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Delito de Opinião

Caso do dia

José Meireles Graça, 30.06.22

Entre divertido e pasmado, o país assistiu hoje a uma novela reles: um secretário de Estado, a mando do ministro Santos, lavrou um despacho que põe fim à querela de 50 anos sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, optando por uma solução que o PM não subscreve, ou talvez venha a subscrever se o “líder” da Oposição e o PR com ela vierem a concordar; o PM desautorizou o ministro e, em vez de despedir o subordinado, veio dizer que mandou anular o despacho e que se dá por satisfeito com as explicações – aquilo foi um inconseguimento de comunicação; o ministro veio publicamente pedir desculpa e dar umas não-explicações abjectas; e o PR, ao fim do dia, balbuciou perante as câmaras da televisão umas vacuidades que adensaram a rodilhice.

Os comentadores, perplexos, tentaram com denodo ver algum sentido político nesta garotice: que Santos queria sacar um ás de trunfo para a sua mão de candidato a novo líder do PS, dentro ou fora do Governo, dando uma imagem de homem decidido; que Costa anda pelo estrangeiro a ver se encontra um lugar onde possa pôr a render os seus préstimos de troca-tintas (o que é pudicamente descrito, geralmente, como habilidade política) e que Santos ignorou, como era justo e previsível, a autoridade da lugar-tenente primo-ministerial, a discreta Mariana.

A hipótese de Costa, por ser o mais brilhante demagogo que o regime já produziu mas não albergar qualquer sentido de Estado discernível nem real capacidade de, no que toca ao aeroporto ou a qualquer outro assunto, fazer escolhas que se traduzam no bem comum, que confunde com a sua sobrevivência enquanto político de sucesso; de Santos ser apenas um irresponsável que, à boleia dos seus dotes de orador inspirado, e cavalgando a costela revolucionária e de esquerda que o PS cultiva numa das suas alas, fez carreira acumulando os disparates que diz, e as tolices que agora tem meios de fazer; e de Marcelo não fazer parte da solução para coisa alguma, nem aliás de nenhum problema por não ter estatura para pôr sombra no mundo – não lhes ocorreu.

E por isso um ou outro foi insinuando que em tudo isto talvez haja interesses obscuros, desde logo o comezinho de, face à escandaleira, se ter subitamente deixado de falar do SNS em pré-colapso, e do BCE que vai ser obrigado a apertar-nos o gasganete. Talvez. Uma obra pública que envolve milhares de milhões sem interesses obscuros seria um obsceno desprezo das nossas tradições, e realmente quando há escândalos que evidenciem os desastres da governação socialista costumam aparecer querelas de lana-caprina para a gente se distrair.

Resta que, não havendo mais do que a grande barulheira que se vai previsivelmente fazer nos próximos dias, o momento é tão bom como outro qualquer para um não-lisboeta, nem socialista, nem portador de qualquer outra deficiência, reflectir sobre o novo aeroporto, para dizer que:

É estranho que se dê como adquirida a necessidade deste colossal investimento, por duas razões: uma é que várias zonas de Lisboa já parecem um parque de atracções com o afluxo actual de turistas. Isto tem sido positivo para a cidade e, reflexamente, para o país. Mas conviria perguntarmo-nos se a demasia não matará a galinha dos ovos de ouro: quantos mais turistas é que a cidade pode comportar sem se descaracterizar completamente?

A outra é que os investimentos em Lisboa são normalmente apresentados como sendo de interesse do país, que por isso também os suporta como se deles beneficiasse tanto como dos directos na “província”. Mas das duas uma: ou a macrocefalia é indesejável e como tal não deve ser incentivada; ou Portugal é sobretudo Lisboa e conviria deixar de falar na interioridade, e no combate à desertificação, e na regionalização, e naquelas outras coisas que as pessoas profundas costumam referir desde que, há muito, passou de moda falar do pauperismo.

Depois, se mesmo assim se quiser entender que foi apenas por característica inoperância que em 50 anos não se decidiu nada, e não por falta de meios, o terrorismo dos técnicos, cujas opiniões não podem ser discutidas por quem não o é, deve ser contemplado com desprezo: se as opiniões meramente técnicas nos habilitassem a saber qual é a melhor solução, todos diriam a mesma coisa. Não se decidiu nada é como quem diz, que a aeroporto de Beja aí está para provar, se fosse preciso, que os elefantes brancos costumam ser bem vistos por prestigiados entendidos, que tendem a ver tudo menos o óbvio.

Mas não dizem todos o mesmo, sendo que concluem assim ou assado consoante as variáveis que contemplam nos seus modelos de raciocínio. E nada, absolutamente nada, autoriza a supor que simples leigos não podem incluir outras que infirmam as conclusões a que chegaram – não há, infelizmente, soluções óbvias nem nenhum estudo pode incluir todas as externalidades relevantes.

Se eu fosse lisboeta, e achasse desejável var a cidade como um zoo cheio de sol, formigueiro de turistas loiros e reformados com pouco dinheiro, todos à procura de um tipicismo aliás adulterado, achava bem o novo aeroporto. E olharia para Santos com simpatia: ora aqui está um socialista que dá murros na mesa e não perde tempo com frescuras.

Mas não sou lisboeta nem acho que o voluntarismo a consumir milhões por quem ignora os mecanismos da criação de riqueza (Pedro Nuno tem obra na TAP e na CP, ambas a demonstrar o ponto) seja bom conselheiro.

De modo que o passo em falso do ministro talvez possa ser o que de melhor já fez. Se, o que não é certo, se tiver suicidado politicamente.

A Guerra de Putin

Pedro Correia, 30.06.22

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Vladimir Putin e Serguei Lavrov, criminosos de guerra

 

Não lhe chamemos "guerra da Ucrânia".

Chamemos-lhe Guerra de Putin. Porque é isso mesmo que ela é. Como ainda agora se viu, no dantesco bombardeamento de um centro comercial na cidade de Kremenchuk, onde ocorreu o homicídio deliberado de pelo menos 20 civis já confirmados, havendo muitos outros ainda por identificar.

