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Delito de Opinião

No dia dos irmãos, duas histórias de irmãos

beatriz j a, 31.05.22

Tenho seis irmãos -quatro raparigas e dois rapazes. Nós raparigas, excepto a mais nova, temos um ano ou dois de diferença umas das outras. Não faltam histórias para contar. Hoje lembrei-me destas duas:

1. Um dia, éramos ainda muito miúdos, devia eu ter uns seis anos, fomos chamados para ir almoçar e quando chegámos à mesa faltava a minha irmã Maria. Onde está a Maria? A Luíza disse que a Maria estava muito doente. A mãe pediu a uma empregada para buscá-la. Passado uma bocado ela volta e diz, 'a menina Maria está na cama e não quer sair. Diz que foi a Luíza que mandou.' Fomos ao quarto ver o que se passava. A Maria estava escondida dentro da cama. Nessa altura tínhamos peles em cima das colchas. Eram peles de vaca ou de cabra, às vezes cosidas umas às outras e faziam de cobertura. A da Maria era de cabra malhada, com enormes manchas escuras. Sentámo-nos na cama dela e saltavam cabelos de todo o lado da cobertura. Quando a cabeça da Maria apareceu de debaixo dos lençóis, parecia saída de um hospício ou de um campo de concentração. Em vez do cabelo comprido, tinhas uns tufos raquíticos espalhados pela cabeça meio careca. Então, a Luíza tinha resolvido fazer de cabeleireira e quando viu o que tinha feito escondeu o cabelo dela no pêlo escuro da coberta e mandou-a ficar na cama. Ahah

2. Outra vez, numa altura em que vivíamos numa herdade, no campo, andávamos pelos onze, doze anos, saímos logo a seguir ao almoço e fomos para a ribeira que atravessava a herdade, brincar. Éramos seis: eu, mais duas irmãs, duas amigas que eram irmãs uma da outra e mais um amigo. Passámos a tarde na ribeira, de galochas, a apanhar sapos, rãs, uma cobrinha pequena, pedras com musgo e voltámos para casa todos molhados, emporcados de terra e com sacos com os animais. Entrámos em casa delas e fomos à procura de um sítio para pôr a bicharada. Nesse dia estava tudo num certo alvoroço. A casa estava a encher-se porque era o início da época de caça e esperava-se muita gente sendo um deles o presidente da República. Mas nós não sabíamos disso, nem ligávamos nenhuma porque a casa estava sempre cheia em certas alturas do ano. Só queríamos pôr os animais na água. De maneira que fomos à procura de um quarto que já estivesse arranjado para não sermos incomodados e fechámo-nos na casa-de-banho. Enchemos a banheira de água e despejámos os animais, as pedras, etc. As rãs saltavam por todo o lado e sujavam tudo de modo que usámos as toalhas para secar o chão. Como os sapos faziam um chinfrim e nós também, alguém ouviu e foi avisar a minha mãe. De repente ouvimos a voz da mãe no quarto, 'Está aí alguém?' Fizemo-nos de mortos, mas as rãs denunciaram-nos. Quando ela abriu a porta e viu aquele caos com rãs a saltar por todo o lado ia tendo uma apoplexia. Aquele era o quarto para o Presidente. Por isso já estava todo arranjado. A Luíza (outra Luíza, não a minha irmã) só dizia, 'ó tia Palmira, os animais estavam a morrer, precisavam de água. Não podíamos deixá-los morrer'. Ficámos de castigo e proibidos de várias coisas ao mesmo tempo. O que nos rimos a lembrar disto...

também publicado no blog azul

Festival JuncalJazz

Paulo Sousa, 31.05.22

Desde 2018 que faço parte da casa das máquinas de um festival que veio ao mundo com o nome de JuncalJazz.

A ausência de qualquer tradição jazzística no Juncal, e por isso de público que a sustentasse, seria suficiente para classificar esta iniciativa como insensata e condenada ao fracasso. Foi com este pano de fundo que um grupo de carolas arregaçou as mangas e avançou para a primeira edição.

Este festival pretende em primeiro lugar proporcionar espetáculos de música ao vivo de qualidade e também divulgar este género musical.

O sucesso do ano de arranque levou-nos a aumentar o número de espectáculos mas o crescimento de público com que contávamos não se realizou e a excelente qualidade da música em palco não coincidiu com a capacidade de solver as responsabilidades com as receitas do evento. Lamber feridas não ia resolver nada e após se terem identificado os erros cometidos, preparamos a terceira edição que deveria arrancar em Março de 2020. A pandemia fez-nos adiar todo o projecto e por isso só agora iremos retomar o ritmo que não queríamos ter interrompido.

A edição deste ano começa no próximo dia 4 de Junho com uma participação muito especial. Yuliia Kompaniiets (piano) e a filha Uliana Lyman (violino) têm formação clássica, mas estão a preparar um repertório jazzístico exclusivo para o nosso festival. A Yuliia e a Uliana chegaram ao nosso país em Março passado na Missão Ucrânia que partiu de Porto de Mós em Março passado.

