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Delito de Opinião

De blogue em blogue

Pedro Correia, 29.02.16

 

O Insurgente de parabéns a dobrar. Pelos 11 anos de dinâmica existência e pelo novo grafismo, prenda de aniversário oferecida aos leitores pelos responsáveis deste que é provavelmente o mais influente blogue político português.

 

Parabéns também ao Blasfémias, um dos blogues cuja leitura diária não dispenso. Já lá vão 12 anos (ou apenas três, se respeitarmos o calendário bissexto). Que contem muitos mais. E sempre em boa forma.

 

Sim, Senhor Ministro (6)

Pedro Correia, 29.02.16

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Ministro dos Assuntos Administrativos, Jim Hacker - Dá-me uma resposta directa a uma pergunta directa?

Sir Humphrey Appleby - Com todo o prazer, desde que não me peça que caia em generalizações grosseiras e simplificações excessivas, como sim ou não..

Ministro - Isso é um sim?

Sir Humphrey - ... Sim.

Ministro - Cá vai então a pergunta directa.

Sir Humphrey - Pensei que já a tinha feito.

Ministro - Vai apoiar ou não a minha tese de que existem funcionários públicos em excesso?

Sir Humphrey - Se me pede uma resposta directa direi que, tanto quanto é possível verificar, respondendo por ordem, e tomando a média dos departamentos, talvez, em última análise, seja provavelmente verdade dizer que, em termos gerais, se descobriria, sem forçar, que provavelmente nenhum dos aspectos em consideração tem peso excessivo. Tanto quanto se pode presumir, nesta fase.

Sexo, mentiras e 'selfies'

Pedro Correia, 29.02.16

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 Jeanne Moreau: «sexualidade enigmática e brilhante»

 

«Sinto-me muito feliz por ter feito parte de uma geração que assistiu à revolução do cinema europeu com estrelas como Jeanne Moreau e Catherine Deneuve, que carregavam uma sexualidade enigmática e brilhante, tão superiores ao período americano de Doris Day ou Debbie Reynolds. Fui confrontada com um olhar sofisticado sobre a sexualidade e sobre a sensualidade. Tudo isso desapareceu. Os filmes de hoje já não mostram sexo com algum tipo de mistério e química. As mulheres vestem-se como babydolls e Barbies. A imaginação sexual perdeu-se, morreu mesmo, pelo menos na América. Por alguma razão hoje em dia o sexo está em todo o lado mas tornou-se fastidioso. Acho que o útlimo filme com verdadeiro potencial sexual foi Instinto Fatal, com a Sharon Stone, em 1992.»

 

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 Angelina Jolie «com os ossos todos à mostra»

 

«Olhem para a Angelina Jolie hoje. É uma chatice. Quando começou a carreira parecia que iria ser uma grande figura do ponto de vista da cultura popular, fez grandes papéis, era dinâmica, sexy e fabulosa. O que lhe aconteceu? Está cheia dela própria com esta carreira humanitária. Parece uma anoréctica, com os ossos todos à mostra e sem qualquer potência sexual. Deixou de ser a grande estrela sexy que poderia ter ido longe. É uma tragédia. É o espelho do que aconteceu à nossa cultura.»

 

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 Taylor Swift: «uma espécie de Barbie»

 

«Desprezo completamente Taylor Swift. É uma fraude, uma espécie de Barbie, mas muito fashion. Se não fosse assim não tinha toda a prole de raparigas atrás ou contra ela. Só ganhou o Grammy porque o disco foi um sucesso comercial. O que ela faz é música de pastilha elástica, doces para miúdas adolescentes.»

 

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  «Esta cultura da selfie é aberrante»

 

«Os jovens estão interessados em redes sociais. Para mim, o Facebook e o Twitter, coisas que não utilizo, são os grandes culpados da situação a que chegámos. Os jovens só comunicam por mensagens. Felizmente há o Instagram, onde se podem expressar em termos artísticos. Mas esta cultura da selfie é aberrante. (...) E o mais grave é que todas as fotografias que se tiram, mesmo as que possam ter valor artístico, são mostradas apenas aos amigos. Não há a noção de que um artista, que pode começar pelo Instagram, se dirija ao grande público, que faça verdadeiras declarações públicas daquilo que tem para dizer. Considero que a cultura ocidental está num nível muito baixo, é um deserto, é estéril.»

 

Camille Paglia, numa excelente entrevista à revista E, do Expresso, conduzida por Alexandra Carita. Uma das melhores entrevistas que tenho lido na imprensa portuguesa.

