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Delito de Opinião

Janeiro de 2015: os meus votos

Pedro Correia, 31.01.15

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Figura nacional do mês

Cristiano Ronaldo, galardoado com a terceira Bola de Ouro

 

Figura internacional do mês

Alexis Tsipras, vencedor das eleições legislativas na Grécia

 

Factos nacionais do mês

Venda da Portugal Telecom aos franceses da Altice e Alberto João Jardim abandona Governo Regional da Madeira

 

Facto internacional do mês

Os atentados do dia 7 em Paris que provocaram 17 mortos

 

Frase nacional do mês

«Não há justiça em Portugal» (Mário Soares)

 

Frase internacional do mês

«Je suis Charlie» (frase entoada por milhões de pessoas em todo o mundo)

Os populistas

Luís Naves, 31.01.15

O Podemos mostrou hoje a sua força em Madrid, numa marcha que atraiu uma multidão. À frente em várias sondagens, a poucos meses das legislativas, o novo partido não é apenas um protesto resultante da frustração dos espanhóis com a crise, mas uma revolução no sistema político. Há diferenças entre Podemos e Syriza, mas um elemento em comum: ambos absorveram o eleitorado comunista e estão a conquistar o espaço político dos socialistas. Na Grécia, as primeiras vítimas foram PASOK e KKE, que em 2009 somaram mais de metade do eleitorado grego e agora têm apenas 9,5% (somados). Em Espanha, a IU ameaça implodir e o PSOE surge nas sondagens em terceiro lugar, com uma votação muito inferior aos valores tradicionais.

Sem experiência de governação, os políticos de protesto apostam na retórica e nas fórmulas simples para resolver os problemas. Estas pessoas parecem muito diferentes do que a lamentável classe política que presidiu aos anos da Grande Recessão. O Syriza está a tentar uma ruptura com a União Europeia, enquanto o Podemos, mais cerebral, centra o seu programa no combate à corrupção. As eleições gregas sugerem que a franja mais à esquerda do sistema partidário está a sofrer uma convulsão inédita. O eleitorado de esquerda parece recusar as posições tradicionais de comunistas e socialistas, preferindo o tom mais utópico das novas formações populistas, que não hesitam em culpar a Europa pelas dificuldades, propondo soluções nacionais.

Em Portugal, comentadores de esquerda estão já a adoptar estes temas, atribuindo todos os problemas à adesão europeia. Segundo dizem, o país empobreceu (é extraordinário que culpem a Europa, mas é isso que está a acontecer nos espaços de debate público) e perdeu margem de manobra. Para além de imaginar uma UE que nunca existiu, esta elite continua a ignorar o que nos levou à falência e ao resgate.

Há duas formas dos movimentos populistas conseguirem engolir a esquerda: formando novos partidos que cilindrem os existentes ou conquistando os que existem. A primeira forma parece ter falhado em Portugal, a segunda está em marcha.

As canções de Fevereiro

Pedro Correia, 31.01.15

Muda o mês mas a série prossegue, embora já na recta final. Entre as Canções do Século de Fevereiro, que pretendo cada vez mais representativas - em popularidade e qualidade - do que foi o século XX em matéria musical incluirei pelo menos quatro relacionadas de algum modo com o Carnaval, respeitando o espírito da quadra. E para os restantes 24 dias? Agadeço antecipadamente as vossas sugestões, nesta caixa de comentários ou para o meu endereço electrónico. Na certeza de que todas serão acolhidas. Ou já este mês ou noutra data próxima.

Escutas - 2

Teresa Ribeiro, 31.01.15

No escritório:

- Estive hoje com a Tânia.

- Ai sim, então como é que ela está?

- Cheia de problemas, coitada.

- Por causa da besta do namorado?

- Pois.

- Mas porque é que ela não o deixa?

- Já esteve a fazer contas e não dá. O ordenado não lhe chega para pagar casa e faculdade sozinha.

- Então por que não volta para casa dos pais?

- Os pais estão a viver na terra, em casa dos avós, porque lhes penhoraram a casa.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 30.01.15

Sair do euro

Luís Naves, 30.01.15

Não é preciso muito esforço para compreender que o novo governo de Alexis Tsipras pretende levar a Grécia a abandonar a zona euro, não hesitando em fazer exigências que os europeus não podem cumprir. Esqueçam as declarações piedosas, em política só interessa o que se faz. Na primeira semana de actividade foram tomadas decisões que já impossibilitam o cumprimento das metas acordadas com os credores. A Grécia recusa-se a negociar com a troika, ameaça torpedear as sanções europeias à Rússia e, cereja em cima do bolo, aprovou um salário mínimo que torna impossível a assinatura de empréstimos europeus por vários países onde os salários médios são muito inferiores. As pessoas já se esqueceram, mas um governo eslovaco foi derrubado num resgate anterior à Grécia.

