Os blogues que elegemos em 2019
No ano que agora termina, como fazemos há mais de uma década, fomos elegendo por cá o blogue da semana.
Em 2019, foram estes:
Blog de Gaizka Fernández Soldevilla
Em 2020, haverá mais. Continuaremos atentos.
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No ano que agora termina, como fazemos há mais de uma década, fomos elegendo por cá o blogue da semana.
Em 2019, foram estes:
Blog de Gaizka Fernández Soldevilla
Em 2020, haverá mais. Continuaremos atentos.
Fotografar Contra o Vento, de António Cabrita
Romance
(edição Exclamação, 2019)
Subida ao Monte das Bem-Aventuranças onde, segundo a lenda, Cristo terá proferido o sermão da Montanha. Curiosamente a paisagem é verde, como todo o Norte de Israel, ao contrário da representação habitual desta cena nos filmes. Por todo o lado surgem estes versículos, de enorme beleza literária. Mas é especialmente curioso encontrar este texto como agradecimento pelo salvamento de centenas de milhar de refugiados vietnamitas, que fugiram de barco após a invasão de 1975. Faz-nos recordar os migrantes que todos os dias arriscam a vida nas águas do Mediterrâneo às portas da Europa.
Cristina Ferreira de Almeida: «Quero o ano de 2010 como aquele decorador anónimo, que não leu livros de design nem sabe nada sobre os truques de marketing, se atira ao essencial. Quero o dever cumprido, as coisas básicas que nos competem dispostas com aquele brio para chegar ao fim, sacudir as mãos e dizer: "mais um dia chato no escritório. Prendemos os maus, defendemos os bons, vamos para casa." Podem dizer que sou uma sonhadora. Espero não ser a única.»
Sérgio de Almeida Correia: «Oxalá que 2010 possa trazer lucidez e bom senso aos sindicatos e paciência aos portugueses para acompanharem os próximos capítulos dessa miserável novela que a ninguém serve, mas que ou muito me engano ou dentro de algumas semanas acabará com o Sr. Mário Nogueira a pedir a demissão da ministra.»
Teresa Ribeiro: «Por incompetência ou porque as expectativas que criamos são irrealistas, a verdade é que nem sempre nos safamos como queríamos deste balanço anual. Talvez por esse motivo é que no dia 1 de cada ano já nem me dou ao trabalho de fazer uma lista de objectivos como deve ser. Fica tudo em rascunho.»
Eu: «Em 2010 gostaria de ver uma blogosfera mais irreverente e menos previsível, com ideias próprias e sem temor dos diversos poderes. Gostaria de ver uma blogosfera menos dependente de agendas políticas e com a autenticidade que a marcou nos primeiros anos. Gostaria de ver uma blogosfera que reflectisse menos as opiniões impressas nos jornais e se revelasse mais capaz de influenciar o que neles se publica. Gostaria de ver uma blogosfera onde o espírito de trincheira não prevalecesse, onde jamais se confundisse quem pensa de maneira diferente com um adversário e muito menos com um inimigo.»
A norte de Haifa encontra-se Acre, a cidade conquistada a Saladino por Ricardo Coração de Leão que depois a entregou à Ordem dos Hospitalários. Uma fortaleza imponente onde a memória dos Cruzados se encontra presente. Mas a fraqueza dos Cruzados está patente na célebre mensagem que Ricardo Coração de Leão dirigiu a Saladino, desejando uma batalha breve pois pretendia ir passar o Natal no seu país. Saladino respondeu que não se preocupava com esse assunto pois estava no seu país, onde iria passar o ano todo e os anos seguintes se fosse necessário. Uma vitória com tropas estrangeiras é sempre efémera. Mas fica para a eternidade o registo da sua passagem por esta terra.
A todos os colegas de blogue. E aos nossos leitores.
Em especial a estes, que ao longo do ano que agora termina estiveram em destaque no DELITO DE OPINIÃO:
Jardim do Campo Grande, 28 de Dezembro de 2019
Esta Alma Dura, de Francisco Penim
Romance
(edição Guerra & Paz, 2019)
"A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico"
Luís M. Jorge: «No Alentejo teremos uma nova Toscânia, em Portugal um atamancado Brasil. Uma coisa é certa: a implosão dos estádios será um belo símbolo do regime.»
Sérgio de Almeida Correia: «Eu só não compreendo o que tinham estes despachos de tão extraordinário, secreto, confidencial, que não tivesse permitido logo a sua divulgação, obviando ao estado de demência que se instalou nalguma opinião pública e à catadupa de dislates que durante semanas a fio foram proferidos pelas eminências pardas do regime, a começar pelos distintos líderes dos partidos da oposição e a catrefa de comentadores que salta de televisão em televisão e de jornal em jornal imaginando tramas dignas de Molière.»
