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Delito de Opinião

Um manifesto político caseiro

João Campos, 30.09.19

O porta-voz do PAN (Pessoas-Animais-Natureza), André Silva, afirmou há um ou dois dias que “comer é um acto político” e, por isso, defende informação sobre as pegadas hídricas e carbónicas dos alimentos e o fim de apoios à produção de carne. 

Por este andar ainda trocamos, com benefícios evidentes, a ARTV pelo 24Kitchen: a Filipa Gomes sempre faz muito melhor figura na cozinha do que o deputado médio no parlamento. Mas já que, segundo o líder do PAN, comer é um acto político, então aqui deixo o humilde contributo cá de casa para esta campanha eleitoral:

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  • Carne de porco oriunda de uma pequena produção doméstica no concelho de Odemira, com porcos criados no campo e mortos de maneira tradicional (naquilo a que por lá designamos simplesmente como "morte de porco" ou "matança de porco"). A banha de porco na qual se fritou a carne tem a mesma origem, tal como a linguiça que picámos para as migas (não garanto que tenha sido do mesmo porco, mas não andou longe). 
  • O alho utilizado na confecção tanto das migas como da carne também é de produção doméstica lá da terra. Idem para o azeite e para o louro.
  • O pão veio da padaria de Sabóia (guardamos as sobras, já duras, para migas, açordas e sopas de pão).
  • A laranja foi comprada numa excelente mercearia tradicional na Estrada de Benfica.
  • Não me recordo que vinho acompanhou a refeição (já foi há alguns meses...), mas terá sido alentejano. Costuma ser. 
  • A ver se para a próxima, para além de arranjar uma foto melhor das migas, incluo também a aguardente de medronho (caseira) que bebi a seguir. 

Se o Sr. Silva encontrar uma refeição mais ecológica do que esta, pago-lhe uma bifana. Até pode ser de tofu, desde que eu não tenha de comer uma também. 

Entre os mais comentados

Pedro Correia, 30.09.19

Em 21 destaques feitos pelo Sapo em Setembro, entre segunda e sexta-feira, para assinalar os dez blogues nesses dias mais comentados nesta plataforma, o DELITO DE OPINIÃO recebeu 16 menções ao longo do mês.

Incluindo um texto na primeira posição, dois na segunda e cinco na terceira.

 

Os textos foram estes, por ordem cronológica:

A liberdade está no programa quente da máquina de lavar (38 comentários)

Em louvor às ditaduras (32 comentários) 

Leituras (46 comentários) 

O incorrectismo (41 comentários, terceiro mais comentado do dia)

A minha indignação bem expressa (100 comentários, segundo mais comentado do dia) 

Onde é que estavas no 11 de Setembro? (49 comentários, terceiro mais comentado))

Este século começou em Setembro (38 comentários)

Fora da caixa (7) (36 comentários)   

Sobre o fim do mundo (45 comentários, terceiro mais comentado)  

Contra a tentação da carne (174 comentários, o mais comentado do dia) 

Fora da caixa (11) (56 comentários, terceiro mais comentado)

Fora da caixa (12) (42 comentários)

O dia da metadona (68 comentários, segundo mais comentado)  

Inquietações (40 comentários)

Fora da caixa (16) (54 comentários)

Coimbra é uma lição (50 comentários, terceiro mais comentado do fim de semana)   

 

Com um total de 869 comentários nestes postais. Da autoria do Paulo Sousa, do JPT, do Diogo Noivo e de mim próprio.

Fica o agradecimento aos leitores que nos dão a honra de visitar e comentar. E, naturalmente, também aos responsáveis do Sapo por esta iniciativa.

Atracção pelo abismo [pub]

Diogo Noivo, 30.09.19

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"A tendência europeia tem sido de fragmentação eleitoral. Os partidos tradicionais perdem preponderância, surgem novas forças políticas e os eleitores dispersam-se pela oferta disponível. Espanha não é excepção: Podemos e Ciudadanos irromperam na arena política em 2015 e alteraram profundamente o panorama partidário.