É uma guerra de extermínio, genocida, desencadeada a 24 de Fevereiro para riscar do mapa um Estado soberano com 44 milhões de habitantes. Uma guerra de pilhagem, de rapina, de usurpação, de deportações forçadas, de violações sistemáticas dos mais elementares direitos humanos.

Desencadeada por Vladimir Putin e o seu lugar-tenente Serguei Lavrov, criminosos de guerra que prestarão contas à justiça internacional.

As Bandeiras

jpt, 30.06.22

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A propósito do meu postal de ontem sobre os furiosos com a cantora brasileira - essa que agitou bandeira alheia em território pátrio - recebi alguns resmungos, no FB, nos blogs e até em privado. O implícito nestes é que eu vou desatento ao simbolismo da(s) bandeira(s), aos valores que esta(s) encarna(m) - enfim, isto para além de outra coisa que eu desconhecia e que só percebi após ter escrito o postal, a mulher é avessa ao presidente Bolsonaro e para os fascistas (não há outro termo) portugueses isso desmerece-a. Enfim, seja lá como for, isto lembrou-me alguns episódios meus com bandeiras, minudências que servirão para ilustrar como com elas me relaciono. E partilho-os com quem tiver paciência para me aturar.

Há uns anos passeava eu na bela Évora. Ia (muito) enlevado mas ainda assim notei que passava por um edifício militar. E à janela do primeiro andar do quase paço assomou um tropa - entenda-se, alguém pouco graduado. Logo eu, em tom simpático e colaborante, cá de baixo o avisei "ó amigo, desculpe lá, já reparou que a bandeira está toda esgarçada?". Ele sorriu, como se aflito, deu-me uma onomatopeia, grunhiu um obrigado, a senhora que me enlevava olhou-me num franzir do seu belo cenho como quem lamenta "saiu-me um patriota em sortes..." e assim segui todo ufano. Uns tempos depois estava eu na Brasília da Europa e tive de tratar de um assunto na embaixada. Enquanto esperava fui à porta esfumaçar e nisso olhei para cima, em desfastio. E ali estava uma enorme bandeira, já com sinais de alguma veterania. Depois, ao ser recebido pelo (gentil e eficiente) funcionário, avancei da pertinência em mudarem a bandeira, simpática contribuição cidadã acolhida com alguma atrapalhação, naquele "vou transmitir" de alguém já exausto por ter de aturar tantas reclamações destes chatos, nós-todos.

Mas isso são pequenos detalhes. Pois do que mais me lembro é da minha irritação ao vir a Portugal após o Euro-04. O Sargentão Scolari havia transformado o país numa "moldura humana", os campinos haviam escoltado a cavalo a selecção "de todos nós" e toda a gente afixara a bandeira em tudo o que era sítio. Passados meses ainda a carregavam, feita colecção de trapos imundos, devastados pela mansidão dos elementos, nas marquises, nas (agora inexistentes) antenas de autocarros e táxis, nos balcões das tabernas, nas janelas dos carros, sei lá onde mais. E, para cúmulo da imbecilidade patrioteira, uns anos depois, e a propósito de uma outra competição internacional da bola, o jornal "Expresso" distribuiu uma bandeira nacional com o nome de um banco (e que banco!!!) impresso. Ou seja, a rapaziada - entenda-se, os doutores do Facebook - não toma conta da bandeira, a nacional. Não aprendeu a manuseá-la, não a cuida, trata-a como toalha de bidé ou poster de rock. E depois, muito de vez em quando, abespinha-se...

E não é só com os tratos de polé que a nossa sofre, mas também nas formas como outras nos são impingidas. Há uns anos fui jantar a um restaurante italiano, ali às Janelas Verdes, uma casa térrea. Francamente nunca percebi qual a razão do sucesso da comida italiana num país com a nossa gastronomia. Mas, enfim, ia em grupo e outrem tinha proposto o destino. À chegada, esperando à porta pelos convivas, notei que ali estava a bandeira italiana hasteada, num mastro colocado no telhado...! Ainda resmunguei, num "vamos comer noutro sítio" proposta cuja recusa foi acompanhada por muda convicção de estar eu maluco. Pois para todos é normal que uns sacaninhas hasteiem a bandeira pátria na baiúca onde servem pizza e massa em pleno centro de Lisboa. E não só os clientes acorrem a tal despautério como ninguém os repreende, multa ou - como deveria ser - lapida. Mas, claro, depois de arrotarem o pimentão e os maus enchidos abespinham-se com uma outra qualquer bandeira alheia, se agitada por mão-própria.

Finalmente, e para terminar este excurso sobre a minha afectividade pelas bandeiras: há umas décadas estava eu em Cabo Delgado. Fui passar um fim-de-semana a Pemba. Já na alvorada de sábado, num pequeno bar da Feira, um compatriota, em casa de quem eu estava aboletado, zangou-se comigo por razões que ele terá imaginado passionais mas que apenas provinham da sua intoxicação etílica. E decidiu bater-me, o sacana. "À traição", como se dizia na minha juventude: meteu-me os dedos nos olhos, atordoado fiquei, deu-me dois ou três socos de rajada, tudo isso antes de eu ter capacidade de lhe dizer "tem lá juízo!". Face a esta convocatória ficou ele num entroncamento. E nesse mudou de rumo, passando a partir a mobília do bar, mesas e cadeiras de madeira, diante da total estupefacção de donos, empregados e clientes. Após alguns estragos cometidos - que lhe custaram uns centos de dólares pagos umas horas depois, justiça lhe seja feita -, avançou para a decoração, que consistia numa colecção de bandeiras nacionais, tão típica em lugares de convívio de expatriados, como ali era (também) o caso. Mas então, ao perceber-lhe o intuito, gritei-lhe "ó pá, as bandeiras não!!... as bandeiras não!!!". Então ele, o compatriota, estancou. Olhou para mim. E chorou. Pois tudo, muito mais do que aquilo, não lhe estava a correr bem, como era óbvio. De seguida alguém o levou a casa. E eu fui dormir para o hotel, raisparta, que não sendo caro era bem puxado para a minha parca bolsa. Passadas algumas, poucas, horas lá fui comer o matabicho ao Viking, com menos mesas e cadeiras. Mas com as bandeiras nas paredes.