Eu: «Decidi chamar-lhe As canções do século. É uma série que por aqui ficará ao longo de todo o ano de 2010, estabelecendo uma fronteira natural entre cada dia que vai passando e tendo por vezes algo a ver com esse dia. Uma série que visa recordar a melhor música do século XX, nos seus mais diversos géneros e proveniências, sem privilegiar nenhum. Cruzo aqui, naturalmente, os meus gostos pessoais com muitas referências obrigatórias da música popular do século passado que mantêm ecos permanentes nos nossos dias.»
Impressionante a vista de Haifa a partir do Monte Carmelo, onde se encontra um mosteiro que simultaneamente presta culto ao Profeta Elias e a Nossa Senhora do Carmo. Mais à frente encontram-se os jardins que servem de santuário à Fé bahá’i, uma religião monoteísta de origem persa. Mais uma vez a enorme diversidade religiosa deste país. Na primeira fotografia vê-se o Líbano ao fundo.
Ouvi há pouco que a boys band D´Arrasar vai voltar a actuar numa festa revivalista dos anos noventa. O momento não podia ser mais oportuno. Sempre que abro o computador e me aparecem notícias relevantes - do ponto de vista do emissor - o verbo arrasar sobressai logo, aplicado a várias situações: "A actriz x arrasou na passadeira vermelha; "a estrela y arrasou na festa"; "a namorada de tal arrasou no banquete". Exemplos concretos: "dona Dolores Aveiro arrasa na entrega de prémios…". E assim por diante. Só é estranho que esses locais não fiquem em ruínas, tal é o arraso que estas pessoas provocam. Depois, nas mesmas notícias, os críticos da moda "arrasam" as famosas e famosos, pela roupa, porque determinada cor não combinava com o padrão, por uma atitude ou gesto que passou despercebida ao comum dos mortais, etc. E finalmente vêm os "arrasos" opinativos, aqueles em que "o político fulano arrasou o seu adversário sicrano na assembleia municipal" ou "numa extensa entrevista", ou "o defensor do clube bege arrasa o representante do clube cor de burro quando foge no debate semanal futebolístico". Normalmente, quem o afirma é das cores do arrasador em questão.
Com tão grande míngua de vocabulário e tanto arrasamento, quem fica mesmo arrasada é a qualidade do texto, uma vez que a substância já não era grande coisa. E a paciência do incauto leitor também. Vejam lá se arrasam um pouco menos antes de deixar tudo em ruínas, ainda que não passem de virtuais.
O que é o amor?
O que é que aprendeu dos seus pais?
Qual o sentido da vida?
Os homens e as mulheres são iguais?
Qual o dia mais feliz da sua vida?
Qual o significado da família?
Estas e várias outras perguntas, no total de 45, foram colocadas a cerca de 6000 pessoas de 84 países. O projecto foi apresentado há uns anos e provavelmente já é bem conhecido de todos, mas cada vez que vejo ou revejo mais um dos vídeos no Youtube, não deixo de vibrar perante a profundidade de algumas das respostas dadas por outros seres humanos com quem partilhamos o tempo e o espaço da nossa vida. Depois de cada excerto é fácil entender quão idênticos e ao mesmo tempo únicos todos somos.
A ideia e obra é de Yann Arthus-Bertrand e o projecto chama-se Sept milliards d'autres. Está disponível no Youtube em francês e inglês.
Mais recentemente Yann Arthus-Bertrand, através da Fundação GoodPlanet a que preside, lançou o filme Human, (disponíveis o primeiro, segundo e terceiro volume) que combina incríveis imagens aéreas do planeta terra com pequenas histórias reais, sempre com o rosto do entrevistado a preencher o écran. Algumas são enternecedoras, outras banais, divertidas ou mesmo aterradoras, mas que acima de tudo transmitem bocados da vida conforme ela é vivida nos nossos dias, no nosso planeta. Devia ser visto nas escolas e transmitido pela televisão em horário nobre.
Seria fantástico fazer algo nesta linha nos nossos centros de dia, onde se emprateleiram centenas de milhares de portugueses cheios de memórias e vivências que mais ano menos mês serão perdidas. Não há por aí um estudante de sociologia que conheça um estudante de multimédia e que queira fazer um trabalho académico, que seria também um tributo aos portugueses quase esquecidos e um valioso registo para memória futura?
É imperdível uma visita a Cesareia Marítima, a cidade fundada pelo Rei Herodes, o Grande, onde se encontram importantes ruínas romanas, como o teatro e o hipódromo, onde se organizavam os jogos de circo. Aqui foi descoberta em 1961 uma pedra que relata uma homenagem feita ao Imperador Tibério por Pôncio Pilatos, prefeito da Judeia, o único registo desta célebre personagem do evangelho. Mas do magnífico palácio do Rei Herodes, construído junto ao mar, resta apenas o chão e uma muralha, que teima em não ser engolida pelas águas. Sic transit gloria mundi.
