O regime na primeira página
Capa do jornal A Bola de 16 de Junho de 2007
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Capa do jornal A Bola de 16 de Junho de 2007
Jaguar, de António Carlos Cortez
Poesia
(edição D. Quixote, 2019)
"Este livro segue a ortografia anterior ao Novo Acordo"
Adolfo Mesquita Nunes: «A convivência entre as três religiões que separam os bairros de Jerusalém não é fácil e qualquer olhar menos distraído apreende a tensão que perturba a santidade dos lugares e a acalmia do fim de tarde. E foi preciso chegar aqui, vir aqui, para entender, sem aceitar, como um só lugar pode originar séculos de guerras e de ódios: em Jerusalém, a fé ganha, para aqueles que como eu a partilham, uma dimensão superlativa, como se os lugaes sagrados fossem afinal a confirmação ou a demonstração dessa fé.»
Sérgio de Almeida Correia: «A condição de arguido apenas tem servido para mascarar e branquear de acordo com as conveniências do momento. A cada opinador o seu arguido, a cada partido o seu critério. Mas o problema tem implicações mais sérias e radica num outro patamar de discussão. Antes de se discutir o que pode ou não pode um arguido na política, seria bom saber que democracia queremos, que partidos nos servem e que gente deve estar na política.»
Eu: «Alberto João Jardim apoia a lista de candidatos a deputados aprovada pelo Conselho Nacional do PSD e manifestou a sua solidariedade a Manuela Ferreira Leite. O mesmo Jardim que em Janeiro deste ano apontava a porta da demissão à líder do PSD se não conseguisse derrotar José Sócrates nas legislativas. E que nessa mesma altura afirmava alto e bom som que os sociais-democratas não deviam "jogar para empatar, mas para ganhar. Não sei que pressões poderão ser maiores que estas: por muito menos, Pedro Passos Coelho foi acusado de conspirar contra Ferreira Leite.»
«Estou muito chateado, mas não preocupado.»
Frederico Varandas, presidente do Sporting, depois de ter visto ontem a sua equipa derrotado por 0-5 na Supertaça, frente ao histórico rival Benfica
«"Empresa que vendeu golas antifumo inflamáveis é de marido de autarca do PS. A Foxtrot – Aventura, Unipessoal Lda, assim se chama a empresa que vendeu as golas da polémica, só foi constituída a 18 de Dezembro de 2017 e, segundo os registos comerciais, opera no sector do 'turismo de natureza'."
É esta democracia que nos dizem que temos de defender, através da oportunidade eleitoral? Da esquerda à direita é tudo igual. Necessitamos de uma República Nova, que esta finou-se. Dobrem-se por ela os sinos e estendam-se tapetes cerimoniais até aos patíbulos do sacrificio. Forjemos com sangue um novo pacto. Pelo Renascimento de Portugal. Portugal há-de viver.»
Do nosso leitor Vorph Valknut. A propósito deste texto do João Campos.
Fanny Owen, de Agustina Bessa-Luís
Prefácio de Hélia Correia
Romance
(reedição Relógio d' Água, 5.ª ed, 2017)
João Carvalho: «Não é fácil conseguir uma boa derrota. Especialmente quando o principal adversário está desacreditado. Claro que há umas medidas capazes de gerar danos eficazes. Destroçar tropas, por exemplo, ajuda imenso a perder a batalha seguinte. Com uma vantagem possível: a soldadesca que resta de um exército esfrangalhado é sempre muito fiel à voz de comando. O problema é que o comandante não costuma ter tempo para contar quantos ficaram. Porquê? Por também ser considerado despojo de guerra.»
José Gomes André: «Lamento a incapacidade de Manuela Ferreira Leite adoptar uma postura conciliatória com a oposição interna. Tinha um bom exemplo dos EUA para perceber que muitas vezes a "desunião" faz a força.»
Sérgio de Almeida Correia: «O Paulo Bento talvez possa dar uma ajuda a Manuela Ferreira Leite. Ontem percebi que o treinador do Sporting também é adepto de uma política de verdade. Em "linhas gerais", é claro, e desde que o João Moutinho não dê cabo de tudo. Ele ou o Rui Rio. A Dr.ª Manuela sabe que esta coisa da politica anda de braço dado com o futebol e as autarquias. Transparências.»
Eu: «Mostrou-se exímia a enfrentar os companheiros ao impor listas eleitorais que mostram um partido mais tenso, mais fechado, mais crispado, mais distante da sociedade civil. Levou a melhor nesta sua emocionante refrega contra as distritais: conseguiu ver as listas aprovadas por 59 votos a favor, apenas 37 contra e cinco abstenções. É uma política brilhante - deve estar a pensar neste momento o seu principal adversário.»
RTP1, RTP3, Sic Notícias, CMTV, TVI 24 - todos estes canais estão a transmitir a viagem de um autocarro entre um hotel e um estádio de futebol. Isto explica muito do estado a que chegámos.
O Verão anda tímido, o que impele a tardes no sofá. Há boas sugestões de leitura aqui no DELITO, mas quem queira encontrar séries merecedoras de uma tarde de ócio visite o blogue Quinta Temporada, do El País. Estreias, críticas, notícias, está lá tudo.
Despachos, de Michael Herr
Tradução de Paulo Faria
Reportagens de guerra no Vietname
(edição Antígona, 2019)
... continua a saber-se muito pouco sobre as multimilionárias operações que ocorreram nas últimas horas antes do anúncio.