Nessa mesma noite teremos ainda o trio Mana, com o João Monteiro no baixo, o Fábio Rodrigues na bateria e o Ruben Almeida no piano. Os músicos deste projecto são formados em Jazz e ao longo dos anos colaboraram em diferentes projectos de artistas do género, onde se destaca a mais recente colaboração de João Monteiro e Fábio Rodrigues na fundação da banda portuguesa da artista de jazz americana Hailey Tuck, entre outros. O grupo irá apresentar temas originais, bem como alguns dos standards mais emblemáticos que marcaram a história do jazz.

Na sexta-feira, dia 10 de Junho, a animação de New Orleans está garantida pelos nossos vizinhos nazarenos da banda DixieNaza. É uma banda com sete elementos que trará até ao nosso palco a variante de Jazz considerada por muitos como a mais adequada para atrair os curiosos por este género musical. Connosco teremos o Vitor Guerreiro no trompete, o Nuno Mendes a soprano, o Daniel Vinagre no saxofone, o Élio Fróis no trombone, o Celso Batista no sousafone, o Márcio Silvério no banjo e ainda o Vitor Copa na bateria.

Para o encerramento do festival teremos, no dia 18 de Junho, um concerto intimista com o trio F.A.N. liderado pelo jovem baterista Francisco Gomes, acompanhado por Afonso Pais na guitarra e Nelson Cascais no contrabaixo. Com eles seremos levados numa viagem até ao mundo musical de Thelonious Monk, um dos mais importantes compositores e intérpretes do jazz.

Faço deste postal um convite a todos. Será um gosto receber-vos no Salão Paroquial do Juncal.

Reserva de bilhetes aqui e mais informações aqui.

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Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 31.05.22

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A 31 de Maio comemora -se O Dia dos Irmãos

"O Dia dos Irmãos comemora-se em Portugal a 31 de Maio. Para relembrar a importância que os irmãos têm na formação de todos os indivíduos. Irmãos fazem parte da história pessoal de quem os tem: partilham memórias de infância e são os primeiros amigos.

Além disso, podemos ter como irmãos tanto os que são filhos dos nossos pais como aqueles que conhecemos ao longo da vida e são mais que amigos. O Dia dos Irmãos é a celebração que encerra aquele que é considerado o Mês da Família."

Tenho dois irmãos. Os rapazes. Lindos como deuses com o seu metro e oitenta, cabelos claros e olhos azuis. Eram também umas pestes, mas como qualquer bom malandro possuem uma inteligência estratosférica. Eu, como mais velha, devia ser a mais respeitadora e quem mais fazia respeitar as regras familiares. Mas não. Éramos e ainda somos um trio do arco da velha, mestres na ironia e no humor. Olha que três.

Um belo dia, o Menino, o mais novo, escondeu uns ovos para nos presentear com eles quando estivéssemos distraídos. Gorada a primeira tentativa e já alerta, cada um de nós foi também buscar um ovo. Todos os ataques tinham direito a contra-ataque, de tal modo que a Mãe, farta daquilo tudo, foi também buscar um ovo e, quando o mafarrico do Menino mais uma vez se escondeu atrás das suas saias para escapar às nossas investidas, zás! ovo na cabeça. É uma imagem tão marcante aquela, que nunca se desvaneceu. A cara de espanto e de tristeza, de dor até porque a alma também dói, da pobre criança! Oh mãe, coitadinho! E lá fomos levá-lo para a banhoca enquanto "catávamos" os pedacinhos de casca de ovo. Que horror, mãe, fazer isto ao menino! "

Os meus rapazes são o máximo.

 

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Hoje comemora -se O Dia Sem Tabaco

"O Dia Mundial Sem Tabaco foi criado pelos Estados-membros da OMS em 1987 e é comemorado todos os anos em 31 de Maio. O objectivo é aumentar a consciencialização sobre os efeitos prejudiciais do tabaco e da exposição ao fumo passivo, e desencorajar o acto de fumar em qualquer das suas formas. O tema deste ano é "Tabaco e saúde pulmonar". A campanha destaca os efeitos negativos do tabaco nos pulmões, desde o cancro até doenças respiratórias crónicas."

Devia comemorar-se todos os dias esta efeméride. Todos os dias deveriam ser sem tabaco. Não é difícil deixar de fumar. Eu deixei. Custou-me mais abandonar o ritual do que o tabaco. Aqueles minutos só meus, de tranquilidade e relaxamento, clique, chama e aspiração profunda. Mas é como tudo. Ou queres ou não queres. Eu quis e a minha vida ganhou outro tipo de qualidade.

 

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No dia 31 de Maio comemora-se O Dia dos Vizinhos

"Todos os anos, na última terça-feira de Maio, pessoas do mesmo prédio e do mesmo bairro juntam-se entre vizinhos para celebrar os valores da solidariedade, da fraternidade e da tolerância.
A Festa dos Vizinhos pretende potenciar a solidariedade local. Para o organizador nacional, João Carvalhoisa, “de facto, é nossa obrigação encorajar uma vizinhança mais activa neste mundo ameaçado pelo crescimento do individualismo.”
As pessoas podem organizar uma festa de vizinhos no seu espaço comum, na sua rua ou no seu jardim.
As entidades públicas e privadas têm uma participação importante neste dia. Só têm de visitar o sítio na internet deste projecto, www.vizinhos.eu, e fazer o download do formulário de inscrição. Pouco depois recebem o kit da Festa dos Vizinhos escolhida para fazer parte desta grande projecto solidário."

