Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Ambiente de trabalho III

Teresa Ribeiro, 02.11.18

4404_2_EL.jpg

 

As estatísticas sobre a quebra de rendimentos em Portugal, mesmo dos profissionais que têm elevados níveis de formação, são devastadoras. Segundo dados do INE, os licenciados ganham hoje menos 17,7% de salário médio mensal líquido do que há uma década. Anabela Carneiro, uma docente da Faculdade de Economia do Porto, citada há duas semanas pelo Expresso, revelou num estudo que em 2000 tínhamos 8% de trabalhadores a receber o salário mínimo; em 2015 já eram 21% e em 2016, 23,3%.

A comparação com o que se passa nos países da UE, deprime: Segundo os dados mais recentes da consultora Adecco, um português tem de trabalhar quatro meses para ganhar o salário médio de um dinamarquês. Apesar de a economia estar a crescer, a verdade é que os salários não descolam. Para um trabalho que fiz sobre este assunto há poucas semanas, tanto a Experis, empresa de recrutamento do grupo Manpower, como a Randstad, sua concorrente, assumiram que nem mesmo nas áreas altamente especializadas, em que há falta de mão-de-obra em Portugal, os empregadores estão dispostos a abrir os cordões à bolsa. Ou seja, entre nós, a lei da oferta e da procura não funciona. E essa, informaram-me, "é uma originalidade portuguesa".

Mas se há coisa que o empresariado indígena aprecia é mostrar que acompanha as novas tendências. Ultimamente tem revelado muito entusiasmo com uma das ideias que aparece vinculada à nova cultura do trabalho que nasceu com a tecnologia e os millenials: a de que a felicidade no emprego, algo reconhecido como fundamental para aumentar a produtividade, não depende apenas do salário. Entrevistas, artigos de opinião, seminários, andam a enxamear os media com esta ideia que de nova não tem nada, mas que parece que só agora calou fundo no espírito dos empregadores de todo o mundo civilizado. É claro que bom ambiente, reconhecimento, flexibilidade de horários e uma série de pequenas regalias são factores importantes para "reter talento", como agora se usa dizer, mas só fazem sentido se estivermos a discutir a situação de profissionais que auferem um salário que lhes permite pagar as contas e ter uma vida autónoma. Ver gente que prefere prescindir de trabalhadores que fazem falta a aumentar-lhes o salário salivar com esta estratégia é, simplesmente, patético. Excitados com a ideia de poupar mais umas coroas e enganar uns quantos tolos cultivando a imagem de empresários modernaças, não querem perceber o óbvio: que a receber uma miséria ao fim do mês, ninguém é feliz. 

Voluntariado ao frio

João Pedro Pimenta, 01.11.18

À porta do cemitério, já perto da hora do fecho, e no alto da escadaria de granito na base da qual estão ainda inúmeras bancas de venda de flores, três ou quatro voluntárias da Liga Portuguesa contra o Cancro cumprem a sua missão, pedindo pequenos donativos em "troca" do autocolantezinho da instituição. Estão claramente enregeladas, porque está um tempo desagradável de quasi-chuva, mas mesmo assim não perdem o sorriso e a modéstia, enquanto conversam e vão mostrando os seus smartphones umas às outras (também é preciso passar o tempo). Já ali estão há umas horas e não recebem nada por isso, excepto gratuitidade nos transportes públicos (só hoje e ontem, desde que devidamente identificadas). E lembra-me quando há muitos anos passei pela mesma experiência, antes de achar que tinha outras coisas que fazer, porventura bem menos importantes.

Ao contrário do que dizia a outra, o voluntariado não é treta nenhuma. Treta é inventarmos muitas vezes desculpas para não o cumprirmos.

Entre os mais comentados

Pedro Correia, 01.11.18

Em 23 destaques feitos pelo Sapo em Outubro, entre segunda e sexta-feira, para assinalar os dez blogues nesses dias mais comentados nesta plataforma, o DELITO DE OPINIÃO recebeu 21 menções ao longo do mês.

 

Os textos foram estes, por ordem cronológica:

Complicar o que é simples (60 comentários, segundo mais comentado do dia)

Aznavour (1924-2018) (20 comentários)

Estátuas dos nossos reis (37) (22 comentários)

Bolsonaro e Trump (52 comentários, terceiro mais comentado do dia)

Palavras para recordar (40) (30 comentários)

Após um momento #metoo (2) (48 comentários)

Saramago e o Portugal de sempre (28 comentários)

Após um momento #metoo (7) (24 comentários)

Dentinho (45 comentários, terceiro mais comentado)

Após um momento #metoo (final) (59 comentários)

A CP no seu melhor (25 comentários)

Estátuas dos nossos reis (52) (32 comentários)

Os beijos dos mais-velhos (88 comentários, o mais comentado do dia)

Estátuas dos nossos reis (54) (26 comentários)

Trova ao vento que passa (1) (34 comentários)

Trova ao vento que passa (2) (52 comentários)

Calam e consentem (96 comentários, o mais comentado do dia)

Trova ao vento que passa (3) (30 comentários)

Cristas e o Brasil (112 comentários, terceiro mais comentado)

Destituição? (185 comentários, o mais comentado do dia)

A derrota do jornalismo (76 comentários, terceiro mais comentado)

 

Com um total de 1170 comentários nestes postais. Da autoria do João André, do JPT, da Teresa Ribeiro e de mim próprio.

Fica o nosso agradecimento aos leitores que nos dão a honra de visitar e comentar. E, naturalmente, também aos responsáveis do Sapo por esta iniciativa.

In memoriam.

Luís Menezes Leitão, 01.11.18

 

Hoje é um dia em que recordo sempre a maior tragédia que alguma vez atingiu Portugal. Não apenas matou 60.000 pessoas num único dia, como também destruiu completamente o que era então a cidade de Lisboa, não nos deixando quase nenhum edifício para recordar os tempos passados.

Pág. 10/10