Por isso, é curioso que estas duas forças políticas pareçam interessadas num regresso ao bipartidarismo dominado pelo Partido Popular (PP) e pelo Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE), que governaram em alternância o país praticamente desde a transição para a democracia.

A aritmética saída das mais recentes eleições legislativas, realizadas a 28 de Abril deste ano, sugeria duas soluções de Governo possíveis. O PSOE de Pedro Sánchez, com mais votos e mandatos, podia aliar-se à esquerda, com o Podemos, ou ao centro-direita, com o Ciudadanos. Mas nestes cinco meses os novos partidos renunciaram, na prática, à hipótese de se tornarem decisivos na formação de um Executivo.

De um lado, sem perceber a correlação de forças, o líder do Podemos, Pablo Iglesias, exigiu do PSOE pastas e influência muito superiores ao seu peso eleitoral. Chegou até a reclamar a vice-presidência do Governo e cinco ministérios, isto após ter reivindicado o controlo dos serviços de informações no período que antecedeu as eleições de Abril. As sondagens mostravam um PSOE sólido e um Podemos em queda, o que levou Iglesias a suavizar as exigências, mas foi tarde. O líder do Podemos apercebeu-se do erro, o que se tornou evidente quando solicitou a intervenção do rei Filipe VI. Suprema ironia: o Iglesias republicano, que em 2015 considerava a monarquia tão ilegítima quanto anacrónica, acabou a requerer do monarca um exercício de funções que não está respaldado pela Constituição de 1978.

Do outro lado, o Ciudadanos foi vítima de si próprio. Radicalizou a campanha para as eleições de Abril pedindo aos eleitores um veto ao PSOE. Para Albert Rivera, presidente do Ciudadanos, a contemporização socialista com o separatismo catalão era imperdoável não só no plano político, mas também no plano ético. Mais do que um adversário, Sánchez era o anti-Cristo. Conhecidos os resultados, que possibilitavam uma maioria absoluta entre PSOE e Ciudadanos, Rivera ficou com pouca margem de recuo. Havia uma saída estreita, a de inverter o discurso argumentando ser menos mau um PSOE apoiado pelo Ciudadanos do que entregar os socialistas nos braços radicais do Podemos e de pequenos partidos nacionalistas catalães e bascos. Porém, Rivera manteve-se firme na intransigência. Quando tomou consciência da impopularidade da sua conduta, ensaiou uma solução de recurso, igualmente tardia.

Em consequência, as lideranças de Podemos e Ciudadanos estão cada vez mais isoladas. Perderam popularidade junto das bases e afastaram-se de muitas personalidades que contribuíram para a fundação de ambos partidos, dando-lhes consistência política e intelectual. Sem surpresa, as sondagens mostram que estão em queda, enquanto PSOE e PP recuperam parte do espaço perdido nos últimos anos. Em suma, os partidos que nasceram para mudar o cenário político acabaram por revelar alguns dos vícios e das insuficiências que se propuseram combater.”

 

Excerto de artigo de opinião publicado na passada sexta-feira no Jornal Económico (texto completo apenas para assinantes).

Fora da caixa (18)

Pedro Correia, 30.09.19

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«Se houver um problema interno, é no plano interno que deve ser discutido.»

Jerónimo de Sousa (9 de Abril) 

 

Dos cinco principais partidos portugueses, o PCP é aquele que tem uma expressão eleitoral cada vez mais diminuta - como demonstraram as recentes eleições autárquicas (desceu dos 552.690 votos em 2013 aos 489.189 em 2017), europeias (passou de 416.446 votos em 2014 para 228.156 em 2019) e regionais da Madeira (baixou de 7.060 votos em 2015 para 2.577 em 2019).

