Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Dia de não-feriado

José Meireles Graça, 26.11.21

Ontem foi dia de não-feriado. Compreende-se: os feriados cívicos celebram datas marcantes e comemorar duas datas de dois anos seguidos, 1974 e 1975, seria demasia: naquela madrugada inteira e limpa, no dizer inspirado da poetisa Sophia, grande para os que assim a acham, ou estava uma grande e pouco épica nevoeirada ou brilhou o sol do unanimismo.

Brilhou o sol do unanimismo: cada um viu no 25 de Abril o fim de um regime que não deixava ninguém manifestar as profundidades de que era depositário, e acreditou que no seu lugar ficaria a liberdade, o leite, o mel, o regresso dos soldados, a Europa rica, a democracia, o socialismo, a saúde, a explosão da criatividade artística reprimida e o consumo de coca-cola.

Como não podiam ficar essas coisas todas em simultâneo, o unanimismo desfez-se: uns queriam o modelo do Peru, de Cuba, de Moscovo ou de Pequim, e outros o da Suécia, ou da Dinamarca, ou de Bona ou do ami Mitterrand. Ou seja, o 25 de Abril celebra a unidade poética e ilusória, assente em equívocos, dos quais o primeiro era a negação do motivo verdadeiro do golpe, a recusa da guerra colonial; e o 25 de Novembro o senso e a poupança ao inferno cheio de boas intenções.

Doutro modo: uma data refere-se à unidade; e a outra à divisão.

Divisão entre vencedores, que foi a gente imperfeita e confusa da barafunda democrática, e vencidos, que foram comunistas e primos de vária pinta – a malta cujos descendentes ideológicos, quando não são os próprios cheios de colesterol, se alojam hoje no PCP e no Bloco.

A ter que celebrar alguma (e eu não celebraria nenhuma, por razões que abaixo explico), o 25 do quatro é que é.

O quê, associamo-nos então à comunistada e à bloqueirice, no primeiro caso correndo o risco de contrair dementarite totalitária e no segundo acne mental?

Sim. Quem não tem muita confiança no seu sistema imunitário é que tem receio de contágios. E depois:

Aqui há uns anos o meu amigo Hélder Ferreira envolveu-se numa discussão em torno do interessante problema de saber se se pode ser amigo de comunistas. Ele (e eu também, embora não tivesse molhado a sopa) achava que sim, uma turba de outros reaccionários que não. Porque aquela gente, se pudesse, roubava a muitos de nós – os que não fossem trabalhadores por conta de outrem – o modo de vida, e porque em nome da nossa liberdade fazia o que podia para a substituir pela deles, na qual não cabem vozes dissonantes, e portanto não caberíamos nós. Donde, como se pode ser amigo de quem defende um estado de coisas que nos anula, e a muitos meteria na cadeia? Não são adversários, são inimigos.

Raio de problema. Que encontra solução na contradição inerente ao respeito pelas liberdades, das quais o melhor exemplo é o da de opinião: ou abrange quem diz coisas completamente opostas às nossas convicções ou não é liberdade. E também no facto de um amigo comunista o poder ser (amigo) por acreditar sinceramente que nós não correríamos qualquer risco sério no caso de vingar a sua deles distopia – já que juram por fantasias irrealizáveis não há razão para duvidar da boa-fé em acrescentar essa ao lote.

Celebramos então aquele momento em que julgávamos que não havia desfiladeiros, crateras e vulcões entre nós, e esquecemos o outro em que nos livramos do perigo de o 25 de Abril de 1974 desembocar, afinal, num 1917 moscovita?

Não é preciso esquecer nenhuma das datas. Mas como, dos três dês que não sei quem inventou retroactivamente para o 25 de Abril – democratizar, descolonizar e desenvolver – o primeiro foi conseguido apenas pelo 25 de Novembro, o segundo abriu feridas com as quais a História ainda não acertou contas e o terceiro empalidece em comparação com o Estado Novo (mesmo que a maioria das pessoas, por ignorância condicionada, assim não o entenda), talvez fosse um óptimo terreno de entendimento acabar com um feriado, e não o substituir pelo outro.

Precisamos de datas pela mesma razão que todos os países que não estão cansados de o ser as têm? Precisamos sim. Mas como estamos afogados em dívida e a trabalhar menos é que, certamente, não a vamos pagar, podíamos acabar com o feriado do 25 de Abril sem o substituir pelo 25 de Novembro.

E então, de feriados cívicos, nicles? Estamos servidos: ele há o 1º de Maio, que os comunistas julgam que é um dia deles mas se tornou um feriado mundial que celebra o trabalho, e o 10 de Junho, dedicado a Portugal por razões oscilantes. E há o 5 de Outubro, que comemora um regime celerado fundado no assassinato de um homem bom, mas está ungido pela tradição. A qual santifica as coisas, se durar tempo suficiente, mas bem poderia neste caso ser corrigida nos discursos.