Blogue da semana

Joana Nave, 29.02.16

Não tenho tido muito tempo para leituras, nem para a escrita, mas tenho visto uns vídeos no youtube, naqueles 15 minutos a caminhar para as 8 da manhã em que, com olhos ensonados, como as minhas papas de aveia e tento abstrair-me do longo dia que tenho pela frente. Os vídeos não me obrigam a um grande esforço de concentração, vejo-os quase sem ter de ligar o cérebro, o que naquela hora matinal é fundamental para começar o dia com relativa tranquilidade. Claro que por trás dos vídeos estão blogues, blogues que me inspiram e que me distraem dos compromissos e obrigações, blogues que ganham prémios na sua área de especialização e que me enchem de orgulho por serem bons blogues, escritos em Português.

Assim, deixo-vos a minha sugestão para blogue da semana: Made by Choices.

O comentário da semana

Pedro Correia, 28.02.16

«Não consigo perceber como é que alguém como o [Bernie] Sanders que vive há décadas no (e do) establishment americano consegue dizer que é o candidato anti-establishment. Sem o establishment ele não era NADA.
O único que vejo nesses moldes é, para o bem ou para o mal, o [Donald] Trump, apesar de me dar calafrios a remota ideia de ele ser presidente. Contudo, já se viu que esteja quem estiver como POTUS, a política destes pouco difere, só os europeus é que acham que há enormes diferenças, externamente, não há.

Adiante.
Esta geração de "apoiantes" do Sanders (e de certa forma do Trump - mas estes muito menos messiânicos) é a geração mais preguiçosa das ultimas décadas - quase uma reinvenção dos babyboomers mas sem as drogas, sem toda "a" fase de descoberta e com 100000000x mais informação disponível. Lá está, têm toda a informação possível imaginária, todos os "luxos" associados a esta, à comunicação, aos meios de comunicação e de transportes, mas no entanto não entendem a realidade, alias odeiam a realidade ou odeiam ter de viver com ela. Não a querem compreender, tudo é "revoltante", tudo é "escândalo", tudo é "indignação", tudo é conspiração, tudo é um problema, até respirar é um drama.

Assim, com esta revolta toda digna do primeiro mundo, esta geração prefere apoiar messianismos, gente que pinte os inimigos por si, que aponte os seus e os erros dos outros (uma espécie de white man burden millennial edition) e que volte a invocar e a delinear estratégias e ideias que sabemos que são e estão erradas.

Um tipo ouve-os na academia, nos fóruns, nos reddits, e são tão previsíveis que chega a chocar. A contradição é fácil de detectar e é isso que os denuncia quanto ao que refiro em cima, basta mudar ligeiramente os intervenientes e toda a argumentação cai por terra.»

 

Do nosso leitor T. A propósito deste texto do Luís Naves.

Sim, Senhor Ministro (5)

Pedro Correia, 28.02.16

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Sir Humphrey Appleby - Bernard, você sabe muito bem que tem de haver uma forma de medir o êxito da administração pública. A British Leyland mede o êxito pela dimensão dos lucros ou, melhor dizendo, mede o falhanço pela dimensão dos prejuízos. Mas nós, na função pública, não temos lucros nem prejuízos. Temos de medir o êxito pela dimensão do nosso pessoal e pelo volume do nosso orçamento. Um organismo grande tem mais êxito do que um pequeno.

Bernard Woolley - Isso quer dizer que o responsável pela Autoridade Regional do Nordeste agiu mal ao economizar tanto?

Sir Humphrey - Claro que sim. Ninguém lhe pediu para fazer isso. Já pensou se todos fizéssemos o mesmo? Se todos começássemos irresponsavelmente a poupar dinheiro público?

Bernard - Mas é isso que o ministro quer...

Sir Humphrey - Os ministros vêm e vão. Duram em média menos de onze meses em funções. O nosso dever é ajudar o ministro  bater-se por mais dinheiro para o ministério, por maior que seja a reacção de pânico que isso lhe provoque.

Bernard - E não o ajudamos a superar o pânico?

Sir Humphrey - Não, não. Ele que fique em pânico. Os políticos apreciam isso, o pânico fá-los sentir activos. Serve-lhes como sucedâneo das concretizações. Só temos de nos certificar de que isso não altera nada.

Bernard - Mas são representantes do povo, democraticamente escolhidos...

Sir Humphrey - Os deputados são escolhidos pelas secções locais dos partidos: 35 homens de gabardina ou 35 mulheres com chapéus ridiculos.

Bernard - Mas o Governo é escolhido de entre os melhores deles...

