódio (na ligação estão as duas curtas intervenções) causa-me duas constatações: 1) Alexandre Poço, um ex-jotinha PSD agora já adulto deputado, e que foi conhecido por nós-vulgo através de uma fruste candidatura autárquica que quis "engraçadista", nem televisão vê. Pois se o fizesse em qualquer "filme de tribunal" americano teria aprendido o célebre mandamento: nunca fazer perguntas para as quais não se está preparado para a resposta. E como tal foi-se ele à bancada fazer uma pirueta retórica - um ademane engraçadista -, e em resposta levou "pela medida grande". Para melhor me fazer entender direi que Poço, a putativa "jovem estrela PSD", esteve para Costa como há dois dias Flávio Nazinho esteve para Harry Kane... Encomende-se o rapazola ao VAR ou ao gongo, a ver se se safa nos seus próximos atrevimentos no hemiciclo que, pelos vistos, imagina qual campo da bola ou ringue.
 
2) O episódio chamou-me a atenção por ter sido invocado o meu bairro. No qual cresci até aos 25 anos, ao qual voltei aos 50. Conheço alguma coisa do que se passa. Várias vezes botei sobre os Olivais: notando os maus efeitos de uma atrapalhada, pois voluntarista, reforma da administração autárquica; notando a ausência de políticas de "reanimação" urbana; vendo o predomínio de uma visão assistencialista de paternalismo clientelar; clamando contra o - de facto - boçalismo das lideranças que o PS implantou numa freguesia central da capital (com 32 mil eleitores, repito-me até à exaustão). E sublinhando, com a ênfase que me foi possível, que só aquilo que o PS perdeu nos Olivais nas últimas autárquicas foi suficiente para derrotar Medina (malvada a Sorte, pois a este lhe serviu para chegar a ministro, e sorridente como se vê nestas gravações...).
 
Mas notei também, e botei-o, a total irrelevância, a candura ignorante, das restantes candidaturas autárquicas, das atenções partidárias, sobre este meu bairro (o tal dos 32 mil eleitores sitos no centro da capital). Nem à esquerda, nem à direita, nem ao centro, nada foi proposto, nada foi pensado e discursado, um vácuo completo. Mais surpreendente ainda num partido com traquejo, experiência de poder nacional e autárquico, como o é o PSD e que tinha uma candidatura municipal pujante. Nada mesmo, apenas umas candidaturas fundidas, uns candidatos mudos e quedos.
 
Avançaram alguma coisa no último ano? Ouviram o real, pensaram-no, projectaram algo? Que se saiba nada disso aconteceu, nada disso foi divulgado. Resta apenas este jotinha engraçadista, qual um galamba psd, a invocar o bairro e seu universo num destemperada patetice... Convirá perceber que não há pior, não há rumo mais eunuco, do que o engraçadismo (o que serve para o PSD deste jotinha e também para a IL, a qual, ou muito me engano, ou com Rui Rocha ainda mais perseguirá esse aparente trunfo). E, acima de tudo, convirá que o PSD (e não só) perceba que "o que é preciso é pensar a malta". Não é animá-la...
 
Enfim, sou "o José dos Olivais, tenho 58 anos e já fui emigrante...". E não tenho paciência para estes jotinhas vácuos.

Capelas curiosas

Ana CB, 28.10.22

Desconheço se há algum inventário completo de todas as capelas e ermidas que temos em Portugal, mas tenho as minhas dúvidas de que exista. Serão muitas centenas, um trabalho de compilação gigantesco. País maioritariamente católico desde a fundação, em Portugal encontramos pequenas capelas por todo o lado – seja nas maiores cidades ou nas aldeias mais remotas ou minúsculas, no coração das localidades ou no meio de nenhures, quase incógnitas entre edifícios ou em grande destaque e rodeadas de aparato. São uma das formas de expressão mais genuína da devoção religiosa popular, e assumem uma enorme diversidade de aspectos, muitas delas com características únicas e excepcionais pela sua história, localização ou aparência. Há muitas que são particularmente curiosas, e com a minha apetência especial por locais fora do comum tenho coleccionado memórias de várias destas capelas “diferentes”, algumas das quais já visitei mais do que uma vez – não por questões religiosas, mas apenas porque são lugares que me atraem, cada um à sua maneira. Estas são só algumas das minhas preferidas.

