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Delito de Opinião

As canções de Dezembro

Pedro Correia, 30.11.15

É oficial: a série Canções do Século aproxima-se a passos largos do fim. Após quase seis anos de inexistência ininterrupta.

Houve sempre música, dia a dia, noite a noite, aqui no DELITO. Em momentos de alegria, em momentos de tristeza. Música de todo o género e para diversos gostos. Música de várias proveniências mas que deixou rasto no século XX - de 1902 (a mais antiga) até 1999.

É minha intenção encerrar esta série em grande, com um conjunto de canções especialmente memoráveis. Não podendo faltar alusões especiais, neste mês de Dezembro, a dois gigantes da música popular, que nasceram vai fazer cem anos: Edith Piaf e Frank Sinatra.

Aguardarei outras sugestões vossas. Com a disponibilidade de sempre.

O fim do Sol e do jornal I

Patrícia Reis, 30.11.15

A morte de um jornal é sempre triste. A morte de dois jornais duplica a tristeza? Não. Assusta. Assusta muito. Para os meus colegas de profissão, do jornal I e do Sol, fica a minha solidariedade. O jornalismo precisa de bons profissionais, de seguir o código deontológico, de ser sério. Quando os grupos económicos apostam na comunicação social e falham, a culpa não é dos jornalistas. Disso tenha a certeza.

Fernando Pessoa

Patrícia Reis, 30.11.15

(...)
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente
[o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais,
[se puder ser,

Ou até se não puder ser...

 

Mais e mais despesa pública

Pedro Correia, 30.11.15

 

«Entre um ministro com razão e um aliado sem ela, Costa escolherá o aliado: é o que resulta da natureza dos acordos que assinou.»

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«O que Costa acordou com o PCP e o BE é simples: uma aposta determinada no engrandecimento do Estado assistencial e da população subsidiodependente. Mais e mais despesa pública, coberta por mais e mais impostos sobre "os mesmos de sempre": aqueles que já pagam mais. Até secar a mina de ouro - coisa de que já há sinais à vista nos últimos dados da cobrança do IRS.»

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«Costa, que no seu discurso de posse se queixou das divisões cavadas entre os portugueses pelo anterior governo, vai contribuir decisivamente para cavar mais fundo um fosso que, a prazo, não tem remédio e vai custar muito caro ao País e aos mais pobres: o fosso entre uma cada vez mais larga maioria que só recebe e nada paga ao Estado e a minoria que apenas paga.»

 

Miguel Sousa Tavares, no Expresso de 28 de Novembro

O comentário da semana

Pedro Correia, 29.11.15

«Eu diria que um blogue é - é também - um porto de abrigo.

Será um local de debate e de confronto de ideias, confronto desejavelmente civilizado (mesmo que firme). O que, admita-se, nem sempre é conseguido. E se há zelotas que rejeitam qualquer desvio ao que tomam como a linha do "seu" blogue, mesmo ou sobretudo que nele simples comentadores, há também os que por lá passam, apenas e sistematicamente para discordar. Discordar de tudo, da mais reflectida análise de uma questão política, económica, social, o que seja. Até mesmo de uma opção estética (feminina ou outra).

Discordar porque sim, amiúde, sem preocupação de especial fundamentação ou refugiando-se numa subjectividade que tanto legitima, afinal, a sua opinião como a do autor ou comentador tão pressurosa e vivamente criticado. Há quem escreva, num blogue, em desvio da perspectiva nele dominante (o que dentro da civilidade está muito bem) e há quem nele comente, uma e outra e outra vez, sabendo de antemão que vai colidir - e frequentemente colidir de forma grosseira, de forma e conteúdo - com essa perspectiva dominante. Fazendo-o, dir-se-ia, de forma deliberadamente provocadora e sem outra perspectiva que não perturbar.

Porque um blogue é também um porto de abrigo. Onde procuramos quem pense como (ou perto de) nós. O que, sendo um blogue coisa privada, é absolutamente legítimo. E nada há nisso que encerre a nulidade, o pejorativo, de "falar sozinho" ou "nada ter a comentar". É tão natural debater ideias diversas, como o é procurar a partilha e consolidação de ideias comuns.

Ou não haveria blogues de esquerda e blogues de direita, creio (a permanecer agarrados a tal critério). Sendo que ser de um ou outro desses lados não encerra por si e sem mais a virtude e a razão. E de esquerda ou de direita, não há felizmente blogues de regime, de frequência obrigatória. Só os frequenta quem quer; só neles comenta e escreve quem quer. E tenha algo de útil (pelo menos que sinceramente lhe pareça) a escrever.

Ou assim deveria ser.»

 

Do nosso leitor Costa. A propósito deste texto do José António Abreu.