O problema do Syriza é que três em cada quatro eleitores dizem estar contra a saída da zona euro. A única maneira de atingir o objectivo é convencer os europeus a empurrarem a Grécia para fora. O governo grego dirá que defendeu os interesses do país e a culpa tem de ser atribuída com clareza aos europeus, incluindo os do Sul, que obviamente recusam a ideia peregrina de serem arrastados para uma renegociação quimérica da sua dívida, algo que nem os gregos querem fazer.

Do ponto de vista de Atenas, sair do euro permitiria não pagar a maior parte da dívida. O dracma sofreria uma brutal desvalorização e o governo nacionalizava a banca ou, no mínimo, controlava a saída de capitais. Haveria inflação, mas é preciso não esquecer que Tsipras lidera um partido radical de esquerda, pelo que, recuperada a soberania monetária, seria possível aplicar um programa de nacionalizações e de expansão da despesa. O parceiro de coligação, um partido ultra-nacionalista, não foi escolhido ao acaso, mas por ser o único que poderia concordar com uma estratégia anti-euro. Em relação aos europeus, a situação não é tão clara, mas há vários países que provavelmente não se importam com a saída, haverá até quem deseje esse resultado, de preferência depressa. Assim, o único elemento em negociação é a ajuda europeia crucial para que tudo isto possa funcionar.

O primeiro muro derrubado pelo Syriza

Rui Rocha, 30.01.15

O primeiro muro derrubado pelo Syriza não é, ao contrário do que dizem, o da austeridade. Esse é um jogo de tabuleiro em que se estão ainda a fazer os movimentos iniciais. Mas, entretanto, está aberta uma brecha de significativa dimensão na paz podre do rame-rame político. Independentemente das consequências das medidas aprovadas pelo governo de Tsipras, há um facto incontornável: estão a ser cumpridos na frente interna os aspectos essenciais do programa apresentado a sufrágio. Não há muitos por aí que possam orgulhar-se de tal coisa. O curioso é que este primeiro impacto provoca danos sobretudo à esquerda. Não propriamente à direita, uma vez que a distância do discurso esbate a viabilidade da comparação. Nem, naturalmente, às áreas da esquerda que genuinamente assumem uma agenda próxima da defendida pelo Syriza. Mas, claramente, naquela zona da esquerda povoada por passageiros de circunstância que tentaram aproveitar de forma oportunista a onda Syriza. O problema para estes é que fica cada vez mais evidente que, apesar das proclamações de circunstância e da tralha demagógica em que se vão entretendo, jamais seriam capazes de concretizar decisões como as que o novo governo grego aprovou nos últimos dias. Não faltará por aí quem vá tentar passar entre os pingos da chuva nos próximos dias.

Por favor, senhores jornalistas

Rui Rocha, 30.01.15

Se num dos próximos dias se cruzarem, por acaso, com Antonis Kostas, secretário-geral do Partido Socialista, em vez de se ficarem por tomar notas nos caderninhos daquilo que o personagem se lembrar de dizer, e tendo em conta o entusiasmo com que recebeu a eleição do Syriza, façam também alguma (todas não que podem tomar-lhe o gosto de exercer a profissão como deve ser), das seguintes perguntas:

  • quando o PS for governo, Antonis Kostas vai aumentar o salário mínimo para 750€?
  • quando o PS for governo, Antonis Kostas vai aprovar a distribuição de energia eléctrica gratuita a 300.000 portugueses carenciados?
  • quando o PS for governo, Antonis Kostas vai abolir as taxas moderadoras do acesso a consultas do Sistema Nacional de Saúde?
  • quando o PS for governo, Antonis Kostas vai concretizar algum programa de readmissão de funcionários públicos? Em caso afirmativo, em que moldes?

É que eu gosto de ir planeando o meu voto com alguma antecedência e preciso de saber se o entusiasmo é genuíno ou se é só o mais velhaco oportunismo. Pode ser? Obrigado.

Qual prefere?

Helena Sacadura Cabral, 30.01.15

Muito por onde escolher. Um mundo que vai do 38 ao 48. O problema não está no número mas sim na forma como nos servimos dele. É o começo da abertura da moda a modelos mais reais. Que, ao mesmo tempo que nos fazem lembrar as pinturas de Rubens, nos permitem encarar o nosso corpo com maior auto estima. 

Obrigado, Syriza, por trazeres alegria a anciãos

José António Abreu, 30.01.15

Depois da tristeza que constituiu a perda da liderança do Bloco, estes são os dias felizes de João Semedo.

Depois da tristeza que constituiu a prisão de Sócrates, estes são os dias felizes de Mário Soares.

Depois da tristeza que constituiu o 'assassinato' dos Kouachi e de Coulibaly por parte da polícia francesa, estes são os dias felizes de Boaventura Sousa Santos.

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