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As sugestões têm sido tão variadas e tão boas que decidi prolongar um pouco mais esta série, que devia terminar a meio do ano mas vai prolongar-se até ao final de 2015. Decisão que acabei de tomar agora.
Em Março teremos por cá Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Ketty Lester, entre as senhoras, e Elvis Presley, Carlos Gardel e Buddy Holly, entre os cavalheiros. Enquanto continuo a aceitar as vossas sugestões musicais, naturalmente. Porque estas Canções do Século XX não são minhas. São nossas.
Afinal, qual é a cor deste vestido política de Costa? A polémica parece não ter fim e há opiniões para todos os gostos. Alfredo Barroso vê laranja. Capoulas Santos diz que é rosa. Quem é o daltónico? Vieira da Silva, por seu lado, diz que esta polémica sobre a cor do político pretende desviar a atenção das questões que realmente importam. Os portugueses, em geral, veem a coisa muito negra. Entretanto, uma especialista em tratamento de imagem garante que é uma questão de saturação da cor política. Cansados de mudanças constantes de tom de discurso, os eleitores ficam saturados e passam a ver as coisas cada vez mais sombrias. Estes resultados são confirmados pelo uso da ferramenta de conta-gotas do software que captura amostras de áreas específicas do tecido político. Este software identifica o código de cor de qualquer pixel do discurso. E neste caso também gera resultados em tons muito escuros. As conclusões são confirmadas por parte de sectores que foram responsáveis pela promoção da imagem de Costa, que não escondem o seu desconforto. Apesar das expectativas iniciais, depois de sucessivas gaffes de Costa, falam agora de um futuro cinzento. O site de tecnologia Wired.com, por seu lado, refere que a chave para decifrar o enigma da cor política de Costa está na forma como os olhos e o cérebro evoluíram para ver cores ideológicas. Como os seres humanos evoluíram para ver as coisas de acordo com os seus interesses, os seus cérebros começaram a levar em conta o facto de a sua visão ter o poder de mudar as cores. Os objetos têm um certo tom vermelho rosado de madrugada, mais azul-branco ao meio-dia, e voltam a ser mais avermelhadas no pôr-do-sol. Tal como o discurso de Costa. O cérebro tenta então descontar o efeito da luz ideológica para chegar a uma cor "verdadeira". No final, é uma questão de filtro usado por cada um. Se virmos bem, trata-se de um fenómeno que existe há milhares de anos, mas há algo especial na intervenção de Costa que tornou as diferenças na forma como vemos a cor política mais claras do que nunca. Ou é isto, ou Costa é um camaleão.
Boris Nemtsov, opositor de Putin, ontem assassinado no centro de Moscovo
Na Rússia de Putin é assim: esmaga-se o pluralismo, segregam-se as minorias religiosas, discriminam-se os homossexuais, silenciam-se os jornalistas incómodos, armam-se milícias para invadir países estrangeiros, anexa-se a Crimeia à margem do direito internacional. E matam-se os opositores políticos, a dois passos do Kremlin, com quatro tiros nas costas.
Na Venezuela de Maduro é assim: fecham-se canais de televisão e jornais críticos, transforma-se o poder judicial numa delegação do poder político, condena-se a população à maior penúria do continente americano. E prendem-se "preventivamente" os opositores políticos. Incluindo os que foram eleitos pela população.
Rússia e Venezuela: duas lamentáveis manchas no mapa político internacional. Que continuam, apesar disso, a merecer o aplauso e o apoio de uma certa esquerda, que integra o bloco da Esquerda Unitária Europeia no Parlamento Europeu. Uma esquerda cega e surda aos sinais dos tempos e à inapelável evidência dos factos.
Sou um fã DESTE TAMANHO de Laura Darling. Marling. Laura Marling. Sou fã de mais duas Lauras (a do Preminger e a que costumava escrever aqui no Delito, hoje tão desaparecida - e tão saudável, espero - como a do Preminger) mas esta é a que me acompanha mais frequentemente. O novo álbum chama-se Short Movie e sai no dia 23 de Março. A avaliar pelas amostras (está disponível uma segunda), é mais rock do que folk, tendo o intimismo e a sonoridade acústica do anterior dado lugar a energia e electricidade. Parece-me bem. Deve-se variar. O corte de cabelo (visível no link do segundo tema) é que talvez fosse dispensável. Faz com que, nesse campo, a minha Laura favorita seja a do Preminger (obviamente, apenas por nunca ter visto a do Delito). Mas isso é pouco relevante - um tipo que começa a ficar com entradas nem sequer pode ser exigente a respeito de cabelo.
O país está diferente, para melhor, por comparação com a situação de 2011. Esta é, nomeadamente, a opinião do líder da oposição António Costa que não se coíbe, todavia, de afirmar o contrário quando pensa que está a ser ouvido. Por outro lado, é evidente que essa evolução não ficou a dever-se ao cumprimento de obrigações contributivas por parte do líder do governo Passos Coelho.