 

Anta-capela de Alcobertas/Igreja de Santa Maria Madalena

(Alcobertas, Rio Maior)

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As antas-capelas são um dos muitos exemplos que mostram a forma como a religião cristã adaptou em seu benefício as tradições pagãs, e a sua concepção original faz com que sejam das construções religiosas mais interessantes do nosso país. Existem apenas seis em Portugal, e nem todas em bom estado. A de Alcobertas já foi autónoma, nela se venerando Santa Maria Madalena. Algures entre os séculos XVII e XVIII, perdeu a independência e passou a ser capela lateral da igreja dedicada à mesma santa – razão pela qual o seu acesso é feito pelo interior desta igreja. Imediatamente a seguir ao arco, forrado a azulejos da mesma época, por onde se entra na capela, são visíveis os esteios e a laje de cobertura do corredor do dólmen. Graníticos e de grande dimensão (têm cerca de cinco metros de altura, o que faz do conjunto um dos dez maiores monumentos megalíticos do género situados na Península Ibérica), os esteios da câmara ovóide já perderam a sua protecção superior original; o cimo da capela é agora fechado por um muro de tijolo e um tecto abobadado, sobre o qual assenta o telhado, de aspecto recente. Calcula-se que este dólmen date de finais do Neolítico (entre 4000 e 3500 a.C.), e terá sido cristianizado no século XVI.

 

A obscuridade do interior é aligeirada pela cor branca do tecto e da toalha que cobre o altar, revestido de azulejos tricolores que incluem uma representação não muito vulgar de Maria Madalena, arrojada na sua seminudez. Também curiosamente, sobre pedras colocadas num plano superior está uma pequena imagem quinhentista, em barro pintado de várias cores, que se supõe ser de Santa Ana, representada com um livro aberto no colo. Ainda outra curiosidade é o facto de os esteios terem gravadas, na sua superfície, muitas “covinhas” (nome técnico: fossetes), motivos rupestres encontrados com grande frequência em rochas e monumentos megalíticos, cuja finalidade continua a ser desconhecida, pese embora as várias possíveis explicações que lhes têm sido atribuídas.

A este lugar de devoção secular a Santa Maria Madalena estão associadas duas lendas, que se baralham entre si. Uma conta que foi esta santa a criadora das pedras que compõem o dólmen. A outra diz que por esta anta ter sido lugar de culto pagão, os populares tentaram demoli-la; mas cada tentativa de destruição era contrariada pela santa, que voltava milagrosamente a erguê-la. Respeitando a aparente vontade de Santa Maria Madalena, optou então o povo por dar a volta à situação, convertendo o local numa capela católica.

 

 

Capela e Gruta de Nossa Senhora da Lapa

(Entrevinhas, Sardoal)

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Dois quilómetros a sudeste da localidade de Entrevinhas há uma zona de lazer, nas margens da ribeira de Arecez. A montante, perto da modesta Barragem da Lapa, existe uma gruta onde desde há séculos é venerada a Virgem Maria. A entrada da gruta foi redesenhada em alvenaria, destacada por uma faixa amarela, e está protegida por um gradeamento de ferro. No interior, uma série de degraus feitos de pedras xistosas, em jeito de altar, conduzem os olhos até a um nicho, também realçado com ornamentos em amarelo, onde foi colocada uma pequena escultura policromada da Nossa Senhora da Lapa, na sua representação mais habitual. Este culto mariano, tão antigo que se desconhece quando terá começado, levou a que em meados do séc. XVII o Abade João Cansado mandasse edificar uma capela na margem oposta da ribeira, criando assim um pequeno santuário dedicado a Nossa Senhora. Há registo de um breve do Papa Alexandre VII, com data de 28 de Março de 1659, concedendo privilégios especiais a quem rezasse missa na capela. E em 1926, um jornal local dava conta de uma peregrinação eucarística ao local no dia de São João, tradição já antiga.

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Meio encaixada num maciço rochoso elevado, a salvo de enchentes em épocas de muita chuva, acede-se à capela por uma curta escadaria dupla. É uma construção simples, com alguns elementos barrocos na fachada e um arco sineiro sobre um dos lados do telhado, mas já sem sino. Nota-se que está a precisar de uma renovação. Está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1996, mas é uma capela privada e as visitas ao interior (que está descrito como sendo bem mais rico do que o exterior) só são possíveis por marcação com o seu proprietário.

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A zona de lazer onde se situa a capela é tranquila e agradável. Acompanhando a ribeira, filas extensas de árvores de grande porte criam uma área fresca para passear, piquenicar, ou até mesmo tomar banho, nos dias em que o calor aperta. Uma ponte de troncos e tábuas de madeira faz a ligação entre as duas margens. No extremo oposto ao da gruta há um parque de merendas, chorões frondosos, uma barreira de pedra para controlar o fluxo da água, e uma pequena cascata mais à frente. É um sítio bom para relaxar, dotado de um certo encanto, pese embora tenha no geral um aspecto pouco cuidado.