(Companheiro, se algum dia leres isto, repara que vai o texto acompanhado de um enorme abraço saudoso).

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 30.06.22

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No dia 30 de Junho comemora-se O Dia Mundial das Redes Sociais

"A cada dia que passa, as redes sociais ganham mais importância. Apesar de algumas pioneiras, como o Myspace, já não serem relevantes, outras tornaram-se obsessões, como o Facebook e o Twitter. As próprias empresas reconheceram a importância das redes sociais, recorrendo ao LinkedIn para contratar trabalhadores. Snapshat, Vine e Instagram são outros exemplos de plataformas sociais populares."

O mundo tornou-se um lugar minúsculo devido às redes sociais. Toda a gente conhece toda a gente, toda a gente "amiga" muita gente, muita gente encontra a sua metade de gente, muita gente engana toda a gente, toda a gente se sente gente. Desde a mínima arraia miúda até às mais altas esferas nos desígnios mundiais, todos quase sem excepção utilizam as redes sociais para comunicar. Num minuto, ficamos a saber que o governador da Flórida, por exemplo, comeu panquecas com framboesas ao pequeno-almoço, ou que a maior estrela de Bollywood abandonou o set de uma produção milionária. Adquirimos valioso conhecimento e toneladas de lixo que poderá entupir o hipocampo se não soubermos separar o trigo do joio.

Com a evolução da tecnologia, quem sabe se qualquer dia nos poderemos visitar holograficamente, em casa uns dos outros, através das redes sociais?

 

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Este 30 de Junho é O Dia Internacional do Asteróide

"Celebra-se anualmente nesta data por iniciativa da ONU, reconhecendo o progresso significativo que se tem verificado no conhecimento científico e tecnológico aplicado ao estudo do universo e apelando à cooperação entre estados na partilha de informação e descobertas sobre objectos provenientes do espaço."

Eles andam aí, os biliões de corpos celestes que atravessam o espaço a velocidades inimagináveis, apesar de, quando vistos através de telescópios, nos pareçam parados, pontos luminosos, estrelinhas no céu. Os NEA gravitam à volta do sol e muitos deles, como o Ceres, são considerados planetas anões, com diâmetros superiores a 900km. A sua trajectória é seguida e vigiada constantemente, porque existe o risco de se tornarem ameaças.

Há cerca de dez anos foi o que aconteceu com o então recém-descoberto cometa Elenin. Não foi o fim da existência,  mas foi o fim da macacada.

 

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Hoje assinala-se O Dia Internacional do Parlamentarismo.

"Esta efeméride corresponde à data da criação da União Interparlamentar (UI), em 1889. A UI é uma organização que abarca a totalidade dos parlamentos, pedras angulares da democracia.

Foi proclamada pela ONU em 2018."

As casas da democracia, em todos os países livres, comemoram a continuidade da sua soberania. Mal ou bem, o que cada país democrático hoje usufrui, foi obtido por sufrágio directo e universal. É assim em democracia. Queixamo-nos de tudo e de todos, quando só temos de nos recriminar a nós próprios.

 

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No dia 30 de Junho evoca-se O Aniversário do Primeiro Livro Impresso em Portugal 

"Em 1487, em Faro, o judeu Samuel Gacon termina o primeiro livro impresso em Portugal com os caracteres inventados por Gutenberg: o Pentateuco. O único exemplar da primeira edição deste livro, em hebraico, encontra-se em Inglaterra, depois de ter sido roubado por Francis Drake, quando atacou e saqueou a capital do Algarve em 1587."

Tudo o que lemos, manuseamos, folheamos, aspiramos o aroma e nos deleitamos com o conteúdo,  começou aqui. Ultimamente, e por razões de logística, tenho mais e-books do que livros em papel. A leitura é igual, mas o toque é inatingível. Não é a mesma coisa. Nada mesmo.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 30.06.22

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Ana Lima: «O que não deixa de me espantar é a existência de tanto dinheiro nesta situação. Se 150,1 milhões de euros são 7,5% há, por esse mundo fora, muito dinheiro que, se tributado cá, seria certamente uma grande ajuda. E estes milhões dizem apenas respeito aos pagamentos de quem quis regularizar a situação. Imaginemos os outros...»

 

Bandeira: «Uma cidade é sempre duas: a que se vê à luz do dia e a que se adivinha de noite. Banalidade, eu sei, sempre foi assim e tal. Mas a luz do néon, mesmo se sem o fulgor e o fascínio de outrora, quase sempre surpreende no caminho escuro. Olhando-a por algum tempo sobrevém-nos a melancolia. E tem-se um vislumbre do encanto sórdido que atrai o insecto para a sua própria morte.»

 

Helena Sacadura Cabral: «Sexo e política é uma mistura explosiva...»

 

João Carvalho«As muralhas de Elvas passaram a ser hoje património mundial classificado pela UNESCO na categoria de bens culturais. Uma classificação justíssima para um extenso conjunto de património histórico construído que inclui todas as fortificações da cidade, um forte do século XVII e outro do século XVIII, três fortins do século XIX, três muralhas medievais, uma muralha do século XVII e o aqueduto.»

 

Eu: «"Outros países têm igrejas, palácios, museus ou mesmo cataratas do Niágara e Vesúvios para mostrar. A China tem, em vez de tudo isso, um muro”, lamentava Alberto Moravia. De certa forma, só os portugueses conseguiram suplantar o muro: fomos o único povo ocidental que se uniu à etnia chinesa para formar uma comunidade mestiça. Os macaenses comprovam tal facto.»

