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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 06.08.19

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Adolfo Mesquita Nunes: «A convivência entre as três religiões que separam os bairros de Jerusalém não é fácil e qualquer olhar menos distraído apreende a tensão que perturba a santidade dos lugares e a acalmia do fim de tarde. E foi preciso chegar aqui, vir aqui, para entender, sem aceitar, como um só lugar pode originar séculos de guerras e de ódios: em Jerusalém, a fé ganha, para aqueles que como eu a partilham, uma dimensão superlativa, como se os lugaes sagrados fossem afinal a confirmação ou a demonstração dessa fé.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «A condição de arguido apenas tem servido para mascarar e branquear de acordo com as conveniências do momento. A cada opinador o seu arguido, a cada partido o seu critério. Mas o problema tem implicações mais sérias e radica num outro patamar de discussão. Antes de se discutir o que pode ou não pode um arguido na política, seria bom  saber que democracia queremos, que partidos nos servem e que gente deve estar na política.»

 

Eu: «Alberto João Jardim apoia a lista de candidatos a deputados aprovada pelo Conselho Nacional do PSD e manifestou a sua solidariedade a Manuela Ferreira Leite. O mesmo Jardim que em Janeiro deste ano apontava a porta da demissão à líder do PSD se não conseguisse derrotar José Sócrates nas legislativas. E que nessa mesma altura afirmava alto e bom som que os sociais-democratas não deviam "jogar para empatar, mas para ganhar. Não sei que pressões poderão ser maiores que estas: por muito menos, Pedro Passos Coelho foi acusado de conspirar contra Ferreira Leite.»

O comentário da semana

Pedro Correia, 05.08.19

«"Empresa que vendeu golas antifumo inflamáveis é de marido de autarca do PS. A Foxtrot – Aventura, Unipessoal Lda, assim se chama a empresa que vendeu as golas da polémica, só foi constituída a 18 de Dezembro de 2017 e, segundo os registos comerciais, opera no sector do 'turismo de natureza'."
É esta democracia que nos dizem que temos de defender, através da oportunidade eleitoral? Da esquerda à direita é tudo igual. Necessitamos de uma República Nova, que esta finou-se. Dobrem-se por ela os sinos e estendam-se tapetes cerimoniais até aos patíbulos do sacrificio. Forjemos com sangue um novo pacto. Pelo Renascimento de Portugal. Portugal há-de viver.»

 

Do nosso leitor Vorph Valknut. A propósito deste texto do João Campos.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 05.08.19

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João Carvalho«Não é fácil conseguir uma boa derrota. Especialmente quando o principal adversário está desacreditado. Claro que há umas medidas capazes de gerar danos eficazes. Destroçar tropas, por exemplo, ajuda imenso a perder a batalha seguinte. Com uma vantagem possível: a soldadesca que resta de um exército esfrangalhado é sempre muito fiel à voz de comando. O problema é que o comandante não costuma ter tempo para contar quantos ficaram. Porquê? Por também ser considerado despojo de guerra.»

 

José Gomes André: «Lamento a incapacidade de Manuela Ferreira Leite adoptar uma postura conciliatória com a oposição interna. Tinha um bom exemplo dos EUA para perceber que muitas vezes a "desunião" faz a força.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «O Paulo Bento talvez possa dar uma ajuda a Manuela Ferreira Leite. Ontem percebi que o treinador do Sporting também é adepto de uma política de verdade. Em "linhas gerais", é claro, e desde que o João Moutinho não dê cabo de tudo. Ele ou o Rui Rio. A Dr.ª Manuela sabe que esta coisa da politica anda de braço dado com o futebol e as autarquias. Transparências.»

 

Eu: «Mostrou-se exímia a enfrentar os companheiros ao impor listas eleitorais que mostram um partido mais tenso, mais fechado, mais crispado, mais distante da sociedade civil. Levou a melhor nesta sua emocionante refrega contra as distritais: conseguiu ver as listas aprovadas por 59 votos a favor, apenas 37 contra e cinco abstenções. É uma política brilhante - deve estar a pensar neste momento o seu principal adversário.»

Ontem cumpriram-se cinco anos desde que foi anunciada a resolução do BES e...