Não para celebrar o regime republicano, que nunca o mereceu, mas o Tratado de Zamora, que teve lugar no mesmo dia, e tem a vantagem de ser uma data plausível para o nascimento do nosso a tantos títulos detestável país, mas que é o único em que todos – comunistas, bloquistas, pessoas normais – não somos  estrangeiros.

Esta gente ensandeceu de vez

Pedro Correia, 26.11.21

transferir.jpg

 

Andaram a vangloriar-se que Portugal era um dos países do mundo com maior taxa de vacinação. De facto, ocupamos a quinta posição, com cerca de 88% da população vacinada. Durante todo este tempo aludiam à vacina como panaceia seguríssima contra a pandemia. Mas preparam-se para voltar a fechar e paralisar tudo: o primeiro passo foi ontem anunciado pelo Governo. Decretando novas restrições nos acessos a restaurantes, recintos desportivos, bares e ginásios. Recuperando o uso compulsivo de máscaras em locais de trabalho e todos os espaços fechados. Anunciando que para assistir a espectáculos ou concertos não basta afinal exibir o certificado de vacinação que dantes tanto enalteciam: há que fazer testes à covid-19. Quem não os fizer, fica à porta.

Voltamos à bolha, voltamos à redoma. 

Dizem que procedem assim porque lá fora, noutros países europeus, as infecções voltaram a alastrar a ritmo acelerado. Apontam os exemplos da Áustria ou da Holanda - omitindo que nestes países a taxa de vacinação é muito inferior à nossa: 69% no primeiro caso, 72% no segundo.

Agora lembraram-se de começar a vacinar as crianças a partir dos 5 anos, contrariando tudo quanto tinham garantido anteriormente. E já andam histéricos, recomendando sérias restrições ao convívio familiar nas quadras festivas de Dezembro. Como se afinal não fizesse qualquer diferença os portugueses estarem vacinados.

Terão concluído enfim que as vacinas não nos imunizam? Caramba, nada alimenta tanto o "negacionismo" como esta conclusão.

 

Uma das figuras que mais vezes aparecem nos ecrãs televisivos em defesa aberta de novas restrições é o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, que esta noite fez uma extraordinária sugestão na recém-surgida CNN Portugal: todas as pessoas devem passar a fazer testes imediatamente antes e depois de qualquer convívio familiar «para despistar os falsos negativos». Garante que os testes são «bastante acessíveis em termos financeiros», esquecendo-se de especificar quanto este estapafúrdio conselho deverá pesar na bolsa de cada português

Entretanto, o monotema da pandemia inunda de novo os espaços informativos. Como se nada mais acontecesse. Como se não houvesse uma infinidade de outras doenças a ameaçarem seriamente a vida dos portugueses. Estas doenças voltam a tornar-se clandestinas: é tabu falar delas. Mas vão matando mais que nunca.

Oiço-os, com infinita paciência, e começo a chegar a uma perturbante conclusão: esta gente ensandeceu de vez.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 26.11.21

21523202_SMAuI.jpeg

 

Ana Lima: «Em dia de dérbi (ou derby) aí vai uma contribuição para todos os adeptos das duas equipas (e de outras): trata-se de um texto publicado numa revista que se publicou entre Março de 1926 e Março de 1927, de seu nome "Ordem Nova", e que tinha como objectivo a mobilização para a luta política a favor da ditadura, promovendo as suas ideias e propostas.»

 

Ivone Mendes da Silva: «- Tens mesmo de ir ver o jogo?

- Sim e ainda tenho de vestir alguma coisa.

- Nunca hei-de perceber porque não ficas em casa.»

 

Rui Rocha: «Mário Soares afirma que Otelo tem muito bom coração. Ramalho Eanes assevera que Otelo tem o coração perto da boca. Se tivermos em conta que a história testemunha que Otelo teve o dedo colado ao gatilho e que, com a outra mão, manteve o fósforo junto do rastilho, chegaremos à conclusão que, no meio de tudo isto, o que é preciso é ter estômago.»

Reconciliação histórica

Paulo Sousa, 25.11.21

Há algum tempo que tenho dado um enfoque especial à leitura de romances sobre a Guerra do Ultramar, entretanto rebaptizada como Colonial, e também sobre a maior movimentação populacional da nossa história que se lhe seguiu, e que trouxe ao nosso léxico o substantivo Retornado.

Não foi assim há tanto tempo e ainda é fácil de encontrar muita gente capaz de relatar na primeira pessoa detalhes do que então se passou. Não cultivamos a nossa memória e este período histórico será mais uma das vítimas do desprezo com que tratamos o nosso passado comum e os seus protagonistas.

A leitura dos livros Olhos de Caçador de António Brito e Nó Cego de Carlos Vale Ferraz leva o seu leitor a mergulhar no quotidiano de uma geração arrancada das suas terras e lançada para os confins do império, do qual conheciam apenas os contornos geográficos observados nos mapas suspensos na sala da instrução primária. À imagem da composição social da época muitos destes soldados eram originários de um Portugal profundo, pouco instruído e pouco esclarecido. O serviço militar levou-os a travarem conhecimento com gente de todo o país, a ouvirem os seus sotaques e a conhecerem as suas particularidades. Muitos chegaram à tropa analfabetos e de lá saíram com conhecimentos técnicos que lhes permitiram mais tarde exercer profissões a que não teriam acesso sem a formação que ali receberam. Mas atrás deles ficaram milhares de outros, mortos, estropiados e deformados para o resto das suas vidas. Definitivamente ninguém regressou igual ao que foi, tendo muitos deles nem sequer regressado.