Garanto que desconhecia esta iniciativa de socialização. Também,  desconheço 80% dos meus vizinhos. Já conheci todos os habitantes dos 29 fogos. Mas o tempo foi passando, os mais velhos foram partindo e os que chegam são fugazes encontros de elevador, sem nada a dizer.

No tempo dos meus pais, conhecíamos não só os habitantes do prédio, como os da rua e os das outras ruas que formavam o bairro inteiro. Havia a convivência na missa, no café, nos Santos Populares... tenho muitas saudades desses tempos.

 

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No dia 31 de Maio comemora -se O Dia do Pescador

"Todos os anos a 31 de Maio comemora-se o Dia Nacional do Pescador. Institucionalizado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º103/98, de 23 de Julho, e celebrado oficialmente desde essa data, trata-se do reconhecimento público mais que merecido de um sector, que tem sido dos mais ignorados da história. Esta data assinalava também, simbolicamente, um ano de vigência de uma Lei que viu reconhecidos alguns direitos laborais dos pescadores, a Lei 15/97, de 31 de Maio que estabeleceu o contrato individual de trabalho a bordo das embarcações de pesca, que garantia o direito a gozo de descanso e férias, ou a obrigatoriedade de um seguro de acidentes pessoais, para além do seguro de acidentes de trabalho, em casos de morte ou desaparecimento no mar, e incapacidade absoluta permanente.

Volvidos estes anos o Dia do Pescador continua a ser assinalado nas várias comunidades costeiras, envolvendo autarquias locais, associações, e outros agentes do sector. "

Somos um país de pescadores feitos marinheiros. O peixe tem o papel mais importante na nossa alimentação. Ainda se pesca como se pescava há 100 anos; os motores ajudam, mas a técnica é igual: lançar as redes e ir mais tarde recolhê-las cheias de peixe a saltar. Conheço pescadores e sei que a faina não é fácil. Apesar da remuneração ser boa não é certa, porque o peixe nem sempre "está a dar"  e o defeso deixa os barcos muito tempo em doca seca

                                                                   

(Imagens Google)

O Presidente preso no seu labirinto

Marcelo Rebelo de Sousa

Pedro Correia, 31.05.22

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Frenético, hiperactivo, irrefreável, Marcelo Rebelo de Sousa anda em permanente corrida consigo próprio. Imaginando sempre os capítulos seguintes da telenovela política portuguesa, em que é um dos protagonistas. Sem ele, o enredo seria muito diferente.

Lida mal com o silêncio. Detesta imaginar-se esquecido. Não suporta a ideia de ficar reduzido a rodapé da História. Ele, que foi criado no Estado Novo e estudou em pormenor o singular «presidencialismo de primeiro-ministro» (definição de Adriano Moreira) que caracterizava esse regime concebido por Salazar, jamais se suporia confinado ao estatuto residual de corta-fitas, associado apenas à pompa ritualística da democracia.

No múnus presidencial, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, 73 anos, tem Mário Soares como arquétipo. Pela elevada fasquia que esse antecessor estabeleceu em três domínios: ser o chefe do Estado mais votado em reeleição, exercer uma «magistratura de influência» a partir do Palácio de Belém e cessar funções deixando no poder a sua família política de origem.

 

Destes objectivos, o primeiro já é inalcançável. O segundo vai ser posto à prova com a maioria absoluta socialista. O terceiro dir-se-ia hoje utópico face à crise existencial no PSD, que encolhe de sondagem em sondagem e desperdiça oportunidades para se reencontrar com a sociedade, como esta frustre campanha para a eleição directa do próximo líder confirmou.  

Soares findou o mandato, em Janeiro de 1996, edificando o sonho hegemónico de Francisco Sá Carneiro: um Presidente, uma maioria e um Governo. Mas à esquerda – com Jorge Sampaio em Belém, António Guterres em São Bento e o PS a imperar no hemiciclo. Marcelo viveu esse ciclo da pior maneira, condenado a comandar o PSD na oposição sem nunca ter chegado a primeiro-ministro.

Agora ambiciona atingir até 2026 a meta de Soares, em rigorosa simetria. Para tanto, tem de superar três obstáculos. Primeiro: a presença quase obsessiva de António Costa, com tendência crescente para ocupar todo o palco. Segundo: a reorganização de forças à direita do PS, que não depende dele. Terceiro: a sua manifesta falta de paciência para racionalíssimos lances de xadrez político.

 

No Governo, há quem queira condená-lo à irrelevância – e o astuto Marcelo está farto de saber isso. Mas o antídoto mais eficaz dificilmente passará pelo excesso de histrionismo presidencial que voltou à tona nesta visita de Estado a Timor, nem pelo uso imoderado da palavra, como quando comunicou aos jornalistas no Dubai que Costa estaria a caminho da Ucrânia. Num regresso pouco recomendável aos tempos em que era um dos maiores fornecedores de manchetes da vida política nacional.

Eis o Presidente preso no seu labirinto: as legislativas de 30 de Janeiro, que ele mesmo convocou, vieram alterar as regras do jogo. «O importante não é o valor das palavras. O que importa é saber quem manda», dizia o Coelho Branco à Alice. Era no País das Maravilhas, mas também se aplica a Portugal.