E, no entanto, é também aquele que aparece menos no espaço mediático. Deu-se ao luxo, por exemplo, de recusar a participação nos debates a dois promovidos pelos canais de televisão por cabo - evitando assim o confronto com Catarina Martins e Assunção Cristas sem ninguém ousar aludir a misoginia. E vetou a participação de Jerónimo de Sousa no programa de Ricardo Araújo Pereira - que tem sido, de longe, o mais divertido palco político destas legislativas. Neste caso, ao que parece, trata-se de ajustar contas antigas: lá na Rua Soeiro Pereira Gomes não perdoam o acutilante humor deste seu antigo militante, que se atreveu a declarar coisas como esta: «Precisamos do PCP para defender os trabalhadores do PCP.» Parafraseando um antigo dirigente de outro partido, quem se mete com o PCP leva...

Talvez por isto, os comunistas são, entre as cinco principais forças partidárias, aqueles que mais se furtam ao escrutínio público. Nunca são tratados em termos jornalísticos como os restantes. No PCP não existe oposição interna - há "dissidentes", como sucedia na defunta União Soviética. Nunca há divergências públicas - a "unidade" é uma regra inabalável e o menor sopro de contestação fica abafado entre os espessos muros do estado-maior vermelho.

 

Jerónimo de Sousa é o rosto visível deste partido que ainda se comporta, em larga medida, como se vivesse na clandestinidade. Falta saber quase tudo o resto.

Quem são os membros do Secretariado e da Comissão Política, os dois órgãos decisórios da cúpula comunista? Alguém sabe os seus nomes fora da bolha partidária? Que currículo profissional têm? Quantos anos de exercício como funcionários do partido acumulam? Por que motivo ninguém os conhece fora do círculo interno e jamais concedem uma entrevista à imprensa "burguesa"? Quem controla as finanças do partido - que é reconhecidamente o mais rico, com depósitos bancários acima dos três milhões de euros - e o seu valiosíssimo património imobiliário? Ninguém imagina que a chave do cofre esteja na algibeira de Jerónimo, o mais antigo deputado português (ocupa um lugar em São Bento desde a Assembleia Constituinte, em 1975).

 

Saberíamos um pouco mais se os órgãos de informação atribuíssem o mesmo tratamento ao PCP que reservam aos restantes partidos. Mas, com raríssimas excepções, isso não acontece: os comunistas beneficiam de uma complacência generalizada de jornais e televisões, por motivos compreensíveis: dá muito mais trabalho investigar o que lá se passa e trazer à luz do dia o que ocorre naqueles corredores cheios de segredos.

A oposição interna à "geringonça", por exemplo, é tão vasta que dava para narrar num livro. Ou dois.

His master's voice de Setembro

Pedro Correia, 30.09.19

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«Ontem, no debate a seis, houve tudo menos um arrufo. Não foi bonito de se ver a interpelação de Catarina Martins a Costa. E ele respondeu-lhe à letra. António Costa foi obrigado a descer a terreiro pq [porque] eram seis contra um. Já chega de debates.»

Luísa Meireles, directora de Informação da Lusa, comentando o debate na RTP entre os líderes dos seis principais partidos

Twitter, 24 de Setembro

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 30.09.19

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Adolfo Mesquita Nunes: «Sentindo-se vigiado, eventualmente pelo Governo, Cavaco Silva foi apanhado com a boca na botija a tentar resolver o assunto através da pequena intriga jornalística. A sua declaração de ontem mais não foi do que a desesperada tentativa de fazer sobressair as suas desconfianças e de camuflar a desastrada e pouco digna forma como procurou fazer-lhes face. Vitimizar-se, no fundo. E dizer-se cercado pelo Governo.»

 

José Gomes André: «Há coisa de ano e meio, Cavaco Silva decidiu entrar claramente no jogo político, inventou a história das escutas (talvez motivado pela episódio do putativo "espião do PS" na Madeira) e deu ordens a Fernando Lima para levar o pseudo-caso para os jornais, na esperança de que a sua amiga de longa data Ferreira Leite chegasse ao poder. Deu-se mal porque o episódio veio a público, envolvendo o seu nome. E desde aí, Cavaco mais parece aquela pessoa que tenta corrigir um erro cometendo pelo menos mais três no caminho.»