Estes romances transmitem uma vivência muito intensa, seja quando a narração respeita à tropa macaca, os aramistas, os que nunca saíam de dentro do arame farpado dos quartéis, seja quando a acção é perpetrada por tropas especiais, que faziam incursões pelo mato adentro. Ambos os autores levam-nos para o dia-a-dia dos soldados que cumprem ordens emanadas por oficiais superiores formados em tempo de paz e por vezes mal preparados para lidar com uma guerra assimétrica, travada entre tropas regulares e forças dispersas apostadas apenas em flagelar e desaparecer. Além das inúmeras baixas que estas flagelações provocavam, a ansiedade da espera pelo próximo ataque alimentava a dúvida moral assente na pergunta O que é que estamos aqui a fazer?

As opções políticas de então, enquadradas na geopolítica da época, colocou estas dezenas de milhares de portugueses no lado errado da história e isso apenas acentua o drama da condição do soldado que assenta na sujeição e na obediência do que demasiadas vezes parece não fazer sentido.

Tendo de combater com as limitações logísticas resultantes do embargo internacional a que Portugal estava sujeito, estes soldados preencheram com o seu sacrifício tudo o que lhes faltava e que não era apenas armamento. A imensidão dos espaços e a progressão lenta dos reabastecimentos perturbavam profundamente o seu conforto físico, onde o acesso a refeições regulares e a água potável nem sempre estava assegurado. Haverá certamente quem discorde com esta minha descrição, até porque não é baseada em experiência pessoal, mas apenas na leitura destes romances, mas afinal de contas todos podemos exprimir também uma opinião sobre a Implantação da República, e sobre esse acontecimento estamos todos em pé de igualdade.

A acção de ambos os livros desenrola-se no norte de Moçambique, no que chegou a ser conhecido pelo Estado das Minas Gerais, onde as colunas militares chegaram a ter de lidar com mais de sessenta minas num único quilómetro. Esta arma silenciosa e furtiva, e que para desgraça dos povos mantém a letalidade muitos anos depois da guerra, atrasava durante dias deslocações que poderiam ser feitas em poucas horas. A pressão psicológica a que os picadores, que sondavam cada centímetro das picadas, estavam sujeitos era tremenda e sabemos hoje que mais de metade das baixas então sofridas foram causadas por minas.

O esforço de um pequeno país em manter três frentes de combate, tão dispersas e tão longínquas, não tem paralelo na história. Li algures que isso foi apenas repetido pelo Império Britânico e durante muito menos tempo. A variável mais importante que permitiu tal feito foi o esforço, a obediência e o sacrifício dos soldados portugueses. A sua resistência e frugalidade já a traziam da vida difícil que sempre tinham tido no Portugal salazarista. Estou certamente a ser demasiado simplista, mas este é sentimento que sobra após estas duas obras.

Depois de tanto sofrerem, pela imensidão da distância aos seus sítios de origem, aos seus entes queridos e por terem sentido o absurdo da guerra, embora nem todos na mesma medida, esta geração regressou a um Portugal diferente daquele que tinham conhecido e que então se reinventava. Apesar desta reinvenção ter sido desencadeada pela mão das Forças Armadas, a nova narrativa não reservava o espaço de reconhecimento que esta multidão de gente merecia.

Na vida de demasiados destes portugueses, e das suas famílias, a guerra continuou a consumir-lhes os dias e as energias atormentando-os por muitos mais anos. Todos conhecemos quem tenha sofrido, ou ainda sofra, de Stress Pós-traumático, e isso é algo que o país demorou demasiado tempo a dar a devida importância. Se não se fizesse tanto por esquecer tudo isto, aquilo porque estes soldados passaram deveria até entrar nas comparações dos debates actuais sobre a violência de género. O esquecimento é apenas mais uma camada de violência.

Através d’O retorno de Dulce Maria Cardoso e d’O último ano em Luanda de Tiago Rebelo, revive-se o choque de quem teve de abandonar tudo o que tinha, de quem simplesmente fugiu para salvar a vida, sem nada nas mãos, alguns para uma terra que nunca tinham pisado e onde não conheciam ninguém. Nem todos se adaptaram bem ao que encontraram mas não duvido que o Portugal que somos hoje é também um Portugal moldado pelo que os retornados acrescentaram à “metrópole”, com a vivência que trouxeram, com o seu “fazer pela vida” que agora se chama empreendedorismo, e até pelo nível médio de instrução, que era bem superior ao do rectângulo europeu. Este acontecimento, que por si só já seria profundamente marcante, coincidiu com os anos quentes do PREC e com um nível de incerteza que hoje, para quem não viveu esses tempos em idade adulta, será difícil de imaginar.