 

Texto publicado no semanário Novo.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 31.05.22

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José António Abreu: «Ainda que se diga que ele achava os seus enredos mais divertidos do que assustadores ou proféticos, o universo de Kafka é o universo do totalitarismo e, mais especificamente, do totalitarismo moderno. Tão moderno, de facto, que, talvez ironicamente para quem abominava a nascente psicanálise (Kafka apreciava a loucura e detestava que se pretendesse curá-la), é, acima de tudo, um totalitarismo psicológico.»

 

Luís M. Jorge: «O repto vem no "Retrato de Ricardina", de Camilo Castelo Branco. Os irmãos Pimentel, na ruína, são abordados por um abade que pecara na juventude e queria casar duas filhas a troco de um dote de trinta mil cruzados por cabeça. Os irmãos recebem agastados a proposta, depois acalmam-se, depois pedem tempo para reflectir. Finalmente, escreve Camilo, "os noivos acederam, tirando a partido que a mãe das nubentes se recolheria em mosteiro, antes das núpcias das filhas". Nada feito.»

 

Eu: «Em 1971, o irreverente Madrid viu-se forçado ao encerramento. Mas já conquistara um lugar de relevo no combate ao franquismo, designadamente por esta desassombrada edição de Maio de 1968. E hoje um dos mais relevantes prémios jornalísticos anuais em Espanha tem precisamente este nome prestigiado: Diario Madrid.»

SuperNature de Ricky Gervais

Paulo Sousa, 30.05.22

Lembro-me de uma vez, no adro da igreja, à saída de uma cerimónia qualquer, ter ouvido uma muito acintosa reprimenda por ter dito “pontapé no cu”. Segundo a senhora dona beata que me corrigiu, a forma não ofensiva deveria ser “pontapé no rabo”. “Não te ensinam isso em casa?”. Esta pergunta tinha outro alcance, que na altura não atingi, mas essa terá sido a primeira vez que me recordo de ter lidado com polícias da linguagem.

É engraçado como nesse tempo, no final dos anos 70, eram as forças conservadoras que ainda insistiam em consumir as suas energias na correcção da forma como os outros se exprimiam.

Acabou por ser mais rápido, mas tal como o norte magnético do globo, que se vai deslocando continuamente para daqui a uns milénios chegar ao hemisfério sul, o policiamento da linguagem acabou por ter sido adoptado, poucas décadas depois, pelas forças ditas progressistas.

Já excluindo o efeito “não é o que disseste, mas a forma como disseste”, a lista de tudo o que se pode dizer sem ofender alguém não pára de aumentar.

Pode fazer-se anedotas sobre alentejanos, sobre padres e freiras, sobre fanhosos, sobre anões, sobre tipos com óculos, sobre prostitutas, sobre drogados, sobre marrecos, sobre políticos que acreditaram no Sócrates, sobre infectados com covid e mais o que a imaginação permita, mas, atenção, nem pensar em gozar as minorias que exigem ser tratadas de forma inclusiva. Talvez por não terem reparado, incluir estas minorias no anedotário é também uma forma de inclusão. Esta piadola não é minha, mas de Ricky Gervais no seu mais recente especial, SuperNature, publicado na Netflix.

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Ricky Gervais, neste seu espectáculo, faz quase o pleno nos temas sobre os quais é suposto não se poder brincar. Ao vê-lo lembrei-me mais vezes das beatas dos anos 70 (que de tanto se persignarem tinham calos na testa) do que do universo Woke, que é também referido pelo autor.

Chamar corajoso a Ricky Gervais é um exagero, pois não passa de um tipo a dizer umas piadas, em que algumas delas estão longe de ser geniais, mas sempre que oiço alguns palermas a querem calar a boca a outros eventuais palermas, acho que faz falta quem goze com todos eles. Assistir ao SuperNature não resolve nenhuma destas questões, não reeduca ninguém, mas ajuda-nos a rir destes nossos dias que vivemos. Eu gostei.

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 30.05.22

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No dia 30 de Maio celebra-se O Dia Mundial da Esclerose Múltipla

"O Dia Mundial da EM é assinalado oficialmente a 30 de Maio. Junta a comunidade global de EM para partilhar histórias, sensibilizar o público e fazer campanha com todas as pessoas afectadas por esta doença.

As actividades do Dia Mundial da EM ocorrem durante o mês de Maio e no início de Junho. A campanha oferece flexibilidade para que os indivíduos e organizações alcancem uma variedade de objetivos.

A esclerose múltipla é uma doença ainda mal conhecida. De acordo com um estudo realizado no nosso país, dois terços dos portugueses não sabem o que é a esclerose múltipla. À escala mundial os dados indicam que existem cerca de 2.500.000 pessoas com esclerose múltipla e em Portugal mais de cinco mil. 

Trata-se de uma doença neurológica crónica, mais comum no jovem adulto, e que surge habitualmente na terceira década de vida, com o dobro da frequência no género feminino. A maioria dos casos é diagnosticada entre os 20 e os 50 anos, mas pode afectar pessoas com idades entre os dois e os 75 anos. Embora não seja fatal, é muito incapacitante, influenciando de modo significativo todos os aspectos da vida dos pacientes.

