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Delito de Opinião

Blogue da semana

Alexandre Guerra, 31.05.20

A sociedade americana vive tempos particularmente complexos e turbulentos. A pandemia veio exponenciar graves problemas sociais e laborais, assim como acentuar desigualdades económicas. O blogue Working Economics Blog do Economic Policy Institute é uma excelente ferramenta que ajudará a uma compreensão mais sólida das questões económicas e laborais enquadradas nas dinâmicas sociais e de classe.

Torres Vedras de Nuno Rebelo

jpt, 31.05.20

Esta atividade integra o programa Emergência Cultural Torres Vedras 2020, organizado pelo Teatro-Cine de Torres Vedras, nisso cruzando esta era Covid-19. 

É um trabalho do Nuno Rebelo (Texto, video, música, sonoplastia e grafismo) - que alguns conhecerão por via do grupo musical Mler Ife Dada - em colaboração com o seu filho Igor Brncic Rebelo (voz e desenhos). Diz o Nuno: "Agora mesmo é aqui que estou é um vídeo autobiográfico da minha vida em Torres, onde nasci em 1960 e onde vivi até 1975. Faço-o a partir dos meus atuais 59 anos e do sítio em que me encontro, confinado como todos por causa do vírus, no meu caso em Barcelona."

É uma pérola. Rara. Linda. Que me encantou. Vede, que decerto gostareis.

Leituras

Pedro Correia, 31.05.20

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«Costumava julgar os rostos consoante a sua capacidade de reterem a luz. Era a falta de luminosidade num rosto - até mesmo a ausência de uma promessa de luz - que lhe lembrava, tristemente, a desumanidade do homem para com o homem.»

John Cheever, Parece Mesmo o Paraíso (1982)pp. 90-91

Ed. Relógio d'Água, 2009. Tradução de Maria Carlota Pracana. Colecção Ficções

Uma aritmética muito peculiar

Pedro Correia, 31.05.20

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Informa-me o Primeiro Jornal da SIC que a Direcção-Geral de Saúde «aprovou 17 estádios» para o recomeço (ou "novo começo", sejamos rigorosos) do campeonato nacional de futebol. Ora havendo 18 equipas neste campeonato e duas deles «não jogarem em casa», como revela o mesmo telediário à mesmíssima hora (13.54 de hoje), causa-me alguma perplexidade esta aritmética tão peculiar.

 

Assim intrigado, deixo algumas questões:

- Qual terá sido o único estádio, em 18 possíveis, que não mereceu o visto prévio da DGS?

- Se 17 em 18 obtiveram luz verde, qual foi o clube que, vendo o seu estádio apto para a competição, recusou usá-lo?

- Como reagirão os adeptos a tal opção, que desconsidera as instalações do próprio clube?

- Dezoito menos dois ainda serão dezasseis ou poderão tornar-se dezassete na aritmética "pós-moderna"?

- Será falha de memória minha ou o "código de conduta" elaborado pela DGS e tornado público a 19 de Maio (apenas há 12 dias) estipulava, em termos categóricos, que «deve ser utilizado o menor número possível de estádios» neste regresso às competições desportivas?

- Dezassete em dezoito será mesmo «o menor número possível»?

 

Responda quem souber. O meu ábaco não dá para mais.

Pensamento da semana

João Sousa, 31.05.20

Depois de meses a ouvir constantes apelos ao "distanciamento social" nas homilias de pivots de telejornais, nas intervenções de especialistas, nas sessões de propaganda política e nos infindáveis directos jornalísticos onde se gastaram horas a repetir em alvoroço todos os nadas que já tinham sido relatados em directos anteriores, muitos ficarão durante longo tempo prisioneiros de uma debilitante "desconfiança social".

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 31.05.20

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João Carvalho: «Ontem, entre Caracas e Lisboa, José Sócrates fez um stop over na Madeira. Nada de especial. Apenas saudades. Alberto João Jardim só tem olhinhos para ele, que anda tão precisado de levantar o ego.»

 

José Gomes André: «Por que combaterá alguma Esquerda (e particularmente a Esquerda socrática-chique) a reeleição de Cavaco? Não por recear verdadeiramente "um golpe de Estado constitucional", nem tampouco por ver nela um escolho à governação socialista. Nada disso. Tal oposição surgirá porque a Esquerda socrática-chique opera como uma claque de futebol, orientando-se por "emoções" e espírito vingativo, e não por cálculo político ou análise racional.»