 

 

Capela do Calvário/Capela de Santa Maria Madalena

(Ferreira do Alentejo)

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É possivelmente a capela mais estranha do nosso país, e se não fosse a cruz de metal bem visível no topo, ninguém faria a mínima ideia da sua finalidade. Pequena, branca e cilíndrica, a fazer lembrar uma redoma, tem uma faixa amarela pintada na sua base, um lanternim sobre a cúpula, e várias dezenas de pedras irregulares de granito incrustadas nas paredes, concentrando-se sobretudo na parte superior. Além de estranha, é também misteriosa, pois desconhece-se o porquê de tão curiosa decoração. Moda alentejana, já que ornamentação semelhante existe na vizinha localidade de Beringel e consta que terá existido uma outra no mesmo género em Beja? Evocação do calvário de Jesus (que parece ser a explicação mais comum)? Ou da salvação de Maria Madalena (condenada a apedrejamento e uma das figuras representadas no altar da capela)? No interior, a parede do altar está pintada de azul-céu e decorada com estuques brancos com formas vegetais ou representando alguns Arma Christi (Instrumentos da Paixão, símbolos associados ao martírio de Jesus). O azul repete-se em faixas geométricas pintadas na abóbada.

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Calcula-se que a sua construção date dos séculos XVII ou XVIII. Originalmente, foi erguida num outro local da vila, a antiga Rua do Calvário, e transferida em 1868 para um dos extremos da então Rua de Lisboa, que agora é a Avenida Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Classificada como Imóvel de Interesse Público em 2003, a espécie de praça onde se encontra é zona de protecção especial, com a capela no seu centro, isolada e bem visível. À volta há edifícios baixos, de traça tradicional, um ou outro com ar apalaçado, e uma fonte ornamental moderna, com bicas e repuxos, que dá um certo ambiente de frescura a esta vila alentejana.

Seja qual for a razão das suas origens, o certo é que esta capela se tornou no ícone máximo de Ferreira do Alentejo – que é, de resto, uma vilazinha pacata, bem arranjada e limpa, com vários outros motivos de interesse para uma visita mais demorada.

 

 

Capela de Nossa Senhora das Vitórias

(Furnas, São Miguel)

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Praticamente isolada na margem sul da Lagoa das Furnas, esta capela é muito diferente de qualquer outro monumento religioso em São Miguel e, por ter bastante altura e uma torre aguçada, passa facilmente por igreja. Meio dissolvida entre a água e todo aquele verde, com a pedra manchada e avermelhada pelo tempo, as suas formas elaboradas tornam-se incongruentes num enquadramento tão simples. Visto de longe, o conjunto tem um ar algo surreal.

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Foi mandada construir em fins do século XIX por José do Canto, um abastado proprietário açoriano, para servir de mausoléu à sua mulher e a ele próprio. José do Canto era um intelectual progressista e botânico amador, e esta capela encontra-se precisamente numa das suas antigas propriedades, a mata-jardim a que foi dado o seu nome. Construída em estilo neogótico, possui uma dimensão bastante generosa, com uma torre sineira alta, pontiaguda e ornamentada. No interior, chamou-me primeiro a atenção, por não ser muito habitual, o belíssimo piso de mosaicos coloridos. Os vitrais das janelas altas, que do exterior parecem desenxabidos, mostram-se bem mais ricos quando vistos de dentro. A pedra cinzenta nua da estrutura, com as tonalidades dadas pela passagem dos anos, contrasta com a madeira castanha do gradeamento, do púlpito e dos altares. Incomum é também a ausência da talha dourada, tão habitual nos lugares de culto em Portugal, mas isso em nada lhe diminui o encanto.

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Capela de São Mamede

(Janas, Sintra)

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Saindo de Janas para norte na direcção de Fontanelas, encontramos a poucas centenas de metros, do lado esquerdo, um terreno descampado onde se ergue uma construção branca e baixa, de formato circular, que à primeira vista não dá a ideia de ser um edifício religioso. Mas é, como o provam as pequenas cruzes que se erguem no topo, visíveis se olharmos com mais atenção. Dedicada a São Mamede, esta capela data presumivelmente do séc. XVI, embora até agora não tenha sido possível saber exactamente quando foi construída. Suspeita-se inclusivamente que a sua origem seja bem mais remota, reportando-se à época romana, e que no local tenha existido um templo consagrado ao culto da deusa Diana. A razão para esta suspeita prende-se com a romaria que ali se realiza anualmente em meados de Agosto, e que se reveste de um carácter muito particular: os lavradores da região trazem até ali o seu gado (e por vezes animais domésticos), e com ele dão três voltas à capela no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Mais tarde, como pagamento das suas promessas ou como pedido de protecção para os seus animais, colocam ex-votos e oferendas agrícolas no interior da capela. Embora estas festividades sejam em honra de São Mamede, protector do gado, as suas características assemelham-se em muito às dos antigos cultos dedicados a Diana, a deusa romana das florestas e protectora dos animais, cuja principal festa ocorria no dia 13 de Agosto. Existem documentos dos séculos XV e XVII que referem esta festa dedicada a São Mamede com pormenores semelhantes aos de hoje, o que prova que esta tradição já é bastante antiga.