O país mudou do paradigma imperial para a partilha da identidade europeia sem que se tivesse feito o luto pelo fim do que fomos durante quinhentos anos. Mergulhámos na Europa da CEE, e mais tarde da UE, mais num golpe do desenrascanço que nos caracteriza do que por uma convicção sentida e vivida. Vendo bem, a nossa atitude quase não difere da desse meio milénio. Já não vivemos à custa de outros territórios, mas vivemos à custa dos impostos que outros pagam. Mudou a origem da riqueza, mas o mamar é o mesmo. Talvez por isso, não valha mesmo a pena fazer luto por coisa nenhuma.

Ainda assim, e porque gosto de registos históricos, deveria ser lançada uma campanha que promovesse e premiasse a elaboração de registos das memórias pessoais do que então aconteceu. Poderiam ser elaborados relatos escritos, poder-se-iam reunir e digitalizar fotografias, aerogramas ou simplesmente recorrer a gravações de áudio num normal telefone para registar conversas entre quem viveu esses tempos. Muito há ainda para registar. Como sempre são os pequenos detalhes que acrescentam a dimensão humana aos frios livros de história, onde se incluem os que ainda não foram escritos. O que nunca for dito será como se nunca tivesse acontecido. Mesmo havendo quem prefira enterrar no esquecimento alguns traumas pessoais, o país precisa de se reconciliar com este passado historicamente tão recente. Precisávamos de uma ou duas dúzias de romances passados nesta época assim como mais filmes e series. Talvez assim as gerações mais novas olhassem para os antepassados que por lá andaram e lhes reconhecessem o esforço e o sacrifício que fizeram pelo nosso país.

25 de Novembro

Pedro Correia, 25.11.21

images.jpg

 


Nada justifica o comportamento timorato que o PS de há uns tempos a esta parte tem vindo a revelar na abordagem deste assunto.»

Francisco Assis, 2019

 

Há 46 anos, em 25 de Novembro de 1975, o PS de Mário Soares, Maria Barroso, Salgado Zenha, Jaime Gama, Sophia de Mello Breyner Andresen e Manuel Alegre não se absteve, como a grande maioria do PS actual: estabeleceu uma linha fronteiriça entre a democracia representativa e a extrema-esquerda política e militar que queria implantar em Portugal a réplica de uma ditadura cubana, albanesa ou soviética.

Soares era então inimigo n.º 1 dessas forças extremistas, que o comparavam a um girondino da Revolução Francesa ou a Aleksandr Kerenksy, o efémero líder social-democrata russo destituído pela insurreição bolchevista de Lenine em 1917. O fundador do PS esteve à altura do seu papel histórico, assumindo-se como um resistente de primeira hora a uma ditadura de esquerda. Com a mesma fibra de lutador que revelara no salazarismo.

O 25 de Novembro complementa e completa o 25 de Abril. São duas datas indissociáveis - excepto para fascistas e sociais-fascistas. Quem no PS hoje não entende isto, traindo o seu legado histórico, não entende nada.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 25.11.21

21523202_SMAuI.jpeg

 

Ana Lima: «Fazer greve e trabalhar não é verdadeiramente greve. As minhas filhas também não compreenderam. Na realidade não só não prejudiquei como beneficiei o Estado pois além do dinheiro que poupou, nem a água e a luz consumi. Mas digo-vos: o dinheiro perdido é compensado por este sentimento de que, mesmo no meio das contradições e desconhecendo quais os números reais, estou no lado certo das estatísticas.»

 

João Carvalho: «Uma vez na posse dos impressos e mais a factura, deixámos o balcão e dirigimo-nos para a porta da rua. Foi quando vi, colado ao vidro da parte de dentro e escrito em parangonas, com todas as letras maiúsculas e em quatro linhas: "Peça a factura se faz favor. Facturar faz o País avançar." Deu para entender por que é que o País não avança.»

 

Luís M. Jorge: «Às onze da manhã e às cinco da tarde, no Opinião Pública da SIC Notícias, todos os desocupados do país erguerão as vozes em uníssono para denunciar a infausta repugnância lusitana pelo trabalho.»

 

Rui Rocha: «Na greve de ontem, o tempo perfeito, o momento idealizado, estava no passado. Esse onde o trabalho podia ser para toda a vida e era pago em 14 remunerações anuais e em que o Estado oferecia a miragem de uma ampla protecção social na doença e na tristeza. O cimento que uniu os trabalhadores não foi o desejo de revolução, com a consequente alteração das estruturas políticas e sociais, nem sequer o de revolta (entendida esta no sentido que lhe é dado por Paolo Virno, Alain Badiou ou Jacques Ranciére: momento análogo ao da catástrofe, do colapso, sem projecto de futuro). No fundo, os trabalhadores em greve são consumidores que vêem o poder de compra afectado e reclamam o seu lugar no sistema capitalista e na social-democracia.»

