Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Em 20 destaques feitos pelo Sapo em Junho, entre segunda e sexta-feira, para assinalar os dez blogues nesses dias mais comentados nesta plataforma, o DELITO DE OPINIÃO recebeu 19 menções ao longo do mês.
Incluindo cinco textos na primeira posição, cinco na segunda e dois na terceira.
Os textos foram estes, por ordem cronológica:
Instantes em sépia com capa de muitas cores (8) (46 comentários, o mais comentado do dia)
As casas e a vida (40 comentários)
Frases de 2019 (16) (46 comentários, segundo mais comentado do dia)
Sugestão ao Presidente: festejar um 10 de Junho em Olivença (52 comentários)
Os heróis (90 comentários, terceiro mais comentado do dia)
Os livros que mais nos marcaram (108 comentários, o mais comentado do dia)
Frases de 2019 (17) (40 comentários, terceiro mais comentado)
Instantes em sépia com capas de muitas cores (10) (64 comentários, o mais comentado do dia)
O apagão da SIC (78 comentários, o mais comentado do dia)
Ser turcófilo passou de moda (40 comentários, segundo mais comentado)
A morte do jornalismo desportivo (77 comentários, segundo mais comentado)
Pensamento da semana (56 comentários)
Uma estátua para D. João II (58 comentários)
Instantes em sépia com capa de muitas cores (15) (10 comentários)
O laicismo pode esperar (52 comentários, segundo mais comentado)
Abaixo de chimpanzé (62 comentários, o mais comentado do dia)
De tombo em tombo (34 comentários)
Com olhos de ler (64 comentários, segundo mais comentado)
Insuflado de indignação (26 comentários)
Com um total de 1043 comentários nestes postais. Da autoria da Maria Dulce Fernandes, do JPT e de mim próprio.
Fica o nosso agradecimento aos leitores que nos dão a honra de visitar e comentar. E, naturalmente, também aos responsáveis do Sapo por esta iniciativa.
«A primeira casa que eu tive verdadeiramente minha, por singular sorte nunca foi.
Tinha 33 anos quando a comecei, num terreno de mil metros oferecido pelos meus pais ao casal, eu filho e ela nora; repleto de mangueiras, abacateiros, mamoeiros e um cajueiro.
Até aí os meus pais não se serviam dele, tirando o proveito dos frutos, claro.
Depois lembrou-se que aquilo dava muito jeito para ter a nora e as netas em Luanda quando viu preparativos de abalada da nora e netas queridas para outras paragens - o filho também ia mas por esse não lhe doía a cabeça - e convenceu-me a construir ali a minha casa.
Mostrei-me reticente, a minha mulher advogou em meu favor que tínhamos melhor futuro em Benguela, então para me incentivar colocou lá pessoal das obras dele - era construtor civil - e como quem dá o pão dá também a manteiga, os materiais também vieram das obras dele.
Comecei portanto a construção dessa casa em Setembro de 1973 e em Março de 74 estava concluída.
A minha mulher adorava a casa, os meus pais adoravam que ela adorasse, eu adorava que ela risse de modo que não andava descontente.
Uma semana antes de mudarmos para lá apareceu-me o "povo" angolano e travámos uma esclarecedora discussão. Curta mas conclusiva. Tipo.
- Então? De que se trata?
- Ó colonialista. Fizeste uma casa bonita. Agora sai daqui que a casa é do povo.
E foi assim.
Fora do assunto casa e só a título de curiosidade, que obviamente a ninguém interessará, e só porque uma vez que se conhece o canteiro conheça-se então a lavra toda; uma semana depois passei pelo banco a ver se conseguia sacar o meu dinheiro, e fui recebido com pompa e circunstância por um exército ferozmente armado, onde por singular afinidade o diálogo sobre dinheiro pouco ou nada diferiu sobre o outro da casa.
- Ó colonialista! O dinheiro é do povo.
Mas vinguei-me! Quando o pessoal da minha casa se apresentou no fim do mês para receber, eu esclareci-o a preceito.
- Ó gente. Não tenho dinheiro, pá!
