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Delito de Opinião

Vale a pena ler (4)

Pedro Correia, 27.12.20

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«Finalmente li este clássico da literatura norte-americana [Mataram a Cotovia, de Harper Lee]. Conta a história de um advogado que, durante a década de 30 no Alabama, defende um homem negro que é acusado injustamente de violar uma mulher. A história é contada do ponto de vista de Scout, uma criança. Um clássico que deve ser lido por todos.»

Inês, Mar de Maio

 

«No Barrocal Algarvio, as laranjas, colocadas no presépio, não eram apenas para ornamento. Possuir laranjas era sinal de distinção. Quando um afilhado ou pessoa amiga fazia uma visita na quadra natalícia, dava-se uma laranja que estava no Presépio. Se vinha o médico ou o prior a casa, as famílias ficavam muito felizes e sentiam-se honradas se eles retirassem uma peça de fruta do seu Presépio.»

Maria José, Liberdade aos 42

 

«Eu gosto muito de silêncio. Tenho dificuldade em pensar se houver pessoas por perto a conversar, seja ao vivo, seja na rádio e na televisão. Penso menos mal, é certo, se for num sítio em que muita gente fala ao mesmo tempo e indistintamente, como num aeroporto, por exemplo, em que as falas se tornam uma espécie de ruído de fundo que não me incomoda. No entanto, o silêncio das igrejas e das bibliotecas é de ouro, ambas são templos sagrados onde se pode pensar sem interferências. Borges dizia que o mais parecido que havia com o Paraíso eram as bibliotecas, e talvez não andasse longe da verdade.»

Maria do Rosário Pedreira, Horas Extraordinárias

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 27.12.20

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Bandeira: «A ponte mais longa não é a da baía de Hangzhu ou a de Niterói ou a Vasco da Gama. A ponte mais longa é a que liga o lugar onde não mora ninguém ao lugar onde ninguém quer ir.»

 

João Campos: «A verdade é que os actuais candidatos à Presidência da República constituem, todos eles, o o mais lógico argumento que os defensores do regresso da monarquia podem encontrar. Isto de fazer 250 quilómetros para Sul (e 250 para Norte, no regresso) para rabiscar uma cruz no mal menor é cansativo - e se não fosse por a viagem de regresso incluir um saco bem cheio de enchidos caseiros, comida caseira diversa e demais vitualhas de produção doméstica, garanto que não me dava ao trabalho.»

 

Leonor Barros: «Numa altura em que nada se faz e se diz sem zurzir nas medidas de austeridade e antecipar de forma dramática o difícil ano da graça de 2011 há que ir para a rua e ouvir esse povo em permanente alerta meteorológico e económico ou financeiro, o mesmo que vivendo à espera de um Sebastião qualquer que o salve da miséria, tem elegido desde há três décadas a esta parte uma outra estirpe de portugueses incapazes de governar este rectângulo luso.»

 

Eu: «Vi-a num filme centrado numa prisão de mulheres e jamais esqueci a intensidade da representação desta actriz [Eleanor Parker] filha de um professor de matemática que começou a trabalhar aos 18 anos para a Warner Brothers. Era a época áurea do cinema. Nos anos 40, ela surgiu na tela ao lado de Errol Flynn em Todos Morreram Calçados (Raoul Walsh, 1941) e Paul Henreid em Servidão Humana (Edmund Goulding, 1946). Mas foi nos anos 50 que a estrela dela mais brilhou. Ao lado de Kirk Douglas na fabulosa História de um Detective (William Wyler, 1951) e Frank Sinatra em O Homem do Braço de Ouro, entre outras obras-primas.»

Vacina

Cristina Torrão, 26.12.20

Contrariando os planos de vacinação da UE, a Hungria começa a vacinar este sábado, anuncia o Sapo 24.

Porém, aqui no Delito estamos em condições de informar que a Alemanha também já começou. A primeira pessoa que foi vacinada chama-se Edith Kwoizalla, tem 101 anos de idade e habita num lar de idosos.