A interrupção voluntária da gravidez

jpt, 29.06.22

Julho assoma, chegarão de férias os nossos emigrantes, sempre breves períodos em busca dos mimos familiares, do calor dos amigos, dos odores e sabores, do à-vontade talvez mais do que tudo, daquilo que nos fez e faz algo diferentes quando cá.
 
Entretanto, se alguns deles gastarem algum desse precioso tempo com jornais, tv ou redes sociais, terão a impressão de que regressou o debate sobre a lei do aborto. Então aqui fica aqui o aviso, solidário pois de ex-imigrante: nada disso, não justifica dissipar férias com tal assunto. Todo este ruído que para aqui anda é mesmo apenas porque os doutores portugueses são umas pobres bestas.

Esta noite sonhei com fósforos

Maria Dulce Fernandes, 29.06.22

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Liguei o modo mecânico .
Deito-me tarde, durmo mal, acordo cedo depois de duas ou três horas transbordantes de sonhos em demasia, sempre muita gente, muita confusão, sempre casas, muito mar e fósforos.
 
O modo mecânico não é novidade. É uma habilidade que uso para passar o meu tempo de morcego sem danos pessoais ou colaterais. Só ligo ao que é importante, o resto fica em arquivo de memória para analisar quando estou sozinha e posso verificar objectivamente e atribuir a relevância que merece.
 
Os fósforos são aquisição onírica recente. Não sou nada destas coisas de signos (apesar de ser Leão e de gostar dos predicados que atribuem aos leoninos) nem sequer de interpretações de sonhos. Atribuí o aparecimento dos fósforos nas minhas fases de REM aos fogos que sempre lavram tristemente ano após ano, um pouco por todo o país, cuja intensidade só é equiparada à da inundação massiva de notícias sobre as frentes activas, playground de qualquer pirómano lascivo, e o que os infelizes populares e bombeiros passam para os controlar até à extinção total  e  sem os apoios milionários que, como quase tudo em que se investe para o bem do País e das populações, funcionam pouco, funcionam mal ou não funcionam de todo. 
 
Mesmo assim, não resisti à curiosidade mística de procurar saber o que significa sonhar com fósforos. Tudo bom. Amigos, vitórias, sei lá. Prender-se-á com a conquista do fogo? É possível.
Tudo fantástico até o  fósforo nos queimar (no sonho, pois claro); aí são só desgraças, aflições e angústias.
 
Terá a ver com o louco que anda a brincar com o fogo?   É muito possível até.
É coisa que me traz frequentemente em sobressalto. Não quero acreditar que pessoas esclarecidas não saibam que o Game of Thrones é apenas ficção e que não se lançam dragões, muito menos dragões nucleares, contra pessoas, só porque sim, porque quem quer, pode e manda.
Isto é coisa de meninos mimados com birrinhas, o problema é não saber se tem a caixa maior,  com mais fósforos  e se a acende primeiro.

Impressões alemãs (31)

Cristina Torrão, 29.06.22

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Há coisas interessantes. Sei, por exemplo, que ouvi falar, pela primeira vez, na cidade alemã de Magdeburgo, a 24 de Abril de 1974. Além de ter sido a véspera da Revolução, foi o dia em que o Sporting perdeu, por um triz, a meia-final da Taça das Taças, na antiga RDA, causando grande consternação em minha casa. O jogo foi precisamente contra o Magdeburg FC, clube que desapareceu da alta competição futebolística, jogando actualmente na 3ª divisão alemã. Aliás, todos os clubes da RDA desapareceram da 1ª Bundesliga. O RB Leipzig está lá, mas foi refundado em 2009 pela Red Bull.

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Em 1974, eu tinha quase nove anos, vivia em Vila Nova de Gaia e nem me passava pela cabeça que viesse a residir na Alemanha. E, quase quarenta anos depois dessa noite fatídica, estava de visita à já ocidentalizada Magdeburgo, nas margens do rio Elba, o mesmo rio que passa por Hamburgo e vai desaguar em Cuxhaven, no Mar do Norte.

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A cidade foi completamente destruída na 2.ª Guerra Mundial. Durante os tempos da RDA, a sua reconstrução baseou-se na arquitectura estalinista. Depois da reunificação, alguns desses prédios foram substituídos, outros foram renovados e ainda outros tornaram-se eles próprios objectos de interesse histórico.

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Como muitas cidades do Leste da Alemanha, Magdeburgo sofre de desertificação, apesar dos esforços da autarquia em atrair gente, nomeadamente, jovens, com a sua Universidade Técnica. Para demonstrar a baixa densidade populacional, vou compará-la com o Porto, pois ambas têm sensivelmente o mesmo número de habitantes: 236.000 para a cidade alemã, 232.000 para a portuguesa. Acontece que Magdeburgo possui uma área de 201 km2, cerca de cinco vezes maior que a do Porto, com os seus 41,42 km2.

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Esta abundância de espaço tem as suas vantagens, pois encontramos passeios largos, excelentes ciclovias e o metro de superfície muito bem integrado na paisagem, além de uma ponte sobre o Elba exclusivamente para ciclistas e peões.

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É uma pena que o Leste não consiga segurar gente, pois Magdeburgo é uma cidade muito agradável: verde, limpa e bem planeada.

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 29.06.22

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No dia 29 de Junho celebra-se O Dia de S. Pedro/O Dia do Papa

"Tal como São João e Santo António, São Pedro é um santo popular muito estimado. É o último santo popular do ano, de acordo com as datas.

Este dia é também conhecido como o dia de São Pedro e São Paulo. Julga-se que 29 de Junho é a data do aniversário da morte destes santos. Neste dia assinala-se também o Dia do Papa, visto São Pedro ter sido o primeiro Papa. Para diferenciar São Pedro de santos homónimos, costuma-se designá-lo como São Pedro Apóstolo. Nasceu em Betsaida, na Galileia, e era pescador. Conheceu Jesus em Betânia, através do seu irmão André. Chamava-se Simão, mas Jesus chamou-lhe Cefas (Rocha, do grego petros), cuja tradução é Pedro, e o instituiu como líder da Igreja: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.” (Mt, 16:18)

O Papa tem o poder de disseminar entre todos os membros do clero e pelos milhões de católicos a palavra de Deus. Acredita-se que a palavra Papa provém do latim Papa e do grego Pappas, termo carinhoso para pai. O 266.º Papa é Francisco, com nome de baptismo Jorge Mario Bergoglio, natural de Buenos Aires. Sucedeu em 2013 a Bento XVI, que abdicou ao papado."