No seu blogue, na bicicleta, Paulofski fala do prazer que lhe proporciona andar de bicicleta. Ele próprio caracteriza o seu espaço assim:
Paulofski ilustra as descrições dos seus passeios com belas fotografias e dá-nos boas sugestões para a cidade do Porto e arredores (onde vive). Claro que nem sempre tem ciclovias à disposição e relembra-nos:
Acho que a todos nós faz bem passar os olhos, de vez em quando, por um blogue como na bicicleta, por isso o escolhi para blogue da semana.
Enquanto o cinema vai definhando, monopolizado em grau crescente por blockbusters de fabrico industrial que prometem (quase sempre sem cumprir) «arrasar nas bilheteiras», as séries florescem. Reflectindo a tendência actual: as pessoas trocam esse espaço colectivo que é uma sala de cinema regida por horários fixos pelo reduto doméstico em que imperam. Do social ao individual, do gregário ao solitário, do real ao virtual. Sair de casa, cumprir uma deslocação física, partilhar durante um par de horas uma sala (quando existe, o que já não sucede em várias cidades) com uma porção de estranhos deixou de atrair jovens e menos jovens.
Nos últimos três meses, à moda antiga, vi apenas duas longas-metragens que justificam elogio: Era Uma Vez em Hollywood, de Quentin Tarantino, e Dor e Glória, de Pedro Almodóvar - este com uma interpretação superlativa de Antonio Banderas. Sem surpresa, vejo ambas incluídas na lista dos três melhores filmes do ano elaborada pela revista Time.
No mesmo período, reforçando uma tendência dos últimos anos, vi bastante mais séries com qualidade.
Destaco três, que já mencionei aqui.
The Crown - «Muito mais do que uma simples série televisiva: é uma exemplar coreografia do realismo político, aqui elevado a um patamar artístico.» (Terceira temporada, na Netflix)
O Método Kominsky - «Vive de inteligentes e subtis modulações de texto em torno da velhice e da decadência física a ela associada, numa linha de fronteira ténue entre o drama e a comédia sem nunca excluir a ironia.» (Segunda temporada, na Netflix)
Ray Donovan - «Uma série amarga e tensa e desencantada, servida por um notável elenco onde se distingue o veterano Jon Voight.» (Sétima temporada, na Netflix)
Recomendei-as antes, recomendo-as de novo. Não por acaso, os cineastas de maior mérito e os actores mais consagrados têm trocado os estúdios de cinema pelas produções televisivas: é neste formato que hoje dão livre curso aos seus atributos artísticos. Aproveitemos, enquanto espectadores, esta idade de ouro da televisão. Com a certeza antecipada de que não durará sempre.
Cáustico Lunar seguido de Ghostkeeper, de Malcolm Lowry
Apresentação e tradução de Aníbal Fernandes
Novelas
(edição Sistema Solar, 2019)
J. M. Coutinho Ribeiro: «Estádio de Leiria: eis um bom exemplo de como tão mal se gere os dinheiros públicos em Portugal, este país de megalómanos. Ainda por cima, e tanto quanto sei, a obra nunca foi acabada.»
José Gomes André: «O Presidente promulgou um diploma aprovado por uma maioria dos deputados da Assembleia da República, perfeitamente legítimo e sem inconstitucionalidades conhecidas. Este gesto vulgar numa democracia emancipada mereceu críticas de vários quadrantes e até reacções indignadas. Parece-me natural que se denuncie eventualmente o valor do diploma, mas já me deixa estupefacto que se critique a referida promulgação presidencial de um acto tão básico e natural do processo democrático.»
Sérgio de Almeida Correia: «A EDP é, desgraçadamente, a imagem deste país: uma estrutura pesada e altamente burocratizada que está sempre a queixar-se dos investimentos que faz, paga por dez milhões e que derrete muitos outros em publicidade e marketing, enquanto meia-dúzia se vai governando com os resultados e os dividendos, sem grandes trabalhos nem complicações de maior, mas que é incapaz de prestar um serviço à altura da cultura empresarial que promove e da imagem que quer dar de si.»
Eu: «O título, infelizmente, não podia ter sido mais bem escolhido. Silêncio, mata-se. Foi desta maneira que a mais prestigiada organização internacional de jornalistas, Repórteres sem Fronteiras, salientou a dramática situação que se vive no Irão, onde nos últimos dois dias foram mortas pelo menos oito pessoas e 300 acabaram encarceradas - incluindo destacados membros da oposição, jornalistas e activistas de direitos humanos.»