Monogamia
Era um serial lover. A cada amor que lhe morria nascia um outro, ainda mais forte, não pelas mulheres, mas pelo seu insuperável poder de as seduzir. Ninguém lhe resistia, nem mesmo ele. Jamais se trocaria por outro.
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Era um serial lover. A cada amor que lhe morria nascia um outro, ainda mais forte, não pelas mulheres, mas pelo seu insuperável poder de as seduzir. Ninguém lhe resistia, nem mesmo ele. Jamais se trocaria por outro.
O poder é demasiado transitório e há muitos exemplos de homens poderosos que quase chegaram aos píncaros da glória, perdendo tudo num único momento em que a sorte conspirou contra eles. Estes casos deviam ensinar que todos os projectos políticos contêm a semente do seu eventual fracasso e que a ambição tem um lado ilusório e, normalmente, uma relação próxima com a futilidade.
Na lista dos grandes fracassos onde os protagonistas eram os homens mais poderosos do seu tempo brilham os nomes de dois romanos, Marco Licínio Crasso e Públio Licínio Valeriano, separados um do outro por cerca de três séculos, o primeiro associado ao auge do poder de Roma e o segundo ao início do suave declínio desta civilização. Os exércitos romanos tiveram frequentes colisões com os persas, em torno do controlo do Médio Oriente, nomeadamente dos territórios da Síria e da Mesopotâmia que coincidem com a zona hoje contestada pelo autodenominado Estado Islâmico (curiosamente, os descendentes dos romanos, os ocidentais, e os descendentes dos persas, os iranianos, estão do mesmo lado no combate aos terroristas do autodenominado Estado Islâmico, que ninguém reconhece).
Os antigos persas eram difíceis de bater no seu terreno, como aprenderia Crasso, cuja cabeça cortada serviu de adereço teatral, e como aprendeu, três séculos mais tarde, o imperador Valeriano, cuja aventura acabou de forma ainda mais humilhante, na vergonha do cativeiro e, depois da morte, com o corpo empalhado e transformado em troféu de parede.
Dedicada à Ivone Mendes da Silva