Admiro o Papa Francisco tanto ou mais do que admirava o Para João Paulo II, cuja canonização creio ser um profundo disparate. Era um homem do seu tempo, fez o que pôde para reerguer a igreja católica. Fez bastante, mas não removeu as raízes podres. Essa tarefa tem sido conseguida devagar e com bom senso pelo Papa Francisco, tomando publicamente posições perigosas para a hierarquia do Vaticano. Dois grandes homens. Nenhum deles fez milagres. Nenhum deles é santo.

 

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A 29 Junho assinala-se O Dia Internacional dos Trópicos

"Esta data procura realçar a importância que os trópicos representam para os ecossistemas e para vida humana.

Localizada entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, ocupa 40% da superfície total da Terra e é responsável por 80% da biodiversidade no mundo. No entanto, é confrontada por alterações climáticas diversas: desflorestação, exploração madeireira, urbanização e pressão demográfica.

O Dia Internacional dos Trópicos foi proclamado pela ONU em 2016."

Não gostava de morar num país tropical. Ponto.

Passar uns dias, visitar família, ver a beleza natural, conhecer a história, apreciar a comida, não beber água sem ser engarrafada. O calor destrói qualquer perspectiva de fantasia paradisíaca. A água, estar dentro de água, sempre, torna-se o único objectivo depois de meia dúzia de dias a derreter. Destinos de férias para fazer apenas praia não me seduzem.

 

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Hoje é O Dia Internacional da Lama

"O objectivo deste dia é ligar as crianças de todo o mundo pela terra, através de brincadeiras na lama. É um dia de celebração na natureza, de libertar as crianças existentes em todos os homens e mulheres e de sujar as mãos e os pés, juntamente com outras pessoas.

Ao contrário do que se pensa, em vez de viver num ambiente estável (o que torna o corpo vulnerável), entrar em contacto com a lama e com algumas bactérias traz vantagens, já que ajuda a desenvolver o sistema imunológico.

A origem do Dia Internacional da Lama remonta a 2009, num evento do World Forum, em que surgiu a ideia de unir as crianças do mundo através da própria terra. Desde então todos os anos se celebra a data a 29 de Junho, com participantes de todas as idades, raças e religiões, provando que somos iguais (sobretudo quando cobertos com lama)."

Unir as crianças de todo o mundo através da terra parece-me uma ideia de valor. Poderíamos ensiná-las a plantar  a cuidar e a colher, por exemplo. Nem toda a gente tem hortas, claro, mas todos a gente pode arranjar um vaso e plantar morangos, tomates, feijões, etc., algo que entusiasme as crianças em seguir o seu crescimento. Lama. É engraçado fazer uma batalha de lama, mas apenas as empresas de detergentes agradecem a sujidade.

 

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No dia 29 de Junho assinala-se O Dia Internacional da Esclerodermia

"A doença ainda não tem cura, é de difícil diagnóstico – e muitas vezes silenciosa. A esclerodermia é doença autoimune multissistémica (ataca diversos órgãos ao mesmo tempo) que ao evoluir provoca inflamações crónicas, acometimento da pele, órgãos internos, enrijecimento das articulações e atinge quatro vezes mais mulheres na fase adulta do que os homens – embora possa manifestar-se em crianças.

Caracterizada pela produção excessiva de colágeno nos tecidos do corpo, esta doença é autoimune – o organismo ataca-se a si mesmo. São diversos os tipos e sintomas, o que dificulta a identificação numa fase inicial. Além de exames laboratoriais, a avaliação clínica especializada é de extrema importância para um diagnóstico assertivo e tratamento imediato."

As doenças autoimunes raramente são curáveis. Muitas podem não ser mortais a curto prazo, mas são dolorosas e extremamente incapacitantes.

Talvez eu seja pós-moderno

Paulo Sousa, 29.06.22

Foi assunto há uns dias as declarações do Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, quando alertou para o atentado à dignidade humana que decorreu durante um espectáculo tauromáquico com anões na Benedita.

Pelas suas declarações iniciais parecia estarmos de volta aos tempos dos circos romanos, onde humanos de vários tamanhos, cores da pele e origens, mais ou menos remotas, eram largados na arena para serem agredidos e onde tinham de lutar pela vida. Mas afinal não era nada disso. Os anões não estavam ali para ser toureados, mas sim para tourear e isso constitui uma enorme diferença. Uma diferença maior do que os próprios.

O facto de os anões estarem ali por vontade e risco próprio, no decurso do que será a sua profissão, para a qual treinam e pela qual são remunerados, não tem qualquer importância para o Ministro. Do alto da sua apenas formal pasta da Cultura, ele entende que os anões, coitadinhos, devem ser protegidos. Contratá-los para telefonistas será louvável, até deve haver algum benefício fiscal para o empregador. Se eles se queixarem com alguma maleita maior, arranja-se certamente maneira da Segurança Social lhes atribuir uma tença qualquer. Este segundo cenário é o mais agradável porque será sempre mais um eleitor dependente da guita, neste país que os socialistas querem transformar numa cascata de São João, onde tudo e todos tem um lugar e um movimento escolhido e definido pelo curador da coisa, que é o PS, o master of puppets. Porque isto da guita para eles tem tudo a ver com fantoches.