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É uma das poucas capelas de planta circular existentes no nosso país, e a sua concepção é atribuída, por alguns entendidos na matéria, a Francisco d’Olanda, embora tal facto não esteja de maneira nenhuma confirmado. Tem ainda a particularidade de possuir um alpendre que acompanha metade da circunferência do edifício, com colunas de pedra e janelas que lhe dão um invulgar aspecto de casa de habitação. É por este alpendre que se acede à porta de entrada na capela, cujo interior é bastante simples e despojado – como todo o edifício, aliás. Apesar de estar junto à estrada, o local onde se ergue a Capela tem uma certa aura de serenidade, e sente-se no ar o cheiro intenso dos pinheiros que estão plantados em redor. Os bancos corridos de pedra no interior do alpendre convidam a sentar e relaxar, a descontrair da correria diária, a aproveitar o sossego.

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Capela de Nossa Senhora da Orada

(Melgaço)

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Já são muitas as centenas de anos que passaram pelas pedras manchadas da Capela de Nossa Senhora da Orada. À saída de Melgaço, na estrada que vai para São Gregório, e encaixada entre os muros de uma quinta vinhateira e umas quantas casas rústicas vulgares, pode facilmente passar despercebida a quem vai de carro com a atenção mais virada para a paisagem aberta do lado do rio. E no entanto, esta capela do século XIII é um dos edifícios mais surpreendentes da arquitectura religiosa do Alto Minho (já de si riquíssima em exemplares soberbos do período românico). Dizem os entendidos que mostra ser do período tardo-românico, por possuir alguns elementos protogóticos. Mais leiga do que eles, os meus olhos notam sobretudo o portal com colunas e arcos muito trabalhados, os cachorros com símbolos e figuras esculpidas, sob as cornijas, e um motivo vegetal por cima da porta norte que (mais uma vez de acordo com os peritos) representa a árvore da vida e é único em Portugal.

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Na sua escrita tão característica, Saramago descreveu a Capela da Orada no livro “Viagem a Portugal”, e foram precisamente as palavras dele que me trouxeram aqui pela primeira vez, há já muitos anos:

 

Mas a Igreja da Nossa Senhora da Orada, pequena construção românica decentemente restaurada, é tal obra-prima de escultura que as palavras são desgraçadamente de menos. Aqui pedem-se olhos, registos fotográficos que acompanhem o jogo da luz, a câmara de cinema, e também o tacto, os dedos sobre estes relevos para ensinar o que aos olhos falta. Dizer palavras é dizer capitéis, acantos, volutas, é dizer modilhões, tímpano, aduelas, e isto está sem dúvida certo, tão certo como declarar que o homem tem cabeça, tronco e membros, e ficar sem saber coisa nenhuma do que o homem é.

 

Em tempos, junto à capela esteve colocado um cruzeiro – erguido em 1567, ano de peste e portanto de fervor religioso acrescido. Questões logísticas ligadas à quantidade de devotos que o contornavam nos dias de romaria acabaram por o deslocar, em fins do século XIX, para um pouco mais acima, no outro lado da estrada, local que é agora um miradouro de excelência sobre Melgaço, o rio Minho e terras galegas. Tal como sucede com a capela, a imagem de um tosco Cristo crucificado e o desgaste do granito acusam as centenas de anos a que este cruzeiro já sobreviveu.

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Anta-Capela de São Dinis

(Pavia, Mora)

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Outra anta-capela de que gosto particularmente, pela sua harmonia estética, é a de Pavia. A sua importância histórica levou a que fosse classificada como Monumento Nacional em 1910. Não sendo difícil de reconhecer, pode passar despercebida a quem não souber da sua existência e for desatento, meio escondida que está no recanto de um largo com árvores, bem vindas pela sombra mas que também funcionam como cortina visual.

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Apesar das intervenções feitas pela mão humana, são bem visíveis os sete grandes esteios (agora unidos por alvenaria) do monumento megalítico original, mais ainda porque a capela está virada de costas para as vias de acesso principais. A anta terá sido erguida algures pelos milénios IV ou III a.C., e por desígnios misteriosos sobreviveu até ser cristianizada, provavelmente no século XVII. A sua transformação em capela dedicada ao culto de São Dinis não envolveu nem grandes complexidades, nem grandes quantidades de cimento: um alçado saliente, com a abertura para entrada, protegida por portas de madeira e portões de ferro, e uma cruz no topo; um pequeno campanário rectangular mais elevado, que abriga o sino; e três degraus para acesso ao interior, mais elevado do que o nível da rua.