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A Alemanha começa com as vacinas nos lares (utentes e trabalhadores). Só depois vêm os profissionais de saúde.

Adenda a 27-12-2020: Os profissionais de saúde especialmente expostos ao vírus também têm prioridade.

Os comentários da semana

Pedro Correia, 26.12.20

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«Cronos, filho de Urano (Céu) e de Gaia (Terra), era casado com a irmã, Reia. Teve seis filhos (Zeus, Hades, Poseidon, Hera, Héstia e Deméter). Temia uma profecia que prenunciava que lhe seria tirado o poder por um dos seus filhos. Decidiu matá-los e devorá-los. Mas Reia conseguiu salvar Zeus, e este, já crescido, com a ajuda dos titãs, fez Cronos vomitar os irmãos.

A propósito das viagens nos anos setenta serem só para ricos, ocorre-me o velho truismo, mais ou menos intemporal, que diz que "só viaja quem é rico". Exageros à parte (não é necessário ser-se rico para viajar), à época, isto era muito mais verdade do que hoje. Sendo que os pobres, obviamente, não viajam. Contudo há sempre circunstâncias mais ou menos favoráveis, independentemente da condição social, que propiciam alguns prazeres e até devaneios que à partida não são as nossas prioridades: eu passei a viajar muito a partir dos dezasseis anos (com autorização escrita, devidamente assinada pelos meus pais e reconhecida notarialmente) porque tinha um amigo, filho único, que não era rico, mas o pai era um industrial relativamente bem-sucedido, culto, tal como a mãe, e muito felizes da vida. Ele já era maior de idade, tinha automóvel, e fazia questão que eu o acompanhasse em viagens por essa Europa fora durante as férias de Verão. Ficávamos sempre em parques de campismo - mesmo nas grandes cidades -, não só para facilitar a socialização mas também para poupar. Apesar de tudo o dinheiro não é elástico.

Recordo-me de acampar em Monte Carlo - onde até o campismo era diferenciado (como é costume dizer em gestionês) e testemunhar uma das mais hilariantes tradições/rituais/adições de que tenho memória: uma parte bastante considerável dos 'pés descalços', que não aparentavam outra coisa senão o que realmente eram, quando caía a noite, passada uma hora ou duas após o jantar, aperaltavam-se, eles com smoking e laço ou gravata preta, elas com vestidos de noite, e iam felizes da vida gastar o pouco que tinham (mera presunção minha) durante a noite no chiquérrimo casino do principado.

Além disso, por feliz acaso, passei a ir muitas vezes a Paris, de comboio - onde passei muitos e inesquecíveis meses -, porque lá vivia, por razões profissionais, uma das minhas irmãs. Nessa altura também vagueei muito pelo norte de África. Mas viajar para outros continentes não era muito comum. Nos tempos que correm viaja-se para todos os continentes com enorme facilidade. E os jovens universitários fazem Erasmus onde querem.

Eu sei que é preciso ter alguma sorte, mas, como vêem, não é necessário ser rico.»

 

Do nosso leitor JM. A propósito deste texto da Maria Dulce Fernandes.

 

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«O impacto advém sobretudo da existência da foto, que corporaliza o número, e da "orgiástica" (bem escolhido o termo) publicidade alocada, por parte da empresa espanhola que se dedica a este tipo de eventos. Sem a imagem e sem o comentário que lhe subjaz, o assunto teria passado bem mais despercebido.

Um ponto que pode ajudar a fazer compreender a situação: não era suposto numa época normal haver lá uma manada tão numerosa. Foram várias as "caçadas" anuladas durante o ano à conta do Covid, o que resultou numa superpopulação da coutada.