Frutos da adesão do companheiro Obiang à CPLP

Sérgio de Almeida Correia, 29.11.15

 

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(Nacho Doce/Reuters) 

"During the Third Extraordinary Congress of the Democratic Party of Equatorial Guinea, held from November 10 to 12 in the capital of Malabo, President Teodoro Obiang Nguema Mbasogo declared that anyone who kills two or more people “has to be punished by death” and argued that the country should “cut the tendons” of delinquents, so as to facilitate their identification by the population." - Paulo Gorjão, Portugal and Equatorial Guinea: Respect for Human Rights is Not Optional, in IPRIS Viewpoints, 27/11/2015

 

Embora não seja tão optimista quanto o autor do texto, que já foi nosso colega aqui no Delito de Opinião, não escreve de cor e é insuspeito de alinhar com a esquerdalhada, o Paulo Gorjão deixou uma belíssima imagem dos avanços dos direitos humanos na Guiné-Equatorial no último número da Viewpoints do Instituto Português de Relações Internacionais.

Um ano depois, pelo que se vê, a CPLP continua a semear os direitos humanos na Guiné Equatorial. É pena que é seja aos bocados, isto é, em bocados de gente. Mas convenhamos que ouvir Obiang a sugerir o corte de tendões aos delinquentes e a pena de morte a quem matar duas ou mais pessoas é um avanço civilizacional indiscutível e a confirmação de que a adesão da Guiné-Equatorial à CPLP foi um acto de grande alcance, um verdadeiro exemplo para o mundo sobre a arte de bem receber e integrar estafermos.

O locatário do Palácio de Belém, o tal que não acredita nos acordos parlamentares de António Costa com o PCP, o BE e os Verdes, e fez questão de dizê-lo no dia em que deu posse ao XX Governo Constitucional, foi o mesmo que acreditou em Obiang e que já via os direitos humanos como uma espécie de alecrim a ser espalhado aos molhos pelas ruas e prisões de Malabo. Estou certo que Cavaco Silva, com Passos Coelho, Rui Machete, José Sócrates e Luís Amado, cada um com a sua dose de humildade pelo respectivo contributo, sentir-se-ão hoje muito orgulhosos com os avanços verificados na Guiné-Equatorial e não deixarão de incluir nos seus currículos uma nota de destaque sobre um trabalho que engrandeceu, e continua a engrandecer, na frente externa os seus belíssimos desempenhos domésticos.

Não há, pois, razões para agora, depois de todos os avisos, incluindo deste blogue, Portugal se sentir hipocritamente chocado

Ler

Pedro Correia, 28.11.15

Um Governo do PS com o apoio da esquerda. De José Guinote, no Vias de Facto: «Há aqui uma clara demissão que aparece disfarçada de fidelidade aos princípios.»

 

Anotações para uma estratégia. Do Luís M. Jorge, na Vida Breve: «Se os partidos da Esquerda perderem o desejo, perde-se o Governo.»

 

Pequeno guia para a oposição à coligação negativa: sim, pasarán! Do Filipe Nunes Vicente, no Nada os Dispõe à Acção: «Não contemos com os iletrados da carne assada e das Jotas: um cão cego seria mais útil.»

 

Os novos camaradas. De Francisco Seixas da Costa, no Duas ou Três Coisas: «O medo leva ao oportunismo e este é um espelho do carácter.»

 

Heliogábalo. De Carlos M. Fernandes, n' O Insurgente: «Quando há dinheiro, é fácil arregimentar sabujos.»

 

Distância=angústia=lucidez. De Carlos Natálio, no Ordet: «A perda maior é apenas uma pedra maior num charco que comporta a toda a hora perdas menores, reequacionamentos de caminho.»

Os blogues e a vida real

José António Abreu, 28.11.15

Começa-se sem saber bem no que vai dar. Mantêm-se imensas ilusões mas temem-se a indiferença e o desprezo, bem como a incapacidade de estar à altura da tarefa. Responde-se de forma desajeitada às primeiras - e memoráveis - pessoas que estabelecem relação. Quem chega mais tarde obtém uma realidade parcial. Tentar descobrir o que ficou para trás pode reforçar -  ou fazer desvanecer - a atracção mas dá trabalho e poucos o fazem. Quase sem dados concretos elaboram-se imagens e verdades, que permanecem apesar de serem  desmentidas uma e outra vez. Há quem fique pouco tempo e, desinteressado quando não desiludido, logo desapareça. Há quem se empenhe - aconselhe, critique, procure moldar - e resista durante períodos surpreendentemente longos. Há o cansaço que, de um lado e do outro, se instala e as pausas que urge introduzir. Há os erros, as hesitações, as desilusões, os entusiasmos repentinos, as discussões estimulantes e as discussões cansativas - pelo momento, pelo tom mas, acima de tudo, por já terem ocorrido inúmeras vezes. Há afinidades que se referem com frequência e ódios de estimação que também se referem com frequência mas em tom completamente diferente. Há a passagem do tempo e a ideia de que se tem afinal menos controlo, menos originalidade e menos relevância do que era suposto.

Os blogues não são a vida real mas arranjamos sempre forma de tudo parecer a vida real. Talvez por a consciência - esse factor que nos diferencia dos restantes animais - nos permitir intuir que, em grande medida, a vida real é uma ficção.

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