Já li o livro e vi o filme (292)

Pedro Correia, 24.11.21

500x.jpg

ET.jpg

 

     E. T. - O EXTRATERRESTRE (1982)

Autor: William Kotzwinkle

Realizador: Steven Spielberg (1982)

O livro, novela adaptada do guião, só surgiu após a rodagem do filme. Lê-se muito bem, recomenda-se para um público infantil e juvenil, mas a obra-prima de Spielberg - que adquiriu estatuto de clássico mal se estreou - é insuperável. Nenhum texto lhe faz sombra.

Impressões alemãs (2)

Cristina Torrão, 24.11.21

G-Burg Eltz-001.JPG

Castelo de Eltz, no vale do riacho Elz, perto da cidade de Koblenz, Estado da Renânia-Palatinado. Eltz é o nome da família, a quem o castelo pertence há vários séculos. Elz é um riacho com cerca de 60 km de comprimento, afluente do rio Mosela.

Calcula-se que a origem do castelo de Eltz se situe no século XII (não com o aspecto de hoje, fruto de várias modificações ao longo dos séculos, aliás como é habitual).

© 2004 Horst Neumann

O criador da Geringonça

Pedro Correia, 24.11.21

577745.png

 

É usualmente reconhecido que foi Vasco Pulido Valente o criador do termo Geringonça, num texto que escreveu, para designar a aliança de forças derrotadas que em 2015 formaram governo em cenário pós-eleitoral. Paulo Portas, com a rapidez de raciocínio que sempre o caracterizou, apropriou-se rapidamente do vocábulo, mal o viu impresso, e contribuiu para a sua divulgação. A tal ponto que até alguns dos visados o adoptaram também.

Pulido Valente, como sabemos, tinha um talento inato para cunhar expressões que logo se integraram no vocabulário comum. Recordo duas, sem qualquer esforço de memória: "picareta falante" e "o mundo está perigoso".

No caso da Geringonça, porém, parece-me que ele se revelou apenas um excelente leitor de José Rodrigues Miguéis. Leio na página 285 d'O Milagre Segundo Salomé, a obra-prima deste grande escritor: «O problema é essencialmente económico, mas tudo depende da fórmula política. Se não for dentro da geringonça parlamentar, há que ir buscá-la fora dela.»

Rodrigues Miguéis era um visionário. Publicou o romance em 1975 - quarenta anos antes da verdadeira "geringonça parlamentar" conhecer a luz do dia. Os grandes escritores são mesmo assim, capazes de vislumbrarem além do seu tempo.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 24.11.21

21523202_SMAuI.jpeg

 

Ana Vidal: «Andávamos todos tão necessitados deste Castelões melhorado como do novo paradigma do dr. Soares. Mas não se apoquente, amigo novo-rico português que ficou excitado com a ideia de ter este ano um estômago mais brilhante do que a sua árvore de Natal: não quero apontar-lhe o dedo, que é isso! Nem dizer-lhe o que penso desta aberração imoral, sobretudo nos tempos que correm (olha, perdão, já disse). Afinal, você tem tanto direito de exibir a sua alarvice pseudo-sofisticada como qualquer sultão dos petroemiratos ou estrela pop, seja a lady gaga ou outra de discurso escorreito.»

 

Ivone Mendes da Silva: «Lembro-me de ter lido uma entrevista na qual uma das filhas de Jacques Brel dizia que o pai era igual aos bourgeois que vilipendiava nas canções. Por estas e por outras, hei-de preferir sempre a obra ao autor. Gosto de que leio, vejo e ouço. O resto, je m'en fousNe me quitte pas pode ser canção de amar ou de rastejar (e ninguém diga desta água não beberei...), mas é sobretudo uma belíssima canção. Postas assim as coisas, melhor, cantadas assim, eu teria ficado. Nem que fosse para me ir embora no dia seguinte.»

 

João Carvalho: «Pode não parecer pela notícia que o mencionado Jardim do braço-de-ferro com Lisboa é o mesmo Jardim que manteve audiências recentemente com Passos Coelho e Vítor Gaspar, nas quais entrou de carrinho e saiu de patins. Mas é ele. O que é que acham? Será que acabou o número dos palhaços e começou o dos trapezistas sem rede? Pode ser bom sinal. Que o circo prossiga.»

 

José António Abreu: «Juro que não fiz de propósito mas hoje, dia de greve geral, foi também o dia em que mais trabalhei esta semana.»

 

Luís M. Jorge: «Dia de greve é dia de trauliteirismo galopante, como sabemos. Daí a importância de mimarmos a nossa direita civilizada, que não alça mocas de Rio Maior nem vitupera a infame Constituição marxista onde se consagram direitos a quem dá cabo da economia.»

 

Luís Menezes Leitão: «Passos Coelho agora afirma que "temos que dar um passo atrás para dar dois passos em frente". Já há muito que me parecia que estas políticas do Governo com impostos extraordinários, taxas de IRS de 50% e confisco de salários aos funcionários públicos e pensões aos pensionistas nada tinham de liberal, mas antes de socialista. Agora verifica-se que o Primeiro-Ministro se filia claramente na pura dogmática de uma frase imemorial dita por Vladimir Ilitch Lenine em 1904 (a obra pode encontrar-se aqui). Lenine de facto conseguiu atingir o objectivo da sua vida, apesar dos muitos passos que deu para trás, mas a sua vitória representou a desgraça do seu povo durante quase 75 anos. Desejo sinceramente que Portugal não passe pelo mesmo.»