 

Leonor Barros: «Aquela mania de falar de si como o Presidente da República, como se fosse outro que não ele próprio, muito vincada na primeira parte do discurso, é profundamente irritante. Mesmo sendo um recurso estilístico –como estou benemérita - para se aproximar passo a passo da verbalização na primeira pessoa e modificar a perspectiva não lhe fica bem e soa a conversa de jogador de futebol. Não gosto.»

 

Luís M. Jorge: «Não cabe ao Presidente comentar comentadores ou responder a notícias de jornais.»

 

Paulo Gorjão: «"When you're in a hole, stop digging." O Presidente da República ignorou por completo esta frase célebre de Denis Healey. O resultado está à vista. O buraco institucional é cada vez mais profundo e não se vislumbra forma fácil de o ultrapassar.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Por inépcia política, mau aconselhamento e falta de visão de Estado, o Presidente da República colocou-se numa posição vulnerável, expôs-se, deixou que a disputa institucional assumisse contornos sul-americanos e hipotecou todas as condições de governabilidade numa altura de grave crise ecónomica e social, mostrando não estar à altura do cargo para  que foi eleito.»

 

Eu: «Previsões: Maria de Lurdes Rodrigues vai fora. Mário Lino também. Jaime Silva, idem; Severiano Teixeira, idem aspas. E Alberto Costa. E Pinto Ribeiro. E Mariano Gago. Nunes Correia nem cheguei a saber quem é.»

Aquecimento global

jpt, 29.09.19

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Comecei anteontem a reler "A Vida e Opiniões de Tristam Shandy", que li, a correr, há 21 anos (!). Sterne começou a publicar em 1759 (releiam também, em 1759) este livro. A epígrafe é do grego Epicteto: "Não são as próprias coisas, mas as opiniões acerca das coisas o que atormenta os homens".

Neste final de domingo correram as cervejas na esplanada. Entre vizinhos. Na proximidade eleitoral falou-se de política. Um "dos tempos" perorou, diante do fastio amigável, em prol deste execrável costismo kamovista. Aportou um outro, daqueles que se diz da direita, dos que agitam o "marxismo cultural". Encetou o ditirambo contra a miúda Greta, pois terá lido aqui no FB os "mestres do dispensar" nesse rumo.

Resmungo-lhe: voltei de Maputo em 2015. Este vizinho imenso escrevia contra o estado dos espaços verdes dos Olivais. Geridos por uma patética presidente da Junta da Freguesia, mulher atroz agora candidata a deputada pelo PS. Para mim os Olivais pareciam Maputo, pois lixo por todo o lado, relva toda queimada, incompetência e desleixo dos serviços públicos, sobre isso bloguei. Também ele o fez, irado. E um tipo tão sensível que se revolta contra os jardins da vizinhança, que diz face ao descalabro ecológico global? Vem à esplanada gritar contra a miúda Greta ...

Mimetiza estes patetas, bloguistas e facebuquistas, doutores personalidades públicas. Esses que sigo há década ou mais, nos blogs, jornais ou FBs. Esses a quem nunca li nada sobre ecologia, sobre desflorestação, sobre aquecimento ou não, sobre degelo. Nunca botaram sobre isso. Monopolizados pelos requebros, meneios, acenos, a pequenez dos interesses daqui. Mas tanto se desdobram agora sobre a miúda Greta, tão enfadados vão, tão preocupados estão, tão "fascista" é ela. Tão rebolados nestes abespinhamentos, tão mariconços nos arreganhos ...