Os partidos populistas, baseando a conquista de votos não apenas em promessas impossíveis de concretizar mas na denúncia da promiscuidade entre os governos dos partidos «tradicionais» e o sector privado, caem numa aparente contradição quando exigem uma moeda - seja esta um euro fraco ou novas-velhas moedas nacionais - capaz de a disfarçar. Uma moeda fraca está inextricavelmente ligada a regimes mais corruptos e a menores níveis de riqueza geral. Compare-se outro Sul com o Norte de sempre. Os países da América Latina têm tradicionalmente moedas que acomodam a corrupção e os exageros populistas dos políticos - até ao momento em que mesmo isso deixa de ser possível. Os países do Centro e do Norte da Europa favorecem tradicionalmente moedas fortes e estáveis, que obrigam os empresários a apostar na competitividade e os políticos a justificarem opções perante o eleitorado. Por não disfarçar os problemas, a moeda forte torna os eleitores mais exigentes e dificulta a realização de promessas vãs. Ou seja, dificulta os populismos. É por isso que a contradição não passa de aparência e é também por isso que os políticos minimamente honestos enfrentam enormes dificuldades em épocas de crise.
O António Costa estampou-se. Como líder da oposição não podia ter usado aquele qualificativo. "Diferente" foi um termo demasiado ambíguo e, não há como iludi-lo, soava a elogio. O país incendiou-se. O Governo a bater palminhas, o PS a bufar, os media frenéticos. Desde que Costa pregou aos chineses que não se fala de outra coisa. Análises, debates, opiniões elevam o caso a questão de fundo.
É assim a política. Estridente, balofa, sempre muito ocupada com os detalhes. Note-se, não estou a desculpar o Costa. Um político experiente tem que saber de culinária e há pelo menos 100 maneiras diferentes de fazer um discurso. Mas o que nunca me deixa de espantar é esta harmonia que se gera em torno de um caso político. Coordenadamente todos os que nele intervêm agem como se não soubessem o que realmente aconteceu - um discurso para investidores chineses em que o que foi dito em contexto de diplomacia económica foi aproveitado politicamente contra Costa. Nem mais, nem menos. A poeira politico-mediática do costume, sempre mais cintilante que a substância.
Apesar de tudo, fomos galgando patamares civilizacionais. Adquirimos - e bem - tabus culturais que nos distanciaram do ser cavernícola dos primórdios. A antropofagia, o incesto, o esclavagismo, a violentação, a tortura e tantas outras expressões da "besta" foram sendo alvo de sucessivos anátemas sociais, formando uma espécie de cartilha universal de valores. O problema é que tudo está envolvido numa redoma demasiado fina, que se estilhaça com excessiva facilidade. Os últimos cem anos de história humana demonstram isso mesmo. E as chamadas "redes sociais", num revelador efeito de espelho, confirmam a curta distância que ainda separa a civilização da barbárie.
Nunca podemos dar nada por garantido: a via do retrocesso está sempre latente. As tecnologias contemporâneas só a potenciam, em vez de a afugentarem.
Em especial nos esquecimentos.
Para quem não tem, nunca teve, um tostão de dívida à sua Caixa de Previdência ou à sua Ordem, mesmo nos meses mais difíceis, não deixa de ser estranho que gente com estes telhados e uma esteira tão obscura - pelos vistos a todos os níveis - se dedique a gerir a coisa pública e se atreva a falar de ética e de rigor.
Ainda se fosse por receber o salário mínimo nacional ou rendimentos exíguos...
Quando a casa começa a arder, vai tudo à procura do culpado. E quem procura culpados acaba sempre por encontrá-los.
Do mesmo modo, quem procura a verdade já sabe de que verdade anda à procura. Assim, mesmo que lhe passem diante dos olhos outras verdades, muito transparentes apesar das evasivas, não as consegue ver, porque não são as verdades ou os culpados que procura.
E no fim toda a gente diz que já percebeu, precisamente porque não percebeu nada.
Passamos o tempo em querelas estéreis. Ontem, nem sequer percebi as notícias sobre as advertências da Comissão Europeia ao governo português, que me pareceram muito semelhantes às que surgiram no ano passado, já depois de terminado o memorando da troika. Tive de ler o jornal Le Monde para compreender que o alvo de Bruxelas era a França: Paris pedira para abrandar o ritmo de cumprimento das metas orçamentais, mas a Comissão recusou, pois havia países com números semelhantes aos franceses a cumprir calendários apertados. Um deles era Portugal. No editorial do jornal francês referia-se que Portugal, Espanha e Irlanda fizeram “esforços consideráveis” que custaram “dolorosos sacrifícios à sua população e classe política”. A França não podia deixar de ser “chamada à ordem” e não poderia beneficiar de “novos adiamentos”, acrescentou o editorialista.