Tiago Mota Saraiva, 04.08.19

... continua a saber-se muito pouco sobre as multimilionárias operações que ocorreram nas últimas horas antes do anúncio.

... Marques Mendes, que anunciou 48 horas antes o que seria a decisão do governo e Banco de Portugal, continua a fazer o seu programa de televisão e até se mantém conselheiro de Estado.

... já nos custou mais de 1.000.000.000 € por ano, ou seja, o que se gastou por ano a apoiar este banco privado é equivalente ao que está orçamentado gastar-se em 2019 com a Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

... ninguém está preso.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 04.08.19

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Adolfo Mesquita Nunes: «Pode regressar-se a um lugar onde nunca se esteve, como se um recomeço pudesse prescindir de um começo? Penso nisto desde que cheguei a Jerusalém.»

 

Ana Margarida Craveiro: «Imaginemos que (...) um dos directores da publicação em que escrevo faz um editorial a pedir desculpa aos fãs do autor por mim, num tom subserviente e que insulta o meu trabalho. Pior: depois vem o provedor da mesma publicação dizer em tom autoritário que, se não gosto daquele autor, nunca deveria ter escrito sobre ele. Diz ele que não é curial. Assim, categoricamente. Pode isto acontecer em Portugal? Pode. Na verdade, não se trata de livros, mas de uma crítica a um concerto, e tudo isto está a acontecer a um crítico musical, João Bonifácio. O jornal é o Público, e o artigo do provedor pode ser lido aqui. A liberdade de expressão está em sérias dificuldades por estas paragens.»

 

Eu: «Para assinalar meio século de existência, a ETA voltou a matar. Desta vez as vítimas foram dois polícias. Chamavam-se Diego Salvá e Carlos Sáenz de Tejada. Mais dois a somar aos outros 826 seres humanos ceifados pelas balas dos que teimam em atribuir razões políticas àquilo que mais não é do que um bárbaro, repugnante e inaceitável cortejo de crimes comuns. Sem justificação possível de qualquer espécie.»

Instantes em sépia com capa de muitas cores (29)

Maria Dulce Fernandes, 04.08.19

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Upa, lá!
 
"- Vá, agora seguras assim e enrolas com linha à volta", dizia a minha Madrinha, sentada comigo no pial de pedra da entrada, ambas entretidas a dispor em arranjos coloridos, espécies enviesadas de flores de papel que enfeitavam arcos de arames ferrugentos forrados a corda de amarrar serapilheiras e papel de seda. Eu queria era brincar com os "harmónios" que a Madrinha chamava balões não sei porquê, pois até tinham lá dentro uma cruzeta de madeira com um prego, onde espetavam uma vela, mas não podia ser, porque não chegavam para pendurar nos arcos todos.
A ti' Antónia da Fava Rica andava com a Almerinda aos gavetos na quinta depois de saltado o muro, para os amontoarem bem no meio do Largo do Carvoeiro, onde mais tarde se acenderia a fogueira.
 
A fogueira.
 
O fogo  tem o fascínio do ouro e a beleza de uma besta indomável e irrequieta que brilha no escuro com fulgências e tonalidades mais rebuscadas do que a mais louca das fantasias.
Era absolutamente fantástico ficar virada para o muro da quinta, de costas para a fogueira. As sombras agigantavam-se e moviam-se loucas e sinuosas, eminências pardas de um reino negro e luzente que crescia e se agitava a cada crepitar da acha, criando miragens de fumo e calor ondulante que cheirava a resina e a verão.
 
O avô chegava-me à beira do fogaréu e upa! Já está! E eu ria feliz e corada, seguindo com o olhar as faúlhas que se libertavam e que eu acreditava seguirem directamente para o céu, para se juntarem aos outros pontinhos brilhantes.
 
Havia concertina e guitarra e vinho. Havia cantigas. Havia a marcha de braço dado, toques de pele e trocas de olhares. Havia pão e bolos e limonada... e pirolitos com bola!
 
Sardinhas, só mais tarde.
 
Havia amizade e bailarico até os pés não poderem mais sustentar tanta folia.
 
O Carvoeiro é agora uma oficina fechada. No largo, os moradores só se conhecem do bom dia, boa tarde.
Será que sabem o que é um trono de Santo António?
E uma fogueira comunitária?
 