- Não tens?!
- Não! Vocês são povo, não são? Então ide ao banco que o vosso dinheiro está lá.»
Do nosso comentador Corvo. A propósito deste texto da Teresa Ribeiro.
O Livro dos Baltimore, de Joël Dicker
Tradução de Rita Carvalho e Guerra
Romance
(edição Alfaguara, 2016)
Cristina Ferreira de Almeida: «Hoje vi o programa de Pacheco Pereira no ginásio enquanto corria na passadeira. Ciente do facto de que estar a suar frente à imagem de Pacheco Pereira não diz nada de bom sobre mim, sinto que o código deontológico me obriga a esta pequena humilhação, que tem por vantagem poderem os mais cépticos descontar os efeitos das endorfinas na minha apreciação.»
Eu: «Gostaria que Vítor Dias levasse a sua coerência um pouco mais longe, pronunciando-se sobre a intolerável fraude eleitoral no Irão, a intolerável repressão dos oposicionistas no Irão, o intolerável esmagamento dos direitos mais elementares no Irão, o intolerável recorde mundial de jornalistas presos no Irão e a intolerável matança de pessoas que foram assassinadas no Irão só porque exigiam liberdade.»
, um dito adequado a um ambiente em que se aplaude quem chama "fascista" ou "pidesco" a alguém que consulta um documento público em que é referido.
(Imagem de Will Eisner, The Plot: The Secret History of the Protocols of the Elders of Zion)
Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana
Aqui longe, hoje, sábado à tarde, vejo as notícias portuguesas. Ecos de uma entrevista de Bruno de Carvalho ao Expresso. "Outra vez?", resmungo, "ainda?", "a que propósito?", indago. O homem vitimiza-se, como sempre: que foi indexado como terrorista, que foi prejudicado e traído por todos os que o rodearam, que não tem emprego, que muito sofreu com uma doença da filha, algo que tudo explica da sua deriva aquando presidente do Sporting. E ameaça, voltar a candidatar-se e ser eleito, processar o Estado, etc.
"Porquê?" repito, não haverá mais assuntos para o Expresso explorar, em Portugal e no mundo, do que voltar à "vaca-fria", à enésima entrevista com o ex-presidente do Sporting, que encheu horas de ecrã e rios de papel há um ano?
Sigo na procura das notícias. Passado um pouco vejo no És a Nossa Fé, que o Pedro Correia coordena, que hoje há uma assembleia geral do Sporting, para aprovação do orçamento, para reiterar confiança na actual direcção do clube. E, no mesmo dia, o "institucional" Expresso faz uma entrevista "higiénica", auto-vitimizadora, ao antigo presidente (e que personagem) do Sporting. Assim como se não fosse nada ... Não ao presidente do clube, não aos seus oponentes eleitorais (Benedito, por exemplo, candidato que perdeu por muito pouco), não a membros da direcção - o que poderia ser entendido como inserido no debate interno ao clube. Mas ao antigo presidente, com o historial todo, com um processo inédito de deposição e de expulsão do clube.
Isto é uma encomenda. Paga. É óbvio.
É o Expresso. O que resta? Ou o que sempre foi. Pouco importa. É o Expresso.
Um dos mais conceituados jornais à escala global, o espanhol El País, saiu hoje para as bancas com esta "capa": um anúncio de página inteira. Mas não é um anúncio qualquer: trata-se de um investimento publicitário com a chancela do milionário grupo empresarial chinês Huawei, em óbvia estratégia de contenção de danos no âmbito da guerra fria que se desenrola entre Pequim e Washington na disputa da hegemonia do mercado mundial das telecomunicações.
«Nenhum computador deixou de funcionar em 2000. Nenhum Huawei vai deixar de funcionar. Calma, todos os produtos Huawei poderão continuar a ser usados com total normalidade. Tanto os já vendidos como os que estão por vender. E também todas as suas aplicações.» Assim reza o texto que substitui a habitual manchete do jornal de maior tiragem em Espanha.
