«O meu maior pesadelo é trabalhar em cinema em Portugal»
Produziu Belle Epoque, a longa-metragem do espanhol Fernando Trueba que em 1994 ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro. E realizou ele próprio vários filmes, de Fintar o Destino (1998) a Aparição (2018). Fernando Vendrell começou a responder de forma lacónica mas foi-se soltando ao longo da entrevista.
Tem medo de quê?
Do cão.
Gostaria de viver num hotel?
Prefiro o hotel ao campismo.
Tem alguma coisa contra o campismo?
As formigas.
A sua bebida preferida?
Água.
Em qualquer estação do ano?
Há momentos em que prefiro o vinho.
Tem alguma pedra no sapato?
Tenho.
Não há maneira de sair?
Não depende de mim.
Que número calça?
40.
Que livro anda a ler?
Ando a ler vários. Destaco A Faca não Corta o Fogo.
Está a gostar?
É fabuloso. Só podia, sendo do Herberto Helder.
Tem sempre muitos livros à cabeceira?
Muitos. Entre cinco (mínimo) e dez.
E se a cabeceira fosse maior...
Teria 25 livros.
A sua personagem de ficção favorita?
Buster-Keaton: uma pessoa-personagem.
Rir é o melhor remédio?
Sim. É um dos melhores remédios. Mas há outros.
Lembra-se da última vez em que chorou?
Não me recordo. Se calhar, de propósito.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
Normalmente gosto mais de conduzir. Mas pode dar-me grande prazer ser conduzido. Depende muito das circunstâncias.
É bom transgredir os limites?
Acho que se deve tentar sempre transgredir os limites.
Qual é o seu prato preferido?
Depende dos dias. Hoje o meu prato preferido é bacalhau com broa.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
A luxúria.
A sua cor preferida?
Azul.
Costuma cantar no duche?
Não. No duche costumo ficar mudo. É o lugar onde se pode chorar de forma mais discreta.
E a música da sua vida?
São as Sonatas para Violoncelo, de Bach.
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Como todas as coisas, o hino também está sujeito a mudanças. Mas sou ainda mais radical: preferia uma boa alternativa de hino a modificar o que já existe. Devia ser considerada a hipótese de fazer um novo. O conteúdo bélico do hino não me satisfaz, embora respeite as condições históricas em que foi feito.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Com Barack Obama.
As aparências iludem?
E de que maneira...
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Um bom par de calças.
Qual o seu maior sonho?
Poder ser feliz.
O maior pesadelo?
É trabalhar em cinema em Portugal.
O que o irrita profundamente?
A burocracia, a hipocrisia e as pessoas que respeitam estas premissas.
Qual a melhor forma de relaxar?
Sentir-se livre.
O que faria se fosse milionário?
Faria o mesmo que faço agora, mas certamente conseguiria fazê-lo com mais meios.
Casamentos gay: de acordo?
Não tenho qualquer objecção.
Uma mulher bonita?
A minha mulher.
Acredita no paraíso?
Não. Mas acho que devia existir.
Tem um lema?
Não é um lema, mas é um axioma de Melville, que vem no Moby Dick: «Ó tempo, força de vontade, dinheiro e paciência.» É a expressão profunda da condição humana.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (18 de Outubro de 2008)