Um gajo lê um Sterne, de há 250 anos, e um Epictetus de há 2000 anos, já então, cada um a seu tempo, a demonstrarem, anunciando-a, a mediocridade desta gente. E, tal como digo a este vizinho, sentado à minha mesa, entrepagando-nos imperiais e uísques, e apesar da minha filha não gostar que eu escreva assim: estes gajos não valem a ponta de um corno. Flácidos, imbecis, impotentes. Umas bestas. E tão armados em inteligentes. Gente nada, doutores nada. A merda "lisboa". 

Fim-de-semana

jpt, 29.09.19

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Enquanto decorre a campanha eleitoral e o secretário-geral Jerónimo de Sousa defende o governo minoritário do PS, proclamando que o PSD ataca o "affaire" Tancos à falta de outros argumentos contra ... o governo minoritário do PS (o que diria o camarada Pimentel deste clamoroso e desnorteado "desvio de direita" do Partido....!?)

convirá recordar - naquele anglicismo do "shame on you" - as hostes socialistas (e, face ao acima exposto, também os "camaradas e amigos" do PCP) de que neste último sábado se cumpriu exactamente um ano que o juiz Ivo Rosa foi "sorteado" - como os trabalhadores judiciais bem sabiam que iria "acontecer" - para abafar, perdão, julgar o processo de José Sócrates.

O regime protegeu-se e prossegue, kamoviano. O PCP aplaude. Os socratico-costistas suspiram, aliviados. Os BEs saracoteiam.

E o povo vota.

 

Leituras

Pedro Correia, 29.09.19

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«Devemos reconhecer o grande valor do liberalismo, o qual, desde o seu nascimento no Iluminismo, se tem esforçado por nos incutir a distinção radical entre a ordem religiosa e política e a necessidade de construir a arte do governo sem que esta dependa da lei de Deus.»

Roger Scruton, Como Ser um Conservador (2014)p. 92

Ed. Guerra & Paz, Lisboa, 2018. Tradução de Maria João Madeira

O comentário da semana

Pedro Correia, 29.09.19

«Pagaria um euro com gosto para financiar a reabertura de escolas para as poucas crianças que ainda vivem nos meios rurais e respectivo transporte escolar condigno. Pagaria um euro para ajudar a reabrir estações de correios e farmácias nos meios rurais. Pagaria um euro para financiar políticas capazes de fazer funcionar os hospitais distritais do interior, acabando com espaços cheios de bom equipamento sem profissionais de saúde com vontade de os usar no tratamento dos pacientes que residem no interior. Pagaria um euro para criar um País que valorizasse quem investe, cria riqueza e emprego no interior. Pagaria um euro para que os comboios do interior voltassem a funcionar. Pagaria muito mais de um euro para pôr o País tonto a respeitar o interior e o mundo rural, dotando as aldeias, vilas e cidades do interior das comodidades mínimas para poder haver fixação de populações nos meios rurais.

Anacrónica, o meu ambientalismo reporta-me para o mundo rural e para a sua valorização. Mas nada disto interessa para o ambientalismo da vaga de citadinos de primeira ou segunda geração, muito pouco educados e ainda envergonhados das suas origens rurais. Vamos ter que esperar mais umas décadas para que esta vaga de citadinos tontos - que agitam bandeiras contra as alterações climáticas sem conhecer nem querer saber dos tempos e dos ciclos da natureza - perceba a importância daquilo que abandonou.»

 

Da nossa leitora Isabel. A propósito deste meu texto.

Ontem, num jornal de referência

Pedro Correia, 29.09.19

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O analfabetismo vai galopando, dia após dia, nas colunas dos jornais. Até naqueles que presumem ser mais ilustrados e instruídos. Ontem, numa entrevista publicada num semanário, deparei com esta chocante confusão entre o verbo haver e a contracção de uma preposição com um artigo definido.