Vejo isto e recordo outros tempos, com directores de jornais onde trabalhei, que faziam prevalecer a sua autoridade perante os publicitários que pretendiam condicionar a linha editorial desses periódicos. Havia espaços interditos aos anúncios - e a venda da primeira página era um deles - e nem todos eram publicados: aqueles que colidiam com o estatuto editorial ou os grandes princípios orientadores desses títulos jornalísticos, colocando eventualmente em risco a isenção na cobertura dos temas mais controversos, eram devolvidos à procedência. E havia uma claríssima linha divisória entre o que era conteúdo jornalístico e conteúdo publicitário.
Tudo isso acabou. Inclusive nos diários ou semanários que conservam um número apreciável de leitores e algum prestígio granjeado em dias de glória ainda capazes de despertar recordações nostálgicas. Mas o que esta primeira página simboliza, com toda a sua força expressiva, é a morte do jornalismo tal como o conhecemos no Ocidente nestes últimos dois séculos. O que resta é a publi-reportagem, a estória "fofinha", o evento "giro", a narrativa feel good muito amiga dos anunciantes. Informar passou de moda: o que está a dar é entreter. Com a chancela - implícita ou explícita - de marcas, empresas, clubes ou seitas. Os departamentos de publicidade, marketing e relações públicas são hoje os que têm maior capacidade efectiva de decisão editorial na generalidade dos títulos jornalísticos. Incluindo os mais prestigiados, como se vê.
A partir de agora, aguardarei por notícias no El País que possam colidir com os desígnios comerciais da Huawei. Mas confesso desde já que vou esperar sentado.
D. Afonso VI (1656-1683)
Autor: Rui Goulart
Ano da inauguração: 2019 (21 de Junho)
Localização: Pico das Cruzinhas-Monte Brasil, ilha Terceira (Açores)
A Mulher do Meu Marido, de Jane Corry
Tradução de Mário Dias Correia
Romance
(edição Planeta, 2017)
João Carvalho: «Quem ainda não estava a par, ficou seguramente preocupado com a notícia de que há doentes cancerosos a morrer por falta de resposta do nosso sistema de saúde. Horas depois, a ministra da Saúde veio explicar publicamente que as listas de espera para cirurgias têm estado a diminuir e que, portanto, vai havendo menos mortos. Era o que tinha para dizer ao País? Apenas com uma curta intervenção, Ana Jorge conseguiu riscar de alto a baixo a sua passagem pelo ministério. Será caso para nem a mencionar no seu currículo, porque acabou de matar o exercício que lhe estava entregue. Para cargos políticos, acredito que morreu.»
«Um homem que não trabalha tem demasiado tempo disponível, tempo de sobra para se fechar consigo próprio e com os seus problemas.»
Raymond Carver, Queres Fazer o Favor de te Calares? (1976), pp. 129/130
Ed. Teorema, 2004. Colecção Outras Estórias. Tradução de Carlos Santos
Na minha livraria preferida, espreito as novidades literárias. Novos romances, por exemplo. Há sempre vários à disposição dos leitores.
Pego num deles, espreito a primeira página. Traz citação. Coisa fina: é de Sun Tzu. A Arte da Guerra, clássico com várias traduções em português.
Mas esta citação surge em inglês, idioma que o admirável filósofo chinês, nascido no século VI antes de Cristo, não dominava. Desde logo porque a língua imortalizada por Shakespeare, Byron e Dickens só começou a generalizar-se, no seu figurino actual, cerca de mil anos depois.
Excluindo o chinês original, só faria sentido, portanto, que uma frase destas surgisse no nosso idioma como epígrafe de um romance escrito por um autor português e destinado a leitores portugueses. O inglês, aqui, indicia apenas aculturação bacoca e espúria. Algo digno de um pesca-frases em modo rápido nesse amplo mar da palha que é o Google.
Passei adiante, claro. Sem necessitar de ler mais nada.