Por dentro, a capela não poderia ser mais minimalista: paredes nuas e apenas um frontal de altar revestido de azulejos azuis e brancos, decorados com volutas e querubins e com uma representação fora do comum de São Dinis ao centro, em tamanho reduzido. Sobre o altar, um pano branco bordado e uma jarra de cerâmica com flores artificiais. O despojamento interior, que o contraste com os azulejos de influência barroca acentua sobremaneira, condiz bem com o aspecto geral desta capela, onde as características primitivas não foram abafadas pelas alterações posteriores e permanecem bem marcadas.

 

 

Capela de Nossa Senhora do Monte

(Santarém)

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Na cidade a que chamam “capital do gótico” não faltam monumentos religiosos, mas esta capela é uma curiosidade. Primeiro que tudo, porque é românico-gótica, com origens no século XII, mas também tem características renascentistas, fruto de uma remodelação no século XVI. Depois, porque se encontra em meio urbano, quase “abafada” pelas construções que a rodeiam e que, embora sejam baixas, roubaram a vocação que este lugar já teve de miradouro privilegiado sobre o vale que se estende para oeste da cidade. E finalmente, porque é desde há uns anos a sede da Paróquia Ortodoxa Romena de Santarém, cujo nome é “Ascensão do Senhor”, utilização que não é habitual nos edifícios de raiz católica apostólica romana.

A capela é toda de pedra nua, com excepção de um “acrescento” lateral em alvenaria. Rectangular e com vários volumes, a sua característica mais marcante é a galilé (alpendre com colunas) que ocupa a totalidade das fachadas oeste (a principal) e sul. Assentes sobre um murete baixo, as colunas elegantes terminam em capitéis decorados, cada um de sua maneira, com elementos vegetais, volutas e cabeças de onde saem asas, representando anjos. Na fachada nascente há um nicho muito elegante, que os peritos dizem ser quinhentista, tal como os alpendres, e de recorte mudéjar. Abriga uma escultura que representa a Virgem Maria, que terá sido bem colorida em tempos mas agora apenas tem uns restos de tinta azul no manto. Alguém terá achado por bem “embelezar” o nicho com algumas flores artificiais que já viram melhores dias, entre elas uma rosa, de tamanho desproporcionado e cor já muito desbotada, colocada sobre as mãos unidas da imagem.

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A história desta capela também não é desprovida de particularidades algo fora do comum. Pertencendo originalmente à Colegiada de Santa Maria de Alcáçova, em meados do século XIII passou para a posse da Casa de São Lázaro – hospital e leprosaria criados em Santarém por D. Afonso II, que contraiu lepra e escolheu isolar-se nesta cidade, onde veio a morrer em 1223. A partir do século XVII, o Hospital de São Lázaro passou a ser administrado pela Misericórdia, o mesmo sucedendo à capela. Datam deste século os lambris de azulejos que existem no interior.

 

Apesar de encafuada entre casas e carros, que lhe retiram uma parte do protagonismo no local, a Capela de Nossa Senhora do Monte mantém uma aura de encanto e um aspecto de dignidade, de que sobrevive ali por mérito próprio, há muitos séculos, e ali continuará por muitos mais, qualquer que seja o destino dos edifícios que a cercam.

 

 

Anta-capela de São Brissos/Capela de Nossa Senhora do Livramento

(Santiago do Escoural, Montemor-o-Novo)

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O nosso Alentejo é uma região riquíssima no que toca a vestígios pré-históricos, e é na estrada que liga Santiago do Escoural a Évora que encontramos mais um monumento megalítico adaptado a local de culto católico. Isolada, com um ar meio perdido junto à entrada para um couto de caça, passa facilmente despercebida a quem não vai propositadamente à sua procura. Tem entre cinco e seis mil anos e o seu nome religioso é Capela de Nossa Senhora do Livramento, atribuído após a sua transformação e cristianização no séc. XVII. Classificada como Monumento Nacional desde 1910, da anta primitiva restam alguns esteios, um dos quais está caído ao lado da capela, e parte da laje de cobertura, que foi integrada no tecto da ermida. Está pintada de branco, com uma faixa azul na base, à maneira das casas típicas alentejanas, e só é possível visitar o interior mediante marcação antecipada.

