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Delito de Opinião

Aristides de Sousa Mendes

Sérgio de Almeida Correia, 28.01.19

"As we mark Holocaust Remembrance Day on Sunday, we should honor this man who engaged in what one historian called "perhaps the largest rescue action by a single individual during the Holocaust.", Richard Hurowitz, New York Times, 27 de Janeiro

Pese embora o esforço que alguém fez para obscurecer a sua indelével marca, é reconfortante saber que passados todos estes anos um dos mais conceituados e lidos jornais do mundo honra a sua memória, mantendo-a viva para os seus leitores.

Um exemplo que nunca será demais recordar, em especial porque ele não o fez a troco de dinheiro, de títulos ou da glória, ao contrário de algumas sumidades locais que gostam de mostrar a sua beneficência.

Fiquei embasbacado

jpt, 27.01.19

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Abaixo coloquei um postal meio a gozar com isto de Costa andar a fazer propaganda do programa televisivo no qual, quando só era presidente da câmara, foi avençado - isto de políticos em exercício de funções servirem de comentadores tem imenso que se lhe diga, mas enfim, acaba por ser coisa pouca no país do crédito da CGD .... 

Apareceram-me anteontem três comentários nesse postal aludindo à cor da pele do PM. Achei de imenso mau gosto, para além de virem a despropósito, e até de "má onda" para este blog - criticar alguém sim, surfar a patetice racista nunca. Por isso apaguei-os, pura e simplesmente. Só agora, já domingo, leio dos dislates do PM sobre a sua cor da pele. Não é o pior que ele já disse - nada ultrapassará o abjecto e execrável "não me faça rir" depois das dezenas de mortos nos fogos. Mas é vergonhoso.

Peço desculpa aos comentadores aos quais apaguei os tais comentários, obviamente glosavam a patetice ordinária e demagógica do PM que temos. E, se calhar, merecemos.

O comentário da semana

Pedro Correia, 26.01.19

«Vivo a 300 metros deste bairro. Fui durante vários mandatos autarca no Seixal. Este bairro é um esqueleto no armário da CDU. Podiam ter resolvido o problema com o primeiro PER (anos 90?), primaram pela inércia. Em tempos quiseram realojar estas pessoas numa zona de quase-ninguém o que motivou protestos dos poucos moradores das vivendas assustados com a construção de um bairro social, depois disso o silêncio...
Em muitos orçamentos da Câmara Municipal do Seixal a quantia para habitação social era absolutamente irrisória.
As oposições no Seixal foram impotentes, porque minoritárias, para resolver o problema. O PCP/CDU deixou apodrecer o bairro no meio de muita retórica e promessas não cumpridas. Porquê?
Na Jamaica vivem pessoas pobres e trabalhadoras na sua maioria. Pessoas revoltadas porque aquele bairro, com a sua extrema falta de condições, é um péssimo cartão de visita para os bancos, para os empregos, para os colegas... Mais do que a cor da pele, é o bairro e a pobreza a ele associada que é factor de discriminação.»

 

Da nossa leitora Catarina Tavares. A propósito deste meu texto.

Estrelas de cinema (26)

Pedro Correia, 26.01.19

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GENTE VULGAR

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A vida quotidiana, a vida dos simples, os pequenos dramas das vidas daqueles que são iguais a mim ou iguais a ti. Vai faltando disto no cinema, hoje inundado de efeitos especiais, de truques computorizados, de super-heróis. É por isto que Roma, a mais recente longa-metragem de Alfonso Cuarón, é um bálsamo para os nossos olhos já cansados de tanto artificialismo e tantas luzes faiscantes que iludem a realidade.

Rodado a preto e branco, no bairro da Cidade do México que tem este nome, Roma instala-nos no interior da casa de uma família que nos é apresentada pela empregada que também ali mora. E é sobretudo por intermédio dela que vamos sabendo o que lá se passa – dores e alegrias e anseios e frustrações. E é também a ela, quase como um membro da família também, que nos vamos afeiçoando. Sentimo-nos de algum modo identificados com aquela rotina intimista por vezes trespassada de pequenos e médios sobressaltos, sentimo-nos parte daquele todo. Mesmo que nunca tenhamos viajado ao México, mesmo que não façamos uma ideia concreta do que foi aquele início da década de 70, antes da era globalizadora. Daí a força simbólica do nome do bairro, aludindo a uma capital europeia que outrora foi sinónimo de marco civilizador. Quanto mais local, mais universal.