Haveria outras alternativas a este extermínio? É certo que o plano de impacto ambiental da futura central fotovoltaica a instalar naqueles terrenos prevê a transferência dos animais para um cercado próximo. Mas provavelmente o cálculo foi feito a um número muito mais reduzido. E penso que é o que irá acontecer com os espécimes que sobreviveram à "acção de controlo".

Foram respeitados os procedimentos? Como de costume, já começamos a assistir ao típico lava-mãos: "Nós não fomos avisados", "Nós não sabíamos de nada". Ainda se vai descobrir que a culpa, afinal, é dos ucranianos.

As pessoas comovem-se e indignam-se? Claro que sim, sobretudo aquelas que numa ingenuidade alucinada acreditam que a sede de violência e o prazer de matar no ser humano são um distúrbio, ou no mínimo um instinto facilmente sublimável.

E daqui a um mês já todos sorrirão ao ver o ar deliciado com que o canídeo ou o bichano lá de casa consome aquela refeição gourmet elaborada à base de carne de caça...»

 

Do nosso leitor Sampy. A propósito deste texto do JPT.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 26.12.20

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João Campos: «A ACAPOR e associações similares ainda não compreenderam muito bem os tempos em que (sobre)vivem. Até podem colocar dez mil processos em tribunal por mês - seria interessante ver a já entupida justiça portuguesa a transbordar. Mas por mais processos que inventem, continuarão a não ser capazes de ver que o seu modelo de negócio pertence ao século passado. Ninguém se desloca ao clube de vídeo quando pode, sem sair do sofá, alugar um vídeo por preços mais baixos no serviço de televisão por cabo. Tal como cada vez mais pessoas deixam de comprar CD de música e optam por serviços como o iTunes. Ou compram os filmes e os discos na Amazon ou noutra loja online, que pratique preços bem mais acessíveis que os balúrdios que cobram por cá.»

 

Laura Ramos: «Na sua indiscutível vocação universal, Fernando Nobre confunde tudo. Não tem cultura política. Define metas que não estão ao alcance de um Presidente da República. Ilude-se a si próprio e ao eleitorado quando faz do cargo a que se candidata aquilo que não pode ser. Quando acredita que o Estado português é um permanente estado de emergência, onde a legitimidade substitui a legalidade e a salvação se pratica por imperativo ético, num irreprimível exercício de heroicidade. Quando diz, indignado, que «ainda vivemos nessa coisa do século passado», a propósito da sua não definição entre direita ou esquerda, o candidato devia lembrar-se que esta coisa dos destinos políticos espontâneos e impreparados é que, é -  sim, justamente -, um fenómeno atávico e do século passado.»

 

Luís M. Jorge: «Antes do Natal duas adolescentes ofereceram-me na rua uma quadra manuscrita que apelava ao fim do consumismo e à espiritualidade. Tinham cabelos lustrosos, aspecto soigné e o ardor anacrónico de quem despeja mealheiros para baptizar pretinhos nas missões. Fiquei atento e não me desiludi: na semana seguinte o país foi consumido por uma orgia salazarenga de caridade e devoção. Os sem-abrigo casaram-se em barda, as mães de Cascais fizeram soufflés aos entrevados, a Júlia e o Goucha entrevistaram manetas, tuberculosos e débeis mentais. Os alcoólicos sorveram sopa com cheirinho, muito boa, muito quentinha. Um patego da Guarda trajou de pai natal e deu chocolates do Lidl à terceira idade.»

 

Rui Rocha: «Belém é uma cidade da Palestina onde o Novo Testamento e o Corão localizam o nascimento de Jesus Cristo. Ali ficaria o estábulo que constitui o elemento arquitectónico central dos presépios que fazem parte do imaginário do Natal tal como o conhecemos. A realidade da Belém dos nossos dias é bem diferente. Situada a 7km de Jerusalém, tem cerca de 30.000 habitantes e é atravessada por um muro. O muro que Israel está a construir desde 2004. Para os israelitas, o muro é uma defesa. Para os palestinianos é uma ameaça. Como qualquer muro, tem dois lados. Este, em concreto, tem o valor de uma metáfora sobre a incapacidade de israelitas e palestinianos compreenderem as ansiedades  que se abrigam em cada um dos campos a que o muro serve de fronteira. O material de que se faz este muro é o medo. Esse que une os dois lados.»

