«Mulher bonita? A Carla Bruni. Todos temos um bocadinho de ciúmes de Sarkozy nesse plano. Mas só nesse»
O deputado socialista, antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, não é daqueles políticos que hesitam nas respostas. Responde com rapidez e sem gaguejar. Não hesitando em contrariar algumas cartilhas da correcção política, mesmo da sua área ideológica. Foi o que sucedeu nesta nossa conversa telefónica, em que deixou bem claro: «Há quem seja rosa. Mas eu sou dos vermelhos.»
Qual foi a maior decepção que sofreu até hoje?
Já sofri algumas, em política e não só. Quando fui derrotado pelo Sr. Lopes em Lisboa, por exemplo: nessa altura fiquei um bocadinho triste com os lisboetas. Mas o que é preciso é olhar para a frente.
Gostaria de viver num hotel?
Nem me passava isso pela cabeça.
A sua bebida preferida?
Sumo de laranja. Laranjas, para mim, só muito bem espremidas.
Que número calça?
42.
Que livro anda a ler?
Estou a ler As Benevolentes, de Jonathan Littell, numa belíssima tradução portuguesa.
Qual é a sua personagem de ficção favorita?
São tantas... Uma das minhas preferidas é a que Humphrey Bogart interpreta em Casablanca.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
Gosto mais de conduzir. Mas há alturas em que dá jeito ser conduzido.
É bom transgredir os limites?
Depende dos limites. Faz sentido transgredir alguns limites.
Por exemplo?
A limitação em vigor ao tabaco em quase todos os países da União Europeia, incluindo Portugal, importada da América neoliberal de Bush. Faz sentido transgredi-la sempre que for possível e não incomode terceiros.
Tem feito isso?
Às vezes.
Qual é o seu prato favorito?
Sou profundamente patriota em matéria gastronómica. Gosto de pescada frita com açorda e uma saladinha de alface e cebola. Gosto de um bom cozido à portuguesa. Gosto de língua de vaca com puré de batata. Gosto de mãozinhas de vitela guisadas. Gosto de umas favinhas com entrecosto...
Qual é o pecado capital pratica com mais frequência?
Sou, no mínimo, agnóstico. As minhas referências bíblicas são limitadas. Sei que há pecados mortais, mas não os conheço todos.
A sua cor preferida?
Do ponto de vista político, é o vermelho. Não gosto de meias-tintas.
Está um pouco desactualizado. O PS agora prefere o rosa...
Há quem seja rosa. Mas eu sou dos vermelhos. Não me envergonho nada, antes pelo contrário.
Costuma cantar no duche?
Não. Mas às vezes assobio.
E a música da sua vida?
Sou da geração dos franceses e dos belgas. Adoro o Brel, o Yves Montand. Mas também gosto muito do Vitorino, da Teresa Salgueiro, do Carlos do Carmo. Há um fado do Carlos do Carmo de que gosto particularmente - Um Homem na Cidade.
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Não. O hino é bem bonito. Sei-o de cor e já o ensinei aos meus filhos. É verdade que aquele trecho que fala em marchar contra os canhões está desactualizado, mas não me incomoda.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Talvez com o Barack Obama. Ainda não o conheço, mas espero conhecê-lo.
As aparências iludem?
Claro que iludem.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
É mais fácil dizer a que menos me agrada: a gravata.
E o seu maior sonho?
Dar um dia a volta ao mundo num barco à vela ou num cargueiro.
E o maior pesadelo?
Não tenho pesadelos.
O que o irrita profundamente?
A estupidez e a burocracia.
O que faria se fosse milionário?
Dava a tal volta ao mundo. De resto, continuaria a fazer o que faço. Nem sequer mudava de casa.
Casamentos gay: de acordo?
Claro que sim.
Uma mulher bonita?
A Carla Bruni. Todos temos um bocadinho de ciúmes de Sarkozy nesse plano. Mas só nesse.
Acredita no paraíso?
Não.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (16 de Fevereiro de 2008)