Arnaldo Otegi é um dos mais conhecidos e importantes dirigentes da esquerda abertzale, sector político nacionalista que apoiou o terrorismo etarra. Participou na fase inicial da última negociação entre o Governo de Espanha e a ETA, facto que usa como pedestal para se erigir como “homem de paz” e, dessa forma, ocultar condenações em tribunal por sequestro, enaltecimento do terrorismo e por tentar reconstruir o partido Batasuna (à época ilegalizado) a mando da cúpula da organização terrorista basca.
A televisão pública espanhola entrevistou-o esta semana, o que gerou a indignação colérica da imensa maioria dos partidos políticos do país. Tratava-se de mais uma operação de branqueamento, arguiam. Ainda que se perceba a fúria dos protestos, a crítica não tem cabimento. Parte da grandeza do Estado de Direito Democrático reside precisamente em garantir liberdades até àqueles que sempre o quiseram destruir. Por outro lado, tendo tempo para falar, Otegi é incapaz de esconder a sua verdadeira natureza e esta entrevista provou-o.
Abundaram os exemplos de mitomania e de apologia da violência, ainda que cínica e cobardemente encapotada, e há uma frase que os resume a todos na perfeição: “Lo siento de corazón si hemos generado más dolor a las víctimas del necesario o del que teníamos derecho a hacer”. Atente-se em mais do que tínhamos direito a fazer. Otegi referia-se a 850 mortos e 2500 feridos, 95% dos quais já em plena vigência do actual regime democrático. Sem nunca condenar a violência ou pedir perdão aos milhares de vítimas, Otegi explicita o princípio sinistro e insano que sempre conduziu a sua vida política: o direito a provocar dor, o direito a matar.
Como alguém escreveu, Otegi não é um homem de paz, mas sim um terrorista no desemprego. Quem conheça o personagem e a história de violência na qual foi protagonista não se espanta. Mas conclui que o fim da ETA não equivale ao óbito de uma cultura política de ódio que vê na violência um instrumento político legítimo, o que é preocupante porque Otegi e os seus correligionários têm hoje lugar em instituições políticas tanto em Espanha como na Europa. A dimensão desse lugar pode ser ampliada uma vez que Pedro Sánchez, Presidente do Governo espanhol, poderá celebrar acordos com as forças políticas abertzales para conseguir governar em minoria. Entre outras coisas, estes factos evidenciam o quão absurdo é atribuir ao VOX o lugar cimeiro na lista de ameaças à democracia em Espanha.
Raparigas Como Nós, de Helena Magalhães
Romance
(edição Planeta, 2019)
Pihla Viitala
Ana Margarida Craveiro: «Habituada que estou a fazer inquéritos, ao ler este género de coisas salto logo para a operacionalização em perguntas: - Em termos religiosos, como se define? Ateu; - Com que frequência se desloca à igreja ou local de culto? Diariamente/ mais do que uma vez por semana.»
João Carvalho: «Aquilo dos 40 seguranças é, a meu ver, a prova provada do que até tenho medo de pensar: não estamos a falar de um banco e de banqueiros; estamos é a descobrir uma máfia e uns 'padrinhos'. A menos que estejamos perante um mix de Santa Isabel e de Zé do Telhado, que só queira juntar para distribuir pelos pobres, como se espera de um bom católico.»
Paulo Gorjão: «Agora que já está marcada a data das eleições autárquicas, o que é que José Pacheco Pereira está à espera -- e, já agora, António Lobo Xavier, no que toca ao CDS -- para levantar a questão da presença de António Costa na Quadratura do Círculo? (...) JPP não acha que isto prejudica Pedro Santana Lopes em particular e o PSD e Manuela Ferreira Leite em geral? Ele que está em guerra permanente contra os inimigos internos não vê nenhum problema no seu papel de idiota útil, para utilizar a sua expressão?»
Teresa Ribeiro: «Claro que todos tínhamos por certo que a eles ninguém beliscaria e essa era a evidência que temperava a nossa mansa revolta - a revolta de quem se sabe impotente. Essa resignação alastrava, já se sabe, aos assuntos do foro pessoal, que só podiam correr mal. Daí a nossa tristeza colectiva, o fado e o fardo existencial, o medo de ser feliz.»
Eu: «Expressões que detesto (20): "Empate técnico".»