O iluminismo agora

Paulo Sousa, 26.12.20

O populismo faz parte da actualidade e parece que está para durar. Este movimento político baseia-se num pessimismo sobre o sentido em que o mundo caminha, num cinismo para com a modernidade e na incapacidade de conceber um propósito superior. A razão, a ciência, o humanismo e o progresso, os ideais do iluminismo parecem estar fora de moda. Outras facetas da natureza humana como a lealdade para com a tribo, a deferência para com a autoridade, o pensamento mágico e a culpabilização de malfeitores pelo infortúnio, parecem hoje ser muito mais apelativas. Parece que os países estão a ser arrastados por forças malignas para um paraíso distópico em que a única salvação passará pela resistência inspirada por um líder forte que impulsione o país para trás, para o levar de regresso a um chão conhecido. A modernidade parece ter falhado e a vida encontra-se numa crise profunda. Sem o progresso que temos vivido, os problemas seriam bem mais simples de resolver. O Ocidente está tímido em relação aos seus valores e não tem confiança no liberalismo que o trouxe até aqui.

Mas se observarmos os dados do que somos, e do que fomos, talvez possamos avaliar todo este fenómeno de outra forma.

Este é um pequeno resumo do início do livro “O iluminismo agora” de Steven Pinker que recebi ontem de prenda de Natal.

Os dados comparativos entre a actualidade e o passado não muito recuado são imensos e arrasadores para quem insista em ser pessimista.

Imagino que da leitura deste livro possam surgir alguns textos que aqui tentarei publicar.

A título de exemplo deixo uma representação da evolução da percentagem da população mundial que viva no que descrevemos como sendo pobreza extrema.

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Todos os que ouviram se admiraram do que lhes disseram

Pedro Correia, 24.12.20

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«Os pastores disseram uns aos outros: "Vamos, então, até Belém e vejamos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer." Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o Menino, deitado na manjedoira. E, quando os viram, começaram a espalhar o que lhes tinham dito a respeito daquele Menino. Todos os que ouviram se admiraram do que lhes disseram os pastores.»
 
Lucas 2, 15-18

A Selva

Cristina Torrão, 24.12.20

Para todos os que acharam não haver mal nenhum na “montaria” levada a cabo na Torre Bela, ou porque alegam gostar muito de carne, ou porque logo apelidam de animalista quem se insurge sobre excessos deste tipo, venho esclarecer o seguinte:

Os responsáveis pela quinta já se vieram distanciar:

Em comunicado hoje enviado às reda(c)ções, os responsáveis pela quinta reiteram esta posição: "A Herdade da Torre Bela repudia firmemente a forma errada, ilegítima e abusiva como decorreu uma montaria na sua propriedade, no passado dia 17 de d(D)ezembro, tendo tido conhecimento do sucedido a posteriori e apenas através da comunicação social".

Palavras da proprietária: "É inequívoco que o grupo de caçadores excedeu em larga medida os direitos de caça adquiridos, ultrapassando os limites acordados por contrato com a entidade exploradora e que se coadunam com o permitido pela licença de zona de caça que se encontrava à data, em vigor".

O Ministro do Ambiente também já reagiu:

O ministro do Ambiente, Pedro Matos Fernandes, repudiou o abate, classificando-o como “um a(c)to absolutamente vil e ignóbil”, e assegurou que a prioridade do Governo é “fazer tudo para que isto não se repita”, admitindo uma revisão da Lei da Caça, designadamente no que diz respeito às montarias.

