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Ana Margarida Craveiro: «Insensibilidade, oportunismo, ganância, etc., etc. Tudo coisas que li a respeito das promoções de ontem. Curiosamente, nunca li nada igual sobre as Black Friday, e os frenéticos "refresh" de página para comprar iPods e quejandos. Ou sobre saldos em qualquer outra loja. Como dizia o Caco Antibes, "eu tenho horror a pobre!". E é esta a insensibilidade, só, de quem compra iPads, livros e roupas com desconto, mas olha de lado para quem agradece um desconto na carne, peixe e fraldas.»
Helena Sacadura Cabral: «Morreu hoje Fernando Lopes, alguém de quem gostava muito. É mais uma perda para o país e, sobretudo, para o cinema nacional. Agora comove-me particularmente o abraço que há dois dias recebi da sua mulher Maria João Seixas.»
João Campos: «No sábado, e excepcionalmente, fui àquilo a que chamam de "Feira do Livro de Lisboa". Para além da imbecilidade da organização, que não se lembrou de colocar uma única caixa multibanco no local e insistiu, com o sucesso que se vê, em marcar a coisa a finais de Abril e inícios de Maio, quando chuva e trovoada são mais do que certas (e toda a gente sabe que se há coisa de que os livros gostam, é de chuva): um espaço comercial exterior que utiliza, junto da entrada e saída de zonas específicas e muito bem delimitadas, alarmes com sensores anti-roubo não é uma feira - é uma loja, um centro comercial a céu aberto.»
José António Abreu: «No final da década de oitenta e início da de noventa, a Feira do Livro de Coimbra era uma coisa relativamente pequena, organizada na Praça da República. Mais relevante para o que se segue, à época eu era forçado a contar os escudos com uma atenção que nem Scrooge nem o Tio Patinhas desdenhariam: todos os que não iam para comida e outras despesas correntes, tinham de ser divididos entre livros, filmes e discos (é verdade, tirando uma ou outra cassete gravada a partir de discos alheios – ah, a saudosa TDK SA –, a música pagava-se). Assim sendo, creio nunca ter comprado mais do que dois ou três livros numa Feira do Livro de Coimbra.»
José Gomes André: «A esquerda-caviar no seu melhor: o "povo", por quem tanto se preocupa, é afinal uma horda de zombies estúpidos, que vive na ignorância e é manipulada pelo grande capital. Precisa de quem os ilumine, como dizia Rousseau, o pobre do "povo". Gosto quando estala o verniz desta elite gourmet, tão alarmada com os "direitos do povo" quanto alimentada pelo seu sentimento de superioridade moral e intelectual.»
José Navarro de Andrade: «Então agora morreste-me, Fernando? Esta doeu. Sei que passeaste comigo ao colo pelas ruas de Évora porque meu pai me contou. Mas alguma coisa deve ter ficado inscrito em mim, porque ainda hoje quando visito a cidade só a vejo em branco-e-branco, como no teu filme. Se mais não tivesses dado - e foi tanto – Belarmino ninguém mo tira. Belarmino é o único instante do cinema português que pode ser confrontado face a face com os seus coevos: Cassavetes, Shirley Clarke, Lindsay Anderson.»
Luís M. Jorge: «Parece que os investidores são burros.»
Rui Rocha: «Militantes da secção do PS do Martim Moniz participarão nos últimos dias da campanha presidencial de François Hollande.»
Eu: «O problema maior em França está na direita extremista, que sob a insígnia da Frente Nacional capitaliza também o essencial do discurso anti-europeu, mobilizando os cidadãos "invisíveis" e "esquecidos" dos arrabaldes citadinos e das pequenas comunidades do interior que se sentem excluídos desta construção europeia enquanto contemplam, nostálgicos, as ruínas das fábricas - símbolos da França de outrora. Orgulhosa potência industrial e cultural até há poucos décadas, a velha pátria do general De Gaulle atravessa um período de inegável decadência.»