Antigamente, quando tais nódoas pousavam no papel, não faltava quem corasse de vergonha. Agora é tempo de encolher os ombros e partir para o dislate seguinte com toda a descontracção do mundo.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 29.09.19

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Luís M. Jorge: «Dois dias após as legislativas, o Departamento Central de Investigação e Acção Central fez buscas em quatro escritórios dos advogados presumivelmente envolvidos na compra de submarinos quando Paulo Portas era ministro da Defesa. Eis uma infeliz coincidência que, com alguma sorte, talvez se transforme num auspicioso incentivo ao diálogo com o partido da maioria.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Paulo Portas e o CDS-PP fizeram com poucos meios uma campanha de grande nível. Concentraram a mensagem, apostaram num discurso directo e sem subterfúgios, ainda que com os habituais laivos populistas. Ainda assim, levaram a carta ao destino, ultrapassando os dois dígitos e humilhando as sondagens. Resta saber o que irão fazer com os dois dígitos e se o seu grupo parlamentar estará à altura do resultado obtido ou se vai continuar a ser o eco do líder.»

 

Eu: «Faltam 16 meses para as próximas presidenciais. À direita, só conheço uma personalidade que tem bons motivos para revelar satisfação com esta desastrada recta final do mandato de Cavaco Silva em Belém: Marcelo Rebelo de Sousa. Não tardaremos a saber porquê.»

Pensamento da semana

Alexandre Guerra, 29.09.19

No seio das sociedades mais desenvolvidas, o discurso ambiental está carregado de hipocrisia e fundamentalismo. De cimeira em cimeira, de manifestação em manifestação, todos são corajosos e empenhados no combate às alterações climáticas, todos fazem proclamações grandiosas e dão receitas milagrosas para salvar o planeta, mas toda essa dinâmica parece perder força quando é transposta para a realidade local. O quotidiano que nos rodeia nos nossos empregos e cidades vai-nos revelando uma cumplicidade popular perante atentados diários à sustentabilidade da nossa sociedade. Os anos passam e a passividade cívica nacional perpetua-se perante os rios que são destruídos por fábricas devidamente identificadas, perante a incompetência crónica na gestão da floresta, perante o turismo de massas que vai pressionando social e ambientalmente comunidades locais, perante o desperdício de água gritante nas condutas públicas, perante o tráfego massivo de viaturas a combustível fóssil que continue a ser permitido em zonas verdes sensíveis, perante a construção excessiva de betão na linha de costa e zonas protegidas, perante os atentados urbanísticos, perante a decadência dos transportes públicas "empurrando" as pessoas para uso de viatura própria, perante o lixo que se vai acumulando nalgumas zonas, parente a ausência de fiscalização e "pulso forte" contra os prevaricadores das regras ambientais... Perante isto, e muito mais, não me recordo de ver qualquer manifestação ou acto de indignação neste nosso país.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana

Fora da caixa (17)

Pedro Correia, 28.09.19

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«A justiça trata da justiça e os políticos tratam da política.»

António Costa, ontem, no Porto 

 

O Ministério Público já interveio pelo menos duas vezes nesta campanha eleitoral: a 18 de Setembro, ao constituir arguido o secretário de Estado da Protecção Civil, forçado a demitir-se; e a 26 de Setembro, ao deduzir acusação contra o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes.

Felizmente, sucessivos responsáveis têm tranquilizado a opinião pública, assegurando não existir gestão política dos processos judiciais. Ficamos, naturalmente, todos muito mais descansados.

 

O Instituto Nacional de Estatística já interveio pelo menos duas vezes nesta campanha eleitoral: a 23 de Setembro, ao anunciar a revisão das cifras macro-económicas de 2017 e 2018 devido a uma oportuna «combinação de alterações metodológicas com a incorporação de novos dados»,  propiciando títulos como este, do Público: «PIB mais alto e défice mais baixo»; e ontem, ao antecipar estimativas sobre o desemprego referentes ao mês de Agosto que permitem títulos como este, da TSF: «Valor mais baixo desde 2002.»

Felizmente, sucessivos responsáveis têm tranquilizado a opinião pública, assegurando não existir instrumentalização dos organismos do Estado para efeitos de propaganda governamental. Ficamos, naturalmente, todos muito mais descansados.

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