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Delito de Opinião

Tudo isto tem ainda menos Graça

Pedro Correia, 03.12.20

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Graça Freitas desrespeitou as suas próprias instruções. Só pode: caso contrário não estaria infectada com Covid-19 - logo ela, a pessoa supostamente mais conhecedora do tema em Portugal.

Talvez por excesso do uso de máscara, que «transmite uma falsa sensação de segurança». Ou por ter acreditado em algum teste negativo que lhe fizeram, o que também «transmite uma falsa sensação de segurança» (estarei a repetir-me?). Ou por se ter esquecido de «virar as costas» às restantes pessoas que com ela partilharam elevadores. Ou - mais imperdoável ainda - por ter participado em «confraternizações familiares», algo que na sua abalizada opinião teria contribuído para 67% dos contágios - percentagem que, na boca de António Costa, subiu para 68% antes de os especialistas reunidos no Infarmed revelarem afinal que apenas 10% dos casos ocorrem comprovadamente nas famílias, até porque em 81,4% das situações se ignora como a infecção aconteceu.

Estimo, naturalmente, as melhoras da afável directora-geral da Saúde, fazendo votos pela sua rápida recuperação. Sem as inimitáveis conferência de imprensa que a celebrizaram tudo isto tem ainda menos Graça.

 

ADENDA: Restaurantes? Convívio familiar? Esqueçam. Perigoso mesmo é reunir com delegados de saúde e peritos da DGS.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 03.12.20

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João Carvalho: «Se o ministro Mendonça já estivesse fora do Executivo como devia, não andaria com a sua equipa a dar repimpadamente a volta ao mundo para assistir à assinatura de um contrato. Em alternativa, ia a Macau de TGV. Venha o FMI. E o FBI (como diria o nosso João Campos) com algemas que segurem esta gente.»

 

Luís M. Jorge: «Será que os "brandos costumes" vão sobreviver a esta crise, pergunta hoje um título do Público. Depende. Se o termo designar uma sujeição abjecta aos poderes de facto, os nossos costumes estão agora mais brandos do que nunca. Se, por outro lado, nos referirmos a um sentimento comum de respeito e de preocupação com os mais fracos, não diria tanto: 39 mulheres foram espancadas até à morte desde o princípio do ano. Cinco vezes mais do que em Espanha. Brandos? Sem dúvida.»

 

Nicolina Cabrita: «Não me aconteceu já abrir a televisão, e dar de caras com um advogado a dizer umas banalidades a propósito de um processo confiado a um colega, sob vagos pretextos informativos, mas cujos reais objectivos me parecem ser muito diferentes, e frequentemente tenho dificuldade em descortinar? Tu, que és jornalista, Pedro, diz-me, por favor: não te parece que anda, por aí, muito jornalista a fazer as vezes de advogado/magistrado (e imagina tu que, espantosamente, até conseguem fazê-lo em simultâneo) e, por outro lado, muito advogado e magistrado a fazer as vezes de jornalista?»

 

Rui Rocha: «Primeiro-MinistroPadre Fontes. Isto  não  foi  lá  com  mentiras.  Talvez se  arranje  com  mezinhas. É homem para fazer o esconjuro da dívidaMinistro das FinançasAnthímio de Azevedo. Uma revolução nas contas públicas: vamos acertar uma previsão de vez em quandoMinistro das Obras PúblicasJosé Malhoa. Apitó Comboio / Lá vai apitar... Ministro da EconomiaGalopim de Carvalho. Vai ser preciso escavar muito até encontrar o caminho do crescimento. Ministro da EducaçãoJorge Jesus. As coisas "vão melhorarem" no ensino.»

 

Sérgio de Almeida Correia«O Público parece estar a querer voltar aos tempos que fizeram dele um bom jornal. Passada a fase mais radical, mais atabalhoada, mais "neo-con", o jornal volta a ter um conteúdo equilibrado, com textos interessantes e, perdoem-me o palavrão, abrangentes. É um excelente sinal quando são cada vez menos os jornais interessantes e com alguma coisa para ler, o que de certa forma também explicará a redução do número de leitores.»

 

Teresa Ribeiro: «Percebo o discurso maniqueísta no futebol, já não percebo que se faça o mesmo em política, sobretudo numa fase em que a realidade não nos deixa margem para efabulações. Não falo dos dirigentes políticos. Esses fazem o seu marketing. O que me encanita são os "civis" que preferem trocar de passeio a ouvir argumentos que ponham em causa o desempenho do partido em que costumam votar. Apesar de as sondagens indicarem que os portugueses estão cada vez mais desiludidos, na hora de discutir política com os amigos este sentimento de pertença a um dos clubes continua a minar a sua lógica de raciocínio.»