A esclerose múltipla atinge o sistema nervoso central. As fibras nervosas das células do sistema nervoso estão revestidas por uma bainha chamada mielina que é essencial para que os estímulos sejam correctamente propagados. Nesta patologia a mielina é destruída, impedindo uma adequada comunicação entre o cérebro e o corpo. Por outro lado, o processo inflamatório que ocorre nesta doença lesiona as próprias células nervosas, causando perda permanente de diversas funções, dependendo das zonas afectadas."

Estar preso na casca, ver, ouvir, sentir e não poder movimentar-se, tampouco comunicar. Este é o terror de todos os que entram na chamada terceira idade. O que é hoje, pode não ser amanhã, e as prioridades mudam como o voo de um mosquito desorientado. Esta doença é um pesadelo, porque não escolhe idades e pode manifestar-se dos dois aos setenta e cinco anos de idade.

Conheci o Stephen Hawking numa sua vinda a Portugal. Conheci, é um modo de dizer. Ficámos a poucos metros, mas não nos pudemos aproximar, falar ou tirar fotos. Creio que talvez porque a sua constituição, a uma primeira vista, parecia muito mais débil do que as fotos  publicadas na comunicação social. 

A genialidade estaria intacta. Acredito, mas não sei se quereria viver assim.

Ontem em Díli, hoje em Kiev: ainda há heróis

Pedro Correia, 30.05.22

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As melhores histórias, por vezes, passam quase ao lado das peças que preenchem o quotidiano televisivo. Sucedeu isso na última semana, em dois pontos muito diferentes do mapa. Primeiro em Díli, depois em Kiev. Tivemos a noção de que havia ali potenciais reportagens a pedir relato detalhado, mas acabaram por ser apenas notas de rodapé porque a agenda política prevalecia como prioridade absoluta.

O primeiro caso ocorreu durante a visita oficial do Presidente da República a Timor-Leste, associada às comemorações do vigésimo aniversário da independência daquela nação lusófona da Insulíndia. Independência conquistada graças a uma resistência tenaz – daquelas que a História regista com assombro. David venceu o Golias indonésio após 25 anos de opressão. Enfrentando torturas, violações, massacres.

A independência foi um parto com dor. A que assistiu o padre João Felgueiras, ali residente desde 1971. Nunca abandonou a população local – nem quando a administração portuguesa partiu, nem quando o último militar regressou a Lisboa, nem quando os esbirros de Jacarta ali semeavam o terror. Permaneceu. Continuou a divulgar a nossa língua, tornada clandestina. Ajudou vários timorenses a fugir, em busca da liberdade – incluindo a actual embaixadora em Portugal.

Hoje com cem anos, este missionário jesuíta sente orgulho ao ver enfim inaugurada a escola que sonhou. Surgiu de relance nas televisões que cobriram a viagem presidencial. Soube a pouco: daria reportagem autónoma.

 

O mesmo pode dizer-se do funcionário ucraniano da embaixada portuguesa em Kiev condecorado por António Costa na sua visita-relâmpago à capital ucraniana. Graças a ele, que ali trabalha há 25 anos, a nossa legação diplomática nunca encerrou. Durante largas semanas, em que se previa o pior, Andryi Putilovsky actuou como nosso embaixador de facto. «O pessoal desta embaixada é a minha segunda família e Portugal tornou-se a minha segunda pátria», declarou, visivelmente comovido, ao ser abraçado pelo primeiro-ministro.

Heróis quase anónimos que as televisões nos apresentam por instantes, à boleia da agenda oficial dos políticos. Mereciam mais. Para conhecermos em pormenor as odisseias que travaram, na sombra e no silêncio. Como têm feito, nos últimos três meses, alguns enviados especiais à Ucrânia. Desmentindo aquela canção de Chico Buarque: «A dor da gente não sai no jornal.»

 

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Entre eles, justifica-se destacar Iryna Shev, da SIC. A tragédia ali desenrolada tem sido uma oportunidade para esta luso-ucraniana se revelar exímia narradora de histórias que vai descobrindo num terreno fértil em minas e armadilhas. O facto de dominar o idioma, sendo bilingue perfeita, ajuda muito. Evita fazer a triste figura daquele “grande repórter” de outra estação que andava perdido nas ruas de Kiev soltando frases em inglês aos transeuntes, incapazes de entendê-lo.

Histórias de gente comum, vítima dos horrores da guerra. Sem conhecimentos militares nem sapiência geopolítica. Ontem em Timor, hoje na Ucrânia. Amanhã pode ser qualquer de nós.

 

Texto publicado no semanário Novo.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 30.05.22

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Rui Rocha: «Dois espiões, um inglês e um português, encontram-se, ao serviço dos respectivos países, numa reunião ultra-secreta. O inglês toma a iniciativa das apresentações, para quebrar o gelo:

- O meu nome é Bond! James Bond. E o teu?

- O meu nome é Alho. Silva Carvalho.»

