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Confesso que fiquei a observar durante um par de minutos. Nem sequer é preciso entrar, basta permanecer junto à porta ou na zona de transição entre secções. Em tempos, o Gato Fedorento garantia que em Ermesinde era possível encontrar «gajas boas». Incapaz de confirmar ou de desmentir, sei, contudo, onde encontrar «gajas» em elevado grau de excitação: nos saldos da Zara.
«Bloco pede demissão de ministro Álvaro Santos Pereira»
18 de Abril de 2012
7 de Fevereiro de 2013
«Bloco de Esquerda defende demissão do Governo»
9 de Julho de 2013
João Semedo, coordenador do BE, 26 de Julho de 2013
«Bloco exige demissão de Rui Machete por ter mentido ao Parlamento»
21 de Setembro de 2013
«Bloco de Esquerda pede a demissão do ministro da Educação, Nuno Crato»
4 de Dezembro de 2013
«Bloco de Esquerda exige a demissão da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz»
18 de Setembro de 2014
«Bloco de Esquerda pede demissão do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio»
19 de Março de 2015
«Bloco de Esquerda pede demissão do secretário de Estado Adjunto da Saúde, Leal da Costa»
7 de Maio de 2015
Paiol sem vigilância
Siresp sem antena
Camião sem frio
Kamov que não levanta
Somos assim eu e você
Por que é que tem de ser assim
Se a austeridade já teve fim
Nem mil grilos falantes
Vão falar por mim
Lalálalálalála-Lalálalálalála
Marika Hackman, álbum I'm Not Your Man.
Ao segundo álbum, Hackman mostra-se mais aberta e confiante. As letras contêm ironia, por vezes feroz, e a sonoridade aproxima-se do grunge, fazendo-me pensar num cruzamento entre as L7 e os Radiohead por alturas de My Iron Lung.
Os independentes
Vamos ter uma “comissão técnica independente” para perceber o que correu mal nos incêndios. A ideia é boa. A iniciativa, por si, diz muito mais do que parece. Demonstra que os deputados perderam a fé em comissões parlamentares de inquérito. E demonstra que os deputados não confiam nos deputados para fiscalizar o governo e garantir o bom funcionamento do Estado. Mas vamos ter técnicos. O que é bom. Seis nomeados pela Assembleia da República. Seis nomeados pelo Conselho de Reitores. Ainda não conheço os nomes. Mas o perfil e a forma de nomeação explicam que serão doze funcionários públicos. Portanto… Estado a fiscalizar o Estado. Gente certamente dotada e respeitável. Mas a receber do Orçamento do Estado. Com chefes a receberem do Estado e propostos para fiscalizar o Estado. Mas desta vez com aquela nuance… como são professores em universidades do Estado são “independentes”.
Rodrigo Moita de Deus
(blogue 31 DA ARMADA)
Um dos argumentos que tem sido utilizado para justificar a inqualificável ausência de consequências políticas pela tragédia de Pedrógão Grande é que seria mais fácil para a Ministra da Administração Interna sair do que ficar. Trata-se de uma forma completamente enviesada de colocar em questão. Do que estamos aqui a falar é, repita-se, de responsabilidade política e não de responsabilidade individual. Por ser assim, são completamente indiferentes para a discussão argumentos que assentem no impacto da decisão na pessoa de Constança Urbano de Sousa. No campo da responsabilidade política não relevam, por exemplo, considerações de justiça ou injustiça da consequência para a Ministra. A responsabilidade política é, por definição, injusta para o responsável do cargo. A natureza da responsabilidade política é precisamente não haver um envolvimento directo do titular do cargo, um nexo de causalidade evidente, entre as suas decisões e as consequências trágicas. Se esse nexo existisse, estaríamos então a falar de responsabilidade de outra natureza, eventualmente até criminal. Da mesma maneira, não interessa se a Ministra sofre mais ou menos, se lhe é mais fácil ficar ou sair. O que importa é preservar o funcionamento institucional. E a continuação da Ministra em funções enfraquece o governo, não este em concreto mas a instituição, porque, depois destes acontecimentos, Constança Urbano de Sousa é evidentemente uma governante fragilizada.
A Protecção Civil diz que o SIRESP falhou. Em resposta, o SIRESP diz que não. Já a Secretaria Geral do MAI aponta o dedo à Protecção Civil. A Protecção Civil, que não achou graça à acusação, escreveu ao Secretário de Estado a repor aquilo que entende ser a verdade dos factos. A GNR, ainda que num registo institucional e discreto, atribui responsabilidades ao Governo. Para rematar a faena, a Inspecção Geral da Administração Interna diz que vai investigar a Secretaria Geral da Administração Interna. É o caos no seu máximo esplendor.
Em teoria, o cargo de Ministro da Administração Interna serve, entre outras coisas, para evitar que este passa-culpas e total desnorte suceda. Acontece que o lugar é ocupado por Constança Urbano de Sousa. Em vez de meter mão no faroeste que impera no Ministério, Constança Urbano de Sousa entretém-se (e tenta entreter-nos) com declarações difíceis de qualificar. Primeiro disse-nos que prefere dar a cara a demitir-se, não percebendo que uma e a outra coisa não são incompatíveis (vide o já muito falado caso de Jorge Coelho na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios). No parlamento, lacrimejante, disse-nos que passou por momentos muito difíceis, o que é de uma falta de tacto total e absoluta se tivermos em conta os sacrifícios feitos pelos bombeiros e o número arrepiante de mortos - esta declaração é também desleal porque quem esteve no momento mais duro do incêndio a dar más notícias ao país foi Jorge Gomes, Secretário de Estado da Administração Interna. A Ministra referiu ainda na Assembleia que este não foi o dia mais difícil da sua vida política, mas sim o dia mais difícil da sua vida, o que, ainda que respeitável, é absolutamente irrelevante para o apuramento dos factos (nem falo de responsabilidades).