 

Rui Rocha: «Os dados apresentados pelos sindicatos só são compreensíveis se os entendermos como um milagre (ocorre-me o episódio da multiplicação dos pães), prestidigitação ou pura charlatanice. Na verdade, aceitar uma participação próxima de 1 milhão de trabalhadores já exige alguma boa vontade. Estaríamos, mesmo nesse caso, a falar de 20% da população empregada e de um número inferior em 2 milhões ao apresentado pelos sindicatos.»

 

Eu: «Em dia de greve geral suscita-se a questão: como vamos em matéria de direitos laborais por esse mundo fora? O melhor é consultar o relatório anual da Confederação Internacional de Sindicatos: nenhuma organização está tão bem informada nesta matéria.»

Viana é «interior»?

Pedro Correia, 23.11.21

20211121_190134.jpg

 

A incultura galopante no jornalismo provoca coisas como esta: um artigo sobre o aumento das rendas de casa no interior do País é ilustrado com uma fotografia de Viana do Castelo, uma das nossas principais cidades costeiras - aliás sede de antigos e prósperos estaleiros navais.

Isto no semanário mais influente de Portugal: ali, na hora de paginar, não faltará quem imagine que tudo quanto esteja fora de Lisboa é «interior». A ignorância tem sempre razões que a razão desconhece.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 23.11.21

21523202_SMAuI.jpeg

 

João Campos: «A confirmar-se, claro - com a CP, nunca é de fiar -, esta é uma excelente notícia: [Intercidades Lisboa-Faro] Novas paragens em Ermidas do Sado e Santa Clara. Já era tempo de o concelho de Odemira ter uma ligação à rede do Intercidades.»

 

João Carvalho: «Jardim, na senda habitual do défice democrático que plantou e senhor de conhecidos tiques absolutistas nas duas ilhas onde reina, promoveu desta vez uma trapaça: dono dos dados e das cartas do jogo, alterou as regras do jogo e ainda foi a jogo. Ganhou, claro. Falta agora confirmar que Portugal é um Estado de direito com um regime democrático constitucionalmente consagrado. Não sei se vai caber ao Tribunal Constitucional, não sei se vai ser preciso alguém apresentar queixa e não sei se Jardim vai espumar pela boca. Nem quero saber.»

 

Laura Ramos: «Para viver de sonhos chegaram-me as últimas legislaturas. Eis no que deu. Eis quem pagou.»

 

Leonor Barros«Em Março último, Cavaco Silva afirmava que havia limites para os sacríficios exigidos aos portugueses. Além dos limites aos sacríficios devia haver limites à paciência dos portugueses e ainda limites à distinta lata do primeiro-ministro. E depois querem convencer-nos de que não há alternativa à austeridade. Esqueceram-se de um adjectivo possessivo de extrema importância. Não há alternativa à nossa austeridade, já que a vossa, senhores governantes, vai continuando a ser uma miragem. Tenham vergonha.»

 

Luís M. Jorge: «Vale a pena recordarmos que nem Sócrates, nem os amigos de Sócrates, nem os jornalistas e colunistas de Sócrates, nem os abrantes de Sócrates se atreveram a pôr alguma vez em causa a legitimidade de uma greve. Podem ter insultado os grevistas com a panache do costume, mas não discutiram direitos fundamentais. E essa pequena diferença revela-nos muito do que em breve teremos de enfrentar.»

 

Luís Menezes Leitão: «Mário Soares constitui seguramente a figura mais emblemática do regime saído do 25 de Abril. É por isso com tristeza que o vejo associar-se a uma iniciativa tão absurda como a deste manifesto. Estou totalmente em desacordo com a política financeira de Vítor Gaspar e aposto singelo contra dobrado que daqui a dois anos o país vai estar ainda pior do que está hoje. No entanto, a oposição pressupõe a afirmação de alternativas, não bastando a apresentação de um texto mal escrito, em estilo de redacção escolar, sem uma mínima proposta consistente.»

 

Rui Rocha: «Nada incomoda mais do que os comentários que procuram sublinhar o incómodo e a inutilidade das greves. Estas são um direito que tem como único critério a vontade dos trabalhadores. É assim que as devemos encarar. Numa sociedade adulta, respeita-se sem adversativas o direito à greve e o correspondente direito à não greve. Depois, fazem greve os que entendem fazer, sofrem-nas os que devem sofrer e tiram-se as conclusões pertinentes. São os custos de viver em sociedade. Convenhamos, há por aí outros bem piores. Nunca fiz greve, nem tenciono fazer nos próximos tempos. Mas, no dia em que decidir fazer, não aceitarei que condicionem o meu direito a partir de um critério de utilidade ou do incómodo que pode causar.»