... Marques Mendes, que anunciou 48 horas antes o que seria a decisão do governo e Banco de Portugal, continua a fazer o seu programa de televisão e até se mantém conselheiro de Estado.
... já nos custou mais de 1.000.000.000 € por ano, ou seja, o que se gastou por ano a apoiar este banco privado é equivalente ao que está orçamentado gastar-se em 2019 com a Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.
... ninguém está preso.
Adolfo Mesquita Nunes: «Pode regressar-se a um lugar onde nunca se esteve, como se um recomeço pudesse prescindir de um começo? Penso nisto desde que cheguei a Jerusalém.»
Ana Margarida Craveiro: «Imaginemos que (...) um dos directores da publicação em que escrevo faz um editorial a pedir desculpa aos fãs do autor por mim, num tom subserviente e que insulta o meu trabalho. Pior: depois vem o provedor da mesma publicação dizer em tom autoritário que, se não gosto daquele autor, nunca deveria ter escrito sobre ele. Diz ele que não é curial. Assim, categoricamente. Pode isto acontecer em Portugal? Pode. Na verdade, não se trata de livros, mas de uma crítica a um concerto, e tudo isto está a acontecer a um crítico musical, João Bonifácio. O jornal é o Público, e o artigo do provedor pode ser lido aqui. A liberdade de expressão está em sérias dificuldades por estas paragens.»
Eu: «Para assinalar meio século de existência, a ETA voltou a matar. Desta vez as vítimas foram dois polícias. Chamavam-se Diego Salvá e Carlos Sáenz de Tejada. Mais dois a somar aos outros 826 seres humanos ceifados pelas balas dos que teimam em atribuir razões políticas àquilo que mais não é do que um bárbaro, repugnante e inaceitável cortejo de crimes comuns. Sem justificação possível de qualquer espécie.»
Vejo frequentemente pessoas a queixar-se veementemente da globalização e do globalismo. Curiosamente fazem-no através da internet, mais precisamente no Facebook, noutras redes sociais ou em blogues, os maiores produtos da globalização a par dos telemóveis. Deviam antes deixar todas essas redes, desligar o computador e ir invectivar a globalização de forma consequente com o que apregoam, ou seja, na rua, nos cafés ou nas caves conspirativas.
Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana
«A história é feita com meios, não com ideias; e tudo é modificado pelas condições económicas, arte, filosofia, amor, virtude - a própria verdade!»
Joseph Conrad, O Agente Secreto (1907), p. 45
Ed. Europa-América, 1997 Colecção Grandes Clássicos do Século XX, n.º 24 Tradução de Sara Gomes
Pode o Fisco, num curto espaço de tempo, e baseado em presunções delirantes, sem um único resquício de prova:
i) Penhorar os créditos sobre clientes nacionais, intimando estes, sob ameaça de raios e coriscos, a pagar ao Fisco o que devem à empresa sob ataque?
ii) Penhorar todos os veículos automóveis, impedindo o transporte de pessoal e mercadorias?
iii) Penhorar as matérias primas e componentes existentes no ano anterior, já consumidas, e o recebido de fornecedores, semana a semana, impedindo a transformação em produtos acabados?
iv) Cativar a restituição de IRC pago a mais no ano anterior?
v) Cativar o acerto de contas do IVA, por a empresa exportar cerca de 90% da produção, e não poder debitar IVA a estrangeiros mas suportá-lo nas compras, o que cria permanentemente créditos sobre o Estado? Mais:
vi) Pode a empresa recorrer aos tribunais, sem pagar a fortuna que lhe é exigida ou apresentar garantias, que não tem? E,
vii) Finalmente, pode o tribunal decretar a insolvência, a requerimento de um sindicato (mas podia ser qualquer fornecedor ou banco credor), ignorando os factos acima, denunciados no processo?
A resposta a todas estas perguntas, já se vê, é sim, excepto para a penúltima.
Sobram algumas perguntas novas e uma dúvida. As perguntas:
1. Que acontece às simpáticas duas inspectoras que estão na origem do processo, e a quem nelas superintende?
2. Que acontece aos trabalhadores?
3. Que acontece aos credores?
4. Que acontece às máquinas, às existências e ao edifício?
5. Que acontece aos sócios?
Esclareço, com o louvável propósito de satisfazer a incontrolável curiosidade dos leitores: 1) Ficam com uma nota positiva no currículo, e talvez gratificação – o desempenho dos funcionários do Fisco mede-se pelo combate à evasão fiscal, e portanto pela quantidade de autos de notícia que levantam; 2) Vão para o desemprego, primeiro, e a seguir para a reforma ou um novo emprego; 3) Ficam a arder e, se andarem da perna com as papeladas e reclamarem a tempo, poderão vir a considerar as perdas como custo, não pagando portanto IRC sobre o que nunca receberam; 4) Será tudo vendido ao preço da uva mijona, como é normal em insolvências, e é improvável que o produto da venda chegue para os credores, salvo os trabalhadores e, talvez, parte da dívida bancária; 5) Perdem a empresa e o capital e ficam com a responsabilidade da parte da dívida titulada por garantias pessoais – no caso, muito significativa.
A dúvida: Não há ligação nenhuma entre estes abusos, que configuram claríssima negação do Estado de Direito, e a condição de público inimigo da escumalha infecta que nos governa, que é a do discreto autor?
Não sei.