Eduardo Lourenço

José Meireles Graça, 02.12.20

Morreu Eduardo Lourenço e a comunicação social explodiu em ditirambos: no Público, por antonomásia o jornal do regime, o homem é “o gigante que nos desvendou Pessoa, Portugal e a Europa” e, no I, “o intelectual que decifrou o enigma português”. Marcelo informou que o finado era “figura essencial do Portugal que vivemos” e Costa recordou “o amigo com quem aprendeu muito”; o Conselho de Ministros decretou luto nacional; e quem é quem no mundo da opinião, conhecida ou discreta, profunda ou superficial, desarrincou textos muitíssimo inspirados.

Claro que nunca escreveu nada que fosse muito lido senão por quem leva a sério lá essas coisas de letra redonda que entende mal, ou fizesse escola, ou estabelecesse doutrina, ou apontasse caminhos que não fossem os da mais chã banalidade no pensamento e na acção. Mas tinha uma receita. Como disse um ignoto comentador no Facebook, essa rede dois dias pejada de citações do vulto desaparecido:

E então, a Ordem dos Psicanalistas já veio dar testemunho do seu pesar? Morreu o confrade que se especializou na homeopatia para a pátria no sofá.

Essa era de facto a especialidade, a par de arroubos líricos em torno da imarcescível alma portuguesa e mergulhos na psique da nacionalidade, consoante os dias e as circunstâncias. Quem tiver dúvidas ou pecados a expiar pode conferir neste repositório de citações.

Pobre homem, talvez não merecesse, pela sua simplicidade, que era provavelmente genuína, o prémio que dá a pátria aos seus próceres da cultura quando morrem velhos: o estatuto de génios retroactivos, em vez de diuturnidades.

Não mereceria talvez, também, estas regras desabusadas porque foi um homem bom o que morreu; e na lavoura do pensamento e da escrita são precisos muitos para que, de longe em longe, um se livre da lei da morte.

Descanse em paz e nós até ao próximo génio que o mundo oficial assim declarar.

A vacina de Gomes

jpt, 02.12.20

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A dra. Gomes vacinou-se por motu próprio. E disso se gabou, em molde crítico. Mas não insurreccional, note-se. Acontece que nisso cometeu uma ilegalidade, o que em muitos outros países seria virótico, até letal, para uma candidatura presidencial. Talvez não para a sua pois, antes de zarpar para as imediações do Bugio, sossegou os apoiantes invocando o seu "desconhecimento da lei" - o qual, como bem se sabe, no direito português inocenta qualquer prevaricador.

Muitos dirão que é coisa pouca para que seja ela criticada. Pois as preocupações com a saúde, acrescidas nesta era de "epidemia" (PCP, 2020), sobressaem face a minudências legais. Não os contestarei. Pois diante deste episódio só questiono: quem quererá como Presidente da República uma mulher que escreve desta maneira?

(Já sigo com saudades da dra. Roseira, a tão popular Maria de Belém ...)

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 02.12.20

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Ana Margarida Craveiro: «Todos os dias nos chegam notícias de pobres a comer os restos da sociedade do topo da pirâmide (literalmente: a comer as sobras da sociedade que vai ao restaurante, porque gosta de comer bem, não porque precisa das calorias); notícias de desempregados a perder o subsídio, e angustiados com a falta de uma rede de segurança. Ou seja: a base da pirâmide alastra, e tanto o Estado como a sociedade têm de lhe dar atenção. O imenso paradoxo é que nos consideramos uma sociedade  moderna de topo da pirâmide. Pensámos que as questões da base estavam resolvidas. Não estão, e o problema é o desfasamento, o fosso que cresce entre a base e o topo, numa mesma sociedade.»

 

Ana Vidal: «Os irradiantes gémeos Sócrates e Zapatero apresentaram hoje ao mundo (que digo eu? ao universo!) a sua irradiante candidatura ibérica ao próximo mundial de futebol, com irradiantes sorrisos de prosperidade e um irradiante panorama de futuro garantido pelas irradiantes economias que lideram. O povão ibérico rejubila, irradiante de esperança para 2018. Até lá, passa fome.»

 

João Campos: «Já que o Mundial de futebol de 2018 vai ser na Rússia (que chatice, estava convencido de que iam fazer um estádio ultra-moderno lá na aldeia), isso quer dizer que vai haver jogos de São Petersburgo a Vladivostok?»