Constança Urbano de Sousa reconhece, porém, que houve algo de "anómalo" (além do seu comportamento político, acrescento eu). Há esperança. Mas, no geral, tudo está bem porque aparentemente há um focus group a garantir que a popularidade do Governo permanece imaculada. Como a política é feita de percepções e expectativas, equipa que ganha não mexe e a culpa morrerá solteira.
A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe
Prefácio de Caetano Veloso
Romance
(reedição Porto Editora, 19.ª ed, 2017)
Lara Siscar
«Sabe-se que o Eucalyptus Globulus consome recursos hídricos, arde com relativa facilidade, alimenta uma forte fileira industrial e ocupa aproximadamente 25% da floresta portuguesa. Sabe-se também que é uma das raras fontes de rendimento de populações do interior, como os autarcas da Região Centro frequentemente salientam. E sabe-se, por fim, que nos 200 mil hectares de eucaliptos, sobreiros e pinheiros geridos directamente pela indústria da celulose a área ardida é anualmente inferior a 1%. Aqui chegados, onde acaba a culpa do eucalipto e começa a dos proprietários?»
Luís Nazaré, no Jornal de Negócios
Dois pesos, duas medidas: João Soares saiu, Constança de Sousa ficou
Quase duas semanas após a catástrofe de Pedrógão, com o seu macabro cortejo de 64 mortos e 254 feridos, estaremos todos de acordo nisto: é essencial encontrar todas as respostas, sem subterfúgios nem biombos, que permitam explicar como ocorreu esta tragédia. A apressada tese da "trovoada homicida" já caducou. E a rocambolesca teoria da "árvore assassina" hoje não convence ninguém: lamento que o director nacional da PJ tenha sido o primeiro a anunciá-la ao País sem investigação nem fundamento.
Por muito respeitável e compreensível que seja a comoção da ministra da Administração Interna, isto não a iliba de responsabilidades efectivas pelas graves falhas operacionais que terão sido cometidas por estruturas sob o seu comando hierárquico. Essas falhas terão de ser apuradas, acarretando consequências - doa a quem doer.
Entretanto, sabemos desde já qual é o entendimento para o Executivo da "nova ética da responsabilidade" invocada no discurso da sessão solene do 25 de Abril pelo deputado socialista Alberto Martins: é mais fácil haver uma demissão no Governo quando um ministro promete no Facebook dar um tabefe a um par de comentadores do que alguém abandonar a cadeira do poder perante o mais devastador incêndio da história contemporânea em Portugal.
Governo organiza focus group para avaliar os efeitos do incêndio na popularidade de António Costa.
No blogue da semana.
O amuleto
Francisco Seixas da Costa
(blogue DUAS OU TRÊS COISAS)
Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna, ontem, no Parlamento
Todos os Dias Morrem Deuses, de António Tavares
Romance
(edição D. Quixote, 2017)
"Este livro segue a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico de 1990"
Foto: Rafael Marchante/Reuters
Em 4 de Março de 2001, caiu a ponte de Entre-os-Rios. Balanço trágico: 59 mortos. O ministro do Equipamento Social, Jorge Coelho, demitiu-se nessa mesma noite.
Em 14 Junho de 2017, um pavoroso incêndio numa torre de apartamentos em Londres provocou 79 mortos. O responsável máximo da autarquia londrina de Kensington e Chelsea, local onde se encontra implantado o edifício, demitiu-se oito dias depois.
Em 17 de Junho de 2017 ocorreu o mais mortífero incêndio florestal de sempre em Portugal, causando 64 mortos e 254 feridos. Mais de quatro dezenas destas vítimas morreram numa estrada nacional para a qual tinham sido encaminhadas por agentes da autoridade. O Estado falhou em toda a linha na sua elementar missão de preservar e acautelar vidas humanas.
Chegámos ao 12.º dia após a catástrofe. Nem uma demissão: todos continuam nos seus cargos. Tanto nas estruturas de comando da Guarda Nacional Republicana como na Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interma, que gere o controverso SIRESP. Tanto na Autoridade Nacional da Protecção Civil como no Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
O director nacional da Polícia Judiciária, que se apressou a afastar a hipótese de "origem criminosa" do incêndio de Pedrógão Grande com assombrosa leviandade antes do início de qualquer investigação, mantém-se em funções. Tal como o director operacional da Protecção Civil, que começou por garantir aos portugueses a eficácia do SIRESP ("falhas inferiores a meio minuto"), prontamente desmentida pelos factos já apurados, e o presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil, seu responsável imediato.
Assistimos a um indecoroso jogo de passa-culpas, sob a resignada apatia da ministra da Administração Interna, também agarrada ao lugar.
A ética da responsabilidade, tão apregoada nos discursos, continua ausente em parte incerta. Como se fosse possível esconder 64 vítimas mortais e silenciar explicações a um País ainda em choque que se mantém à espera de respostas.
Leitura complementar: O Estado falhou, mas a culpa é da Judite de Sousa.
(Editorial do i, assinado pela Ana Sá Lopes)