Sir Humphrey - Bernard, só há 630 deputados. Basta um pouco mais de trezentos para formar governo. Desses trezentos, cem são demasiado velhos e demasiado tontos. Outros cem são demasiado jovens. Sobram cem deputados para preencher cem postos governamentais. Não há escolha. Não houve selecção nem preparação. Temos de ser nós, na administração pública, a fazer o trabalho deles.

O Papa que ri

Teresa Ribeiro, 28.02.16

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O ódio contra o Papa Franciso grassa. Não me espanta. Entrou no seu pontificado como um elefante em loja de santinhos e partiu a loiça toda. Falou dos casos de pedofilia, da corrupção no Vaticano e dos seus crimes económicos, dos católicos divorciados, dos católicos gays... Demasiados issues. Uma poeira que não assenta. Quem é ele para expor assim as fragilidades de uma instituição que se quer sólida e vista como a referência moral e espiritual do ocidente?

Não me surpreende o ódio da hierarquia e de todos os que beneficiam directamente do statu quo, o que me encanita é a reacção das "bases". Dos católicos que desconfiam do seu chefe supremo porque prescindiu da gravitas da função e prefere chegar às pessoas, porque não assobia para o lado e, ao contrário, faz mea culpa, em nome da Igreja, por todos os podres que se lhe reconhecem. Porque denuncia, ao estilo de Cristo, tudo o que no mundo deve ser, aos olhos de um verdadeiro cristão, abominável. Finalmente porque usa e abusa da palavra de Deus para confrontar as suas ovelhas com contradições e hipocrisias quotidianas. Mas não é essa a função de um líder espiritual?

Esta parte, a das consciências, é a que mais mói.  É este ódio que nasce da incomodidade que anda, não duvido, a envenenar parte da comunidade católica. Há dias li no El Mundo, assinada por Fernando Sánchez Dragó, uma crónica intitulada  "Incapacitación" que põe à discussão a necessidade imperiosa de desencadear o impeachment de Francisco: "Es necesario meter en cintura al hereje Francisco si se niega a cambiar el rumbo de su pontificado o a dimitir", escreve este romancista, ensaísta e crítico literário, conhecido pelo seu conservadorismo social e ultra-liberalismo económico. Aqui está um bom discurso de ódio. Das primeiras acusações veladas que começaram a circular no início do pontificado às críticas mais inflamadas foi um passo. Mas agora já entrámos noutro domínio, o dos apelos à rebelião.

Enquanto Dragó traçava estas linhas, o Papa dava um passo que por si só seria suficiente para inscrever o nome de Francisco como um dos mais notáveis na história da ICAR. Em Cuba reunia-se com o chefe da Igreja Ortodoxa, algo que não se via desde 1054.

Nada que esmoreça os que o odeiam de coração. Pelo contrário. Para estes, quanto melhor ele estiver, pior.

Leituras ao domingo

Diogo Noivo, 28.02.16

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“A primeira premissa da Ontologia Portuguesa é a seguinte: Há uma diferença fundamental entre o HAVER, de aplicação universal, e o HAVER-HAVER, exclusivamente português. […] Este verbo HAVER-HAVER, que se conjuga quase sempre na terceira pessoa do singular do presente do indicativo («Ele haver, há…») tem um estatuto ontológico rigoroso. «Haver, há…» significa, em português, «Há, mas não existe». Há vários exemplos que se podem dar. Pergunta-se se há Cinema Português e responde-se honestamente que não. Para ser mais preciso, acrescenta-se «Quer dizer: haver há…só que, enquanto tal, não existe». […] Existir enquanto tal não é, de facto, o existir português.”

 

Miguel Esteves Cardoso (2002), A Causa das Coisas, Lisboa: Assírio & Alvim, p. 121. [ed. orig. 1986]

Pronto, agora já estão como os portugueses

Sérgio de Almeida Correia, 28.02.16

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Numa altura em que ainda estão na memória aqueles belíssimos cartazes da campanha do PS, e enquanto em Portugal se perde o tempo a discutir os méritos e deméritos de uma inqualificável borrada do BE, que para a sua dirigente Catarina Martins é considerado um problema de "incompreensão", que aliás coloca em causa a própria compreensão por parte dos votantes no BE da sua mensagem eleitoral de 4 de Outubro, na Irlanda, na sequência de uma campanha miserável de Enda Kenny e do tandem Fine Gael-Labour, onde até se chegou a ameaçar os eleitores na sua liberdade de escolha com o filme português, também os eleitores irlandeses, sem medo de papões, retiraram o tapete aos partidos do governo.