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Até recentemente foi lugar de romaria, especialmente por alturas da Páscoa. A Senhora do Livramento está tradicionalmente associada ao parto, mas a que está nesta capela tem desempenhado também uma outra função: a de invocar as chuvas em anos de seca prolongada, atribuição que lhe advém de uma daquelas lendas em que nós, portugueses, somos pródigos, e cuja origem mística se perde nos tempos. São Brissos é um santo português que terá sido o segundo bispo de Évora e supostamente martirizado pelos romanos no séc. IV d.C. Existem no Alentejo várias povoações com o seu nome, uma delas bem perto da anta-capela, e a imagem do santo ocupa lugar de destaque na igreja da localidade. Diz então a lenda que a Senhora do Livramento e São Brissos tiveram um filho, também representado na anta-capela ao colo da sua mãe. Ora sucede que o dito santo acabou por trair a mãe do seu filho com a Senhora das Neves (talvez em dia de muito calor, quem sabe, que esta Senhora devia ser fresquinha…) e o casal ficou de candeias às avessas para todo o sempre. Quando a seca já vai longa e a chuva começa a fazer falta, os habitantes da localidade transportam a Senhora do Livramento para a igreja de São Brissos, onde a colocam de costas voltadas para o seu antigo amor. No entanto, o filho permanece na anta-capela – e então a Senhora, com saudades da criança e obrigada a estar ao pé do homem que a traiu, chora rios de lágrimas, lágrimas essas que se transformam em chuva. Uma lenda ao gosto da nossa tão portuguesa costela trágica.

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 28.10.22

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A 28 de Outubro celebra-se O Dia Mundial da Terceira Idade

«Este dia visa chamar a atenção para a situação económica e social da população idosa. Os idosos são os que passam mais tempo sozinhos. Muitos vivem em carência económica, isolados dos seus familiares, ao abandono, em lares de terceira idade ou em casa.

E no entanto são responsáveis pela transmissão de valores e de conhecimentos aos mais novos, funcionando como um ponto de equilíbrio familiar, ajudando à criação dos mais novos.

Neste Dia Mundial da Terceira Idade, realizam-se encontros de idosos e crianças, e colóquios sobre problemas dos mais velhos, entre outras iniciativas.»

 

Sendo a idade um estado de espírito, o estado não sei bem, mas o espírito acolhe de bom agrado todas as idades que lhe quiserem atribuir, desde que, fresco e viçoso, consiga o superlativismo necessário ao estado do físico que o suporta. Ou seja, sair da casca é de uma importância vital, e vinde a nós todas as idades que as viveremos felizes.

 

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Hoje assinala-se O Dia Mundial do Judo

«Desde 2010, por iniciativa da Federação Internacional de Judo – que escolheu a data de nascimento do fundador do judo, Jigoro Kano – este dia é assinalado por milhões de judocas um pouco por todo o mundo. Coincidentemente, a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) celebra o seu aniversário.

Em Portugal, o desenvolvimento da modalidade começou nos anos 50 com a chegada do mestre japonês Kiyoshi Kobayashi. Em 28 de Outubro de 1959, nasceu a FPJ, sendo as funções federativas entregues, na fase inicial, ao Judo Clube de Portugal, sócio fundador da FPJ. Atualmente a FPJ integra 19 associações, contando com mais de 270 clubes a nível nacional.

Segundo os últimos dados disponíveis, há 14.056 judocas federados, número que tem vindo a aumentar de ano para ano, embora tenha sofrido uma diminuição em 2020, devido à pandemia.

A nível de resultados desportivos, os judocas portugueses têm-se evidenciado na conquista de várias medalhas nas maiores provas do mundo. Em 2021, por exemplo, Telma Monteiro sagrou-se campeã europeia em Lisboa e Jorge Fonseca juntou ao título de bicampeão mundial a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio.»

 

Não sendo praticante de desporto, entendo o lema "um mínimo de força para um máximo de eficiência". É um desporto saudável em que o objectivo não é o ataque, mas saber defender-se. 

 

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Nesta data comemora-se O Dia Internacional da Animação 

«A 28 de Outubro de 1892 registou-se a primeira exibição de imagens animadas do mundo: o pequeno filme Pauvre Pierrot, por Émile Reynaud, no seu teatro óptico no Museu Grévin, em Paris.

O Dia Internacional da Animação foi criado em 2002 pela Association Internationale du Film d'Animation e é celebrado em mais de 40 países, incluindo Portugal, em comemorações que se estendem por vários dias.

As celebrações incluem a exibição de filmes de animação, concursos de curta-metragens, workshops, demonstrações técnicas e exposições, entre outras iniciativas ligadas à animação. A Casa da Animação organiza tradicionalmente as celebrações em Portugal.

A animação é uma arte que cria a ilusão de movimento através de uma sequência de imagens. A animação original era feita à mão, mas hoje ocorre com frequência por intermédio do computador.»

 

Eu cresci com desenhos animados e livros de BD. Todos os heróis, anti-heróis, todos os filmes, todos os livros que iam estreando no cinema ou sendo publicados. Se me perguntarem se prefiro a BD a um bom romance, prefiro sim. Já em filme, se vi tudo o que havia para ver até aos 20 anos, passei a ter de escolher o que muito lamento. De qualquer modo, orgulho-me de ter incutido nos meus irmãos, nas minhas filhas, sobrinhos e netos o gosto pela magia que se vive nas páginas de um livro de BD ou, por exemplo, num episódio das Aventuras de Tintim.