A análise das críticas de Bruxelas ao governo português permite perceber que a comissão contesta o valor governamental do défice deste ano, considerando que a meta de 2,7% é optimista e prevendo um valor mais elevado, de 3,2%. Se o governo português estiver errado, haverá portanto medidas adicionais, mas a notícia foi transformada num psicodrama, com reacções histéricas e explicações que envolviam catástrofes iminentes. O facto é que a Comissão mantém críticas que já fez antes e a novidade era que Paris tem apenas dois anos para trazer o défice orçamental (4,1% em 2015) abaixo dos 3% do PIB, o que obriga a medidas difíceis no período anterior às presidenciais de 2017. O calendário político foi ignorado e os países tiveram tratamento semelhante.
Ladrões de Bicicleta é um blogue sério, sobre pensamento económico, de um ponto de vista da esquerda. Não do centro-esquerda, da esquerda descafeinada, mas da esquerda-esquerda.
Basta ler o que se foi publicando ao longo das últimas semanas nesse blogue para se perceber bem o excesso de expectativas geradas pelo Governo de coligação Syriza-Gregos Independentes, a oscilação de sentimentos provocada pelo processo de negociação entre Atenas e o Eurogrupo, e enfim a decepção que já não consegue ser ocultada.
Passo a transcrever alguns excertos, com a devida vénia aos autores.
João Rodrigues, 22 de Janeiro:
«O futuro está em aberto. Vemo-nos cada vez mais gregos.»
José Castro Caldas, 26 de Janeiro:
José Gusmão, 26 de Janeiro:
Nuno Teles, 27 de Janeiro:
Jorge Bateira, 6 de Fevereiro:
Alexandre Abreu, 10 de Fevereiro:
José Gusmão, 16 de Fevereiro:
João Rodrigues, 21 de Fevereiro:
Ricardo Paes Mamede, 24 de Fevereiro:
Alexandre Abreu, 26 de Fevereiro:
Acontece que para os gregos, o euro não é apenas uma moeda a que a sua economia esteja mais ou menos adaptada. É um projecto político, um ideal: é a possibilidade de, um dia, viverem num país onde o Estado, dominado por interesses de todo o tipo (sindicais, empresariais, corporativos, clientelares, etc.), não abuse da moeda para servir esses interesses à custa de todos os outros cidadãos. É isso que os exercícios de análise económica não apanham, nem o discurso corrente da integração europeia, que reduz tudo a uma questão técnica: como conter, numa união monetária, economias divergentes e políticas contraditórias.
Não somente para os gregos. Para os portugueses também. De resto, não será apenas coincidência que, em Portugal, não obstante as incapacidades próprias do governo, as mil e uma obstruções que enfrentou e os interesses corporativos dos partidos que o formam, os últimos anos tenham revelado uma progressiva «limpeza» na relação entre o Estado e outras entidades. A forma como não se salvou o grupo Espírito Santo, a profusão de casos judiciais contra políticos e empresários, a limitação do (ou, pelo menos, a pressão pública contra o) poder discricionário de conceder favores (veja-se a polémica actual sobre o planeado perdão da autarquia de Lisboa a uma entidade com tantos fãs como o Benfica) são também efeitos de uma moeda que deixou de ser um fantoche nas mãos dos políticos.
João Cravinho
Se existem senadores no PS - no que esta expressão conjuga de experiência, sensatez e capacidade de expressar opiniões com substância e uma voz inconfundível - um deles é seguramente João Cravinho. Este socialista habituou os militantes - e o País - a falar com desassombro, tendo por vezes razão antes de tempo, como quando invocou a necessidade de se combater com eficácia a corrupção ainda antes de os casos mediáticos actuais terem rumado às primeiras páginas. É sem dúvida presidenciável. Mas uma corrida a Belém, para ele, jamais seria numa auto-estrada sem custos para o utilizador. Até porque as SCUTs - de que ele foi o inspirador - passaram de moda.
Tem 78 anos. Signo: Virgem.
Prós - Costuma dizer o que pensa, o que é caso raro na classe política portuguesa. Tem um currículo apreciável como governante: foi ministro da Economia, Planeamento e Administração do Território.
Contras - O facto de dizer o que pensa criou-lhe anti-corpos no PS de Sócrates. O seu percurso no período imediatamente posterior ao 25 de Abril, quando foi dirigente do Movimento de Esquerda Socialista, pode ainda hoje afugentar alguns eleitores do centro.
Fernando Pessoa sobre o Fascismo, a Ditadura Militar e Salazar
Antologia
(edição Tinta da China, 2014)
Há muito que digo que na política não se pode ter um discurso para dentro e outro para fora. Por isso, a questão de fundo não é o incómodo que provoca. Ou a saída de Alfredo Barroso. Isso é o que menos importa, como o próprio Barroso certamente concordará.
A questão que releva é curta, não precisa de alarido, e resume-se a isto: com que legitimidade, com que autoridade, se criticarão amanhã os deslizes dos outros? É só isto.
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