Mas podemos observar o evento noutras perspectivas. Ora, os anões eram espanhóis e por isso a notícia que motivou as declarações do Ministro podia ter tido outro cabeçalho. “Toureiros espanhóis são aplaudidos na Benedita”. Como a lide espanhola termina com a morte do bicho na arena, o alerta expectável poderia vir da parte do PAN. O que não seria, senhores? Espanhóis a tourear em terras lusas. Se fosse em Barrancos, naquelas terras da raia da nacionalidade, ainda vá, agora na Benedita, junto ao IC2, ao pé do Bigodes e do Coxo, esses altares da bifana tuga, e perto também do local de trabalho de umas moças que vêm cedo de Lisboa e ali ficam sentadas num sofá, isso é que nem pensar! Para os animalistas do PAN a festa só é rija quando o toureiro falece. Nem que seja anão.

Mas se uma parte, ou mesmo todos os anões espanhóis, que entretiveram o público beneditense, pertencessem à mui diversa comunidade LGBTQQICAPF2K+ (um obrigado à nossa colega Maria Dulce Fernandes pela actualização), o título da notícia já poderia ser qualquer coisa como, “Populares aplaudiam enquanto gays/etc..+ eram perseguidos por touros”. Era todo um mundo que se abria.

Perante a mesma realidade e os mesmos animais que estiveram dentro da arena, podemos encontrar inúmeras classificações e padrões para descrever o que ali aconteceu. A imaginação é o limite.

O que sobressai na minha falível análise, é que quem for dono do rótulo dos outros, acaba por ser o dono da sua probidade, ou da falta dela.

Vemos isso também nos relatos e nas imagens da fricção que ocorreu no decurso do evento Pride no Porto. A causa LGBTQQICAPF2K+ é um quintal da esquerda e apesar das infrutíferas tentativas da Iniciativa Liberal em se desligar da dicotomia esquerda-direita, o facto de se afirmar como adversária do socialismo é suficiente para que quem empunhasse a bandeira dos liberais não tenha sido bem recebido. Os donos do quintal é que sabem quem pode ou não exercer o direito de se manifestar a favor da causa, e os donos do quintal entendem que o facto destes sonsos e oportunistas se identificarem com uma visão liberal da economia, inquina a respectiva orientação sexual. Acabam assim por exibir, involuntária mas honestamente, a sua visão do mundo, a hierarquia em que colocam estas duas vertentes das inúmeras que podem definir um individuo.

Da mesma forma que um anão pode ser alguém que, mesmo contra a sua vontade, tem de ser protegido, coitadinho, pode imediatamente passar a ser perseguido se se atrever a picar uma vaca ou se lembrar aos recentes o que é que Marx, Estaline, Zedong, Fidel Castro, Allende, Che Guevara e Cunhal diziam sobre os homossexuais.

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Além de tudo isto, também não me agradam os tratamentos diferenciados nem me agradam as quotas. Deve ser tão natural que uma mulher, um gay, um marreco ou um anão, chegue ao topo da responsabilidade à frente de um país, de uma empresa ou de uma qualquer organização, que isso não deveria merecer mais do que a indiferença dos demais. Fazer um grande chinfrim sempre que alguma dessas coisas ocorre é muito moderno, mas os modernos não imaginam como isso é demodé para os pós-modernos.

Atenta a direitos, liberdades e garantias

Maria Lúcia Amaral

Pedro Correia, 29.06.22

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O Provedor de Justiça foi inovação introduzida na Constituição de 1976. Mas a eficácia desta instituição unipessoal depende muito das características de quem ocupa o cargo. Neste quase meio século, houve figuras que por ali passaram sem deixar rasto. Não é o caso de Maria Lúcia da Conceição Abrantes Amaral, 65 anos, provedora desde Novembro de 2017.

Primeira mulher neste cargo, tem-se pronunciado várias vezes sobre diversos assuntos, sem recear controvérsia ou incompreensão do poder político. É a única forma de desempenhar com zelo e manifesta utilidade o papel atribuído a quem ocupa o 12.º lugar na lista de precedências das altas entidades públicas, tal como determina o protocolo do Estado.

 

Professora catedrática de Direito Constitucional da Universidade Nova de Lisboa e anterior juíza do Tribunal Constitucional (2007-2016), de que chegou a ser vice-presidente, Maria Lúcia Amaral esteve em foco nos últimos dias ao criticar o famigerado artigo 6.º da pomposa Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital. Se este artigo fosse aplicado, corríamos o sério risco de ver reintroduzida a censura oficial neste país que a suportou durante décadas. Desta vez de forma sonsa, mediante «selos de qualidade» atribuídos por «entidades fidedignas dotadas do estatuto de utilidade pública» a pretexto do combate à desinformação.

Num pedido de apreciação da constitucionalidade desta lei – proposta pelo PS, secundada pelo PSD e votada em 2021 por unanimidade na Assembleia da República, indiferente às vozes críticas que já soavam – Lúcia Amaral alerta para a aparente «violação dos princípios da reserva de lei e da proporcionalidade na restrição da liberdade de expressão e informação». Lembrando esta evidência que passou despercebida a deputados habituados a votar sem ler o que aprovam: «A principal obrigação dos intervenientes estatais é abster-se de interferir e censurar, e garantir um ambiente favorável a um debate público inclusivo e pluralista.»

Apesar de o Tribunal Constitucional ainda não se ter pronunciado, há já sinais de que o PS está enfim disposto a rever o diploma.

 

A provedora agiu aqui em consonância com o Presidente da República, que já havia solicitado um parecer do TC sobre o tema. É sinal acrescido de que os direitos, liberdades e garantias estão salvaguardados por quem tem a missão institucional de zelar por eles. Na linha de outros recentes alertas de Lúcia Amaral – sobre a desprotecção social de trabalhadores independentes, a falta de apoio do Estado a pessoas forçadas ao isolamento profiláctico durante a pandemia ou a forma como são recolhidos e conservados os metadados pelas operadoras de telecomunicações.

Não por acaso, o número de participações de cidadãos à actual Provedora de Justiça tem sido o mais elevado desde a entrada em funcionamento deste órgão independente, eleito pela Assembleia da República mas por definição imune a pressões políticas. Indiciando que o sistema de freios e contrapesos – pedra angular de qualquer democracia liberal – é mais do que mera metáfora entre nós.