(Imagens Google)

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 28.10.22

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Ana Vidal: «Atenção: mudem a hora hoje, nada de distracções a olhar para o relógio.»

 

Helena Sacadura Cabral: «Esta imagem traduz o meu Outono, um tempo que é só meu e me apazigua com o mundo que me cerca.»

 

Luís Menezes Leitão: «António José Seguro quer saber o que o Primeiro-Ministro entende por refundação do Memorando da Troika. Eu também. E acho que a troika idem. Aguardamos explicações do primeiro-ministro. Receio é que as mesmas só sejam compreensíveis quando se souber do resultado da avaliação de Novembro.»

 

Eu: «Os relógios digitais por toda a parte, em casa e fora dela: somos incapazes de escapar à ditadura do cronómetro.»

CDS

José Meireles Graça, 27.10.22

Na IL conto não poucos amigos por proximidade ideológica, e destes alguns também pessoais. A Carlos Guimarães Pinto junto admiração porque cansou-se de, anos a fio, tecer considerações em blogues e redes sociais, tendo dado o salto (aliás com brilhantismo) para a política partidária, passo certamente mais difícil do que prosseguir uma carreira profissional que a actividade política não é ou, quando seja e não havendo corrupção, inçada de inconvenientes.

Quem vai para a política partidária abdica de uma parte da sua liberdade: os partidos são máquinas de conquista e manutenção de poder e isso não é compatível com dizer-se o tempo todo o que realmente se pensa porque se podem afastar uns eleitores sem cativar outros, criar fracturas irremediáveis dentro do próprio partido, ferir estratégias de alianças, e ainda porque com frequência se mostra necessário ceder e recuar no acessório para preservar o essencial.

Se o partido for um de poder (e que lá esteja ou pareça vir a estar) tem lugares para distribuir e isso coloca uma surdina na dissenção. Se não for, ela vem de divergências doutrinárias, que umas vezes agravam e outras simplesmente recobrem ambições de protagonismo, mais virulento se houver disputa de lugares elegíveis, por exemplo de deputado. E como raras são as pessoas, e por maioria de razão os políticos, que sejam tão boas como se julgam, fica aberta a porta a umas guerrilhas invariavelmente ácidas, e invariavelmente enjoativas.

É isso que se está a passar na IL, com contornos que ignoro (por exemplo, que diabo leva o líder a afastar-se, conservando todavia o seu lugar no Parlamento, o que é que realmente separa os candidatos a substituí-lo, e por que razão CGP não é candidato), e é um filme já visto in illo tempore no CDS.

In illo tempore, digo: Entre liberais e conservadores, ultramontanos e wokes, europeístas fanáticos e nacionalistas passadistas, sem esquecer detentores da marca registada da verdadeira democracia cristã, nunca houve falta de motivos para manobras e facadas. Faz parte e é por vezes espectáculo divertido ver egos insuflados, Mirabeaux de aldeia, ideólogos de mesa-de-café, oportunistas sortidos e aparelhistas incidentalmente com notórias dificuldades no domínio da gramática e do senso.

Ninguém acha que com esta convulsão a IL tem alguma coisa a ganhar, mas ela tem o selo da inevitabilidade: os partidos na orla do poder são lugares intranquilos. E de dissensões ideológicas é bom nem falar, que liberalismos há alguns, completos com o breviário de receituários diferentes e todos servidos de gurus citáveis, sendo que ficam de fora questões que não são predominantemente de ordem económica, onde a margem para divergências é ainda maior.

A IL pescou, pela sua natureza, sobretudo no CDS e no PSD, além de na abstenção (por ser novidade); e o outro partido de direita, o Chega!, recrutou no mesmo campo, além de no dos indignados virtuosos e sumários – quando houver dissensões sérias serão furibundas, que por lá doutrina e consistência não há muita mas a agressividade sobra.

Em suma: seria possível imaginar um país, que não é o nosso, em que o espectro partidário fosse do Chega! até ao PSD, as várias declinações de marxismos clássicos (como o PCP) ou reciclados em bandeiras de causas progressistas (como o BE), ou ainda o mastodonte do conúbio com o capitalismo dirigido (como o PS e, em parte, o próprio PSD) reduzidos à condição de seitas. O que temos, porém, é um país solidamente ancorado à esquerda, o que aliás explica que, não obstante a chuva de milhões sem precedente histórico salvo talvez o ouro do Brasil, o país esteja teimosamente na cauda do desenvolvimento – de onde os novos partidos o querem tirar, em particular a IL, que tem para esse efeito um programa mais consistente, que todavia retoma escopos já defendidos há muito e que frequentemente imagina inovadores.