 

Teresa Ribeiro: «A CMVM fez queixa ao MP de indícios de manipulação sobre dívida portuguesa. Quem desdenha da necessidade de regular melhor estes rapazes ou está de má fé ou sofre de miopia ideológica

Reflexão do dia

Pedro Correia, 29.05.22

 

«Qualquer coisa de impensável está a acontecer naquele país [Ucrânia]. Qualquer coisa só comparável aos campos de extermínio nazis.»

 

«Qualquer coisa de monstruoso apareceu, dentro da monstruosidade que é a guerra. Para lá das leis da guerra, agora sistematicamente quebradas pelo Exército russo, que já nem pretende esconder os crimes que comete, a horda de assassinos avança, exibindo aos olhos do mundo a sua brutalidade sem escrúpulos. Não é só a ordem da paz que é perturbada, é a própria guerra que é subvertida e transgredida - não é uma guerra, é um massacre.»

 

«Num gesto livre, a Ucrânia levantou-se para defender a sua vida, em vez de se submeter aos ditames de uma ditadura. Foi isso, e não a defesa da liberdade como valor ideal e abstracto, que levou os ucranianos a lutar tão energicamente. Às forças de destruição e morte trazidas pelo Exército russo eles opuseram a força de vida vinda daquele laço imanente que os une à sua terra e que define, todos os dias, a liberdade que os anima.»

 

José Gil, no Público

Comer (2)

Chamuças de Moçambique e cerveja da Ucrânia

Pedro Correia, 29.05.22

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Bani os fritos da minha dieta alimentar. Não me fazem falta alguma. É uma regra que admite excepções, aliás cada vez mais raras, mas tem carácter imperativo após o pôr-do-sol. E dou-me bem com isto.

Entre as excepções, figuram as chamuças que compro de vez em quando no mercado de Alvalade. De fabrico caseiro, adquiridas na banca dos congelados Zanugel, ali existente desde 1981. Só há aos sábados - e não são congeladas, estão prontas a comer, se formos cedo ainda as recebemos quentinhas. Estaladiças, com a massa vegetal adequada, o picante e a cebola no ponto certo.

Gosto tanto delas que por vezes tiro uma do cartucho para saboreá-la enquanto deambulo pelo melhor mercado de Lisboa. Que nas manhãs de sábado funciona também como ponto de encontro dos moradores do bairro. 

 

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Passei por lá ontem, já depois das onze: ainda havia. Pedi meia dúzia.

Ia com a intenção de preparar um risoto de cogumelos para o almoço. Passei pelo supermercado para me abastecer do que faltava tendo também em vista as ementas da semana que vai seguir-se.

Mas à entrada do Pingo Doce encontrei um grupo de voluntárias do banco alimentar: mudei de ideias. Enchi um saco de compras - massas, arroz, enlatados - e deixei-o com elas. Nada trouxe para mim. 

 

Sobravam as chamuças. Serviram-me de almoço e jantar (jantei cedo, aguardando a final da Liga dos Campeões). Na melhor companhia líquida possível que uma chamuça pede: cerveja, geladinha. Bebo pouca cerveja, mas agora é sempre desta marca: Robert Doms. Porquê? Por ser da Ucrânia. 

Eis a globalização à mesa. Comes de origem goesa, via Moçambique, e bebes do extremo leste da Europa, agora terra de combate. Combinação perfeita para o sábado mais quente deste ano que tem andado tão enevoado.

Slava Ukraini!

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Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 29.05.22

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No dia 29 de Maio celebra-se O Dia Nacional da Gastronomia

"É o último domingo do mês de Maio e, por preceito aprovado por unanimidade pela Resolução n.º 83/2015 de 9 de Julho, há que comemorar o Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa. Decorrem hoje algumas actividades (à distância e pequenas cerimónias), contando-se entre as mais marcantes as promovidas pela Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas. Todos sabemos que a gastronomia portuguesa é detentora de características únicas e que merecem ser celebradas e discutidas para que possa ter ainda maior projecção e servir como passaporte para o nosso país, para a nossa cultura e para as nossas gentes. Não apenas porque a nossa gastronomia tem marcas identitárias ímpares, mas porque encerra grande potencial económico e turístico."

Os turistas não nos visitam apenas pelas belezas naturais do interior ou pelas excelentes praias do litoral. Visitam-nos pelos comes e bebes, que não precisam de estrelas Michelin para serem considerados dos melhores do mundo. O tempero, a frescura e a simplicidade da cozinha nacional atraem visitantes de todas as latitudes. Lembro-me quando o meu irmão esteve estacionado em Geilenkirchen. O meu sobrinho nasceu lá e a minha mãe juntou-se -lhes para ajudar os pais de primeira viagem. A minha mãe cozinhava que era um primor e estava habituada a diversificar. Da cozinha minúscula daquele casarão emanavam aromas de sopas diversas, guisados, assados, gratinados e outros petiscos aos quais a vizinhança não resistia. Muitas vezes se passeou por ali e se elogiaram os eflúvios de modo que a minha mãe perguntava se queriam provar. Ninguém se fez rogado e toda a vizinhança lamentou quando ela regressou à terrinha.


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A 29 de Maio celebra-se O Dia Mundial da Saúde Digestiva

A data foi instituída pela Organização Mundial de Gastroenterologia para mobilizar e orientar a população para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce de doenças do aparelho digestivo.