E a empresa espanhola organizadora da “montaria” já se escondeu (como aliás é apanágio dos cobardes):

A empresa espanhola “Huntings Spain and Portugal, Monteros de La Cabra” terá sido a responsável pela organização da montaria, mas, desde então, o site encontra-se ina(c)tivo – ou em construção.

Há caçadores e caçadores. Os dignos desse nome primam por respeitar regras e a ética ligada à actividade cinegética. Pelos vistos, em Portugal, continua a reinar a lei da selva.

A selva é um sítio muito bonito. Mas deixou de ser apropriado para nós humanos. É mais adequado a animais que não evoluíram.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 24.12.20

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João Campos: «Para todos os efeitos, Cavaco não disse mentira alguma: Portugal não é um país independente nem no plano económico, nem, deixemo-nos de ilusões, no plano político. Existe ainda soberania nacional, de facto, mas muita da legislação que interfere directamente no nosso dia-a-dia emana de Bruxelas, de Estrasburgo, qualquer dia de Berlim. E em termos económicos, existe de facto uma grande interdependência, quando não mesmo uma grande dependência. Se fica mal a Cavaco dizer aquilo? Talvez, concedo - já todos sabemos o talento natural do ainda Presidente para os debates (e não, isto não é uma desculpa). Mas fingir que o país é muito independente quando a Alemanha lhe puxa as orelhas a um ritmo quase diário como se este fosse um adolescente irrequieto chega a roçar a comédia.»

 

José Gomes André: «A maioria das pessoas gosta do Natal porque pertence a dois grupos plenamente reconciliados com a época: os crentes (que o festejam com maior ou menor religiosidade) e os secularistas (que se apropriaram do evento religioso, conferindo-lhe contornos puramente laicos e transformando-o numa grande celebração do real, da matéria e – curiosamente – da família). Os primeiros constroem presépios, vão à Missa do Galo e recolhem-se em oração. Os segundos invadem os centros comerciais, embrulham e etiquetam presentes, ornamentam árvores e enviam MMS com renas e céus estrelados.»

 

Rui Rocha: «Edo State fica na Nigéria, embora a descrição mais correcta seja aquela que diz que fica a caminho de lugar nenhum. Como acontece a tantos outros sítios que teimamos em querer esquecer. Ali, a vida é tão negra como a pele dos seus habitantes. Tão desesperada que há mulheres e homens que se metem em pouco mais que jangadas para se atirarem ao mar. Literalmente. Sem saberem para onde vão. Com a única certeza de que não querem estar mais ali.  Estes e outros tantos chegaram ao ponto em que a viabilidade das suas vidas se joga no interstício que fica entre uma existência desgraçada em terra e a enorme probabilidade de naufrágio no mar. O único aconchego que encontram na viagem, que dura quantas noites existem na alma de cada um dos passageiros, é o dos corpos que se esmagam uns contra os outros na exiguidade do espaço que lhes coube. E o dos corações que, manifestamente, não cabem ali.»

 

Teresa Ribeiro: «Antes de sair para a consoada parou para ajeitar o nó da gravata ao espelho. Estava bem, reflectiu enquanto se vistoriava. A cabeleira é que. Apertou os lábios. Como é que em tão pouco tempo ficou assim, quase toda branca? - reflectiu, com desgosto. "E anda um homem a criar Magalhães para isto" - desabafou. Ressentido, olhou para o embrulho da pastelaria que pousara na mesa e passou em revista alguma da sua rapaziada. "Estão diferentes. Mais esquivos. Alguns já andam a socializar-se em busca de "novas oportunidades". Avançou para a porta sem pegar no embrulho. "Broas? Este ano não há broas p'ra ninguém".»

Leituras

Pedro Correia, 23.12.20

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«De que nos serviria a nossa fama de discretos se a moral fosse intacta - de que serve a discrição se não houver nada que deva ser tratado discretamente?»

Heinrich Böll, Bilhar às Nove e Meia (1959), p. 27

Ed. Ulisseia, 2011. Tradução de Vanda Gomes