Só nesse dia, véspera do antigo dia da mãe (quando estas coisas eram programadas por questões teológicas e não comerciais), é que os senhores podem avaliar a conduta do juiz desembargador Neto de Moura e da senhora juíza desembargadora que deveria ser destituída de funções no momento exacto em que diz que, enfim, isto é uma maçada, mas eu só li na diagonal.

Eu conheço muita gente que só leu na diagonal o código da estrada e foi penalizada por isso. Ainda bem.

Conheço muita gente que não leu o código deontológico do jornalismo mas passa a vida a mastigá-lo como se fosse pastilha Gorila e a fazer balões para que o mundo possa reparar em tanta sapiência.

O que eu não conheço é alguém que venha dizer: meus senhores, o que aconteceu no Tribunal da Relação do Porto é infame, indigno da profissão que exercem, portanto tomem lá com a devida punição.

Não, vamos esperar até dia 7 de Dezembro, dia em que pode chover ou fazer sol, e até lá, enfim, são tantos dias, existirão outras mulheres que podem ser vítimas de violência e acusadas a partir da lógica da Bíblia ou de uma lei de há um milhão de anos.

Que importância é que isto tem? Tem muita. Tem mais importância, por exemplo, do que discutir na televisão, durante duas horas!, a entrevista do primeiro ministro que durou meia hora. Dirão que exagero, pois talvez. Para mim tem mais importância por saber que a questão das mulheres parece ser apenas um rolo de tinta que sobe e desce e nada acrescenta, uma coisa cansativa, mas o que querem?, dá-me para aqui.

Essa Mulher Somos Nós é o nome da petição que circula para que possamos mudar a Justiça e a forma como a Justiça é praticada em Portugal no que toca às mulheres. Porque a pergunta é: quem fiscaliza os juízes? São os tais senhores que se vão pronunciar no dia 7 de Dezembro? E quem fiscaliza esses? A petição visa repor a justiça e entender se é possível ultrapassar este estado de graça de impunidade que alguns juízes parecem gozar com um à-vontade ofensivo. Eu assinei, porque também sou esta mulher, esta vítima. E vocês?

 

P.S. - The Guardian e o The Independent já fizeram uma notícia sobre este caso. Ficámos bem no retrato, como podem imaginar.