 

João Carvalho: «O presidente da câmara de Santo Tirso arranca com uma obra de 4,5 milhões de euros a que atribui grande importância e que é conduzida por uma parceria municipal — o que também é obra nos tempos que passam. Se essa parceria for tão lucrativa como a teia mostruosa que anda para aí, vai ser o diabo. É que o autarca anuncia que aproveita esse arranque para descrever as restantes empreitadas que tem em vista, todas elas "a executar no âmbito do PRU" e, se calhar, todas empurradas para essa (ou outras) parcerias. O normal será, como se sabe, a parceria não pagar por falta de dinheiro e a câmara não pagar porque é com a parceria. Ou seja: o anúncio é apenas para fingir que ainda há PRU de Natal.»

 

Rui Rocha: «Se percebi bem, apesar do alarido, a posição da Igreja em matéria de preservativo continua a ser… a do missionário. Ao que parece, o uso foi admitido pelo Papa apenas para determinadas finalidades muito restritas. Imagino que estarão incluídas as gastronómicas (dizem-me que os há com sabor a morango e a pau de canela), as decorativas (em 2011 estarão na moda as cores do Vaticano?), as lúdicas (tal e qual os balões, os sacanas dos látexes!) e as de agasalho (dá muito jeito, com o frio que está).»

 

Rui Passos Rocha: «Ser liberal é desconfiar mais de oligarquias do que das massas, mas desconfiando de ambas.»

 

Sérgio de Almeida Correia«A recordação de um homem bom e competente que soube amar e servir Portugal, país que em cada dia que passa fica mais deficitário de bons cidadãos e superavitário de gente ignorante e incompetente.»

 

Teresa Ribeiro: «Diálogo (cito de cor) entre Alfredo Barroso e José Eduardo Martins, interrompido nesta fase da argumentação por Mário Crespo. Foi há pouco, no Jornal das Nove da SIC Notícias.»

 

Eu: «Zapatero, em busca do tempo perdido, procura ansiosamente retocar a sua embaciada imagem de governante, dando o dito por não dito em aspectos fundamentais do seu discurso e da sua prática política. Prometeu mais apoios sociais, atribuindo um subsídio extra de 426 euros aos desempregados de longa duração - e acaba de anunciar que esse subsídio será abolido já em Fevereiro. Prometeu dar prioridade absoluta ao investimento público - e acaba de anunciar que confiará à iniciativa privada a gestão dos emblemáticos aeroportos de Madrid e Barcelona. Prometeu solidez financeira sem abdicar do rumo "socialista" - e nada tem de melhor para anunciar agora aos espanhóis do que a privatização da sociedade pública de lotarias e apostas, o que equivale a uma confissão pública de desespero.»

Caso perdido

Sérgio de Almeida Correia, 01.12.20

PÚBLICO -

O PCP realizou o seu XXI Congresso. Como todos os congressos anteriores, foi um êxito retumbante. Eu atrever-me-ia mesmo a dizer que não há congresso, qualquer que seja o partido político português, que não seja um êxito. Mas os do PCP normalmente ainda são mais extraordinários. 

Muitas foram já as análises efectuadas. Da preparação ao evento, sem esquecer as intervenções de dirigentes e militantes, numa reafirmação da sua cada vez mais desfocada visão do mundo.

Aqui quero apenas salientar um aspecto que continua a acentuar-se, mas que nem por isso leva o PCP a procurar encontrar as razões e, eventualmente, a mudar. Trata-se da contínua quebra do número dos seus militantes, no que são acompanhados por outros partidos nacionais que recusam ou não conseguem renovar-se tal a forma como estão agrilhoados à sua própria mediocridade.

Na análise que ontem publicou, o Público salienta a descida do número de militantes nos últimos oito anos, isto é, de 60 484, em 2012, para 54 280, em 2016, até aos 49 960 de 2020. Ou seja, uma queda de 17,4%.

Se recuarmos um pouco mais verificamos que em 1983 o PCP tinha 200 753 militantes; em 1996 eram 140 000; e em 2006 esse número atingia 80 000. Entre 2006 e 2012 o PCP perdeu quase 20 mil militantes.

Nas Teses apresentadas ao XXI Congresso continua-se a sublinhar que "[o] Partido, para agir e desempenhar o seu papel de vanguarda na concretização dos seus objectivos, precisa de uma organização forte, estruturada e ligada às massas", esclarecendo-se que o número actual de militantes resulta de "uma redução ligada ao facto do número de recrutamentos não ter compensado o número de camaradas que deixaram de contar como membros do Partido", o que parece ser uma evidência lapalissiana, mas acrescenta-se que tal é devido "principalmente em consequência de falecimentos".