 

Texto publicado no semanário Novo.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 29.06.22

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Ana Lima: «Enquanto Van Rompuy se exprime verbalmente, o presidente da Comissão Europeia acompanha-o, utilizando este outro sistema de comunicação; ou, por analogia com a publicidade a uma marca de iogurtes destinados ao público infantil, e num assomo de optimismo, embora desmentido pela sua expressão, mostra que "falta um bocadinho assim" para que se chegue a um acordo exequível.»

 

Ana Cláudia Vicente: «O jovem Mats aparenta estar um bocado em baixo (e com frio?), o que se compreende: quando a nossa selecção tem uma grande final à vista e lá não consegue chegar, a coisa maneiras-que-mói.»

 

Leonor Barros: «De acordo com o novo calendário escolar ou proposta dele, as crianças do 4º ano poderão vir a ter aulas até 5 de Julho. Esta extensão de calendário será apenas para as crianças com dificuldades, pobres delas, duas vezes castigadas, uma porque têm dificuldades, seja lá o que isso for num quarto ano de escolaridade, mas depois de ter ouvido que uma criança ia mal preparada do infantário para o primeiro ano do Básico vale tudo, a segunda porque não terão descanso nem tempo para ser o que são: crianças. Algo me diz que é escola a mais e infância a menos

 

Luís Menezes Leitão: «Marcelo Rebelo de Sousa tirou completamente o tapete a Passos Coelho, assumindo-se mesmo como uma alternativa do PSD para Primeiro-Ministro. Quando se pensa que no ano passado foi Marcelo quem anunciou o corte dos subsidios, percebe-se que o Comentador-Candidato a Presidente, e agora, se calhar, igualmente a Primeiro-Ministro, decidiu descolar de vez do actual Governo. Passos Coelho que se cuide.»

 

Eu: «O que dantes era emendado como erro básico de ortografia, próprio de gente burra, agora é mantido solenemente em artigos de jornal por vir com a chancela quase oficial da agência Lusa, primeiro órgão de informação a substituir o português pelo acordês. Os resultados estão à vista: a palavra contacto, que nem o "pacto de submissão" aos interesses das editoras brasileiras previa, é amputada duas vezes no mesmo texto de origem (e felizmente emendada no título do jornal). Na dúvida, opta-se pela burrice à boleia do tal acordo destinado a suprimir consoantes. Começa-se pelas chamadas "consoantes mudas" e logo se transita para a caça às sonoras, que assim deixam de o ser. Até cada um passar a escrever como lhe der na real gana. Sem norma, com imensas "facultatividades", sem a noção básica da etimologia. Como António Guerreiro sublinha aqui, a propósito de panóptico, palavra que «nunca teve outra pronúncia que não fosse a da 'norma culta'» e que apesar disso passou alarvemente a escrever-se panótico por imposição dos "corretores ortográficos" em acordês.»

As consultas

José Meireles Graça, 28.06.22

Ao médico disse que determinado exame não havia feito – contei a história há tempos – porque na clínica não havia quarto-de-banho com bidé ou chuveiro.

Não há, realmente, disse o facultativo. Não sei bem porquê, acrescentou.

Não sabe?, disse eu. Mas a razão é simples, decorre do facto de certas formações, nomeadamente em Medicina e Economia, serem tributárias dos ensinamentos e dos progressos nos EUA e, um pouco, no Reino Unido. Ou seja, num país feito com o lúmpen social de outros, e cujos habitantes, portanto, não têm maneiras à mesa nem hábitos de higiene; e noutro, o dos Filhos da Ilha, que vivem enregelados e perpetuamente com chuva e brumas, donde muito pouco inclinados a tomar banho. A França poderia compensar se tivesse a influência que perdeu há muito e não se desse o caso de, no tempo em que se julgava que os banhos prejudicavam a saúde, ter inventado os perfumes. Estes vieram a revelar-se um excelente artigo de exportação, juntamente com as revoluções, de modo que os locais ganharam um horror definitivo à limpeza – as vedetas do cinema francesas só vieram a atingir o estrelato porque a tela não veicula odores.

A Alemanha não tem, graças a Deus, qualquer influência na Medicina e pouca na Economia, nem é absolutamente seguro que exista localmente a primeira destas ciências com um mínimo de créditos. Quanto à segunda, resolveu o problema do desemprego com o regime nazi, que ninguém quer copiar, e foi berço do economista Marx, cujas doutrinas, infelizmente, muita gente copia. De modo que na realidade a circunstância de o país se exprimir numa língua incompreensível se traduz numa bênção.

Portugal poderia salvar-se neste naufrágio mas tem respeito a menos por si mesmo, e a mais pelo estrangeiro.

O médico sugeriu um expediente que resolveria o meu problema, e separamo-nos nos melhores termos. Por mero proforma, inquiri na recepção o preço da consulta, confiante em que os honorários devidos seriam compensados pelos da que havia ministrado. Mas não: 75 Euros.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 28.06.22

«Faz todo o sentido que a NATO e as democracias ocidentais se preparem para o pior. Que agravem as sanções, que reforcem a ajuda à Ucrânia, que tratem de aumentar a sua capacidade de resposta militar rápida para 300 mil homens. O tirano que é capaz de bombardear civis ou que encolhe os ombros perante a ameaça de uma indispensável crise alimentar mundial não pensa nem actua num quadro mental em que entra a razão, a emoção ou a humanidade. 

A Rússia é hoje muito mais do que nos primeiros dias do conflito uma ameaça para a Europa. A firmeza da resposta ocidental surpreendeu e irritou a fera. O Donbass já não basta. Os receios do envio de tropas para Kaliningrado ou para a fronteira entre a Lituânia e a Bielorrússia ganham consistência. Zelensky quer acabar a guerra até ao final do ano, mas nada nos garante que a Rússia, movida pelo superávite do gás e do petróleo, esteja disposta a aceitar uma meia vitória ou uma meia derrota. A megalomania é uma marca dos déspotas.»