 

Eu: «O órgão central do PCP subscreve a posição oficial da ditadura síria, copiando as posições pró-Kadhafi que assumiu sem sombra de pudor nos meses que antecederam a queda da ditadura líbia. Em vez de criticar o tirano, contesta aqueles que ousam levantar-se contra ele, denunciando supostas milícias responsáveis por "actos considerados terroristas em qualquer parte do mundo, como ataques a esquadras e instalações do exército". Uma vez mais, coloca-se ao lado de quem reprime e levanta a voz contra os reprimidos. Azar das Catarinas Eufémias sírias: elas jamais contarão com a solidariedade do PCP.»

Isto é serviço público

Pedro Correia, 22.11.21

Salazar 1.jpg

Última página da agenda de Salazar: 6 de Setembro de 1968

 

Celebre-se o arquivismo competente, ao serviço da investigação jornalística e da pesquisa histórica. É este o caso ontem justamente enaltecido nas páginas do Público: todas as agendas diárias de Salazar estão descodificadas e digitalizadas graças à diligência de uma arquivista chamada Madalena Garcia. 

São 1.781.004 palavras escritas durante 35 anos, entre 1 de Janeiro de 1933 e 6 de Setembro de 1968. Em 72 cadernos com cerca de 20 mil páginas, correspondentes a 13 mil dias. Num total de 9,3 milhões de caracteres e 4600 nomes diferentes ali registados.

Tudo agora enfim clarificado por quem, com paciência infinita, decifrou aquela caligrafia quase ilegível, aquelas abreviaturas enigmáticas, aquelas alusões que pouco dizem ao desprevenido leitor contemporâneo. Fruto de 16 anos de trabalho não consecutivos: os sete primeiros ocupados na leitura, inventariação, organização, classificação e transcrição, quando a arquivista trabalhava na Biblioteca Nacional; os restantes nove preenchidos com a reprodução integral das agendas, quando já se encontrava aposentada da Torre do Tombo, onde chegou a ser subdirectora.

Isto é serviço público. Parabéns a Madalena Garcia, exemplo de cidadania para todos nós.

Um país deprimido por culpa do futebol

Pedro Correia, 22.11.21

F Santos.jpg

Bernardo.jpg

Marcelo RS.jpg

 

Parecia um terramoto. Só não provocou a queda do Governo porque a defunta geringonça já se tinha encarregado disso, na votação parlamentar que provocou o primeiro chumbo de um Orçamento do Estado da nossa democracia.

A derrota da principal equipa portuguesa de futebol ao nível de selecções, humilhada pelos adversários sérvios no estádio da Luz com Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa na tribuna, causou um abalo sísmico na psicologia colectiva deste povo habituado a glorificar os heróis da bola. Não só por nos afastar da qualificação directa para o Campeonato do Mundo, a disputar daqui a um ano no Catar, mas pela sofrível exibição da turma das quinas, catalogada na oitava posição da tabela classificativa internacional, enquanto a selecção da Sérvia surge num modesto 29.º lugar.

Uma angustiante dúvida apoderou-se dos milhões de portugueses que acompanham com fervor o chamado desporto-rei: teremos regressado à era em que acumulávamos fracassos nos relvados, mascarados de «vitórias morais» pelos cultores dos eufemismos? O nosso inédito reinado como campeões europeus entre 2016 e 2021 terá sido proeza irrepetível?

 

Foi curioso ver as reacções em estúdio de vários comentadores, confrontados com a derrocada. Dividem-se em três grupos, cada qual com os seus pontas-de-lança. Aqueles que sempre ansiaram pela queda de Fernando Santos por ter posto os futebolistas a «jogar feio», mesmo vencendo, apressam-se a reivindicar a defenestração sumária do seleccionador. Aqueles que até agora lhe entoavam hossanas mudaram a agulha: falam em «equipa de Portugal» quando dantes invocavam a todo o momento a sacrossanta «selecção nacional». E há ainda os profissionais da ambiguidade, que jamais arriscam uma frase digna de suscitar polémica: estes aludem a «uma exibição cinzenta», lastimam a «noite pouco feliz», lamentam vagamente a «exibição menos conseguida».

Não faltaram bitaiteiros de vários matizes no deprimente serão televisivo de domingo – do pessimista militante que adora proclamar «eu bem dizia» mal vê a bola entrar na baliza errada ao puxa-saco subitamente travestido de crítico feroz. Uns e outros, com lugar cativo nas pantalhas, proporcionam por vezes espectáculos ainda mais penosos do que a ocasional mediocridade lusa nos campos de futebol.

 

No rescaldo imediato deste Portugal-Sérvia, o pior comunicador foi Fernando Santos: falou muito e disse quase nada, mandando bolas fora. Isto, por exemplo: «Nós todos sabemos que não fizemos aquilo que podíamos ter feito.» Felizmente os jornalistas recolheram também declarações de um jogador, Bernardo Silva, que se deixou de rodriguinhos e rematou assim: «Foi uma exibição péssima, peço desculpa aos portugueses.»