Durante anos procurei averiguar as razões para essa quebra, como fiz em relação a outros partidos, não me ficando pelo "principalmente". Até hoje o PCP não esclareceu, nem quer esclarecer, quantos dos que deixaram de constar como militantes saíram das suas listas por terem falecido, por descontentamento com a linha ideológica, por não concordarem com as práticas internas do partido ou por qualquer outra razão que os levasse a abandonar a militância.

Dizer apenas que a maior parte dos que saem representam "principalmente" falecimentos é o mesmo que não dizer nada. E o facto de 49% dos militantes do PCP terem mais de 64 anos, e apenas 11,4% terem menos de 40 anos, também não ajuda muito, porque não só não consta que nos outros partidos "morram" tantos militantes como no PCP, como se sabe que nos outros há quem não fique à espera da hora da morte para ser abatido nos cadernos de militantes.

Escrevia o Pedro Correia que depois da derrocada eleitoral nos Açores o PCP irá continuar a aprender à sua própria custa com as eleições que hão-de vir.

Não comungo desse optimismo. Aprender à sua própria custa ainda seria uma forma de aprender. Não me parece que possa vir a ser esse o caso.

Porém, olhando para a evolução dos números dos militantes do PCP ao longo das últimas décadas, para as teses do último e de todos os outros congressos que o antecederam, ouvindo os discursos e vendo a forma como vai diminuindo a influência política e social do partido, dir-se-ia que não querem aprender nada. Recusam-se a aprender, como também rejeitam mudar as lentes que usam, por mais riscadas e picadas que estejam, tentando convencer os outros de que aquelas é que são boas porque não partem de cada vez que caem ao chão. Ouvir alguns dos seus dirigentes hoje ou há quarenta anos é exactamente a mesma coisa.

O mundo mudou. O PCP e os seus dirigentes ainda não se aperceberam disso. E dos militantes que se aperceberam o PCP diz que só se libertam na hora da morte. 

Sem mudar de lentes e a manter-se a constância de "falecimentos" dos seus militantes, com mais alguns congressos, o PCP arrisca transformar-se definitivamente num fantasma que andará pelo meio de quatro paredes à procura da sua sombra.

Enquanto lá fora a luta continuará. Sem o PCP. E com andrés e venturinhas descendo a Avenida da Liberdade.

1.º de Dezembro

Pedro Correia, 01.12.20

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Coroação de D. João IV (óleo de Veloso Salgado, 1908)

 

«Convém lembrar que Portugal nunca esteve, como se costuma dizer em prosa patriótica, "sob o domínio de Castela" ou, se preferirem, "sob o domínio de Espanha". O arranjo de 1580 não passou de uma "união pessoal"  da coroa portuguesa com a coroa de Castela (ou de Espanha) na pessoa de Filipe II, que era o herdeiro legítimo das duas. Como se vê, nada que nos separasse na Europa do Império Austríaco ou do Reino Unido da Inglaterra, Escócia e Gales. De resto, a ordem jurídica portuguesa não mudou, nem a organização da Igreja, nem a defesa do Império, nem a carga fiscal que anteriormente se pagava. Só quando o conde-duque de Olivares nos pediu mais dinheiro e um pequeno contigente de soldados para a guerra europeia, o espírito patriótico da nobreza indígena finalmente acordou e resolveu instalar D. João IV num trono contestável e periclitante. O "1.º de Dezembro" comemora a ascensão da dinastia de Bragança e não uma putativa independência que não deixara de existir.»

 

Vasco Pulido Valente (Público, 5 de Fevereiro de 2012)

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 01.12.20

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Rui Rocha: «No dia em que se comemora a Independência e em que, a sermos sinceros, esta parece tão ameaçada, apetecia-me muito escrever uma visão colorida do futuro do meu país. Felizmente, alguém já escreveu muito melhor do que eu alguma vez o faria. E com muito mais entusiasmo do que eu seria capaz nos dias que correm.»

 

Sérgio de Almeida Correia«As presidenciais começaram finalmente a mexer. Fico satisfeito com esse facto. O País poderá voltar a ter um debate político, poderá voltar a discutir o seu futuro e analisar as ideias dos candidatos. A democracia é um exercício permanente que só se fortalece com a discussão. Das ideias, dos caminhos que estão aí para ser trilhados, como também das lideranças que se oferecem e, com estas, das qualidades e defeitos dos próprios candidatos que querem ocupar a primeira linha.»

 

Teresa Ribeiro: «Adoro a tua inteligência, Woody. E o teu sentido de humor. Parabéns pelas tuas 75 primaveras, lindo. Ainda andas com a sonsa da Soon Yi? Manda-lhe cumprimentos.»

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