Esta é a verdadeira magia da Sétima Arte: fazer-nos transportar em simultâneo no tempo e no espaço. Cuarón, que já havia dirigido em 2004 o terceiro capítulo cinematográfico da saga de Harry Potter e em 2013 assinou o magnífico Gravidade que lhe valeu o Óscar de melhor realizador, assina agora um verdadeiro trabalho de autor. Em Roma – filme disponível na plataforma Netflix após ter estreado em Dezembro nas salas de cinema portuguesas – ele não foi apenas realizador e produtor: também escreveu, fotografou e montou o filme. Com um labor de artesão cada vez menos em voga no século XXI. Daí, talvez, este filme só com poucos meses de existência – entretanto galardoado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza, distinguido com Globos de Ouro para melhor realização e melhor película não falada em inglês, além de candidato a dez Óscares na próxima distribuição de estatuetas em Hollywood – nos parecer tão fora de tempo na sua bela fotografia a preto e branco que o envolve num suave anacronismo.

Como se aquela época fosse também a nossa. Como se de Roma nada mais soubéssemos senão que tem as mesmas quatro letras da palavra amor.

 

 

Roma (Roma, 2018). De Alfonso Cuarón. Com Yalitza Aparicio, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey, Carlos Peralta, Daniela Demesa, Carlos Peralta, Marco Graf, Nancy García García, Verónica García. Produção mexicana-americana. Duração: 135 minutos.

TV Rural e o governo

jpt, 25.01.19

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Anda atarefado em comentários, qual blog colectivo, o governo português. Um seu membro, um tal de José Mendes, diz que secretário de estado da mobilidade (quê?), anuncia-se afinal imóvel pelo que não irá a Braga - de onde parece que é - ver a bola e lança-se (ainda que imóvel, repito) num ditirambo sobre árbitros e coisas assim.

E outro membro do governo comenta as novas programações televisivas dos canais privados, clamando contra a transferência do "TV Rural" para um canal concorrente.

(Já agora, têm visto o programa da "Cristina"? É que cá fora não apanho. Está a correr bem? Nos conteúdos e nas audiências? O Celo de Sousa já lá foi ser entrevistado? Ou, pelo menos, já telefonou à senhora?)

 

Estudantes de Bruxelas e Alterações Climáticas

jpt, 25.01.19

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Há dois meses aqui botei um texto sobre uma manifestação em Bruxelas, cerca de 300 estudantes liceais a reclamarem mais e melhores políticas de protecção ambiental. Fi-lo com esperança, a de que a nova geração possa movimentar-se obrigando a algumas necessárias e urgentes alterações nas práticas produtivas e consumistas. (E fi-lo com orgulho, vendo a minha filha integrar-se activamente numa acção cívica. Ainda para mais porque me enviou uma bela fotografia que lhe fizeram durante a manifestação, que usei, pai babado, no postal. Tal como usei um trecho do belo texto que ela escreveu para aquele movimento). 

Passaram dois meses. Neste período a Bélgica tem tido posições internacionais absolutamente anti-ecológicas, nisso minoritária na União Europeia, pois tem o governo cativo das posições da extrema-direita flamenga (e tem uma ministra do Ambiente que é patética, para não dizer pior) - e é interessante ver como estes movimentos actuais de direita profunda, conservadora, são visceralmente anti-ecologistas, ao invés do tradicional anti-industrialismo da antiga direita conservadora. A sua base social é agora a pequeníssima-burguesia urbana, já não o mundo rural ...  

Entretanto o movimento dos jovens liceais então iniciado cresceu. Dos 300 manifestantes de há dois meses passaram a 12 mil a semana passada. Ontem foram 35 mil a percorrer as ruas de Bruxelas, e houve manifestações em Namur e Liége, mostrando ao país e aos eurocratas a sua vontade de preservar o meio ambiente e a sua exigência para que os possidentes - nós, os mais velhos - recuem no seu omnivorismo voraz.