Passei lá o mês passado. Ainda ecoavam os risos daquela noite em que a Vizinha Custódia calculou mal o salto e o fogo, matreiro que só ele, ferrou-se-lhe à combinação de renda estreada para a ocasião, e lambiscou-lhe metade, sem que ela desse por isso.

Pensamento da Semana

João Pedro Pimenta, 04.08.19

Vejo frequentemente pessoas a queixar-se veementemente da globalização e do globalismo. Curiosamente fazem-no através da internet, mais precisamente no Facebook, noutras redes sociais ou em blogues, os maiores produtos da globalização a par dos telemóveis. Deviam antes deixar todas essas redes, desligar o computador e ir invectivar a globalização de forma consequente com o que apregoam, ou seja, na rua, nos cafés ou nas caves conspirativas.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana

Leituras

Pedro Correia, 03.08.19

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«A história é feita com meios, não com ideias; e tudo é modificado pelas condições económicas, arte, filosofia, amor, virtude - a própria verdade!»

Joseph Conrad, O Agente Secreto (1907)p. 45

Ed. Europa-América, 1997 Colecção Grandes Clássicos do Século XX, n.º 24 Tradução de Sara Gomes

Perguntas ao Estado Socialista

José Meireles Graça, 03.08.19

Pode o Fisco, num curto espaço de tempo, e baseado em presunções delirantes, sem um único resquício de prova:

 

i) Penhorar os créditos sobre clientes nacionais, intimando estes, sob ameaça de raios e coriscos, a pagar ao Fisco o que devem à empresa sob ataque?

ii) Penhorar todos os veículos automóveis, impedindo o transporte de pessoal e mercadorias?

iii) Penhorar as matérias primas e componentes existentes no ano anterior, já consumidas, e o recebido de fornecedores, semana a semana, impedindo a transformação em produtos acabados?

iv) Cativar a restituição de IRC pago a mais no ano anterior?

v)  Cativar o acerto de contas do IVA, por a empresa exportar cerca de 90% da produção, e não poder debitar IVA a estrangeiros mas suportá-lo nas compras, o que cria permanentemente créditos sobre o Estado? Mais:

vi) Pode a empresa recorrer aos tribunais, sem pagar a fortuna que lhe é exigida ou apresentar garantias, que não tem? E,  

vii) Finalmente, pode o tribunal decretar a insolvência, a requerimento de um sindicato (mas podia ser qualquer fornecedor ou banco credor), ignorando os factos acima, denunciados no processo?

 

A resposta a todas estas perguntas, já se vê, é sim, excepto para a penúltima.

 

Sobram algumas perguntas novas e uma dúvida. As perguntas:

 

1. Que acontece às simpáticas duas inspectoras que estão na origem do processo, e a quem nelas superintende?

2. Que acontece aos trabalhadores?

3. Que acontece aos credores?

4. Que acontece às máquinas, às existências e ao edifício?

5. Que acontece aos sócios?

 

Esclareço, com o louvável propósito de satisfazer a incontrolável curiosidade dos leitores: 1) Ficam com uma nota positiva no currículo, e talvez gratificação – o desempenho dos funcionários do Fisco mede-se pelo combate à evasão fiscal, e portanto pela quantidade de autos de notícia que levantam; 2) Vão para o desemprego, primeiro, e a seguir para a reforma ou um novo emprego; 3) Ficam a arder e, se andarem da perna com as papeladas e reclamarem a tempo, poderão vir a considerar as perdas como custo, não pagando portanto IRC sobre o que nunca receberam; 4) Será tudo vendido ao preço da uva mijona, como é normal em insolvências, e é improvável que o produto da venda chegue para os credores, salvo os trabalhadores e, talvez, parte da dívida bancária; 5) Perdem a empresa e o capital e ficam com a responsabilidade da parte da dívida titulada por garantias pessoais – no caso, muito significativa.

 

A dúvida: Não há ligação nenhuma entre estes abusos, que configuram claríssima negação do Estado de Direito, e a condição de público inimigo da escumalha infecta que nos governa, que é a do discreto autor?

 

Não sei.