O essencial dito em apenas oito palavras. Se a equipa das quinas tivesse jogado como Bernardo comunica, a vitória seria nossa. Por goleada.

Melhor que ele, só o Presidente da República, ao exclamar: «A luta continua, em Março há mais!» Supõe-se que falaria de futebol. Mas com Marcelo nunca se sabe.

 

Texto publicado no semanário Novo

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 22.11.21

21523202_SMAuI.jpeg

 

João Campos: «O PS propõe, no contexto das medidas de austeridade (e da busca desesperada por uma alternativa ao corte de um dos dois subsídios), medidas de moralização para os políticos. E que propõe Seguro? Simples: As viaturas do Estado para uso particular devem passar a ser contabilizadas para efeitos de IRS. Assim de repente não sei que efeito tal medida teria nas contas públicas, mas é impossível não ver que o secretário-geral do PS perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Se propusesse que as viaturas do Estado devem ser usadas única e exclusivamente para fins de Estado, e jamais para fins particulares, aplaudiria. Mas isso, como é bom de ver, seria pedir muito.»

 

João Carvalho: «O serviço público que se esperaria da RTP (usando o exemplo inevitável do canal principal em sinal aberto) está muito, muito longe dos mínimos desejáveis. Ora porque se cola à programação das televisões privadas com o olho nas audiências, ora porque não se cola e não sabe o que há-de fazer além de encher chouriços — chouriços que ficam pela hora da morte, mais caros que as morcelas gourmet da mesa do rei — o certo é que andamos todos a pagar ordenados principescos que seriam obscenos mesmo que fossem entregues aos melhores profissionais do mundo.»

 

José António Abreu: «Carlos Zorrinho diz que só «a teimosia» ou «eventual excesso de precaução» pode impedir o governo de aceitar as alterações ao orçamento propostas pelo PS. Ele devia ter mais cuidado com a questão de «a teimosia» porque todos nós, detentores de memória não selectiva, ainda nos lembramos de como o governo do Partido Socialista não era propriamente brilhante a aceitar sugestões nos tempos em que dispunha de maioria absoluta.»

 

Laura Ramos: «John Fante foi isso mesmo: um escritor americano filho de italianos pobres imigrados no Colorado, cujo pai assentava tijolos com brios de escultor e vivia entregue à bebedeira constante, às permanentes infidelidades à mulher e ao quase desprezo pelos filhos, numa espiral autoritária e primitiva que marcou o escritor para sempre. A Confraria do Vinho é assumidamente autobiográfico e um dos últimos livros publicados por este "Hemingway italo-americano", como lhe chamaram, girando em torno dos derradeiros dias do pai, quando o escritor, já casado e a viver em Malibu, regressa penosamente à casa da família perto de Sacramento e à vida entre os paisani, dominados pela idolatria às vinhas de Musso, afogados em chianti (o leite das suas segundas infâncias), eternos malandros deambulando pelas tascas à espera de se atirarem a qualquer rabo de saias.»

 

Luís Menezes Leitão: «Quando é conseguiremos arranjar um governo que não se preocupe com os prejuízos do bar da Heidi e dos que investiram na sua política de crédito e se preocupe antes com os cidadãos trabalhadores deste país?»

 

Patrícia Reis: «Hoje apresentei às pessoas que trabalham comigo no atelier os cortes que terão no subsídio de Natal. Eu não tenho. Não chega, não é a primeira vez, não será a última, mas tenho de pagar o imposto seja como for. Pouco importa, é Natal na mesma.»

 

Rui Rocha: «Os proveitos do alojamento turístico ascenderam na Madeira a 250 milhões de euros em 2009 e a 227 milhões de euros em 2010. Todavia, como aqui se vê, a soma dos proveitos dos meses de Dezembro e de Janeiro dificilmente ultrapassa os 30 milhões de euros. Aqui chegados, uma pergunta: que percentagem dos turistas que visitam a Madeira entre Dezembro e Janeiro continuaria a fazê-lo se não existisse animação ou se esta fosse mais contida? Não sei, confesso. Mas, sei uma coisa. Os proveitos do mês de Novembro de 2010, em que não existiu Natal, Réveillon ou Carnaval, foram superiores a 14 milhões de euros. Isto é, Novembro de 2010, sem nenhuma âncora, gerou mais proveito do que Janeiro ou Dezembro do mesmo ano (cada um deles vale cerca de 14 milhões). Assim, é de admitir que a decisão de visitar a Madeira no final do ano seja ditada, tal como acontece em Novembro, por muitos outros motivos de interesse. E que a animação seja, só por si, pouco relevante.»

 

Eu: «Não há políticos no Governo italiano, liderado pelo ex-comissário europeu Mario Monti. Há sete professores, dois advogados, um banqueiro, um almirante, um jurista, uma antiga delegada da polícia... A intenção é clara: demonstrar aos italianos que chegou a hora de "limpar" o país desse vírus que é a política. Outra coisa não seria de esperar desta equipa governativa que se destina a regenerar Itália para mostrar obediência à Comissão Europeia e ao directório franco-alemão.»