 

Luís M. Jorge: «Em Novembro de 2005, Andre Sapir, professor da Universidade Livre de Bruxelas, analisou o conceito de modelo social europeu e apelou à sua renovação num documento que podem consultar aqui. O desafio foi suficientemente interessante para merecer destaque na imprensa económica internacional.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «O que é triste constatar é que o PS carregue hoje o soarismo como uma canga. E isso é uma coisa execrável. Para o partido, mas também para todos aqueles que dentro dele se atrevam a pensar o futuro ou que rejeitam ser os régulos e os mainatos dos líderes que transitoriamente ocupam o poder. Chamem-se eles Soares, Guterres ou Sócrates.»

 

Eu: «Comunista de nome, capitalista selvagem na prática, a China é um país que proíbe o direito à greve, a existência de partidos da oposição e a formação de sindicatos independentes do poder político. E com as condições laborais bem exemplificadas aqui. Sempre com a benévola compreensão do PCP, que combate cá o que aplaude lá - uma duplicidade que desqualifica todo o seu discurso. Não se pode pugnar pela democracia num continente e pela ditadura noutro sem perda da autoridade moral para combater o que quer que seja.»

Entre os mais comentados

Pedro Correia, 31.05.20

Em 21 destaques feitos pelo Sapo em Maio, entre segunda e sexta-feira, para assinalar os dez blogues nesses dias mais comentados nesta plataforma, o DELITO DE OPINIÃO recebeu 20 menções ao longo do mês.

Incluindo seis textos na primeira posição, sete na segunda e dois na terceira.

 

Os textos foram estes, por ordem cronológica:

Grandes romances (29) (22 comentários) 

Os inimputáveis (70 comentários, o mais comentado do fim de semana)

É tempo de acabar com o "distanciamento social" (48 comentários, o mais comentado do dia) 

Tapetes e cascas de banana (100 comentários, o mais comentado do dia) 

Irão jogar de máscara? (114 comentários, o mais comentado do dia) 

Férrea incoerência (18 comentários)

Os vinte mais infectados (62 comentários, segundo mais comentado do fim de semana) 

Os comentários da semana (54 comentários)  

A pátria está em perigo (24 comentários)

Cuidado que eles continuam a monte (42 comentários, segundo mais comentado do dia) 

Le parti c'est moi (32 comentários, segundo mais comentado do dia) 

Diário do coronavírus (10) (58 comentários, o mais comentado do fim de semana) 

Assim medra a novilíngua (42 comentários, segundo mais comentado do dia) 

O candidato socialista (52 comentários, terceiro mais comentado do dia) 

Diário do coronavírus (11) (52 comentários, segundo mais comentado do dia) 

O comentário da semana (50 comentários)

Em suas importantes saúdes (56 comentários, o mais comentado do dia) 

Ler em tempo de pandemia (132 comentários, segundo mais comentado do dia)

Cambada de imbecis (42 comentários, terceiro mais comentado do dia)

Estádios, aviões e televisão (46 comentários, segundo mais comentado do dia)

 

Com um total de 1116 comentários nestes postais. Da autoria do Paulo Sousa, dos leitores Isabel Paulos, Chuck Norris e Vítor Augusto, e de mim próprio.

Fica o agradecimento aos leitores que nos dão a honra de visitar e comentar.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 30.05.20

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João Carvalho: «Olho atentamente para o gang delituoso e pergunto-me: «Que faço eu aqui, além de me babar todo?» Cheio de Anas, de abraços e de carinhos por todos os lados, entre tantas beldades talentosas e tantos gurus de primeira água, sinto que este meu primeiro encontro com a quadrilha me tolhe a lucidez. Não me atreverei a estar no próximo jantar. Como? Depois do Verão, os jantares passarão a ser mais regulares? Nunca mais faltarei.»

 

Paulo Gorjão: «O Presidente não é apenas um garante da constitucionalidade dos diplomas aprovados. Se a única função do Presidente fosse essa então mais valia extinguir o cargo de Presidente da República e instituir que todos os diplomas fossem automaticamente alvo do crivo do Tribunal Constitucional.»

Até sempre, Barata

Pedro Correia, 29.05.20

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Sou há muitos anos cliente assíduo da Livraria Barata, na Avenida de Roma. Tenho até cartão de cliente, que permite um desconto residual em livros, de que ali me abasteço regularmente. Também nesta livraria lisboeta habituei-me a comprar com regularidade imprensa estrangeira há quase década e meia.