Manuel Carvalho, no Público

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 28.06.22

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A 28 de Junho celebra-se O Dia Internacional do Orgulho LGBT

"O Dia Internacional do Orgulho LGBT ou simplesmente Dia do Orgulho Gay é comemorado anualmente em 28 de Junho em todo o mundo. Esta data visa conscientizar a população para a importância do combate à homofobia e a construção de uma sociedade livre de preconceitos e igualitária, independente do gênero sexual.
Nos últimos anos, o movimento passou a utilizar a sigla reduzida LGBTQIA+, cujo termo completo é LGBTQQICAPF2K+ para os indivíduos que se identifiquem como:
L: Lésbicas
G: Gays
B: Bissexuais
T: Transexuais, Transgéneros, Travestis
Q: Queer
Q: Questionando
C: Curioso
I: Intersexo
A: Assexual
P: Pansexual
P: Polissexual
F: Familiares e amigos
2: 2-espíritos
K: Kink
+: Demais orientações sexuais e identidades de género
Ainda que não explícitos na sigla, Não-Binariedade e Drag Queen também são considerados. O Dia do Orgulho LGBTQIA+ também é um reforço para lembrar as pessoas que todos devem orgulhar-se da sua sexualidade e não sentir vergonha da sua orientação sexual.

O Dia do Orgulho LGBT é celebrado em 28 de Junho em homenagem a um dos episódios mais marcantes na luta da comunidade gay pelos seus direitos: a Rebelião de Stonewall Inn.

Em 1969, esta data marcou a revolta da comunidade contra uma série de invasões da polícia de Nova Iorque aos bares frequentados por homossexuais, que eram presos e sofriam represálias por parte das autoridades.

A partir deste acontecimento foram organizados vários protestos em favor dos direitos dos homossexuais em várias cidades norte-americanas.

1.ª Parada do Orgulho Gay foi organizada no ano seguinte para fortalecer o movimento de luta contra o preconceito.

A Revolta de Stonewall Inn é tida como o “marco zero” do movimento de igualdade civil dos homossexuais no século XX."

É legítimo dizer que a comunidade LBGT+ está no seu pleno direito de viver a vida que deseja e se manifestar em apoio a todos que, na sua identificada condição, ainda sofram repressão familiar, religiosa, cultural, etc.?

É perfeitamente legítimo. "Art. I - Todos os homens(/mulheres, etc.) nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade."

Todas as igualdades e todos os direitos implicam respeito pela vida em sociedade. Todos os que exigem igualdade deveriam ser os primeiros a garanti-la.

 

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Hoje assinala-se O Dia Internacional do Piercing Corporal

"Foi escolhido este dia por coincidir com o aniversário de James Mark Ward, o norte-americano que abriu o primeiro estúdio profissional de piercing na Califórnia em 1978: o Gauntlet. A data terá sido criada por um amigo de Ward para promover padrões de segurança pela indústria e continuar o seu legado.

Esta data celebra a arte da perfuração corporal e todos os profissionais da indústria. Acredita-se que esta prática remonta à pré-história, sendo utilizada quer por homens quer por mulheres, com diferentes fins, desde rituais de passagem, rituais religiosos e ornamentação corporal, entre outros.

Neste dia é possível fazer e comprar piercings a preços especiais."

Aqui está algo que me arrepia e eu não sou de me arrepiar facilmente. É uma prática horrível,  as pessoas ficam horríveis, os percings são focos de infecção e... dói. Tem que doer até cicatrizar. Tenho as orelhas furadas. Creio que me mutilaram tinha eu meses, não sei, não me lembro, não fui consultada. Era prática normal. Detesto brincos. Odeio ver homens com brincos. Tive um funcionário que parecia uma árvore de Natal e por vezes "esquecia-se" de tirar toda aquela parafernália. Que gozo dará um piercing na língua? E em outros locais mais sensíveis e ocultos? 

Se é uma arte pré-histórica, a humanidade perfurada está seguramente a regredir.

 

(Imagens Google)

Anitta no Rock in Rio

jpt, 28.06.22

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Há vinte anos que fazem um grande festival musical ali em Chelas, julgo que, pois nunca lá fui, nas redondezas do Valsassina - onde estudei - e do velho Cambodja, zona dura onde nem nós, rapaziada dos Olivais, nos atrevíamos a pass(e)ar, a não ser os desgraçados que ali iam ao pó. Lembro que há tempos, estando eu no estrangeiro, lá foram os Stones e apareceu, de surpresa, o Springsteen. E que passados anos regressou este, já com a banda toda, e muito lamentei não ter lá estado, antes a rever os dos Glimmer Twins e, até mais, depois a ver o Boss.
 
Nos últimos dias os gerontes lusos com os quais tenho ligação no Facebook apinharam a minha "ração" de FB com postais sobre a edição deste ano: discutiram o plantel, gozaram com os artistas contratados, foram anunciando que os filhos (e netos) lá foram, e alguns gabaram-se de os terem acompanhado, etc. e tal. Foi um frenesim, o qual bem demonstrou a relevância para a cidade deste festival - ainda por cima neste pós-Covidoceno.
 
E hoje há imensa gente a protestar, insultar, uma cantora brasileira - Anitta, da qual nunca ouvira falar - por ter acenado a bandeira espanhola. Nem sequer se tratou de uma coreografia, apenas aconteceu que a mulher foi cantar junto ao público, um entusiasmado de primeira fila passou-lhe a Rojigualda, e ela continuou até ao palco e nele agitou a prenda por alguns momentos.
 
E cai o Carmo e a Trindade...! Um enorme coro de coirões insurgindo-se por tal ter acontecido no ... "Rock in Rio" em Chelas! Como se dizia no meu tempo "Se a estupidez pagasse imposto, estava Fernando Medina eufórico". Que patrioteiros imbecis.

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