De acordo com esta organização, 20% da população global sofre algum tipo de problema intestinal e 90% das pessoas não procuram orientação médica, recorrem à automedicação ou não fazem nada. 

"Microrganismos presentes no intestino - importância na saúde e doença" é o tema central do Dia Mundial da Saúde Digestiva, que se assinala no dia 29 de Maio e que é promovido globalmente pela Organização Mundial de Gastrenterologia.
De acordo com Francisco Guarner, presidente do Dia Mundial da Saúde Digestiva, "o nosso conhecimento sobre as comunidades de microrganismos que habitam no intestino humano cresceu exponencialmente nos últimos anos e existe uma ampla difusão de nova informação. Os microrganismos presentes no intestino humano funcionam como um órgão dentro do tracto gastrointestinal e os Gastrenterologistas são os profissionais de saúde que devem colocar os novos conhecimentos em prática".

Quem sofre de refluxo sabe a que me refiro. Mal estar, noites de vinagres aflitivos, indisposição, antiácidos... tudo isto se reflecte nos humores do dia a dia, no cansaço permanente, no convívio social. Que haja sempre  microrganismos e profissionais de saúde que ajudem na resolução deste problema. 

 

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Celebra-se hoje O Dia Mundial da Energia

"O Dia Mundial da Energia comemora-se no dia 29 de Maio e tem como principal objectivo sensibilizar e motivar as pessoas para a necessidade de desenvolverem estratégias de eficiência e poupança energética, além de alertar para os impactos ambientais e a importância de preservarmos os recursos naturais. É também uma oportunidade para promover as fontes de energia renovável (eólica, hídrica, solar, biomassa, entre outras).

Utilize em casa lâmpadas economizadoras em vez das tradicionais incandescentes; evitar ter luzes e equipamentos ligados quando não são necessários;

Antes de comprar novos equipamentos, convém verificar a etiqueta energética, e comprar o mais eficiente(Classe A ou superior);

Desligar os equipamentos no botão, e não apenas no comando, porque mesmo no modo de standby continuam a consumir energia;

  • Evitar o abrir e fechar constante da porta do frigorífico e verificar periodicamente o estado das borrachas das portas do frigorifico;
  • Separar os diferentes resíduos domésticos;
  • Utilizar as máquinas de lavar, sempre com a carga completa e a baixas temperaturas.

A maioria das casas de habitação pode facilmente reduzir o consumo de electricidade para iluminação entre 15% a 20%, sem qualquer redução da qualidade. O sector dos edifícios é responsável pelo consumo de aproximadamente 40% da energia total na Europa."

Não sou o cúmulo da poupança, mas nem sempre entendo os contadores de gás e electricidade, que em certas ocasiões parecem funcionar na proporção inversa da utilização, marcando valores mais elevados nos meses de férias do que nos outros em que invariavelmente estamos em casa todos os dias. Já me cansei de discutir e enviar e-mails. O contador marca e pronto. 

Não tem muito a ver com energia, mas há uns cinco anos cobraram-me 307,00€ de água. Tive de batalhar três meses até me trocarem o contador e admitirem a avaria. O mais engraçado foi que não me devolveram o que cobraram a mais, cerca de 280,00€, que colocaram em " conta corrente". Durante cerca de dez meses a água ficou paga, mas com que direito cativam o nosso dinheiro, gostaria de saber. Não me souberam explicar. É política da empresa.

 

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A 29 de Maio celebra-se O Dia Internacional dos Soldados da Paz das Nações Unidas 

 

"O Dia Internacional dos Soldados da Paz das Nações Unidas comemora-se anualmente nesta data.

É um dia de tributo a todos os homens e mulheres que faleceram ao serviço das Nações Unidas. Anualmente morrem cerca de 100 capacetes azuis com a bandeira da ONU, vítimas de violência, doença ou acidente, nas zonas mais inóspitas do mundo.

A primeira operação de manutenção da paz das Nações Unidas decorreu no Médio Oriente em 1948, quando foi estabelecido o Estado de Israel. Desde então contam-se mais de 70 operações em quatro continentes, com mais de um milhão de soldados. Mais de 3400 capacetes azuis faleceram desde então, em luta pela paz.

Em 1988 homenageou-se o trabalho das forças de manutenção da paz da ONU com a entrega do Prémio Nobel da Paz."

É difícil deixar a casa e a família para ir policiar um país desconhecido e ajudar a manter a paz. Não é para toda a gente. As missões da ONU pretendem formar e informar os exércitos dos países em conflito e ajudar as populações a encontrar segurança no seu dia a dia.

Portugal tem contribuído com tropas que reforçam a MINUSCA nos últimos anos, estacionadas em Bangui, na República Centro-Africana. Militares portugueses têm chefiado unidades de treino e as várias missões têm sido, num cômputo geral, bem sucedidas.

Pensamento da semana

beatriz j a, 29.05.22

Ainda nem sequer passaram três meses de quando Putin tinha uma reputação a defender. Escrevia em letra grande na cena internacional. Agora é um infame, uma borracha que apaga anos de escrita a cada passo que dá. Como dizia Boris Pasternak, “Os homens no poder estão tão ansiosos por estabelecer o mito da sua infalibilidade que fazem o seu melhor para ignorar a verdade.”