Desde que foi declarada a pandemia, a Barata fechou - como aconteceu com todos os estabelecimentos do ramo, que já atravessavam uma severa crise antes de o Presidente da República e o Governo - sabe-se lá porquê - terem considerado que as livrarias não mereciam ficar abertas durante o "estado de emergência". Ao contrário dos quiosques, das mercearias e das tabacarias. 

Na altura, não ouvi um sussurro de protesto dos chamados "agentes culturais". Todos acenaram, em sinal de concordância.

 

Entretanto, a Barata reabriu.

Acontece que desde então já tentei duas ou três vezes, mas ainda não consegui lá entrar. Motivo? Embora tenha uma área muito grande, só permitem um máximo de dez pessoas dentro do estabelecimento.

Em pelo menos duas ocasiões vi uma fila à porta, estendendo-se para o passeio: gente forçada a usar máscara, aguardando à torreira do sol, suando em bica, com notório desconforto.

Disse logo com os meus botões: nem pensar em aturar isto. E rumei a outras paragens.

 

Hoje, ao fim da manhã, tentei uma vez mais - talvez a última - entrar na Livraria Barata.

Não vi nenhuma fila à porta, fui avançando. Deparo-me então com o Presidente da República, mais a respectiva comitiva, acrescida de um batalhão de jornalistas. Todos juntos, perfaziam mais do dobro do limite máximo de pessoas estipulado. As regras "rigorosíssimas" haviam sido mandadas às malvas.

Disseram-me que Marcelo Rebelo de Sousa estava ali para "declarar o apoio" à livraria, que enfrenta sérias dificuldades de tesouraria, sem saber se conseguirá pagar os salários neste fim de mês. Aplaudo a generosidade do Chefe do Estado. E espero que Marcelo faça o mesmo com milhares de outras empresas deste país onde muita gente trabalha sem ver a remuneração a que tem direito. Pelo mesmíssimo motivo.

 

Tudo isto é muito bonito. Acontece, no entanto, que voltei a ver-me impedido de ali entrar. Escorraçado pelo sol, pelas filas, pelas absurdas regras de "confinamento" e hoje até pelo Presidente da República mais a sua comitiva.

Sem acesso à livraria, rumei ao talho mais próximo, onde me abasteci de imediato com 600 gramas de entrecosto, e vim para casa preparar o almoço. Despedindo-me da Barata, por prazo indefinido. Com um até para o mês que vem ou um até nunca mais, não faço ideia.

Há sempre um fim para tudo.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 29.05.20

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Paulo Gorjão: «A realidade encarrega-se quase sempre de inviabilizar cenários perfeitos. Não estou seguro que o surgimento de uma candidatura de direita, porventura patrocinada pelo CDS, não contribuísse para a vitória de Aníbal Cavaco Silva. Se, por um lado, essa alternativa poderia desviar votos, por outro seria um factor de mobilização para muitos dos eleitores que votaram em Cavaco Silva em 2005 e que sentem nesta altura alguma insatisfação com o mandato do Presidente da República. Claro, tudo isto é mera teoria e as campanhas podem gerar dinâmicas imprevisíveis. Isto dito, repito, parece-me precipitado o receio.»

 

Teresa Ribeiro: «A maioria dos portugueses embora critique o fenómeno, pratica-o, embora em pequena escala. Hipocrisia? Nem tanto. O whisky no Natal para alguém que meteu uma cunha, as notinhas entaladas à pressa nas mãos de burocratas e os jantares-convívio oferecidos a candidatos autarcas são caracterizados nesta obra como "singularidades portuguesas" consideradas legítimas pela maioria da população.»

 

Eu: «"A eleição de Cavaco Silva não foi uma batalha de valores", disse esta noite um comentador alinhado com o Presidente da República num programa de televisão, procurando justificar o injustificável. Sem perceber, este comentador só dá razão a quantos criticam a leitura minimalista dos poderes presidenciais que tem sido feita por Cavaco desde que chegou a Belém: vale a pena eleger um Presidente da República por sufrágio universal se esse escrutínio não resultar de "uma batalha de valores"? A resposta é obviamente negativa. Mas é escusado levar a novidade à tribo de incondicionais do actual inquilino de Belém.»

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