O exemplo das campanhas de Passos Coelho e Rajoy, que dera tão brilhantes resultados relativamente aos objectivos que haviam definido quanto à manutenção das suas maiorias de governo, foi replicado na Irlanda com os resultados e a teimosia a confirmarem-se. 

O partido outrora maioritário colhe agora os frutos do seu discurso e da tempestade de asneiras que promoveu. E com o Reino Unido a um passo de fazer as malas para sair da UE, deixando o que resta do projecto europeu em pantanas, fruto da mais hipócrita e oportunista campanha de que há memória por parte de um primeiro-ministro e líder conservador, não deixa de ser curioso que os únicos que neste momento estão em condições de poderem apresentar alguma estabilidade à chanceler Merkel e aos mercados sejam, para grande desgosto de Paulo Rangel, os portugueses e a rapaziada da geringonça.

Enfim, coisas da vida, como diriam António Guterres e o Prof. Marcelo.

Sim, Senhor Ministro (4)

Pedro Correia, 27.02.16

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Ministro dos Assuntos Administrativos, Jim Hacker - Quando é que trato desta correspondência toda?

Bernard Woolley, secretário particular do ministro - Não é obrigado a isso.

Ministro - Não sou?

Bernard - Se não quiser, não. Podemos elaborar uma resposta oficial.

Ministro - E essa resposta diz o quê?

Bernard - Diz: "O ministro pediu-nos para agradecer a sua carta." E acrescentamos: "O assunto está a ser considerado." Ou, em alternativa, especificamos que "o assunto está a ser seriamente considerado."

Ministro - Qual é a diferença?

Bernard - "A ser considerado" significa que perdemos o dossiê. "A ser seriamente considerado" significa que andamos à procura dele... Basta passar as cartas do cesto de Entrada para o de Saída, acrescentando uma nota se quiser ver a resposta. Se não quiser, não voltará a ser maçado com este assunto.

Ministro - Quer dizer que se eu as transferir daqui para ali, mesmo sem ler, não preciso de fazer mais nada?

Bernard - Sim.

Ministro - E tratam disso?

Bernard - Precisamente.

Ministro - Tratam de tudo como deve ser?

Bernard - Imaculadamente.

Ministro - Então para que serve aqui um ministro?

Bernard - [Muito hesitante] ... Para tomar decisões políticas. Decide e nós executamos.

Ministro - E quando é que essas decisões são necessárias?

Bernard - De vez em quando...

Ministro - [Indignado] Este Governo veio para governar! Não veio só para fazer de conta que governa, como o Governo anterior. Quando um país vai por aí abaixo chega um momento em que é preciso alguém tomar conta do volante e carregar no acelerador.

Bernard - Julgo que quer referir-se ao travão, senhor ministro.

Portocarrero strikes again

Rui Rocha, 27.02.16

Não é um fenómeno novo. Há muito que se se sabe que um acto aparvalhado tem em si mesmo um potencial incalculável de gerar efeitos que replicam a parvoíce de forma exponencial. Veja-se o exemplo que hoje nos dá o sacerdote católico Portocarrero. Há não muito tempo, afirmou o santo homem num texto notável: 

Aos cruzados do anti-catolicismo militante e aos modernos inquisidores, que continuamente julgam e condenam a Igreja pela sua história, não se podem pedir as virtudes cristãs da caridade ou do perdão para os pecados dos fiéis pretéritos. Mas deve-se-lhes exigir a justiça de não julgar o passado à luz do presente, nem culpabilizar os cristãos do terceiro milénio pelos erros dos cruzados, ou pelos excessos dos inquisidores. A cada homem e geração bastam-lhe as suas próprias faltas.

 

Hoje, pouco mais de cinco meses depois, e a propósito do já celebérrimo cartaz do Bloco de Esquerda, este escravo da virtude avança com não menos profundidade:

Não obstante os nossos brandos costumes, é bom recordar que os jesuítas foram expulsos de Portugal no século XVIII, pelo Marquês de Pombal; que, no século XIX, não só eles mas também todas as outras ordens religiosas foram extintas pelo liberalismo jacobino; e que, no século XX, voltaram a ser perseguidos todos os religiosos, bem como todos os bispos e padres do clero secular, pela primeira república. No século XXI, será que o Bloco de Esquerda dará continuidade a esta ignominiosa tradição?!

Ou seja, para o bom padre os cristãos não podem ser julgados pelas faltas praticadas pelas gerações de cristãos que os precederam. Em contrapartida, os cartazes dos pataratas do Bloco de Esquerda podem e devem ser avaliados tendo em conta os actos praticados pelo Marquês de Pombal.  

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