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 29.05.22

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José António Abreu: «Não estou cá. Ou melhor, não estou aí. Estou, há pouco mais de três horas, aqui. E ainda não ouvi falar de Miguel Relvas uma única vez. Claro que também não percebo patavina do que eles dizem...»

 

José Navarro de Andrade: «O caso-Relvas deve estar na recta final porque o Professor Marcelo já opinou. E quando ele opina a sua mágica opinião é terminal e decisiva, seja quanto ao plantio da batata, seja relativamente à fusão do átomo. Mesmo que não passe de uma opinião libérrima do estorvo dos factos apurados e discriminados, como ele próprio Professor o afirma para melhor certificar a sua opinião

 

Luís M. Jorge: «Eles apelam à produtividade comentando blogs durante o expediente. Eles querem mais empreendedores mas nunca criaram uma empresa. Eles invectivam o facilitismo em parágrafos de mau português. Eles exigem mais trabalho e menos conversa enquanto conversam e não trabalham. Eles são os mártires da opinião, último refúgio da pátria contra a obsolescência.»

 

Rui Rocha: «As palavas em título foam pofeidas pelo Pesidente Cavaco Silva na ecente visita a Nãoseionde. O Pesidente tem azão, clao. Poquê? Oa, poque não há bom vinho sem uma boa olha de cotiça. Na vedade, não devemos subestimá a impotância da olha na qualidade do vinho. Inicialmente eam utilizados outos mateiais como estopa, pano, quina de cavalo ou pegaminho. A ideia de empegar a cotiça como olha é atibuída a Dom Peignon

Leituras

Pedro Correia, 28.05.22

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«O nosso mundo está sempre a tempo de ser mudado se agirmos em vez de o lamentarmos...»

Augusto AbelairaA Cidade das Flores (1959), p. 60

Editores Associados, s/d. Colecção Unibolso, n.º 113

Ler (2)

Pedro Correia, 28.05.22

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É sempre um momento agradável. Quando abro um novo livro, já o anterior ficou para trás. Faço questão, quase sempre, que seja de um género muito diferente. Para que as memórias de um e outro não se confundam.

Mas desta vez encalhei no primeiro parágrafo. A obra seleccionada foi Último Olhar, o mais recente romance de Miguel Sousa Tavares. Na esperança de que atenue tantas asneiras que tenho lido dele no Expresso sobre a agressão russa à Ucrânia.

Vicio de jornalista que passou largos anos a corrigir prosa alheia: leio sempre de lápis na mão. É uma forma de dialogar com o autor. Desta vez fiz cinco anotações imediatas no texto. Coisas que me pareceram incorrectas e deviam ter sido alteradas por um editor rigoroso.

Os livros de Sousa Tavares padecem deste mal: Equador, romance com méritos, tem cerca de 150 páginas em excesso e pelo menos um longo capítulo que está ali a mais. Imagino que ninguém na editora ousou beliscar o ego do autor, sugerindo-lhe alterações profundas no original. Foi pena. Teria sido melhor para todos. Incluindo os leitores.

 

Vamos lá às modificações que eu faria se fosse editor do romancista Sousa Tavares. Estão aqui assinaladas.

A primeira resulta de uma sintaxe que se vai generalizando por óbvia influência brasileira, derivada da escrita norte-americana. Refiro-me à mania de polvilhar frases com pronomes que no português europeu são desnecessários por estarem subentendidos. É o caso deste possessivo: se «consultou o relógio de pulso», só podia ser o dele. Aquele seu está ali a mais.

Segunda: o coloquialismo é que, redundante na escrita literária, aceita-se apenas se estivermos a reproduzir discurso oral. Não é o caso. Merecia o risco que lhe passei em cima. Já recomendava o grande Georges Simenon: «Escrever é cortar.»

Terceira: erro elementar de lógica: se são «cinco em ponto da tarde», em aparente paráfrase ao verso de Lorca, aquele mais ou menos inserido na mesma frase perde sentido. Uma coisa não cola com a outra.

Quarta: outra redundância, esta ainda mais escusada. A tal caravana de ambulâncias trazia a bordo, obviamente. Não iria transportar fora de bordo fosse lá o que fosse. Algo similar ao célebre «cai chuva lá fora» em que tropeço com frequência. Só admissível nos casos em que possa chover dentro de portas.

Quinta e última: o vírus da covid-19. Não entendo aquela preposição. Outra frase com gordura em excesso. E já nem discuto a súbita alteração de género, transitando do vírus masculino para o acrónimo de importação inglesa tornado feminino. «O vírus covid-19» bastaria. Mesmo numa Espanha «agonizante de pavor>.

 

Cinco incorrecções num parágrafo inicial são fatais, segundo o meu critério. Algo só possível porque os editores literários, quase sem excepção, recusam hoje alterar o material que lhes chega de autores consagrados. Noutros países, como os EUA, as provas são observadas e anotadas com minúcia. Longos excertos cortados, abundantes pontos de interrogação e comentários de todo o tipo ajudam o autor a melhorar o seu trabalho, chame-se ele como se chamar.

Levaram-me a fechar o livro, que aguardará nova oportunidade. Hei-de voltar a ele. Mas outros já lhe passaram à frente.

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