Fora de série (16)
Quando o Pedro Correia lançou o desafio desta nova rubrica, a dificuldade que nos assaltou de imediato foi o que escolher. Foi como se fôssemos umas crianças numa loja de brinquedos e nos dissessem que só podíamos escolher um brinquedo para levar. Neste caso, não é difícil de imaginar a dispersão de cada um de nós, em regressar aos tempos de infância e juventude e escolher apenas uma das muitas séries que marcaram essas fases das nossas vidas. Porque, a verdade é que não houve apenas uma, mas sim várias séries que nos agarraram à televisão e onde se cumpria religiosamente o hábito semanal de assistir a mais um episódio à hora marcada, porque, se por qualquer motivo falhássemos, já nada havia a fazer. O tempo dos youtubes, dos DVD, das box da tv cabo ainda eram coisa do futuro.
Já aqui foram recordadas séries que marcaram diferentes infâncias e adolescências. No que me diz respeito, foram mencionadas algumas que me agarraram literalmente ao ecrã na segunda metade dos anos 80 e no íncio dos anos 90, tais como Sledge Hammer, Ficheiros Secretos, Blackhadder, O Polvo, A Balada de Hill Street ou o Espaço 1999. E muitas outras poderia referir, quase todas de produção britânica ou norte-americana. Mas, com todo o orgulho, posso dizer que uma das séries que mais gostei de ver e que ainda hoje recordo ou revejo (está a passar na RTP Memória) com alegria e saudade, é de produção nacional e dá pelo nome de Duarte e Companhia. Penso que a partir daqui já não preciso de escrever mais nada...
Episódio "O Artista do Crime". Hilariante o diálogo inicial entre o Duarte e o Tó.
Pensando hoje um pouco sobre essa série, estamos obviamente perante algo muito datado, que reflectia um Portugal ainda muito atrasado, uma Lisboa algo "provinciana", uma população "cinzenta", ou seja, havia um contraste brutal na cor e na dimensão daquilo que nos chegava através das séries que vinham dos Estados Unidos e aquilo que os episódios do Duarte e Companhia nos mostravam. Portanto, não foi a dimensão do "espectáculo" que me contagiou, mas sim a ingenuidade de tudo aquilo, os personagens irrealistas, a rivalidade infantil entre o "Átila" e o "Lúcifer" e respectivos bandos, os diálogos que tinham tanto de cómico como de absurdo, criando um ambiente sempre alegre e, apesar de tudo, de convivência pacífica entre todos, onde até as cenas de pancadaria mais pareciam um ajuntamento de amigos do que outra coisa.
Duarte (interpretado por Rui Mendes) ao voltante do seu Dois Cavalos e o seu parceiro Tó (cujo papel era desempenhado pelo saudoso António Assunção) eram os polícias que tinham a difícil (nem tanto) missão de combater Átila (Luís Vicente) e Lúcifer (Guilherme Filipe), mafiosos e gangsters à portuguesa, que tinham tanto de tolos como de inofensivos. Pelo meio, havia um grupo de personagens absolutamente hilariantes, como o Japonês, o Albertini, o Rocha, a Joaninha ou a temida sogra do Duarte. Ainda hoje, tenho gravado na minha memória muitos dos nomes, das cenas, das falas, de muitos dos episódios do Duarte e Companhia.
A série passou inicialmente na RTP na segunda metade dos anos 80, estando agora a ser retransmitida na RTP Memória. No entanto, penso que já estão editadas em DVD quase todas as temporadas. É daquelas coisas que vale sempre a pena rever, porque é boa disposição garantida.
Episódio "A cadeira do Poder". A estupidez foi sempre um característica reinante nos bandos do Átila e do Lúcifer.