Julgaram que fazer melhor do que o velho CDS era não apenas possível mas relativamente fácil e um partido novo, por o ser, ficava ao abrigo das vicissitudes que, aqui e em toda a parte, regem as vidas dos partidos.

A experiência está a mostrar que não é assim. Donde, a alegada morte do CDS talvez tenha sido uma declaração precipitada. Felicito-me por não andar a correr atrás das gajas novas no povoado e me conservar fiel a amores velhos – a experiência sobreleva-se bem a alguns atavios.

Risco orçamental na TAP

Orçamento do Estado para 2023 (2)

Pedro Correia, 27.10.22

«Não se pode excluir um risco orçamental na TAP. A proposta de Orçamento do Estado confirma a concessão em 2022 de apoio financeiro através de uma injecção de capital de 990 milhões de euros na TAP S. A., com um impacto de 600 milhões em contas nacionais. Para 2023, o documento orçamental não prevê qualquer apoio financeiro a esta entidade, mas continua a não ser conhecido o Plano de Reestruturação Económica aprovado pela Comissão Europeia. O encarecimento do combustivel para aviões, os arrefecimentos de conjuntura e até as recessões em inúmeros mercados para onde a companhia voa não deixarão de prejudicar o seu desempenho económico e financeiro em 2023. Ignora-se se há contingências estabelecidas nesse plano que poderão vir a justificar mais dinheiro dos contribuintes para a companhia aérea. Por conseguinte, a TAP é um risco descendente para as previsões pontuais de saldo orçamental e dívida pública em 2023

 

Do relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República, sobre a proposta do OE

(sublinhados meus)

Poesia

Maria Dulce Fernandes, 27.10.22

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Nas palavras da ínclita Florbela Espanca, ser poeta é ser mais alto, é ser maior. Ler poesia é acariciar a alma, é ter a percepção duma realidade doce e sofrida, negra e tantas vezes trágica. É tomar como nossa a sensibilidade daquele que segura a pena e apoderarmo-nos dos seus sentimentos e, nem que seja por breves instantes, entrar-lhe na pele, sentir-lhe o amargo da boca ou a doçura dos lábios. É viver naquele momento a ilusão daquela vida.
Tendo as nove musas a mesma filiação, dissociar a poesia da música é como amputar um membro, até porque todo o ritmo da poesia é musical. A música tem o dom de elevar a vida. Tudo o que respira reage e se rege pelo som.
Quantas vezes por dia, sem um livro na mão, conseguimos declamar um poema maravilhoso dum poeta maior, apenas em cantando uma canção? 
Homens e mulheres mais altos, maiores, esses quase desconhecidos que escreveram e escrevem palavras mágicas, que soberbamente musicadas são hinos inesquecíveis, homens e mulheres que escrevem poesia admiravelmente e que raramente são cantados como poetas.
Há-os aos milhares, brilhantes, geniais, mas sempre, sempre num plano secundário, porque além da máquina social que nos vende a ideia do músico e da sua obra, a poderosa audição transmite-nos os acordes mais intensamente do que as palavras, muito embora sejam as palavras que movem o mundo.
 
(Imagens Google)

O Significado de "Cisgénero"

jpt, 27.10.22

Champions League: Tottenham/Sporting (1-1), resumo

 
 

Apesar de ter uma licenciatura em Antropologia Social (disciplina que, ao que me vêm dizendo, é especializada nestas matérias) tive de chegar aos 58 anos para perceber - ontem - o que é "cisgénero", termo que se vai disseminando e que, ao que vou lendo nos autores das wikipédias, significa ser portador da doença ("condição", diz-se) de se nascer homem - com pénis e respectivos adjacentes - e de se passar a vida a julgar-se homem.

Percebi-o durante o que foi gravado e está resumido neste filme. Lá para o fim do evento eu estava já longe da televisão que o transmitia em directo, escondido na cozinha - desarrumando pratos, deitando os restos dos acepipes no chão vizinho ao caixote do lixo, pondo copos lavados na máquina de lavar, resmungando o destino que é sempre o mesmo, feito de desilusões e amarguras, a vida que , diga-se o que se disser, não vale a pena ser vivida, toda esta filosofia condensada no mandamento "isto é sempre a mesma merda!" e seu consabido corolário "vamos levar um golo mesmo no fim!"... Quando da sala veio a exclamação, o evidente e tão previsto "golo do Tottenham!" (aos 3,10 minutos deste filme).

Para lá voei, plantando-me diante do ecrã, rugindo um infindável feixe de impropérios, peludos e espessos, prenhes de corrimentos e miasmas, que envergonhariam um coriáceo taxista, nisso sinalizando o meu desespero existencial.

Depois, algo depois, percebi então o que é aquilo do "cisgénero". É que um tipo, mesmo que durante estas epifânias abissais, só fala assim entre outros "cisgéneros" - naquele caso os da sub-espécie "benfiquista".