Uma frase:
“No que se refere ao Orçamento de Estado para 2017, estamos disponíveis para examinar e propor as soluções que sejam necessárias para repor os direitos perdidos pelo povo português. Tudo aquilo que for negativo e nos empurrar para trás votaremos contra”.
Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, explicando que será uma “ilusão” o governo acreditar que é possível ter crescimento económico e respeitar as “imposições e ameaças” da UE.
Diário de Notícias 21 de Agosto de 2016
Um post:
Há demasiadas interrogações sobre o caso da reestruturação da Caixa Geral de Depósitos, como se pode ler neste post de Maria Teixeira Alves, em Corta-Fitas.
A semana
Domingo, 21 de Agosto de 2016
Martin Jacques interroga-se neste artigo sobre as consequências da grande crise de 2008, a maior perturbação do capitalismo desde os anos 30 do século passado. O autor britânico escreve sobre o aparente paradoxo do falhanço das ideias neo-liberais não ter ainda produzido uma vaga de ideias contrárias entre as elites intelectuais, que desvalorizam como ‘populismo‘ a vaga de contestação já tão evidente nas democracias avançadas.
A revolução neo-liberal dos anos 70 e 80 do século passado aumentou as desigualdades, permitiu uma onda migratória sem precedentes, reduziu a regulação dos mercados e a dimensão dos aparelhos governamentais. O capital foi beneficiado em relação ao trabalho e o rendimento dos mais pobres estagnou ao longo dos últimos 30 anos. Os ricos ficaram extraordinariamente ricos e, além disso, as taxas de crescimento económico não foram nada de especial. Este período prejudicou os trabalhadores menos qualificados, que foram vítimas da deslocalização dos seus empregos para zonas mais baratas ou que enfrentaram a concorrência dos imigrantes, também pouco qualificados, que aceitavam salários baixos, criando uma pressão que empobreceu o proletariado.
Esta interpretação ajuda a compreender fenómenos populistas como o Brexit ou Donald Trump: o candidato republicano é campeão da classe trabalhadora e contesta acordos comerciais que, até há muito pouco tempo, eram peças fundamentais das crenças políticas da direita. O artigo explica que os movimentos ditos ‘populistas’ estão a atacar o neo-liberalismo, mas também a esquerda europeia, que deixou de defender os trabalhadores: veja-se, por exemplo, a política de imigração, que os partidos de esquerda geralmente apoiaram, embora esta seja prejudicial para os seus eleitores tradicionais. A ideologia da esquerda permanece nos anos 70 e a linguagem é cada vez mais politicamente correcta, ou seja, repleta de eufemismo, evitando as questões essenciais. A mensagem simples, anti-globalização, de movimentos populistas é acompanhada da exigência de controlo sobre as grandes empresas e banca, de limites à imigração.
Segunda-feira, 22 de Agosto de 2016
Alemanha, França e Itália querem liderar a reconstrução do projecto europeu no período pós-Brexit e os líderes destes três países estiveram reunidos na ilha italiana de Ventotene, para preparar a cimeira de Bratislava do próximo mês, onde serão discutidos os problemas mais urgentes da UE: consequências do Brexit, conflito na Síria, crise migratória e relações com Turquia e Rússia. A cimeira entre Hollande, Merkel e Renzi não trouxe ideias novas ou decisões históricas, mas houve uma importante carga simbólica no encontro, pois foi nesta pequena ilha que Alfiero Spinelli escreveu em 1941, com Ernesto Rossi, o famoso Manifesto de Ventotene, documento político que defendia a necessidade de se criar uma Europa federal. Neste texto fundador das comunidades europeias, pretendia-se uma utopia socialista que pudesse responder ao nacionalismo que tinha dominado a década anterior.
A Europa enfrenta os mesmos dilemas do tempo de Spinelli: federalismo ou nacionalismo, capital ou trabalho, como acomodar os interesses dos pequenos países, que dose de social-democracia no consenso político. As lideranças parecem não ter ideias práticas: Jean-Claude Juncker afirmava recentemente em Viena que “as fronteiras [nacionais] são a pior invenção jamais feita pelos políticos”, frase incompreensível para a maioria dos europeus. O federalismo, nos termos em que Juncker o imagina, é uma ideia etérea sem sustentação na vontade do eleitorado. Os líderes das três maiores potências europeias da UE pós-Brexit enfrentam rebeliões populistas e pelo menos dois deles. Hollande e Renzi, correm sério risco de não estarem no poder dentro de poucos meses. Além disso, este trio está dividido em relação ao Tratado Orçamental: dois dos países querem flexibilização das regras, o outro resiste. Mesmo assim, estamos longe da ruptura da aliança europeia.