«Uma mulher bonita é um dom de Deus que devemos louvar»
O sacerdote franciscano respondeu com bonomia e uma gentileza não isenta de algum formalismo inicial. Mas foi-se soltando, em tom risonho, à medida que a conversa prosseguia. Revelando inegável mestria na arte de fintar as entrelinhas.
Tem medo de quê?
Tenho medo de ter medo.
Gostaria de viver num hotel?
Não gostaria nada. Mas num convento sim.
A sua bebida preferida?
É água. Mas também gosto de vinho.
Branco ou tinto?
Sobretudo tinto.
Tem alguma pedra no sapato?
Que me recorde, não tenho nenhuma. Aliás faço sempre questão por não ter. Até por esse motivo prefiro usar sandálias.
Que número calça?
Não sei.
Que livro anda a ler?
Ando a ler sempre tantos ao mesmo tempo que não consigo mencionar nenhum em particular.
Existe algum livro que mantenha sempre à cabeceira?
Pelo menos dois: a Santa Bíblia e o de São Francisco de Assis.
A sua personagem de ficção favorita?
De ficção, não sei. A minha personagem histórica favorita é Amílcar Barca, aquele general cartaginês que atravessou os Alpes montado num elefante.
Rir é o melhor remédio?
É. Um remédio absolutamente recomendado contra todas as doenças. E também funciona muito bem para as prevenir.
Lembra-se da última vez em que chorou?
Lembro. Foi num funeral de uma pessoa de família. Aliás, emociono-me com frequência. Emociono-me com o sofrimento humano, com situações de pobreza extrema.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
Gosto mais de conduzir.
É bom transgredir os limites?
Não é nada bom. Mas às vezes...
Qual é o seu prato favorito?
Pertenço à facção militante da sardinha assada e do bacalhau cozido com batatas.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
Já não me lembro bem quais são os pecados capitais. Se calhar é a parvoíce. Às vezes sou parvo quando não devia.
A sua cor favorita?
Verde.
No futebol também?
Claro. Sou membro do Conselho Leonino! [Órgão entretanto extinto no Sporting.]
Costuma cantar no duche?
Sim, todos os dias.
E a música da sua vida?
Gosto de tantas... Pode ser aquela que diz: «Se fores a São Francisco não te esqueças de levar umas flores no teu cabelo.»
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Sou daqueles que preferiam que o hino nacional não falasse em guerra nem mencionasse a existência de canhões. Preferia um hino que transmitisse uma mensagem de convivência fraternal e sã entre os povos pertencentes às mais diversas raças, culturas e crenças. Mas percebo que, por motivos históricos, o hino permaneça como está.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Com o meu amigo António Guterres, que já não vejo há muito tempo. Tenho saudades dele.
As aparências iludem?
Às vezes iludem memo.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Uma camisola de gola alta. Assim escuso de pensar em vestir roupas mais complicadas.
Qual é o seu maior sonho?
Que as pessoas saibam encontrar sempre caminhos para o bom entendimento mesmo que pertençam a culturas, religiões ou clubes diferentes. Todos diferentes, todos iguais.
E o maior pesadelo?
É temer que as pessoas, sem sequer haver motivos para isso, se envolvam em conflitos sem solução.
O que o irrita profundamente?
Ouvir pessoas a pronunciar-se sobre alguns assuntos de forma doutoral sem perceberem nada do que estão a dizer.
Qual a melhor forma de relaxar?
Na natureza, com a natureza, pela natureza.
O que faria se fosse milionário?
Ajudava quem não é.
Casamentos homossexuais: de acordo?
Não. É uma matéria que está muito longe dos meus parâmetros.
Uma mulher bonita?
É um dom de Deus que devemos louvar.
Acredita no paraíso?
Acredito. Mas há várias formas de lá chegar.
Tem um lema?
«Vida por vida», que é o lema dos bombeiros.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (28 de Março de 2009)